sábado, 21 de junho de 2008

Todo enriquecimento de Urânio é ilícito*

Caras Amigas,
Caros amigos,
Israel acusa o Irã de estar enriquecendo Urânio. Está nas coisas de jornal hoje e de quase todos os dias. Acho que Israel está certo. Urânio é um tipo do sujeito que deve permanecer pobre; se possível, abaixo da liha de pobreza. Senão, quando fica rico, dedica-se a contribuir com a indústria bélico-nuclear. E fica valente; valente que só ele. Não vêem os Estados Unidos? Estão valentes assim porque firmaram um pacto com Urânio, o homem ficou rico e agora os americanos ameaçam o mundo todo.

É um perigo. No Brasil, uma vez me encontrei com Urânio. Aqui, parece, ele é pobre. Sinceramente, não tenho certeza. Mas esse Urânio que encontrei era pobre e veio me pedir um dinheiro para "tomar conta do meu carro". Eu expliquei que estava sem trocado. Mentira: eu sabia que ele era Urânio e, de qualquer moedinha que ele tivesse, iria fazer algum tipo de investimento, enriquecer e aí, ou seja, aqui, as coisas poderiam ficar piores do que já estão.

Resulado: quando voltei, meu carro estava todo arranhado e ele ainda escreveu, a ponta de canivete: "Minha vingança será maligna."

Vendo aqui, pensei: será que estão enriquecendo Urânio aqui? Será por isso que todo dia a Polícia Federal prende magotes e mais magotes de corruptos? Será que os corruptos estão enriquecendo Urânio, num plano sinistro para dominar tudo? Agora, sinceramente, fiquei com medo. Vou tentar importar uma máquina de surras para aplicar nesses corruptos.
Emanoel Barreto

*Agora, falando sério: já pensaram, num país como o nosso, se houver algum problema - grave - com aquelas usinas de Angra, no Rio? Não pensem. Não pensem.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A máquina de surras

Caras Amigas,
Caros amigos,
O período pré-eleitoral lembrou-me viagem que fiz há anos a um país onde a corrupção foi banida, literalmente, do seu mapa. Lá se fala um idioma absolutamente incompreensível à maioria dos mortais, mas que eu, não me perguntem como, aprendi a falar. Assim, convidado por um amigo desse país, passei lá uns quinze dias.

Logo que cheguei li no jornal a seguinte manchete: "oo8989nfjuu2nn!".

A tradução é o seguinte: "Estamos há 50 anos, 32 dias, 7 minutos e 14 segundos sem corrupção!

Encantado e ao mesmo tempo perplexo, perguntei ao meu amigo: "kkmjinin.leirunim?"

Ele me respondeu: "njkçç51313,,mjuueu..aksoiuienonn[==9931zx....8585fhfhwt43==-,k88jmamsmkmemdjujmadikdkdmmmm."

E eu: .ç´ç.çlikmiuekmiu9aolemroelsmi,mlkoiomlia?"

Resposta: "utjm kkkk juuyqtbdnkdçdpdã[a.ça]]]açaa,l".".."

Tradução de tudo: o amigo explicou-me que, quando a corrupção chegou a níveis insuportáveis, um grupo de parlamentares honestos conseguiu aprovar uma lei instituindo a máquina de surras. Um complexo e ciclópico instrumento onde eram metidas as pessoas que votavam em corruptos - a foto vocês viram, na abertrura desta matéria. Incrível, não?

E isso, a partir de um raciocínio simples: os corruptos são eleitos pelo povo. Sempre os mesmos, sempre para os mesmos cargos; às vezes até para cargos mais elevados. Resultado: de quem é a culpa da corrupção? Do povo, claro. Todos são sabedores dos atos de corrupção, no entanto, ajudam a manter os corruptos no poder.

Então, com a máquina de surras, sempre que se noticiava um caso de corrupção, um sofisticado sistema de informática indicava os eleitores do corrupto e todos eram levados à máquina de surras. Lá dentro, com todos bem trancados, braços robotizados baixavam a lenha nos eleitores, de forma que todos eram punidos, e bem punidos, por colaborar para com a corrupção. Quanto aos corruptos, eram deportados para regiões polares e lá ficavam para o resto dos seus dias.

Ao longo do tempo, e com o funcionamento ininterrupto da máquina de surras, acabou-se a corrupção. Parlamento e governo funcionam que é uma beleza. Entretanto, um dia antes de eu voltar, fui informado: "io,murunnbgre4232=-08k,dkkkk"."

Perplexo, quis saber o porquê daquilo. "Aquilo", aquelas garatujas que vocês viram acima, dizia o seguinte: um sujeito iria logo mais ser levado à máquina de surras. Motivo? Fora descoberto que ele havia forjado documentos que permitiriam a imigração de grandes contingentes de corruptos, dotados de gênio assombroso em práticas de malversação de recursos públicos, chantagens, suborno, peculato e formação de quadrilhas de colarinho-branco. O objetivo era beneficiar uma multinacional, notória poluidora do meio ambiente.

