sábado, 23 de janeiro de 2016

Muda o comando da PM, mas Natal ainda convive com o medo



O silêncio dos inocentes

A lamentável e – e perigosa – situação da violência no Rio Grande do Norte teve afinal uma reação do governador Robinson Faria: substituiu o comandante da Polícia Militar.  Os novos comandante-geral e subcomandante são os coronéis Dancleiton Pereira Leite e Sairo Rogério da Rocha e Silva. Mas foi preciso muitas mortes, praticadas de forma cruel e covarde, para que o governador tomasse a decisão.

Com isso atribuiu unicamente ao comandante anterior, coronel Ângelo Dantas, a responsabilidade pelo descalabro reinante. De alguma forma concordo com a decisão: creio que nunca vi uma Natal tão despoliciada como agora. Como também nunca vi Natal e grande Natal com suas ruas tão sujas do sangue de pessoas inocentes, vítimas de criminosos desenvoltos e atrevidos.  

Mas vejo o assunto ainda sob outro aspecto: se o comandante não agia, por que o governador não o substituiu logo? Por que esperou tanto? Por que esperou morrer tanta gente? Por quê? Simples: o governador foi tão omisso quanto o comandante da PM por ele demitido. E então, quando viu a situação afundar em descontrole Robinson repassou a culpa ao subordinado. E fim.

Detalhe preocupante: os novos comandante e subcomandante assumiram e até agora nada fizeram. Pelo menos em termos de ação visível, com patrulhamento ostensivo ampliado e ofensivo não vi nada disso. Faltou, ao comando recém-empossado, uma ação de impacto: tropa na rua, soldados armados para dar combate aos criminosos. Ou seja: houve mudança de nomes, mas não se pôs fim à inércia e sucumbência do estado ante a criminalidade. Pelo menos é o que me parece.

Tal aspecto, - polícia na rua - seria essencial até para dar à sociedade a sensação exata e real de estar protegida. E intimidar os criminosos. Criminoso precisa temer a polícia. Sem isso não dá. Mas, vejamos o que fará o novo comando. Somente não se peça paciência à sociedade:  não dá mais para esperar. Não dá mais para aceitar novas vítimas, novas lágrimas, tragédias e o silêncio dos inocentes. 

Como também não dá mais acatar que bandidos fujam tão facilmente dos presídios e aprisionem o cidadão em casa como se fora este e não aqueles os que devem ser atirados ao fundo do cárcere.

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Mantém-se descalabro no Walfredo Gurgel

Recebo do Sindicato dos Médicos a matéria que segue:

Faltam pediatras no Complexo Hospitalar Monsenhor Walfredo Gurgel em Natal. Este problema foi constatado na última quarta-feira (20), em vistoria técnica realizada por representantes do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed/RN) ao setor de pediatria da unidade. 

Atualmente 15 profissionais se desdobram para fechar as escalas, deste número sete estão em processo de aposentadoria e até o final de 2016 pelo menos três já estarão inativos, desfalcando a equipe e comprometendo os atendimentos as crianças. 

Tamanha sobrecarga de trabalho se deve primeiramente ao fechamento das pediatrias que existiam no Hospital Dr. José Pedro Bezerra (mais conhecido como Santa Catarina) e no Hospital Deoclécio Marquês de Lucena (em Parnamirim), gerando uma demanda maior de pacientes do que os médicos costumavam atender em um centro de referência que deveria se voltar apenas para traumas. Além disso, os últimos concursos públicos realizados não abasteceram o quadro de profissionais de forma equivalente. 

Também segundo informações colhidas junto aos pediatras, está havendo por parte da direção do Walfredo uma proibição relativa aos direitos trabalhistas do gozo de férias e licenças prêmio em função dessa falta de pessoal.   

O presidente do Sinmed/RN, Geraldo Ferreira, considera a situação bastante preocupante e já enviou ofícios para a direção do hospital e para a Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP) exigindo providencias em caráter de urgência. 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Minha conversa com um macaco e um papagaio




O uso correto
do papel crepom



Estamos em 1570. Ontem fui procurado por um macaco e um  papagaio. O macaco, homem de aspecto formal e respeitável, era uma pessoa de sólida constituição apesar da idade, 76 anos; e inglês, asseverou com uma ponta de orgulho. O papagaio, um legítimo espécime africano, era cinzento e, disse-me, nascera em Paris.

