sábado, 4 de dezembro de 2010

Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces

Kim Novak

the beach boys barbara ann live

O OUL informa que Oscar Niemeyer compôs um samba
Emanoel Barreto

É isso: os loucos, os verdadeiramente loucos, aqueles loucos no sentido de discrepantes, ingênuos conscientes de sua loucura, que é poesia e avatar do sublime, estão sempre adiante do tempo. E mesmo quando já têm muito tempo na vida, e portanto pouco tempo na face do tempo, estiram suas mãos criadoras e criativas para o passo adiante.
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://parazinet.files.wordpress.com/

O verdadeiro vivo/louco não tem medo da morte, a Irmã Morte; como a chamava Francisco, o angélico siliciado, o asceta, o amigo do lobo e da cobra, do lacrau e do verme; amigo também do sol, o seu Irmão Sol  - e, portanto,  amigo de Dionísio e de Eros. No fim, é isso mesmo: Eros e Tânatos em seu abraço humano, demasiadamete humano para que no fim haja pecado, permissão, perdição e perdão. Erotismo casto.

Leia a matéria do UOL:

Brasília - O arquiteto Oscar Niemeyer, uma lenda viva brasileira, se reinventa às vésperas de completar 103 anos, no dia 15 de dezembro, ao compor um samba para os músicos Edu Krieger e Caio Almeida.

"Não sei como encontro tempo para ficar brincando, mas minha música é uma besteira, uma coisinha divertida, nada importante", revelou o arquiteto em entrevista publicada neste sábado ao jornal "O Globo".

O criador do projeto de Brasília e de centenas de monumentos ao redor do mundo revelou que compôs a letra de "Tranquilo com a Vida" enquanto estava internado no fim de 2009, por problemas na vesícula e no intestino.

"Sempre fui muito ligado a esse pessoal do samba e quis fazer alguma coisa louvando o homem da favela", explicou. A letra segue fiel aos ideais comunistas do arquiteto, que costuma se definir como "o último stalinista".

Segundo "O Globo", o samba será apresentado em versão digital no dia do aniversário de Niemeyer, quando completará 103 anos em plena atividade criativa e com vários projetos em execução.

O arquiteto entregou ao jornal a letra do samba, que começa dizendo "'Hoje em dia minha vida vai ser diferente. Calça de pijama, camisa listrada, sandália no pé. Andar na praia, vou fazer toda manhã. Até moça bonita vai ter se Deus quiser".

Collateral Murder (versão integral WikiLeaks)

Site WikeLeaks na mira de Uncle Sam
Emanoel Barreto

O site WikiLeaks está sob fogo cerrado do Estado americano e de governos como o da França, que estranhamente, apesar de estar sob suspeição dos espiões americanos, juntou-se a eles.. Tudo porque expôs ao mundo as vísceras da diplomacia de Uncle Sam. A hipocrisia domina. Os documentos divulgados pelo site, cujo fundador Julian Assange, de 29 anos, é hoje um proscrito e procurado, mostram como os embaixadores americanos são na verdade espiões. 

A rigor, verdade seja dita, embaixadas são centros de espionagem, onde homens distintos, luvas de pelica, usam de elegância e finesse para obter dados que enviam a seus países de origem. Não  espionagem no sentido duro do termo, mas espionagem é, de alguma forma.

Pois bem, o site largou na internet uma tonelada de megabites de informações "classified" e isso desgostou os falcões americanos. Um senador republicado, Mike Huckabee, um louco não tenha dúvida, quer até pena de morte para um soldado, compatriota seu, Bradley Manning, de 22 anos, preso como suspeito de haver vazado os documentos ao site. Até mesmo esse vídeo que você viu, em que se mostra ataque e helicóptero a civis iraquianos é parte das ações denunciadoras do WikiLeaks. 

Hipócritas que só eles, os americanos dizem que, apesar disso, suas relações não serão afetadas com seus parceiros: a presidente da Argentina, Sra. Kirchner, é tida como uma espécie de louca pelo poderes de Uncle Sam; e o presidente Sakozy, da França, dizem eles, precisa ser monitorado.
Putin, da Rússia, é "machista" e o primeiro mandatário da Turquia também não é lá essas coisas todas, dizem os embaixadores americanos. Como se vê, são observações que superam a simples deselegância e revelam como o governo americano é inconfiável,exatamente porque desconfia de tgodos e os manda vigiar. E ninguém, eu disse ninguém, a não ser as pessoas boas de Washington, deveriam disso tomar conhecimento - a paranoia de quem se sente perseguido, mas, na verdade, é o perseguidor.

Sim, o secretário-geral da ONU, Ban-Kimoon teve até os cartões de crédito rastreados. Deve, sem dúvida, ser elemento de alta periculosidade. Destarde, e bom mantê-lo sob as vistas. Mas, discretamente, heim?, discretamente. Enfim, a esquizofrenia americana está bem posta - e exposta nos documentos do site. O endereço já foi derrubado várias vezes, mas consegui localizá-lo depois de muito procurar. 
É http://www.wikileaks.ch/ .

Se quiser acessar... 
Depois, se seu computador começar a dar estranhos problemas, desligar sozinho, perder dados, travar enlouquecidamente, etc..., deve ser a rapaziada da CIA ou congênere dando um baculejo no seu micro.

Por sua conta e risco, ok?

Escritor Fernando Morais quer fazer biografia de Lula
Emanoel Barreto
O escritor Fernando Morais, autor de Chatô, o rei do Brasil, biografia de Assis Chateaubriand, e de A ilha, a Cuba de Fidel, pensa em fazer a biografia de Lula. Já foram feitos contatos mas nada acertado, até então.

