quarta-feira, 25 de abril de 2012

Complexo de vira-lata

Quando começou a febre em torno do campeonato espanhol tive e nítida impressão de que estávamos voltando ao complexo de vira-lata; aquele que Nelson Rodrigues havia diagnosticado nos idos dos anos 50 ao dizer que a Seleção, mesmo sendo formada por grande jogadores, tremia frente aos europeus numa espécie de complexo de inferioridade caboclo.

Quando vi o pantim em torno de Messi, europeizado a partir da Argentina, tive pena de nós, aparentemente condenados a não ter identidade, a imitar sempre "o que vem de fora", "o de fora é melhor", o "importado" , o "benfeito". Agora até mesmo o futebol, mesmo que só em imagem televisiva, teria de ser o "importado". 

Notei o perigo se avolumando quando vi a Globo transmitindo jogos que não têm nada a haver com a realidade brasileira. Por quê? Porque a Globo não perde tempo. E mesmo à custa de despersonalizar o futebol brasileiro, dizer por vias indiretas que nosso futebol se esgotou ou quase isso, e que agora o "espetáculo" o "encantamento" está lá fora,  investe em qualquer coisa que dê retorno - e audiência, claro.

Quando a Globo passa a avalizar um jogo lá não sei aonde, esteja certo: busca dominar aquele segmento e transformá-lo numa "necessidade". Portanto, é necessário assistir jogos até no inferno porque a Globo está dizendo. Além do mais, ela passa a assumir esse entretenimento como patrimônio, do mesmo modo como se tornou dona da Seleção. A Seleção é parte da grade de programação da Globo. Isso naturalizou-se e é normal somente a emissora dos Marinho transmitir seus jogos. 

Agrega-se a isso o fato de que a Globo termina por dizer ao brasileiro que, tendo domínio de jogos na Europa, predominando com a Seleção e sendo hegemônica na produção de ícones e representações que calam fundo do imaginário nacional, ela é a melhor TV do Brasil. E sendo a melhor é preciso que seja assistida, mesmo passando um jogo de times que, a rigor, não nos interessam. 

Mas, foi bom que o Barcelona tenha sido desclassificado. Messe caiu dos seus pés de barro. Tanto que a folha o saudou com uma manchetinha: "Ex-imbatível."

terça-feira, 24 de abril de 2012


A ilha flutuante

Certa vez exilei-me numa ilha flutuante. Exílio não é, a rigor, a palavra certa uma vez que fora contratado por seu dono e senhor para a ocupar e fiscalizar. Fiscalizar o quê?, perguntei-lhe, já que estaria ali sozinho e ao largo do mundo. Fiscalizar tudo, disse-me ele. E se não acontecer nada?, insisti. Então, fiscalize o nada, exigiu. E assim foi determinado e assim foi feito, conforme vos contarei. A ilha estava ancorada a cem metros da praia e a ela um barco me levou. Tão logo soltei a âncora, a ilha se pôs a navegar. 


Devo dizer que é emocionante, comovente e glorioso habitar uma ilha flutuante. Selvática e bela, uma ilha flutuante não pode afundar, pois não é barco; grande e larga, floresta a ocupa de lado a lado, sem que seja habitada por selvagens ou outros homens agressivos e perigosos; livre, pois flutua, torna-se um país sem estar presa a um continente.

Tão logo parti o céu se fez escuro e poderosa tempestade se abateu sobre o oceano e sobre a ilha. Para escapar da perturbação dos elementos atirei-me em linha reta, correndo pela mata em busca de abrigo, que surgiu na forma de caverna acolhedora e vasta. E como estava ali para fiscalizar entrei na gruta enorme e me pus a esquadrinhá-la. Havia enormes salões e declives que me levaram bem a fundo. Estranhamente, uma suave claridade se espalhava pelos ambientes, mesmo os mais distantes, nos quais me internava. Ouvia, bem fraco, o troar da tempestade.

Não sei quantos dias passei fiscalizando a caverna, mas é preciso informar que, quando de lá saí, após longo sono, contava com a idade de 70 anos. Ao chegar à ilha, contava com a idade de 20 anos. Ao sair, descobri que não me encontrava só: a ilha era agora habitada por animais, todos sábios e ponderados, segundo se diziam. 
Informaram-me que não se haviam apresentado ao momento de minha chegada porque, jovem e tolo, não os compreenderia e assim esperaram meu amadurecimento. E o que fazeis aqui?, indaguei. Nada, garantiram. Nada, a não ser colocarem-se à minha disposição para ser fiscalizados. Mas eu, como não podia fiscalizar o nada, nada fiscalizei e, ao não fazer isso, estava trabalhando intensamente em nada.

Os animais regozijaram-se ante minha proficiência vazia. Perguntaram então o que desejava que fizessem. Disse-lhes que deveríamos todos seguir em direção à praia, a fim de observar o navego da ilha. Ali chegamos rapidamente e veio então nova tempestade. Corri para a caverna. Os animais fugiram para o centro da mata.

