sábado, 26 de dezembro de 2009


De repente, do céu lá vem um tigre

Jornalista e professor universitário, Paulo Ramos, em seu Blog dos Quadrinhos repruduziu essa magnífica charge de Laerte, tirada da edição da Folha deste sábado. (EB)
Charge: http://images.google.com/imgres?
Deus é o diabo na Terra do Sol
Emanoel Barreto

Estarrecido com o astronômico preço cobrado pelo padre Fábio para fazer um showmissa em Natal, reuni-me secretamente agora à noite com sábios, adivinhos, profetas, áugures e eruditos. Todos velhíssimos, como é bom e desejável a pessoas que tais.

Perguntei-lhes, em reverente questionamento, o motivo de tão alta prebenda. Retiraram-se a um local reservado e o mais velho e sabedor deles, meia hora depois, me revelou: "Encontramos resposta à sua pergunta na arte cinematográfica."

"Como assim? , quis saber, ao que me responderam: "O filme de Glauber Rocha não era 'Deus e o diabo na terra do sol?'.

"Era sim", respondi.

Pois aqui, meu filho, a coisa foi diferente: "Deus é o Diabo na Terra do Sol. Por isso, o preço foi tão quente."

E nada mais disseram nem lhes perguntei...





Amanda Schwab/AP
Deus odeia Lady GaGa
Deu na Folha Online:
A ultraconservadora Igreja Batista de Westboro, baseada no estado de Kansas, nos EUA, afirmou que a cantora Lady GaGa "vai para o inferno" por supostamente liderar uma "rebelião contra Deus", informou o site Popcrunch.

Liderada pelo reverendo Fred Phelps a igreja, famosa por seus protestos em funerais de soldados norte-americanos mortos em guerras, e por se manifestar publicamente contra gays e lésbicas, emitiu um comunicado intitulado "DO documento, publicado no site da igreja, afirma que a cantora usa "moda" e "arte" como disfarce para ensinar os jovens "a se rebelar contra Deus."

A controversa igreja, que não é reconhecida por outras comunidades batistas dos EUA, promete realizar um protesto em frente ao teatro onde será realizado o show de Lady GaGa no Missouri, no próximo dia 7 de janeiro.

Alguns fãs da cantora acreditam que ela tenha sido alvo dos ataques por seu discurso na Marcha para a Igualdade Nacional, evento de promoção da defesa dos direitos dos homossexuais, realizada em Washington no início deste ano. A cantora terminou seu discurso com a frase: "Abençoemos a Deus e aos gays".
...
Não sei como as pessoas sabem o que Deus gosta ou não gosta, ou de quem gosta ou não gosta. No tempo em que se dizia que comunistas comiam criancinhas dizia-se que Ele não gostava dos comunistas. Nem por isso eu O vi ao lado de Pinochet ou aplaudindo a ditadura no Brasil...
Emanoel Barreto
Dinarte, Jânio Quadros e alguém que não consegui identificar / Foto: http://cache3.asset-cache.net/xc/50565551.jpg?v=1&c=IWSAsset&k=2&d=4996399091E83186B7C8D8E4F40F185CE7C3DB1D2EA1C136

Dinarte era adivinhão

Emanoel Barreto


"Depois dos 60 anos, o homem começa a adivinhar". A frase é do senador Dinarte Mariz, registrada em livro pelo escritor, poeta, advogado e ex-reitor da UFRN Diógenes da Cunha Lima. Está no livro "Solidão, solidões, uma biografia de Dinarte Mariz, publicado em 2002 pela Gráfica do Senado.

Talvez por ter mais de 60 anos quando a proferiu e por acreditar em suas premonições, - o restante deste texto publico amanhã. E, nele, abordo o que dizia o senador a respeito da governadora Wilma como a herdeira do seu legado.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Imagem: Art Final
Um natal de paz.
E que todos os espíritos se voltem para o Alto.
Emanoel Barreto

Kim Kyung-Hoon/Reuters
O samurai desonrado e o bacante escrachado
Emanoel Barreto

O premiê do Japão, Yukio Hatoyama, chorou nesta quinta-feira em entrevista a jornalistas ao falar do escândalo de recebimento de doações ilícitas de sua família e afirmou que não pretende renunciar ao cargo, a menos que a maioria esmagadora dos japoneses assim exija.
"Se a maioria esmagadora vocês exigir "Hatoyama, renuncia", então sentirei que tenho que respeitar a voz do povo, mas farei o possível para que isto não aconteça", disse o premiê.

