sábado, 10 de abril de 2010

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O amor à pátria nos salvará, irmãos: eia!
Emanoel Barreto

Está na Folha Online: Ao lançar sua campanha à Presidência da República, o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), não poupou críticas indiretas a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em várias áreas e voltou a repetir seu slogan de que o "Brasil pode mais", que tem sido rejeitado por petistas.


Serra arrancou aplausos dos militantes ao dizer que o Brasil precisa de "coragem para construir o Brasil melhor, o Brasil da União". "Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem", disse.


O ex-governador disse ainda que defende um país sem exclusão. "Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo", afirmou.
...
A transcrição de trechos do discurso indica que o slogan de campanha é notoriamente inspirado na recriação do lema de Barack Obama "Sim, nós podemos". Todavia, uma coisa preocupa no discurso de Serra: o recurso do chamamento ao "patriorismo".

A pátria, como elemento chave a unir falsamente todos, como se a pátria fosse um território libertário, é na verdade comportamento retórico nebuloso e vago. A pátria como instância moral-afetiva, induz a um sentimento coletivo de respeito a um passado antigo, heróico, atrator de todos e dissolvente de conflitos de classe e de interesses.

Seria ela, a pátria, uma espécie de liga social a solidificar artificialmente laços de irmanação, diluindo classes e fabricando uma situação histórica que, em si, não se posta: a igualdade absoluta, magicamente instaurada pelo simples momento de sermos todos irmãos na pátria.

É falso, é falacioso e caviloso o chamamento ao patriotismo. Não há convergência histórica entre trabalhadores e capital.

Ao que percebo, a campanha será centrada na evocação de um patriotismo atávico e apassivador. A pedra de toque será a consigna da campanha, convocando a um passo adiante, já que o Brasil "pode mais".

Dá para antever que a proposta será uma atitude salvacionista, como se de repente um césar tivesse surgido das brumas para, com sua poderosa legião, levar o país à condição de pátria: aquele território da felicidade plena, da irmandade política, bondosa e mansa.

Vamos conferir. Será uma campanha de mídia à rédea solta, trabalhando-se o imaginário coletivo a partir de material simbólico voltado para a emoção reducionista, maniqueísta e avassaladora. Vamos conferir.
* Só para lembrar, o escritor inglês Samuel Johnson já dizia: "A pátria é o último refúgio de um canalha."
Rio Industrial João Motta





A gravação foi feita em um celular. Isso, de alguma forma, amplia a sensação de objetividade e proximidade ante o problema da inundação da minha rua, onde a Prefeitura vem fazendo obras de drenagem.

Mas, se as "obras" ficarem do jeito que estão, com a pista acima das calçadas e as calçadas fechadas por meio-fios que funcionam como se fossem diques, as casas serão invadidas pela água. Dizem os maiorais da Prefeitura que vão dar um jeito, rebaixando a pista. Espero, rezo, oro, desejo e imploro. (Emanoel Barreto)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

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Alea jacta est...
Emanoel Barreto

Um dia, tirou a sorte grande.
Mas como era muito grande
a sorte se quebrou porque era feita de fina porcelana.

As pessoas pegaram os pedaços da sorte pensando que
iam ser felizes.

Mas como era muito pouca sorte para cada um
chegamos ao mundo em que hoje vivemos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

http://fotos.sapo.pt/ZuNwsYkjpRjSkZ7ygreW/
Volto a escrever amanhã
Emanoel Barreto

Volto a escrever amanhã.
Hoje estou sem assunto.
Volto a escrever amanhã.

Mandei comprar uns assuntos, mas assunto é coisa que está em falta. De tanto se repetirem corrupções, escândalos, conchavos e que tais, os assuntos deixam de ser novidade e já são velhos, tão velhos, quando nascem...
Assim, volto a escrever amanhã.

Ah! Se você tiver um assunto, mande para mim. E me diga onde estão depositados os novos assuntos, os grandes temas, as discussões candentes, questões de alta indagação, conteúdos dignos de nota. Os indignos já ocuparam espaço demais. Assim, volto a escrever amanhã. Hoje es...

domingo, 4 de abril de 2010

Jessica Rinaldi/Reuters
Compre seu iPad, seja idiota e seja feliz
Emanoel Barreto
 
A jornalista Cristina Fibe, da Folha, informa de Nova Iorque:

Depois de invenções como o iPod e o iPhone, Steve Jobs, fundador da Apple, diz que agora, sim, criou um produto "mágico e revolucionário": o iPad. Versão simplificada de um laptop, o "tablet" permite navegar na internet, ler livros e gerenciar arquivos como música, fotos e filmes.