Confesso não esperava a visita, especialmente de pessoas que não conhecia, mesmo sendo gente de alta qualidade e distintos procedimentos como logo percebi.

Recebi-os no vestíbulo e levei-os ao meu escritório, onde assentaram-se. Aceitaram café árabe que importo de um amigo marroquino. Depois, conhaque e charutos. Logo vi que eram homens do mundo, acostumados a finas recepções, pois se serviam com desenvoltura . "Então, a que devo a honra? E quem lhos indicou a mim?", quis saber.

Responderam que fora um capitão-de-longo-curso e mencionaram o seu nome: Mestre Aplononius. "Ah! É um velho conhecido", eu disse, e completei: "Viaja muito pelos mares da Tasmânia". Isto posto, fizeram questão de se apresentar: o gorila disse ser grande estudioso de coisas metafísicas, meditações extensas, pensamentos sibilantes e rotundas conversações.

O papagaio, asseverou-me, era um homem já muito vivido. Imagine, salientou, que estivera pousado no ombro do próprio Sir Francis Drake, com ele participando de grandes momentos e largas batalhas. Depois viajara meio mundo; da Ásia Central à América, da Zelândia a Cipango; visitara os países mais distantes e os povos mais obscuros. Afinal aportara aqui, reunindo-se ao macaco e suas inquirições.

Mas, então, eu quis saber: em que poderia ajudá-los? É simples, aduziram: queriam saber se lhos poderia prover de informações e conhecimentos de questão que consideravam vital à explicação da existência humana: queriam saber qual o uso correto do papel crepom. Isso explicaria o sentido da vida, a razão de ser da existência humana, disseram.

Fiquei pasmo: era realmente questão de alta indagação, da qual ainda não me apercebera. Passamos então a lucubrar fabulosas teorias, fizemos ingentes esforços de pensar, consultamos tratados de ontologia e as filosofias mais distantes. Perda de tempo. 

Sim: esqueci de dizer que a visita tivera início logo após o entardecer e agora já nos encontrávamos nos albores do dia seguinte. E nenhuma resposta nos acudia.

Havíamos consumido uma caixa de charutos e três garrafas de conhaque e o resultado era apenas uma terrível e acabrunhante dor de cabeça. Afinal, cansados, os dois visitantes ilustres se retiraram e me deixaram com essa grande inquietação que, sem dúvida, respondida, explicaria a razão da existência humana: o uso correto do papel crepom.

Agora, pouco tempo depois de sua saída, veio-me a ideia de que o uso correto do pepel crepom diz respeito ao galopar dos cavalos. Sim, tem tudo a haver papel crepom e cavalos, não é mesmo? Percebi isso quando um fiacre passava à minha porta, e o martelar das ferraduras acuou meus ouvidos feridos pela dor de cabeça. Ao ter essa epifania atirei-me em  perseguição ao fiacre em um landau puxado por um dos meus criados - não costumo usar animais em atos típicos de seres humanos - até que o alcançamos, recém-estacionado.
http://www.google.com.br/imgres?q=cavalo&hl=pt-BR&safe=off&amp

Dirigi-me ao cavalo que puxava o fiacre a fim de que me explicasse o motivo da existência humana via  uso correto do papel crepom. Alguém que se dizia seu dono postou-se contra mim. Chamei um dos meus lacaios que rosnou para ele, pondo-o a fugir. Desatrelei o honorável cavalo daquele horrível fiacre e coloquei-o no landau, trazendo-o à minha vivenda. 

Neste momento estamos às voltas com um litro de uísque irlandês. Altos estudos. Depois falaremos do uso correto do papel crepom. E, garanto, descobrirei o sentido da vida. Informarei tudo a você no momento certo. 

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Mossoró sem carnaval

Leio nas folhas que a prefeitura de Mossoró não vai gastar dinheiro com o carnaval. Não por decisão séria, caso pensado, visando o uso das verbas em cosias realmente importantes, mas por falta de dinheiro. Que por sua vez inexiste devido à incompetência da administração. Pelo menos evitou-se mais um desperdício. 