A Promotoria de Tóquio investiga informações que apontam a que a mãe e a irmã de Hatoyama realizaram durante vários anos doações irregulares a um fundo político vinculado ao líder. O fundo Yuai Seikei Konwa-kai (Associação Fraternal de Política e Economia), vinculado ao partido do governo, deixou de declarar 6 milhões de ienes procedentes das duas mulheres.

Os dois trechos transcritos são da France Presse, publicados pela Folha Online. Revela, de alguma forma, como agem os corruptos no país dos samurais: penitenciam-se e se humilham publicamente, uma vez que é da rigidez da cultura japonesa o culto à lealdade e à honradez. E até para quem decaiu, tornando-se um desclassificado moral, há o necessário purgatório público. Detalhe de qualidade: o corrupto estava recebendo dinheiro da própria família, não dinheiro público.

Nossa cultura liberal, informal, fagueira e dionisíaca, faz justamente o contrário: permite que o corrupto, sem qualquer pudor, apareça em público em plena efervescência de escândalo que envolva o seu nome, como o faz o tal Arruda brasiliense, defenda-se e ainda ache que os bobos vão acreditar no que diz.

É só um comentário. É só a minha desolação. Só para a gente pensar um pouco a respeito.



Foto: http://escrevoapenas.blogs.sapo.pt/arquivo/amizade-thumb.jpg
O jornalista Walter Medeiros envia o texto que abaixo transcrevo. Obrigado, Walter.
Emanoel Barreto

EM BUSCA DE UM AMIGO
Walter Medeiroswaltermedeiros@supercabo.com.br

Vésperas do Natal, lembranças aflorando, vontade de rever amigos que fomos encontrando através dos anos. Amigos do Tirol, de quando moramos na Alberto Maranhão, em frente ao sítio onde hoje é o condomínio Jardim Tirol; da Praça Augusto Leite; do Externato Saturnino, onde fizemos o Admissão ao Ginásio em 1966; do Grupo Escolar Monsenhor Calazans Pinheiro, onde estudei em 1965; do Grupo Áurea Barros, do meu primário, em 1963/64, da Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte, onde estudamos de 1967 a 1970; da avenida Rafael Fernandes, onde moramos desde o tempo que se chamava Campo Santo, de 1965 a 1972; e de tantos outros lugares onde vivi, estudei, trabalhei.

Entre tantos, lembrei de um amigo cuja última vez que encontrei faz muitos anos, tocava num evento da Igreja do Candelária. Aí recorri à Internet, para reencontrá-lo. Ademaci Barbosa, músico, com dedicação extrema ao seu trabalho, à sua família e às comunidades, um missionário. Sempre conversamos muito, mas a geografia da cidade findou fazendo com que passássemos a nos encontrar muito esporadicamente. A Internet, no entanto, proporciona também a possibilidade de obtermos mais informações sobre as pessoas que se dispõem a divulgá-las. Assim fiquei sabendo que Ademaci nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais e aos quatro anos veio para o Rio Grande do Norte, terra dos seus pais.

Morou na rua Benjamim Constant, exatamente no período em que nos conhecemos, na convivência com o Professor Saturnino que, além de ensinar as matérias mostrava as atualidades nas revistas e jornais que sempre conduzia. Lembro dele também como marinheiro, que foi. Depois o encontrei como funcionário da EMSERV (Empresa de Serviços de Vigilância), em serviços administrativos. A EMSERV funcionava onde hoje é a Delegacia Regional do Trabalho e onde eu também trabalhava, coincidentemente, no escritório do Dr. Paulo Viveiros.

Em sua atividade artística, naquele tempo o meu amigo já procurava divulgar seu trabalho como compositor e foi até o Rio de Janeiro, mostrando suas músicas nas igrejas. Chegou a encontrar com Roberto Carlos, a quem entregou em mãos algumas de suas composições românticas. Fez na época um concurso do Bandern, passou e logo foi chamado para trabalhar na agencia de Patú, onde ficou três anos também trabalhando na igreja e fazendo missões nos povoados, sítio e fazendas. Depois foi transferido Macau onde também desenvolveu intensa atividade musical. Depois foi transferido para agencia de São Tomé, Ceará-Mirim (lembro que me chamou uma vez para ser jurado em um programa de auditório que promoveu no Ginásio Esportivo) e, finalmente, Natal.