Cumpri na caverna o mesmo périplo fiscal e adormeci. Ao acordar, contava com 20 anos. Isso quer dizer que num processo de engenharia temporal reversa, haviam se passado 50 anos. E a ilha estava de volta ao mesmo lugar de onde eu partira. O seu senhor e dono pediu-me as contas do que fiscalizara e apresentei-lhe a história que ora vos relato. Ele aprovou com louvor o meu relatório e mandou-me embarcar novamente, a fim de continuar fiscalizando o nada. 

Destarte, nada me resta, a mim e a vós que ledes meu canto, que continuar a flutuar sem rumo ou prumo, ao léu e ao nada, que é a herdade que de há anos recebemos. E nada mais havendo a tratar, encerro este texto, que vem aí nova tempestade.

Recebo e divulgo

Docentes das Universidades Federais realizam um Dia Nacional de Mobilização em defesa da Carreira


Nesta quarta-feira, 25 de abril, docentes das Instituições Federais de Ensino Superior de todo o Brasil realizam um dia de mobilização e protestos em defesa Carreira e contra a morosidade do Governo Federal no atendimento à pauta de reivindicações da categoria. Entre os principais pontos, o atraso no pagamento do reajuste de 4% e incorporação ao salário base das gratificações do Magistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, acordados para vigorar a partir do dia 1º de março.

A data faz parte da agenda de atividades do PROIFES-Federação, e inclui uma pauta propositiva desenvolvida em conjunto com os sindicatos federados. “A mobilização dos docentes em todo o Brasil será fundamental para assegurar avanços importantes e investimentos adequados para a nossa Carreira”, avalia João Bosco Araújo, presidente do ADURN-Sindicato, entidade filiada ao PROIFES.

O ADURN-Sindicato e os sindicatos federados ao PROIFES protestam, ainda, contra a inclusão de itens não negociados com as entidades no PL 2203/11 e pelo cumprimento do acordo de 2011. “Não podemos permitir que os professores das IFES sofram com políticas que querem restringir o necessário avanço do Ensino Público gratuito e de qualidade”, ressalta o diretor de Política Sindical do ADURN-Sindicato, Wellington Duarte.

Apesar dos recordes de arrecadação e da política de melhoria da infraestrutura e expansão das Universidades Federais do país, os professores reivindicam a valorização da profissão e defendem mudanças na construção da Carreira.

Há consenso entre as entidades dos Servidores Públicos Federais de que o cenário econômico segue apontando para uma sequência de recordes de arrecadação. O superávit primário tem superado as expectativas do próprio governo, e o entendimento é de que há condição para assegurar avanços importantes na administração pública.

Agenda

Nesta terça (24), o PROIFES-Federação participa de encontro com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), como integrante do Fórum Nacional dos Servidores Públicos Federais, para discutir pautas que interessam diferentes categorias do funcionalismo público, entre elas, o PL 2203/11, data base, orçamento 2013, e regulamentação da Convenção 151 da OIT.

Já na quarta-feira (25), será a vez de dar sequência às negociações específicas sobre as carreiras do Magistério Superior e do EBTT, quando serão aprofundados os debates da estrutura interna das Carreiras (número de classes, níveis e diferenças percentuais remuneratórias respectivas; relação entre Retribuição de Titulação e Vencimento Básico); desenvolvimento nas carreiras, e enquadramento.


domingo, 22 de abril de 2012

Leio na Veja e compartilho

Procura-se Shirley MacLaine de Oliveira

Tenho nos últimos dias atendido a umas estranhas ligações que dizem, em voz feminina gravada:"Se você é Shirley MacLaine de Oliveira favor ligar com urgência para..." e logo em seguida dá um telefone 0800, cujo número completo não memorizei.

Como não sou Shirley MacLaine de Oliveira não liguei para o número sugerido, mas temo que esteja sendo procurada desesperadamente. Sei lá o que está esperando por Shirley MacLaine de Oliveira: será uma fortuna deixada por uma velha tia-avó escocesa, milhões de antigas moedas escondidas num baú perdido nas ruínas de um castelo? Quem sabe algum apaixonado a busca desse jeito tão estabanado, divulgando a meio mundo sua paixão e seu amor? Ou, o que seria terrível, a Máfia põe em prática uma armadilha para capturá-la e matá-la por causa de dívidas em algum cassino em Las Vegas? Ou então, meu Deus, Shirley MacLaine de Oliveira é da CIA e seus inimigos a querem morta, o corpo encontrado em uma piscina chaia de champanhe? 

Será que ela -  e isso seria malíssino -, deu meu telefone a seus amigos perigosíssimos e eles vão querer me matar sob acusação de não-sei-o-quê? Enfim, não sei o que se passa. Só sei que alguem busca Shirley MacLaine de Oliveira desesperadamente. E se alguém puder ajudar ajude. Não aguento mais esses telefonemas para minha casa: "Se você é Shirley MacLaine de Oliveira, favor ligar com urgência para..."