 

domingo, 17 de janeiro de 2016

Saúde em caos no Rio Grande do Norte



Pandemônio no
Santa Catarina
O Sindicato dos Médicos informa a respeito da lamentável situação do hospital: bebês correm risco de vida e dia 23 enfermeiros vão parar em protesto à falta de dinheiro
Hospital usa gaze como papel higiênico
Hospital Santa Catarina: pessoas largadas no corredores

No hospital Drº José Pedro Bezerra, também conhecido como hospital Santa Catarina, na Zona Norte de Natal, as gazes que deveriam ser utilizadas nos atendimentos aos pacientes também estão sendo usadas de forma improvisada por funcionários e internos na falta de papel higiênico. O problema foi constatado em vistoria técnica realizada por representantes do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed/RN) na última quarta-feira (13).

Além disso, o segundo maior pronto-socorro da capital (referência em ginecologia, obstetrícia e neonatologia de alto risco), mas que também recebe urgências de clínica médica e realiza cirurgias em geral, enfrenta um velho aperto das unidades de saúde do estado: a superlotação.

A situação preocupante é que no hospital três gestantes de gêmeos e uma de trigêmeos esperavam para dar a luz, mas só havia uma vaga disponível na UTI neonatal. O que significa que seis das sete crianças que nasceriam estariam completamente desassistidas diante de alguma complicação após o parto.
Falta de cuidado: paredes sujas ameaçam saúde dos pacientes

Segundo dados da direção do hospital, o Santa Catarina possui 52 leitos na clínica geral, 26 na clínica cirúrgica, 63 na obstetrícia cirúrgica, 24 na obstetrícia clínica, 10 na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) adulto e 20 na neonatal.

Mesmo com esta capacidade razoável para atendimento os corredores estavam abarrotados de macas e muitos pacientes aguardavam atendimentos até mesmo em cadeiras plásticas.
Como é o caso de Carlos Costa dos Santos, 33 anos, que apresentava um diagnóstico de pancreatite (inflamação no pâncreas) e colecistite (infecção na vesícula biliar). Além das dores e do desconforto de aguardar a cirurgia sem uma maca, Carlos corria risco de morte se a cirurgia não fosse realizada e o quadro se agravasse.
E os problemas não se limitam apenas aos pacientes, os médicos e enfermeiros também sofrem com alojamentos precários. Camas com colchoes deteriorados, paredes mofadas, armários quebrados e os equipamentos de televisão, ar condicionado, geladeira e fogão que existem foram adquiridos através de dinheiro dos próprios funcionários.

Em meio a todo este caos, o Sindicato Intermunicipal dos Vigilantes do Rio Grande do Norte (Sindsegur/RN) deflagram greve por atraso no pagamento dos salários dos guardas terceirizados, o que deixou as unidades de saúde do estado sem segurança.
Como se não bastasse, o Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Hospitais e Casas de Saúde de Natal do Rio Grande do Norte (SIPERN) já notificou o hospital que no dia 23 também irá paralisar suas atividades por falta de repasses, o que deve comprometer em 70% a nutrição do Santa Catarina.

“Mesmo acostumado com as deficiências do sistema de saúde pública no Brasil estou profundamente surpreso com a grave situação dos hospitais do Rio Grande do Norte”, declarou o presidente do Sinmed/RN, Geraldo Ferreira.
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Sofrimento e insensibilidade 
 A situação do sistema de saúde pública no Rio Grande do Norte é alarmante. A imprensa denuncia com grande frequência o quadro de desespero e sofrimento a que está exposta qualquer pessoa que tenha a desgraça de precisar de um hospital público. 
A inexistência de uma política setorial competente e eficaz institucionalizou tal situação de tal forma que aparentemente sua solução seria impossível.
Mas é possível resolver tudo o que foi acima descrito na matéria. Exigem-se para tanto decisão e competência, sensibilidade e zelo. Sem isso, sem decisão de fazer, tudo continuará como está. É verdade. E é muito perigoso que seja verdade. 
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Fotos: Sinmed