Fernando Morais por Fernando Muller
Lula já foi alvo de um filme, que o tucanato histérico classificou de propagandístico por ter sido lançado às vésperas da eleição de Dilma. Terminou não sendo. 

Obra pífia, fraquinha que só ela, mostrava em um roteiro medíocre e trabalho de fotografia no mínimo duvidoso, uma parte da vida de Lula.

Creio que com Morais a coisa será bem diversa: se você já o leu sabe do que estou falando. É talentoso, literariamente talentoso; e é jornalístico, profundamente jornalístico. A vida como ela é, com Morais se torna a vida como ela é vista, descoberta, rendilhada. 

Em Chatô temos obra-prima de jornalismo de apuração. O autor vai a lugares onde Chatô viveu, palmilha paisagens, revira documentos, busca origens num trabalho de arqueologia e documentação. 

Chega a minúcias de abordar relacionamento íntimo do biografado com uma senhora quando, hospitalizado, o dono da revista Cruzeiro manteve alguma forma de contato sexual oral com a mulher que, espavorida, fugiu nua à chegada da enfermeira ao quarto do tetraplégico Chatô.

Os percalços, sonhos e desgraças; desejos, projetos e fracassos; vitórias, vontades e sucessos dos personagens ganham pelo impressionismo da linguagem de Morais  a força mesma das coisas vividas. Se for realizada, a obra terá valor documental e histórico inquestionáveis apesar de o academicismo o criticar: falta "rigor científico". 

Mas, ele não liga: li certa vez que, aos críticos, respondera: "Eu faço jornalismo". E calou a boca de todos. 
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.blogdomellao.com.br/
Aliás, sobre Lula, quando começa a se atacar muito o presidente, comparando-o como FHC ou, vá lá, José Serra, costumo perguntar, para encerrar a discussão: "Daqui a cem anos alguém estará fazendo uma tese sobre Lula. Alguém escreverá, daqui a cem anos, alguma coisa, mesmo que miserável notinha de pé de coluna, a respeito de Serra?". Quem me defronta fica cabisbaixo...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces, Faces

Elke Sommers 

Al Caparra, o gangster chic

Betty Rowland - Vintage burlesque - Encontrei este no Youtube. Vulgar, grosseiro e humano, muito humano. Patético erotismo. A depender do olhar, percebe-se na dança quase grotesca a tentativa do gesto clamorosamente belo, assim como o faz toda a humanidade no palco nosso de cada dia. Implorando aplausos para nossa vida, essa arte cada vez menor.

bad manners heavy petting- betty page - um videozinho burlesco

Diz o Estadão

'Se o presidente Lula abusar, cabe à Dilma controlar', diz FHC sobre Ministérios

Ex-presidente diz que mandatários está interferindo demais na formação do novo governo

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://atravessando.files.wordpress.com


Anne Warth, da Agência Estado
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta sexta-feira, 3, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está interferindo demais na formação da equipe de ministros da presidente eleita, Dilma Rousseff. Porém, ponderou que cabe a ela limitar os abusos que Lula cometer . "O presidente Lula sempre me criticou porque dizia que eu me metia demais na política depois da presidência. Agora e ele quem está se metendo demais", disse, após participar da inauguração do Orquidário Professora Ruth Cardoso no Parque Villa Lobos, na Capital paulista.
........
O jornalismo declaratório, quando vazado na declaração em si, sem qualquer motivo que não o próprio declarar, é tão vazio quanto o silêncio dos omissos. No caso, as palavras de FHC são a prova disso. Tal tipo de "acontecimento", a declaração do tucano, é fruto da sugestão, da pauta. Portanto, do jornal. Ou seja: como o Estadão sabe que sempre que for convidado o ex-presidente vai disparar farpas contra Lula, o busca para proferir tais pronunciamentos. Qualquer desculpa serve, percebe?

Pergunto: por que ele foi chamado a dizer o que disse? Qual a importância do seu pronunciamento? Ele tem alguma representatividade na constituição do Governo Dilma? Seria mais ou menos chamar Pelé para opinar a respeito de qual seria a melhor política de saúde a ser implementada pelo próximo governo. Falta, percebe?, legitimidade, pertinência ao declaratório.
Quem sabe, o Estadão não deveria procurar Dilma para que se pronunciasse a respeito de como deverá ser feita oposição ao seu mandato.

Tá lá o corpo estendido nõ chão...
Emanoel Barreto

Vejo nas coisas de jornal da Folha que um estudante da USP morreu a três quilômetros do Hospital Universitário da USP. Quando sentiu-se mal e caiu alguém comunicou ao hospital e pediu uma ambulância. Resposta: nossas ambulâncias não são usadas em resgate.O corpo ficou estendido no chão por cerca de seis horas, até ser removido.

Na USP, o corpo e o descado (Adriano Vizoni/Folhapress)
Da mesma forma que ocorreu na Inglaterra, onde uma mulher foi multada por ultrapassar tempo de estacionamento, motivado pelo fato de que estava impedindo outra mulher de se suicidar atirando-se de uma ponte (publiquei isso ontem), temos outra demonstração de como a estupidez e a burocracia regem certas instituições.

O caso da morte do estudante, então, é bem pior: tipifica omissão de socorro, desrespeito por completo para com a vida. 