Está também na Internet que Ademaci deixou o BANDERN para viver dedicado à fé, à música e às missões, formando a banda Arco-Ìris. Irrequieto, fez concurso para professor do estado, passou e foi lotado na escola Isabel Gondim, para lecionar Química, Educação Artística e Matemática. Na paróquia sagrada família ele assumiu as missas com a Pastoral da Música, dando aulas de música e cultivando grande amizade com o padre Campos, também compositor. Ele introduziu nas igrejas os ritmos dos instrumentos e teclado, onde antes só se usava órgão.

Quanta informação, não? E tem muito mais, se continuarmos a busca, o suficiente para entender melhor o ser humano humilde e digno com quem convivi naquele período de escola primária e anos vibrantes da adolescência. Tratou-se de uma leitura muito emocionante, rever as fotos e encontrar informações sobre o amigo de tantos momentos. Naturalmente fui buscar a forma de reencontrar pessoalmente aquele amigo. Ao final, o mais surpreendente e chocante: Ademaci Barbosa de Moura, que nasceu em 1951, morreu em março de 2006. Senti, então, uma sensação de perda muito grande; é como se tivesse perdido um irmão.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Foto: Robeto Vidal
Apenas uma noite a mais
Emanoel Barreto

Já comprou, já gastou, é feliz?
Essa é a lei que o mercado manda.É natal, e nessa lei todo mundo é obrigado a ser feliz.

Mas, em alguma esquina, um velho e sóbrio tocador de rabeca senta ao lado da sarjeta e toca a sua canção de acordes feitos em arame.

Depois, recolhe-se aos papelões de uma marquise e sabe que foi apenas uma noite a mais.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Maquiavel: a arte da política, a fortuna e a virtù
De como Maquiavel e Sun Tzu podem ensinar a Dona Wilma e aos senadores José Agripino e Garibaldi

Emanoel Barreto

A eleição para senador representará, para aquele ou aquela que não se eleja, ingresso no desafiante limiar de um território de pedregoso ostracismo político ou quase isso. Serão quatro longos anos de hibernação, quando poderá ver esgarçarem-se laços com correligionários, desfazerem-se ligações históricas com amigos até então tidos como fiéis, esquecerem-se raízes comuns, sobrevindo, presumivelmente, perda de influência, esquecimento, abandono até.

Em síntese: sem mandato, sem participação de caráter decisório, sem grupo, isso será igual a estar sem discurso para falar ao povo e em nome dele. E sem discurso nenhum político sobrevive. O discurso advém sempre de uma utopia. E utopias somente as podem ter, na pragmática política, aqueles ou aquelas que estão em alguma trincheira. O contrário é pregar no deserto um grito semeado em vão.

Wilma, Agripino e Garibaldi fazem parte de grupos poderosos e têm igualmente poder em seus respectivos intramuros. Mas o poder, Dâmocles já o sabia, é perigoso. Sua espada está sempre pendendo sobre a cabeça do poderoso. Senão vejamos: os três candidatos ao Senado são líderes máximos de seus respectivos acantonamentos. Uma derrota pode significar grande abalo nessa liderança. Sem mandato, a quem irão liderar?

Veja bem: a liga que une liderados a líder, neste país, é de má qualidade. Na ideologia e na práxis. Assim, nada garante que ao redor do líder permanecerão seus liderados, como os trezentos que ficaram, intrépidos, ao lado de Leônidas nas Termópilas.

Exemplos? Geraldo Melo, ex-governador e ex-senador. Fernando Bezerra, ex-ministro e ex-senador. Ambos depostos do seu capital político ao ser derrotados. Perderam espaço, perderam discurso, mesmo o tendo entre suas competências personalíssimas. Pois o líder somente fala bem quando a sua voz é a voz dos que os acompanham e, especialmente, quando esse líder ecoa a voz dos interesses - muitas vezes legítimos - dos que os acompanham. Quando não mais são seguidos, pela força de um insucesso, esgota-se a força do líder. Torna-se ele um mudo. É que o grande líder ou a grande líder, derrotado ou derrotada perde a aura, o halo de figura pater ou mater perante aqueles a quem supunha seus.