Fui assistir ao ato. O sujeito chegou e foi jogado lá dentro. Depois de mais de meia hora perdido nos corredores da máquina de surras, saiu só o bagaço. E quando ele, cambaleando, perguntou: "Aonde fica o Brasil? Preciso ir para lá", parei, perplexo. Dei um jeito de escapulir de mansinho, peguei o primeiro avião e fugi. Não queria me meter em confusão.

Aqui chegando, surprise! O tipo havia chegado antes de mim e já estava fazendo comício. Era candidato a senador. E com grandes chances de ser eleito.

Em silencioso pânico pedi: "Deus, mandai-nos uma máquina de surras..."

Emanoel Barreto

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Não há liberdade

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A imagem da Liberdade guiando o povo, tela de Delacroix.
O mundo, velho mundo, sempre esperou e espera por esse momento.

O mundo, diga-se, é o turbilhão de gente que se curva ao peso da opressão em suas mais diversas e perversas formas.

Não há liberdade quando jovens são levados por militares para ser assassinados num morro carioca.

Não há liberdade quando alguém precisa e não tem recursos para o remédio, o atendimento, a escola, a vida, a sobrevivência.

Não há liberdade quando o tempo passa, o trabalhador verga ao peso da idade e das desilusões e tem somente de seu a pobre condição humana.

Não há liberdade quando grupos monopolistas dominam a economia e espalham a democracia da fome.

Não liberdade quando as lágrimas habitam os olhos e impedem o olhar de descobrir horizontes, pois também não há horizontes.

Não há liberdade, não há liberdade, não há liberdade. Isso os jornais dizem todos os dias. Mas ninguém entende, nem mesmo os jornais; que estão emaranhados à ordem estabelecida e que diz: "Não há liberdade."
Emanoel Barreto

terça-feira, 17 de junho de 2008

Passarão e passarinhos

Caras Amigas,
Caros amigos,
Hoje, um bilhetíssimo na poesia de Mário Quintana, com Poeminha do Contra. Vejo vocês amanhã.
Emanoel Barreto

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Foto:
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=20204364

domingo, 15 de junho de 2008

Se lembra de Pobre, o zumbi? Hoje, é funcionário-fantasma...

Caras Amigas,
Caros amigos,
Há uns dias publiquei a história de Pobre, que morreu, e sem atestado de óbito não foi aceito Do Outro Lado. Assim, voltou, e na qualidade de zumbi, foi preso. Segundo acordo internacional de que o Brasil é signatário, zumbis somente são aceitos no Haiti, que detém a propriedade intelectual no assunto.

Preso, Pobre ficou sozinho na cela. Os companheiros tinham medo dele e preferiram ficar amontoados em outro cubículo. Da cela onde estava, Pobre podia acompahar o som dos noticiários de TV e em poucos meses formulou uma espécie de vocabulário de crimes como: corrupção ativa e passiva, peculato, concussão, prevaricação, suborno e outros típicos dos chamados crimes de colarinho-branco.

Prestando muita atenção, percebeu que as penas anunciadas para tais criminosos eram altas, fora devolução de dinheiro, multa... Conversou com um advogado de porta de cadeia, que atendia a um preso que ficava na cela ao lado, e soube: esse negócio de ser zumbi era apenas um acordo entre Brasil e Haiti. Não havia penalidade específica. Unicamente, o Brasil se comprometia a não produzir zumbis, do mesmo modo que os haitianos não fabricariam bebida alcoólica com o nome de cachaça. Só isso.

Então, quando foi um dia, Pobre aproveitou-se da manifestação de uma dessas ONGs de direitos humanos e falou a um dos seus integrantes a respeito do seu problema. Ele era um sem-vida, o único no Brasil e estava preso por isso. Enquanto isso, os peculatários e quejandos estava aí, soltos e zombando de todos. Pronto: foi o suficiente para que os ongueiros se mobilizassem. Partiram para a passeata: um sem-vida era um achado. Valia uma passeata.

Outros grupos juntaram-se a eles e logo Pobre estava solto. Houve um gigantesco comício em comemoração. E foi lançada uma campanha: a promoção de suicídio coletivo entre os pobres dos mais pobres; nenhum teria atestado de óbito, todos voltariam à Terra e formariam o grande movimento dos sem-vida.

O Governo enlouqueceu: não ia dar para dar um Bolsa Vida aos mortos, já que os vivos iriam reclamar. Iriam dizer que o dinheiro do Bolsa Vida bem poderia ser usado com os... vivos, é claro. Bolsa Vida é para os vivos, não para os mortos, diziam os vivos.

Estabelecido o contencioso jurídico, reuniram-se os luminares do Direito e formou-se uma comissão de alto nível, cujo resultado foi o seguinte: convidar Pobre para uma reunião sigilosa. Ele foi; chegando lá, foi-lhe proposto um alto cargo, o cargo de Funcionário-Fantasma. Ele esquecia esse negócio de Bolsa Vida e viveria, ou melhor, morreria eternamente, ganhando um bom dinheiro.

Pobre aceitou na hora e até hoje seus descendentes - ele casou-se com uma múmia elegantíssima da Terceira Dinastia - estão aí, infestando as repartições desta patria amada, salve salve; brasileira, brasileira; do Brasil nacional.
Emanoel Barreto