Quer dizer que um hospital universitário, numa das maiores - e mais conceituadas - instituiçõesde nível superior do país, não tem programa de atendimento de urgência, não disponibiliza ambulâncias, mesmo tendo a USP uma população universitária de milhares de estudantes? É, ficou comprovado que é.

Mas, é isso. Para completar, o estudante era nordestino...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ô, abestado...
Emanoel Barreto

Começo a duvidar seriamente do estado de sanidade mental do promotor Maurício Lopes, que vai recorrer da sentença que garantiu a posse de Tiririca como deputado federal. Parece até coisa de perseguição, tipo a do Tenente Gerard, aquele que perseguia obsessivamente o Fugitivo, famoso personagem da série dos anos 60, refilmado há alguns anos.

Imagtem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http
O juiz que liberou o palhaço, ator, farsante (no sentido teatral), clown, pantomimeiro, o que seja, o fez seguindo uma coisa chamada bom-senso. São nada menos que 1 milhão, 300 mil votos, o que não é pouca coisa, a respaldar o mandato. A isso dá-se o nome de legitimidade. 

Chega a ser ridículo, perigosamente ridículo o comportamento arrogante e preconceituoso. Será que esse promotor não tem mais nada a fazer?

Não há bandidos demais, corruptos demais, gente que não presta demais na nossa vida pública para ele exercitar sua ludicidade jurídica? Ou será que o promotor é um abestado?

Gosto muito de citar o ditado "quanto mais faz, menos merece". caso abaixo é exemplo típico. Revela, além da insensibilidade burocrática, a ânsia de lucro, o desprezo pelas normas mais comezinhas do que seja solidariedade, ética, compaixão. Leia a matéria.

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Britânica salva suicida em ponte mas recebe multa de estacionamento

Uma britânica que impediu que uma mulher se suicidasse se jogando de uma ponte se disse indignada por ter recebido uma multa ao retornar ao seu carro após o salvamento.
Wales News Pictures/BBC
Wales News Pictures/BBC
Wales News Pictures/BBC
Cathryn disse que foi ameaçada de processo após recorrer da multa

Wales News Pictures/BBC

Cathryn James, de 36 anos, subiu no corrimão de uma ponte em Swansea, no País de Gales, para agarrar a mulher suicida e impedir que ela saltasse até a chegada dos serviços de emergência.

Quando ela voltou ao seu carro, encontrou uma multa de 60 libras (cerca de R$ 160) por ter passado 22 minutos do limite de tempo para estacionamento no local.

Cathryn escreveu para a companhia responsável pelo controle do estacionamento, incluindo uma carta da polícia com uma comenda por sua coragem em salvar a mulher suicida.

Apesar disso, a companhia manteve inicialmente a multa e ameaçou levá-la à Justiça caso ela não pagasse.

A multa acabou sendo suspensa apenas depois que o caso foi parar nas páginas dos jornais britânicos.
Instintos
Cathryn diz que pagou o estacionamento por três horas e saiu para fazer compras quando ouviu que uma mulher havia subido sobre a ponte do rio Tawe e ameaçava pular sobre as águas congeladas.

"Quanto ouvi que havia alguém em perigo, meus instintos falaram mais alto e corri para lá", conta. "Consegui chegar até ela pela ponte e estava tentando mantê-la calma."

"Enquanto eu falava com a mulher, ela estava fisicamente me segurando. Se ela caísse, me levava junto", afirmou.
Ela disse ter passado cerca de uma hora com a mulher na ponte até que ela fosse retirada de lá."A última coisa na minha cabeça era que meu tíquete do estacionamento ia vencer", reclamou.

Um flagrante de bela monotonia


Quando a vida está cinza as cores ganham alma e se transformam em pequena aventura. Transitório momento de quem está passando. (Foto David Vincent/AP)

Vida de casal ou até que ponto chega a indignidade. Na Folha encontrei essa pequena tragédia de Jennifer Lopez. É apenas uma minúscula demonstração de como tem gente que é implacavelmente cruel, sordidamente cruel. (EB)


De acordo com o site Radar Online, documentos judiciais confirmam que a cantora Jennifer Lopez aparece nua em imagens feitas com o consentimento dela pelo ex-marido, o chef e modelo Ojani Noa.
http://www.lazermusica.com/blog/wp-content/uploads/2010/08/lan%C3%A7amento
A atriz e cantora está movendo um processo contra Noa para impedir que ele lance comercialmente os vídeos caseiros.

O agente do ex-marido contou à "American Idol" está andando de motocicleta com a "área genital" à mostra em Cuba.

"Isso está entre as outras cenas de nudez que fazem parte das 21 horas de gravações caseiras que nós recuperamos até o momento", diz.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Follow Secreto: siga essa boa ideia. Recebi a informação e divulgo na íntegra. (EB)

Encontro Cultural dos Followers



O Follow Secreto está longe de ser apenas mais um encontro promovido através do Twitter.

É a oportunidade de nos reunirmos com amigos, com pessoas que nunca se viram, mas que se “seguem”, de trocar informações, discutir sobre essa ferramenta, o Twitter, que a cada dia ganha mais espaço e visibilidade, atenção da mídia, enfim... Mas o mais importante nesse evento é a confraternização de uma idéia: a leitura.


A organização do encontro é das comunicadoras Leide Franco (@LeideFranco) e de Bruna Markes (@_markes). A reunião dos Twitteiros está marcada para o dia 15 de janeiro (sábado), às 20h, no auditório da Livraria Siciliano do Shopping Midway Mall.

