quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"Presidente, socorre eu!"

Caros Amigos,
As coisas de jornal contam que o lavrador Ângelo de Jesus, vindo da Bahia, tentou invadir o Palácio do Planalto, faminto e desesperado. Queria falar com Lujla. Enquanto era dominado pelos seguranças, os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social passavam ao largo, envoltos em sua aura palaciana, para uma reunião com o Presidente.

Irônico, não? Eles iam tratar de um problema que estava ali, ao seu lado, gritando de fome e clamando por justiça. Todos os pobres deste País estavam ali representados naquele homem tão pobre, tão desamparado.

Ângelo de Jesus, antes de ser colocado, algemado, em uma ambulância, gritava, como se Lula tivesse algum interesse em sua pessoa: "Presidente, socorre eu! Presidente, socorre eu!"

Não, não, Lula não socorreu, sequer falou com aquele brasileiro esfomeado e pobre. Mas falou com Renan Calheiros, que já havia falado com muitos senadores para não ser chutado da vida pública, que haviam falado com cabos eleitorais para ser eleitos, que falaram com pessoas pobres para votar nos senadores, que falam todos os dias em honestidade, que é falada em muitas bocas mas muito pouco posta em prática por quem fala nos palanques e tribunas para dizer que é preciso trabalhar pelo povo, e falam que vão falar com algum figurão para liberar uma verba, mas depois falam que a verba não foi liberada, mas prometem que vão falar novamente, mas não falam que as pessoas não confiam mais nos políticos, mesmo que Calheiros fale que todo o País o entendeu e aplaude sua continuação como presidente do Senado, enquanto Aloísio Mercadante fala que não votar pela cassação de Calheiros foi um ato de justiça.

Emanoel Barreto

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Muito dinheiro para poucos

Caros Amigos,
Vejam só a historinha que a Folha Online está divulgando: "O Tribunal de Justiça da Bahia mandou a Assembléia Legislativa pagar uma indenização de cerca de R$ 150 milhões a 101 ex-deputados estaduais ou familiares pensionistas que contribuíram para a caixa de previdência da Casa, extinta em 1998. O valor da indenização eqüivale a 68,18% do orçamento anual da Assembléia (R$ 220 milhões)."

Pode? A cultura paternalista às custas do dinheiro público, o filhotismo, somente isso, permite uma decisão como essa.

O que esses homems e mulheres ex-deputados fizeram tanto, para receber tanto dinheiro? Foram cumpridores de seus deveres, guardaram fidelidade partidária, apresentaram projetos de grande relevância social, enfim, serviram à sociedade de maneira realmente séria?

Temo que não. Tanto, que formaram esse grupo para pedir tanto dinheiro. A sentença não leva em consideração que, segundo as coisas de jornal, o pagamento é superior ao orçamento anual da Assembléia da Bahia, no valor de 200 milhões de reais. É insensatez ou ingenuidade?

Enfim, essa a nossa cultura: aproveitar as coisas públicas para uso do privado, atendendo a ganâncias que vão se espalhando.
É isso.
Emanoel Barreto

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Tutti buona gente...

Caros Amigos,
O ex-banqueiro Salvatore Cacciola, preso em Mônaco, aguarda uma decisão da justiça local decidindo o seu destino: ser ou não ser - eis a questão - extraditado para o Brasil, onde cumprirá pena por fraudes ao sistema financeiro nacional.

O pior, o mais triste, é que ele, à época do golpe, o ano de 2000, foi solicitamente atendido pelo governo federal, que lhe vendeu dólares a preços abaixo da cotação do mercado, a fim de impedir que seu banco, o Marka, fosse à falência.

Alegou-se à época que, se isso ocorresse, haveria um efeito-dominó, prejudicial a toda a economia. Creio que não era verdade. Ele tinha negociatas que implicavam dívidas de 20 vezes o patrimônio líquido do banco. Quebrou, foi preso, ganhou um habeas corpus e, como soe acontecer, claro, fugiu.

Agora, o governo brasileiro, o quer de volta. O Governo FHC foi quem favoreceu o então banqueiro.

Pergunta-se: por que pessoas de renomadamente suspeitas são assim, tão beneficiadas pelos governos? Por que os governos não adotam planos para beneficiar a sociedade como um todo?

São as cavilações do sistema que fomentam e fermentam a corrupção. É triste, mas é verdade.
Mas, no caso das elites, como se sabe, é tutti buona gente...
Emanoel Barreto

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Os traficantes e a ação do Bope

Caros Amigos,
O filme Tropa de Elite, que já é sucesso em dez de cada dez bancas de camelôs do País, pode virar série na Globo. É o que dizem as coisas de jornal. Ao que li, a obra trata de um policial, o capital Nascimento, rígido comandante de um grupo de militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais-Bope, em rigorosa - entenda-se implacável - ação contra bandidos, quando não tem limites para reprimir o tráfico no Rio de Janeiro.

A obra, ao que entendi, trata de uma brutal e diária realidade brasileira, cujos desdobramentos históricos não são levados a sério pelo Estado, que limita sua presença à repressão e se omite de uma ação firme em favor do social. Não digo que a presença da polícia contra os criminosos deva esmorecer. Mas é preciso que haja uma grande reforma de mentalidade de Estado, sentido histórico do que está acontecendo, a fim de que se tente reverter ou mitigar o problema.

Em um mundo onde valores e comportamentos estão em crise, deveria haver um ação ampla, um governo que atacasse de frente o problema em toda a sua extensão sócio-criminal. Senão, em muito pouco tempo este País estará vivendo um caos tamanho que certamente não será possível reverter.

Junte-se a isso o fato de que a sociedade, de alguma forma legitima o tráfico no instante mesmo adquire a mercadoria dos traficantes.

A esfera pública, em algumas de suas parcelas, valida a droga como elemento componente de um estilo de vida. Grandes criminosos internacionais vêm ao Brasil implantar seus esquemas de distribuição e fazem fortuna. A Polícia Federal tem uma atuação exemplar, mas não é o suficiente: essas partes da sociedade que consomem drogas aprovam a presença do traficante. É uma lagitimação transversa, mas é de alguma forma um discurso de disrupção, um afrontamento.

Mas eu estava falando do Bope. Aguardo o lançamento do filme. Creio que dá bem uma idéia do grande problema que temos nas mãos.
Emanoel Barreto