Um louco
terrível;
um caminho
do horizonte
Às vezes pensava que era louco; um
louco terrível, agressivo e logo depois sorumbático, que necessariamente deveria
ser preso a uma antiga masmorra – daquelas de filmes B em preto e branco – e
alimentado a nacos de pão dormido.
E sendo louco sabia umas poucas e
pobres histórias, produto certamente de seus devaneios e pequenas expectativas,
que viam no sonho de suas histórias caminhos a desvendar, locais ermos e
maravilhosos, sendas a ser percorridas. Quem sabe, magníficos esconderijos.
Esconderijos; sim, sim: esconderijos.
Quer algo melhor que um esconderijo?
Pois bem: convicto de que era
louco armou-se de tal direito – costumava dizer “a loucura e meu maior
patrimônio, inalienável direito” – e foi à casa dos amigos a anunciar que agora
teria permissão para sair pela rua a gritar cousas sem sentido, acusar as autoridades,
pedir que o sol de pusesse mais cedo.
Encontrei-o ontem. E como sou seu
amigo, e ele precisava deixar os amigos a par de que que agora estava oficialmente
louco, fez-me o comunicado.
Alegrei-me muito, parabenizei-o e
fomos a uma fonte beber como dois bichos calmos e mansos, a cara afundada na
água.
As pessoas olhavam, estranhavam.
Achamos isso ótimo, acabamos de beber e partimos rumo ao horizonte. Sem destino
ou noção de nada. Apenas o horizonte, sempre o horizonte.
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Ah, sim!, esqueci de dizer: eu
enlouquecera um dia antes dele.