Na ocasião, cada participante levará um livro para presentear alguém, a intenção é que seja o mais secreto possível, pois cada um só ficará sabendo a quem vai dar o livro lá na hora. Iremos dividir os participantes em grupos, possivelmente os Followers e Followings em comum.


O tema central desse Encontro Cultural vai além do simples ato de receber, ler e guardar o livro na estante. Pensamos que conhecimento deve ser repassado, transferido, daí a idéia já usada em outros lugares chamada “Esqueça um Livro”, ou seja, depois de lido, o ganhador do livro vai “esquecê-lo” em algum lugar movimentado, mas antes terá que descrever, como se fosse uma dedicatória, a forma que aquele livro chegou às suas mãos, pedindo pra que a pessoa que o encontrar, depois de ler também, continue a dedicatória e “esqueça” o livro em alguma parte, fazendo assim uma corrente da leitura, dessa forma, pessoas que nunca tiveram a chance de comprar um livro ou quem nunca gostou de ler, tenha a oportunidade de fazê-lo, através dessa iniciativa.


Além disso, estamos pedindo aos participantes que levem um livro “usado” para que possamos fazer doações a bibliotecas públicas.


Cordialmente,

Equipe Follow Secreto


Contatos pelo e-mail: followsecreto@gmail.com

Twitter: www.twitter.com/followsecreto

http://www.followsecreto.blogspot.com/
O vice Alencar e essa terrível vontade de viver
Emanoel Barreto

Enquanto o país acompanha a longa batalha de José Alencar Gomes da Silva, 79, contra sucessivos problemas de saúde, chega hoje às livrarias de todo o país a biografia do vice-presidente da República, "José Alencar - Amor à Vida", escrita pela colunista da Folha Eliane Cantanhêde.


As sucessivas cirurgias para tratar tumores e outras complicações médicas e a impressionante força de vontade do vice tomam 15 dos 40 capítulos do livro e são o mote para o título, escolhido depois de debate entre autora, editores e biografado --que preferia "Amor ao Brasil''
...
 A matéria é da própria Folha. A obstinação do Vice-presidente é demonstração efetiva de uma vontade de ferro. A disposição e, acima de tudo, capacidade de resistir às dores e sofrimentos dos atos cirúrgicos invasivos.

O corpo, movido pela força do anima, atirando-se ao talho do bisturi na busca de retirar de si o dano, a doença, que do corpo mesmo brotou.

O que vemos em Alencar é o homem em uma espécie de processo de ascese existencial: o homem expungindo-se daquela parte do seu aparelho corporal que faz mal ao Homem Interior, esse sublime fracassado.

A tentativa de preservar a Vida à custa de fustigar a vida num corpo doente. Ele sabe, suponho, que jamais ficará curado. A doença travou contra ele uma batalha intensa, uma guerra de movimento que se alastra, recua e volta a se avançar, convulsionando aquele corpo que se enfrenta com o sofrer da doença e com o sofrer para o curar da doença. É dor e dor, de lado a lado.

Suponho que Alencar deseje nos dar de alguma forma uma lição: lutar mesmo para perder. Lutar pela luta mesma, combater pelo combate em si. Colocar o corpo como máquina da vida, armadura para receber os impactos dos golpes mais fendentes. Lutar sem sentido ou propósito da luta. Da mesma forma como não há sentido essencial no estarmos vivos. Mas queremos estar vivos. Estúpidos e vivos. Tão vivos como o repulsivo verme que um dia nos comerá a carne.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vestir a carapuça ou o temor das elites no Rio
Emanoel Barreto
Policial do Bope (Apu Gomes)

A ação conjunta das Forças Armadas e polícia demonstrou que, querendo, o Estado faz. Agora, é manter o sistema de poder instalado na favela e ocupar outros espaços onde os bandidos ainda estejam agindo.

Mais que isso, entretanto, é preciso presença social séria e com sentido histórico: os moradores do Alemão e outros locais do mesmo tipo têm direito a esse resgate de sua cidadania.

Tínhamos ali uma espécie Haiti social, abalado pela pobreza, miséria e sismos de violência patrocinados pelos criminosos. Com o tsunami do Estado sobre os bandidos, resta cumprir com função social: voltar-se para o bem-comum.

A situação vivida pelo Rio é fruto de longo, penoso processo histórico de exclusão e sofrimento imposto àqueles brasileiros, geração a geração. É culpa de status quo de essência ominosa, voltada para manter o lucro e as benesses de uma elite cevada na exploração e desumanidade.
Policiais em patrulha (Rafael Andrade)
Quando a ação policial-militar estava em vias de ser destada vi nas coisas de jornal da grande imprensa notícia informando que a direção da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro recomendava com veemência que seus cabeças não saíssem de casa a não ser por motivo imperioso e mais: que, nesse caso, se utilizassem de seus carros blindados.

É a prova do equívoco histórico: depois de estiolar ao longo do tempo histórico as vidas de milhares, quem sabe milhões de pessoas, a elite carioca se retraía, com medo das consequências do seu vandalismo sócio-econômico. Agora, ao que parece, os bandidos se foram. Resta às elites vestir a carapupuça.
Vejo na Folha e compartilho:

Karl Lagerfeld lança calendário Pirelli com top models em Moscou


Karl Lagerfeld e seu time de beldades botaram fogo na ultragelada manhã de Moscou durante a coletiva de lançamento da edição 2011 do calendário Pirelli, fotografada pelo estilista.