Maquiavel preceituava que o líder, o condottiero, tinha que ter fortuna, como sinônimo de situação política que lhe seja benfazeja por força das circunstâncias, e virtù, a capacidade pessoal, o carisma para lançar-se à grande aventura da política. Reunindo em si as duas causas, poderá promover as consequências de poder pretendidas.

Maquiavel ensinava também: "...os príncipes devem evitar o mais que possam a situação de estar à mercê de outrem." O gênio florentino referia aos aliados de um príncipe, à boa escolha de aliados leais para a hora difícil. Aqui, atrevo-me a traçar um inusitado e paradoxal paralelo: os príncipes, de alguma forma, estão reféns de seus próprios liderados. Pois se o poder perdem, vão-se nessa vertigem os aliados. Isso é típico da pequena política brasileira, onde praticamente não há políticos de causa, mas políticos por profissão. E os praticantes da pequena política logo se bandeiam para o lado do novo senhor. Qualquer novo senhor.

Sun Tzu, o lendário general chinês, clamava: "Lembra-te que defendes não interesses pessoais, mas os do teu país. Tuas virtudes e teus vícios, tuas qualidades e teus defeitos influem igualmente no ânimo daqueles que representas. Teus menores erros têm sempre nefastas consequências. Geralmente, os grandes são irreparáveis e funestos. É difícil sustentar um reino que terás levado à beira da ruína. Depois de destruí-lo, é impossível reerguê-lo. Tampouco se ressuscitam os mortos. "

Essa a mensagem que bem poderia ser levada em consideração pelos três candidatos que cito. Não a mensagem que seus marqueteiros irão elaborar nas câmaras secretas dos publicitários, nas ilhas de edição e nas mentes dos criativos da propaganda. Mas a mensagem essencial, bem intencionada e compromissada com a história. E que aquele ou aquela que perder, mesmo sabendo que poderá apear-se de sua figura de líder, de pater ou mater do povo, perdeu, mas combateu o bom combate. É o que espero. Como cidadão e como jornalista.



domingo, 20 de dezembro de 2009

Imagem: http://images.google.com/imgres?
"Então é natal, heim? Espere só o presente que eu tenho para o ano novo..."

Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAtPHuK8_CI9gJAolazRwNyQEVfk0IOKKwpqwxflBUwJzvJ9KXb-rAxj2BxIMncey1qnKFaSSbhE4eXbo3xSSVUAyIIvnesBdLZQk-k6-YZZqGScu6HOMpBYZYQ2eQNHROWpNLRA/s400/aecio.jpg
Aécio, Serra e o pó mágico da política
Emanoel Barreto

Com as repercussões na grande imprensa indicando que a suposta desistência de Aécio Neves à presidência é apenas manobra tática, para forçar Serra a se apresentar como candidato e ver-se atirado à erosão de seu nome em confronto com o teflon Lula, o governador paulista deve estar pensando: "Isso não me cheira bem. Essa jogada não me cheira bem...". Mas a Aécio cheira, e cheira muito bem.

Vejamos: a poeira levantada pelo mineiro, em tancredíssima jogada, poderá resultar, caso surta os supostamente pretendidos efeitos, numa carreira fácil para o ginete de BH. Tem jornalista até especulando que Serra seria prejudicado a tal ponto que o PSDB imploraria, a tempo futuro, pelo retorno de Aécio como candidato à presidência.

A jogada de Neves perante Serra tem o sabor de algo como "tu és pó e ao pó retornarás", numa alusão à derrota serrista em 2002, quando também candidato à presidência. E, em meio a esse pó de pirlimpimpim político, mágico, levíssimo, Aécio estaria se alevantando e dando a volta por cima, após o gesto de grandeza contido na renúncia teatral.

Todavia, num caso ou noutro, Aécio e Serra podem parodiar a composição de Erasmo Carlos, já que ambos querem mesmo é derrotar o PT: "Preciso acabar logo com Dilma/ Preciso lembrar que só eu existo...".

Mas isso é coisa rápida, é coisa de política, é coisa de jornal. Logo logo, tudo estará recoberto pelo pó implacável da história...