sábado, 15 de agosto de 2015

PEQUENA HISTÓRIA DA CEGUEIRA



A fábula dos cegos e dos crocodilos


Certa vez um homem recebeu uma estranha proposta: "Você topa ser cego?"


Como estava em difícil situação financeira o homem quis saber quais seriam as vantagens de tornar-se cego. Ouviu que, como cego, teria condições maravilhosas como andar com uma bengala e ter um guia, além de ter a sua vida contada em livro que venderia milhões de exemplares. Com isso ganharia muito dinheiro e seria feliz para sempre.

O homem aceitou e imediatamente tornou-se cego como que num passe de mágica. Imediatamente recebeu a bengala e logo um guia assumiu o comando de sua vida. O homem perguntou ao guia para onde iriam e descobriu, para seu espanto, que o guia também era cego pois havia recebido idêntica proposta para ser cego.

Resumo: como todos haviam aceito a proposta, um cego guiava o outro e o outro comandava um terceiro e assim por diante até formar-se incontável multidão. A turba, em desespero, passou  a andar a esmo até que todos chegaram a um grande pântano. 

Quando já estavam com lama chegando ao pescoço um deles lembrou-se: se para todos ficassem cegos houvera uma espécie de contrato deveria haver destrato a fim de que pudessem voltar a enxergar e saber pelo menos onde estavam e como poderiam sair do atoleiro.

Todos concordaram. Imediatamente voltaram a ver, mas era tarde: velhos crocodilos, habitantes antigos do pântano, atiraram-se sobre eles e fizeram a festa. Pouquíssimos escaparam. Os sobreviventes então, a título de exemplo, passaram a contar a seus filhos a seguinte história:

Certa vez um homem recebeu uma estranha proposta: "Você aceita ser cego?"

Como estava em difícil situação financeira quis saber quais seriam as vantagens. Ouviu que, como cego, teria condições maravilhosas como andar com uma bengala e ter um guia, além de ter a sua vida contada em livro que venderia milhões de exemplares. Com isso ganharia muito dinheiro e seria feliz para sempre...

A história passou a ser contada e recontada, contada e recontada e recontada, contada e recontada geração após geração. Mas o pior  era o seguinte: mesmo contando a desdita ninguém sabia como sair do lamaçal. Que era grande, grande demais para quem havia aceito o acordo de por um dia, somente um dia, assumir a condição de cego. Veja só...
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Endereço da foto:  https://www.google.com.br/search?q=CROCODILO&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAWoVChMI-IzfqtarxwIVQo4NCh0I3Qbn&biw=1920&bih=922#imgrc=I0pkMM5ce-nzzM%3A


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O beijo, o marinheiro, a moça...



Kiss me, kiss me, my love...



A foto de Alfred Eisenstaed completa 70 anos neste 14 de agosto. Trata-se de um dos pics mais emblemáticos do fim da Segunda Grande Guerra. Poderosa como flagrante, serendipity puro, a imagem é uma espécie de emblema glamouroso, documento exato daqueles dias de uma efervescente Times Square, Nova Iorque. 


Um momento mágico que retrata o impulso, o gesto, o encontro de quem não havia marcado qualquer instante para se encontrar. São dessas coisas da vida: instantes passageiros da grande efemeridade que é ser, estar, viver, passar e virar lembrança. 


Um casal que se desfez sem nunca ter sido casal, um par que se separou após uma parada impetuosa e ardente, consumindo-se ali, no ato mesmo da atuação. Uma foto, um momento, uma época. Tudo tão breve, mas gravado para sempre entre as coisas fortuitas que compõem nossa curta eternidade.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Delator premiado, o amável salafrário





Os porcos devolvem as pérolas 

https://padrepauloricardo.org/blog/as-perolas-jogadas-aos-porcos
A esdrúxula figura do delator premiado é a contrafação da honestidade, o arremedo sórdido da honradez; imitação em si fraudulenta do que seria digno e honroso. Temos no Brasil exemplos múltiplos desses tipos. Bandidos de casaca, presos, atiram-se a acusar seus comparsas até há pouco aliados na urdidura do tecido sujo da corrupção. 

O substantivo prêmio sugere retribuição a quem, por elevado desempenho, fez jus a tal gesto que valoriza o trabalho bem feito ou ação de grande valor. 
 Logo, a ação do delator jamais poderia ser tida como digna de premiação, galardão, honra ao mérito. 

Tal fato, delatar para livrar-se de última hora de punição iminente, revela outro aspecto do caso: nossa tradição de dar um jeitinho, sair de lado, escapar do imprensado. 

Bandido é bandido. E delatar não o faz melhor que seus semelhantes, aqueles a quem agora acusa. O delator é tão somente o traidor, o covarde que se aproveita dessa brecha na lei e, de alguma forma, aplica um golpe para se safar. 

Ao invés disso, dessa forma de amabilidade jurídica, deveria sim ter a polícia o dever de investigar a fundo, obrigar o ladrão de espinhaço gordo a confessar tudo após a reunião, pelos agentes da lei, de provas materiais que o levassem a cumprir longa e pesada sentença. 

Ao contrário, temos criminosos negociando informações com a justiça como se tivessem sincera e bem-intencionada disposição, respeito à honestidade, vontade de bem agir. Lamentável. É o velho jeitinho brasileiro. Os porcos devolvendo as pérolas.