O designer da Chanel apresentou sua versão do calendário, toda inspirada nos deuses da mitologia greco-romana, no hotel Ritz de Moscou. Ao lado dele, tops como a russa Natasha Poly, a americana Erin Wasson e polonesa Magdalena Frackowiak, que estão nas fotos do calendário.

Fotografado no estúdio pessoal de Lagerfeld, o calendário tem ainda a brasileira Isabeli Fontana (ela tinha compromissos marcados e não pôde vir a Moscou) e a atriz Juliane Moore, chamada pelo estilista para encarnar Hera, mulher de Zeus e "primeira-dama" do Olimpo. "Quando pensei em Hera, quis que ela fosse Juliane. Como tenho talento para convencer pessoas, não foi difícil trazê-la para o meu lado. E o resultado, é claro, foi maravilhoso", disse Lagerfeld.

Animado, Lagerfeld deu entrevistas e brincou com as modelos, sempre acompanhado de seu assistente pessoal e modelo-fetiche Sébastien Jondeu, que também está no calendário. Além dele, outros três modelos masculinos entraram nas fotos: Garret Neff, Brad Kroenig e Baptiste Giacobini, o queridinho absoluto de Lagerfeld, que interpreta Narciso e Apolo nas imagens feitas para a Pirelli.


"Chamei apenas pessoas que já conhecia e que ficariam à vontade estando nuas. São corpos fabulosos, por isso, meu trabalho foi fácil. Tenho uma obsessão pela mitologia grega desde que li a "Ilíada", ainda menino. Com esse trabalho, resgatei essa minha paixão pelos mitos reencarnando-os nos deuses e deusas contemporâneos", completou o estilista.


A atriz Elisa Sednaoui, que é um dos rostos Chanel, também foi chamada para integrar o time e era uma das mais animadas da entrevista, fazendo caras, bocas e poses sensuais com sua calça de couro justíssima.

Assim como as colegas, a moça não parava de se desmanchar em elogios para Lagerfeld. "Ele é um verdadeiro artista da imagem, tem uma visão completa e profunda do que quer realizar e de como consegui-lo", afirmou. "Foi como ser fotografada por um anjo", viajou a neotop italiana Bianca Balti, dando ideia do clima de adoração em torno do estilista.



segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De como reencontrei Moby Dick
Emanoel Barreto

Na obra Moby Dick o talentoso texto de Herman Melville diz, a respeito do personagem Quiqueg: "Parecia um homem que nunca havia bajulado nem tido credor". Quem assim pensa é Ismael, marinheiro e personagem central do livro, ao observar Quiqueg, um selvagem que vendia cabeças mumificadas nos portos do mundo, arpoador de baleias que era.

Penso bem a respeito da frase: um homem que jamais bajulou nem se curvou a credor. Ela implica, alude seu contrário: a humanidade cabisbaixa às suas construções, algumas da mais esmerada sordidez. É bom não ter dívidas com elas. Como fazia o bom Quiqueg.

Estou relendo o livro com calma, aninhando em mim uma falta de pressa que somente encontrava em meus anos verdes, quando sequer sonhava em ser jornalista mas supunha que um dia estaria nos longes da Terra escavando o chão em busca de múmias, buscando vasos etruscos ou caminhando em alguma paragem estranha e improvável. Nada disso aconteceu. Hoje, sou um ex-futuro-arqueólogo, metido com o revirar do cotidiano.

Mas, como dizia, leio com vagar, quase indolência; os olhos, ou melhor o olhar, passeando letras e palavras ao balanço suave da bondosa maté montante, que me leva de volta àquele livro e suas paisagens: faiscantes de sol marinheiro ou nubladas das brumas pardas da vida no mar. Um sonho.

Transcrevo uma pequena parte desta viagem a Moby Dick: "Por trezentas e sessenta milhas, cavalheiros, de toda a extensão do Estado de Nova York; através de muitas cidades populosas e aldeias ultraflorescentes; através dos pântanos compridos, sombrios, sem habitantes, e de campos opulentos e cultivados, sem rivais por sua fertilidade; por salões de bilhar e bares; através do santo dos santos das grandes florestas; sobre arcos romanos acima de rios indígenas; por sol e por sombra; por corações felizes ou partidos; através do Mohawk; e, especialmente, por série de capelas brancas, cujos pináculos se erguem quase como pedras militares - flui uma contínua corrente de vida venezianamente corrupta e amiúde sem lei". Precioso, não?

Navego aos poucos, supero ventos e calmarias. Reencontro, por assim dizer, velhos amigos que andavam a percorrer as coisas e paragens escondidas nos portos, remansos, baías e golfos de um mundo perdido.
Releio Moby Dick como um jovem grumete, quem sabe um ágil gajeiro a administrar velas, suas vergas e aparelhos. Reingresso ao livro como quem chega a porto estrangeiro, em tempos bucaneiros, à busca de emprego na equipagem que já se apresta, aventureiro em intento de horizonte que está perdido num mapa que, sei, existe em mim, mas nunca, nunca mais, poderá ser palmilhado porque fugiu para o estuário largo e inalcançável das lembranças de um menino que passou.

Ele me acena e diz "venha". Eu tento e já não posso ir.
Coronel Nascimento esmurra político safado e o cidadão a meu lado ruge: "É isso!"
Emanel Barreto

Somente ondem vi o filme Trope de Elite 2. Falta de tempo, uma coisa e outra e deixei pra lá. Mas, afinal, fui. À parte o fato de que é produção de excelente qualidade, temos ali resumo bem acabado do que seja a nossa sociedade, manifesto em personagens-tipo: o agora Coronel Nascimento em sua crença cega na polícia, os políticos criminosos versus político decente, o policial bom contra o policial bandido, o jornalista safado contrafação da jornalista martirizada.

No início do filme sarcástico letreiro adverte que se trata de "ficção" - apesar das veementes verossimilhanças com o real. Esse real é efetivamente o mundo social de fato, o antro bem brasileiro, o brazilian way of crime em suas diversas manifestações: desde o bandido em sua figuração de agente de violência física, até aquele que ocupa o Poder, tornando o crime orgânico àquele.

A cena em que Nascimento ataca e espanca um político safado foi programada sem dúvida para obtenção de efeito catártico nas plateias de todo o país. O cidadão sente-se personificado no personagem que deita mãos nesse tipo de gente, normalmente impune e afinal impunível uma vez que quase sempre tais facínoras são detentores de mandato e, portanto, donos de muito dinheiro. Soube que quando do lançamento do filme as pessoas aplaudiram a cena.

A obra é ficção sim, mas, acima de tudo, pela sua intensidade, é reflexo poderoso do real, talvez uma espécie de pleonasmo crítico desse real. A reiterada ocorrência de corrupção na nossa vida pública, todavia, não deve ser entendida como algo acima, adventícia, de fora dos nossos costumes cotidianos. Não: os políticos corruptos, os policiais corruptos são advindos da sociedadade mesma, de seus fundamentos e alicerces.

Não é aqui que funcionários públicos, podendo, se utilizam de carros de repartição para uso em fins de semana? Não é aqui que, se possível, se faz aquela contramãozinha rápida só para evitar um incômodo retorno bem mais adiante? Não é aqui que aquele leva para casa uma caixinha de clipes de cima do birô para usar no trabalho escolar do filho? Não é aqui que se utilizam fotocopiadoras do trabalho para interesses pessoais, poupando-se alguns reais e uma fila chata na xerox da esquina?

Pois são essas licenças, essa mostra de "esperteza", elevadas a milésia potência, que dão a pista para os grandes crimes de colarinho branco, dão ao policial corrupto a oportunidade de utilização da máquina de sua corporação para fins delituosos e ao detentor de mandato o sórdito direito de usar o Estado como coisa própria.

É esse o esquema mental do brasileiro que o Coronel Nascimento mostra: a cultura da corrupção como estilo de vida, o glamour cínico de quem quer se dar bem.

Logo ao início o filme sugere que Nascimento vai morrer em meio a rajadas de tiros. No final, aí marcante influência do cinemão americano, ele escapa milagrosamente com apoio providencial dos seus chapas do Bope, que chegam barbarizando a banda podre da polícia e pondo em fuga os atacantes. A meu lado um cidadão disse "é isso!", aplaudindo o poderoso revide de Nascimento ante os policiais corruptos.

Tropa de Elite 2 insinua que haverá a terceira parte. O policial atormentado narrando pela voz incisiva do ator Wagner Moura a grande crise da existência, a grande crise política, a crise de sermos brasileiros. Sabe?, gostaria que houvesse Tropa de Elite 3. Não é isso mesmo? Claro, claro que é. É isso!

domingo, 28 de novembro de 2010

Felicidade
Fernando Pessoa

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.


Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.

Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.

Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Imatgem: http://blog.suelimattos.locaweb.com.br/up/a/at/blog.atchim.saude.ws/img/felicidade.jpg
Para acompanhar as ações ao vivo clique em http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-contra-o-crime/ao-vivo.html
Transcrevo, do Estadão, artigo de autoria do cineasta José Padilha. (EB)

Carcaça de uma sociedade
 José Padilha

Policiais em patrulha (Joel Silva)
Por que o Rio de Janeiro é uma cidade tão violenta? Por que tem um número tão alto de homicídios e de assaltos todo ano? Por que grande parte da capital carioca, sobretudo as áreas mais carentes, está dominada por grupos armados? Por que a história do Rio é marcada pela repetição de acontecimentos traumáticos na área de segurança pública, acontecimentos que chamam a atenção do mundo?


Vigário Geral e Candelária explicitaram a violência absurda da polícia carioca. O sequestro do Ônibus 174 demonstrou a precariedade dessa polícia e deixou à mostra a violência de um ex-menino de rua que preferiu “tentar a sorte” a se entregar ao Estado que o torturou a vida inteira. O brutal assassinato de Tim Lopes mostrou que os traficantes cariocas não são Robin Hoods do morro, mas criminosos que utilizam métodos brutais. A tortura de jornalistas de O Dia por milicianos deu origem à CPI que revelou máfias de bombeiros, policiais civis e policiais militares no comando de comunidades carentes, com o apoio de vereadores, deputados estaduais e até deputados federais. E, finalmente, o ataque sistemático do tráfico a vários pontos da cidade, e a reação subsequente da polícia, “desentocou” um verdadeiro exército armado na Vila Cruzeiro e o expôs para todo mundo ver.


Afinal, por que o Rio de Janeiro é assim?


Uma resposta, a da esquerda naïve, postula que a violência no Rio de Janeiro decorre da miséria e da luta de classes, e diz que para combatê-la é necessário acabar com as diferenças sociais, distribuir a renda e educar a população. Há também a resposta da direita naïve, que reduz a violência do Rio a um problema de repressão e diz que ela se explica pela falta de firmeza da polícia e das leis.


As duas respostas estão erradas, contradizem fatos conhecidos.


A primeira não dá conta de cidades que têm índices de desenvolvimento humanos (IDH) piores do que os do Rio de Janeiro e índices de violência menores. A segunda está na contramão da história, que demonstra que incrementos na repressão podem piorar os índices de violência. Foi assim no governo Marcelo Alencar, quando o Estado adotou a remuneração faroeste e passou a premiar os policiais em função do número de criminosos que “abatiam”. A partir daí, o número de autos de resistência, de policiais que declararam ter matado criminosos que resistiram à prisão, cresceu e continua absurdo até hoje.


Muitas vezes, o passo mais importante para encontrar a solução de um problema é enunciá-lo corretamente. Ônibus 174, Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 são uma tentativa de enunciar o problema da segurança pública do Rio de Janeiro a partir da premissa de que a violência carioca resulta, em grande parte, da atuação direta de instituições públicas que convertem miséria em violência. À luz dessa premissa, a violência urbana está relacionada à falta de educação e à concentração de renda, mas a relação não é direta e simples, é intermediada por fatores complexos. Acredito que no Rio o mais importante desses fatores seja o efeito perverso que certas organizações administradas pelo Estado têm sobre parte da população.


Ônibus 174 conta a história de Sandro Rosa do Nascimento, um menino que fugiu de uma tragédia familiar e foi viver nas ruas do Rio. Sandro se tornou um pequeno criminoso para sobreviver. Como menino de rua, viu representantes do Estado (policiais militares) matar crianças como ele na Candelária, foi preso e tratado com extrema violência pelo sistema socioeducativo do Estado, foi espancado e obrigado a conviver com traficantes e criminosos muito mais violentos que ele no Instituto Padre Severino e deu entrada no sistema prisional carioca, onde o Estado o colocou em uma cela superlotada e insalubre. O torturou por anos.


A tese de Ônibus 174, exemplificada pela trajetória de Sandro, é muita clara: as organizações que deveriam reeducar os pequenos criminosos os convertem em criminosos violentos. Não fui eu quem formulou essa tese, diga-se de passagem. Foi o próprio Sandro, que a gritou em altos brados da janela do ônibus para quem quisesse ouvir.


Em Tropa de Elite tentei dizer que a mesma coisa acontece no âmbito da polícia. O Estado trata muito mal os indivíduos que se propõem a trabalhar nas organizações policiais. Paga pouco, treina mal, e os submete a uma cultura organizacional militarizada e kafkiana, que tolera a corrupção e estimula a violência. Como disse o capitão Nascimento: “Quem quer ser polícia no Rio de Janeiro tem que escolher: ou se omite, ou se corrompe, ou vai pra guerra”. Tanto a violência e o desrespeito aos direitos humanos do capitão Nascimento quanto a corrupção desenfreada do capitão Fábio são forjadas no mesmo lugar, pela mesma organização. Certa feita um governador do Rio de Janeiro disse a mim e ao jornalista Rodrigo Pimentel que Tropa de Elite era um filme demasiado pessimista. Em sua opinião, a PM do Rio não era tão corrupta quanto pensávamos. Pelas suas contas, um terço dos policiais do Rio é corrupto, outro terço é honesto, e o restante variava conforme o comando. Se a PM do Rio tem mais de 13 mil homens corruptos, então o problema não são seus homens, é a organização. Os policiais do Rio de Janeiro são vítimas da PM.


A tese de Tropa de Elite, instanciada na trajetória do aspirante André Mathias, é igualmente óbvia: as instituições que deveriam combater a criminalidade convertem boa parte das pessoas que trabalham nelas em policiais corruptos e violentos. Fazem isso com grande eficiência e em altas taxas.


Acredito que cada um dos casos simbólicos que listei, de Vigário Geral à tomada da Vila Cruzeiro, ilustra essa tese. Cada um deles envolve traficantes, policiais corruptos e policiais violentos cuja subjetividade e comportamento criminoso foram moldados por instituições do Estado.


Fiz um terceiro filme, Tropa de Elite 2, para tentar dizer por que o Estado funciona assim. Em Tropa de Elite 2 o capitão Nascimento é promovido a subsecretário de inteligência e obrigado a lidar com as conexões que existem entre a polícia e a política. São essas conexões, muitas vezes calcadas em interesses e lógicas eleitorais, que criam e mantêm as instituições que descrevi nos filmes anteriores.


Voltando ao mundo real, deixo claro que apoio as UPPs e sou favorável a esse projeto do governador Sérgio Cabral. Reconheço que ele é fundamental para recuperar o território que o tráfico tomou. Acredito que o Rio não pode recuar no primeiro confronto. Todavia, acho que o projeto das UPPs é apenas meio projeto, e não um projeto inteiro. Onde está a reforma da polícia? Não a maquiagem, mas a reforma concreta, o programa eficiente de seleção e treinamento de policiais, o programa de capacitação profissional, o pagamento de salários dignos, o seguro saúde e o auxílio-educação para as famílias dos policiais? Onde está a corregedoria que funciona? Onde está a reforma do sistema prisional? A capacitação dos agentes penitenciários? A reforma do sistema socioeducativo? A boa formação dos seus operadores?


O projeto das UPPs é fundamental para a sobrevivência do paciente, mas ignora as causas da doença. Na ausência de uma real reforma das instituições que mencionei, o esforço e o engajamento da população carioca no projeto das UPPs pode ser em vão. Afinal, quem vai ocupar as comunidades libertadas? A mesma polícia que conviveu com o tráfico de drogas na cidade por mais de 30 anos, o viu crescer e se expandir e o deixou se instalar. O projeto das UPPs não é um projeto da polícia, é um projeto do governo. O que garante, no médio ou no longo prazo, quando este governo sair e outro entrar no lugar, que as UPPs não se tornarão áreas de milícia?


Eu me lembro, na ocasião do Ônibus 174, que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi à TV prometer um plano nacional capaz de reformar as instituições ligadas à segurança pública em todo o Brasil. Teve dois mandatos para cumprir a promessa, e não o fez. Depois veio o atual presidente Lula, do PT. Apresentou um Plano Nacional de Segurança bem bolado, escrito pelo professor Luiz Eduardo Soares. Estamos ao final do seu segundo mandato e o plano continua engavetado. Finalmente, não vamos esquecer o PMDB, do governador Sérgio Cabral, que em ambos governos nada propôs de significativo na área da segurança. A verdade é que nos últimos 30 anos nossos políticos ficaram vendo inocentes morrer. Lavaram as mãos.


O que aconteceu no Rio de Janeiro nessa semana foi significativo. Creio que vai acontecer de novo se o governador insistir com as UPPs. E, como a Copa do Mundo e a Olimpíada estão aí, não há outra alternativa viável. Os confrontos serão inevitáveis e recorrentes. Espero que esses confrontos sirvam para, além de libertar comunidades carentes, forçar o governo federal a entrar de cabeça na luta contra o crime e implementar um plano de nacional de segurança sério, capaz de resolver de uma vez por todas o problema da segurança pública no Brasil.


JOSÉ PADILHA É CINEASTA E DIRETOR DE 'ÔNIBUS 174', 'TROPA DE ELITE', 'TROPA DE ELITE 2', 'GARAPA' E 'SEGREDOS DA TRIBO'
A pergunta que fiz em matéria anterior questionava onde estariam os bandidos, já que não houve o monumental confronto previsto. A resposta, pelo que pude entender, seria a seguinte: os marginais estariam escondidos em casas, mantendo as pessoas como reféns. A polícia fará revista casa a casa.

Em mais alguns minutos o hasteamento das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro. A Rede Globo está a cerca de 20 quilômetros de distância de onde haverá o hasteamento, mas a cobertura é possível com o uso de lentes poderosas. Magnífico trabalho. Veja em
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-contra-o-crime/ao-vivo.html
No endereço http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-contra-o-crime/ao-vivo.html você acompanha ao vivo a cobertura da ocupação do Complexo do Alemão pela Rede Globo. Excelente trabalho. Veja. (EB)
Tá tudo dominado, mas, cadê os bandidos?
Emanoel Barreto

Polícia invade Alemão: forças atuam em conjunto com Marinha, Exército e Aeronáutica (Felipe Dana)
O UOL diz: O comandante geral Polícia Militar do Rio de Janeiro, Mario Sergio Duarte, afirmou neste domingo (28) que as forças de segurança que entraram no Complexo do Alemão, dominada por criminosos ligados ao tráfico, retomaram o território pouco tempo depois do início da incursão. Segundo ele, houve pouca resistência nessa fase e agora começa a varredura casa a casa.

 "Vencemos. Trouxemos liberdade para o povo do Alemão", disse ele a jornalistas. "Não tivemos dificuldade. Tivemos cobertura dos helicópteros e os blindados fizeram o seu papel", disse Duarte. Outros policiais no local também celebraram a tomada pelas forças de segurança.

Apesar das declarações, não é possível saber se todas as posições de criminosos dentro da favela foram tomadas. O cerco continua e a fase mais perigosa pode ser a de varredura. Até agora, nenhum traficante apareceu preso ou morto.
......

A ação firme das forças de segurança permitiu o domínio do Complexo do Alemão. Ao contrário do que fora informado pelo comando da operação, a invsão não se deu à noite, mas às 8h30 de hoje. Vem agora a fase de varredura casa a casa.

Passada a fase operacional,  as pessoas passarão a viver, quando as tropas forem retiradas, a fase seguinte: constatar em seu cotidiano se os bandidos foram realmente embora ou se voltarão a se reagrupar. Pelo que se dizia nos noticiários, pelo menos 800 criminosos estariam homiziados no Alemão, mas não se tem notícia de enfretamento maior. Para onde foram eles? O jornalismo do front até agora não deu essa resposta nem parece ter questionado as autoridades o motivo de não ter havido o enfrentamento esperado.

informações indicando que teriam escapado por sistemas de esgotos, o que demonstra que a operação teve falha de planejamento: ao que parece, não se levou em conta, além do enfrentamento, a fuga, e por onde esta poderia ocorrer. Será preciso acompanhar o noticiário e o desenvolvimento das ações para ver se isso se configura, explicando-se o motivo de não ter havido enfrentamento.

Como ficou dito no início desta matéria, o UOL afirma que não há condições de saber se todas as posições foram tomadas. A proibição de sobrevoo de helicópteros de jornalistas impede a imprensa de fazer verificações, ficando os jornalistas a depender das informações dos comandandes das tropas.

A questão é o day after, a volta ao cotidiano. Aí entram manutenção da segurança permanente, serviço de inteligência e ação do Estado no plano social. Sem isso, tudo voltará. E pode voltar por meio de atitudes de desfaçatez: o império das milícias, esse misto de criminosos e policiais que exploram os moradores da favelas. A polícia precisa se livrar dessa banda podre.

É ação de longo prazo, que envolve também assistência ao policial, valorização profissional, promoção social também daquele que defende a lei, a fim de que não seja tentado a se corromper.

Imagens ao Vivo da ocupação do complexo do Alemão