A expectativa em torno do iPad, lançado ontem nos EUA, fez com que a empresa vendesse mais de 200 mil aparelhos antes mesmo de ele chegar às lojas. Não há previsão de data para estreia no Brasil.


Segundo estimativas, no primeiro ano o iPad deve vender algo entre 2,7 milhões e 5 milhões de unidades, ao custo mínimo de US$ 499 (pouco menos de R$ 900).


Isso porque a Apple, os poucos que conheceram o iPad antes de seu lançamento oficial e a maior parte da mídia americana o propagandearam como um artefato que privilegia a simplicidade e a relação intuitiva com o consumidor.


O iPad, como o iPhone, não tem teclado ou mouse acoplados, sua tela obedece ao toque do dono. E, embora não funcione como telefone nem possua câmera, tem as outras facilidades com que os usuários do iPhone já se acostumaram, só que com mais velocidade e tela muito maior, de 24 cm por 19 cm, e só 1,25 cm de espessura.


Com acesso permanente à internet (Wi-Fi), bateria com durabilidade de dez horas e cerca de 700 gramas, o aparelho une e-mails, música, filmes, games, e-books, GPS, agenda, fotos -e, é claro, o navegador Safari e a loja do iTunes, que garante à Apple que o usuário continue rendendo mesmo depois de desembolsar mais de US$ 499 no aparelho.


O pacote causou alvoroço na mídia americana. Capa da "Newsweek" de 5 de abril questiona: "What's so great about the iPad?" -o que é tão formidável no iPad?, em tradução livre-, e responde: "Tudo".


Nas seis páginas internas, afirma que o produto "mudará o jeito como você usa computadores, lê livros e assiste à TV, desde que esteja disposto a fazê-los à maneira de Steve Jobs". A revista diz ainda que o executivo da Apple tem a habilidade para criar aparelhos "que não sabíamos que precisávamos, mas sem os quais de repente não podemos viver".


A revista "Time" chegou às bancas com o mesmo assunto na capa. Enviado em nome do veículo, o ator e comediante Stephen Fry pareceu deslumbrado depois de conversar com Steve Jobs e manipular o iPad durante dez minutos.


Ontem, o jornal "The New York Times" organizou um "live blogging" com repórteres de plantão para relatar as filas nas lojas da Apple (e na Best Buy, aonde o aparelho também chegou) e consumidores comentando o iPad.


O "Washington Post" foi um dos poucos a reagir e publicar que, com tudo isso, Steve Jobs pouco precisaria investir em publicidade -além do fato de que os jornais e as revistas também estão interessados em transformar os seus conteúdos para a leitura no aparelho.


No YouTube, consumidores postaram vídeos ontem para mostrar o iPad sendo desempacotado e fazer os primeiros comentários sobre a novidade. Entre os poucos defeitos apontados pela "Newsweek", o fato de que Steve Jobs subverte a liberdade de escolha característica da internet, fechando o sistema e obrigando os usuários a navegar no Safari e a fazer as compras no iTunes.


Outra reclamação é o fato de não ler imagens desenvolvidas com a plataforma Flash, da Adobe, responsável por cerca de 75% dos vídeos na internet. E um defeito do iPhone que por ora se repetirá: o novo computador da Apple não é multifuncional, ou seja, só é possível abrir um aplicativo de cada vez.
.......

O texto, a rigor um comercial disfarçado de notícia "objetiva", traz em sua - perdão pela palavra - semiose, uma espécie de cântico, um louvor dócil e delicadamente fanático: tens porque tem de comprar ao iPad, senão não serás feliz. O iPad será teu bezerro de ouro e somente a ele adorarás.

Lamentavelmente, nós, brasileiros, tristes trópicos,vira-latas do neoliberalismo e da globalização, ainda estamos sem data para a bênção de termos acesso, respeitoso e parvo, ao iPad. Mas o paraíso demora, irmãos. É preciso fé e esperança. Oremos.

Outra coisa: o comercial, enquanto texto jornalístico, falha em seu lide. Lide, para você que não é jornalista, é o primeiro parágrafo de uma notícia, aquele que, em tese, reúne o que há de mais importante em um fato e o relata de forma direta, clara e concisa.

O mais importante não é o lançamento em si, entende? E por que não? Porque o mais importante está no parágrafo que coloquei em itálico. Ou seja: que o usuários continuem rendendo aos donos da marca iPad. Está aí o "x" da questão: a criação de um mercado ávido por novidades, quaisquer novidades. E, desde que sejam ditas e tidas como importantes ("nós nem mesmo sabíamos que precisávamos"), passando a delas depender quase existencialmente.

O lide seria a denúncia da criação de um mercado cativo, o que a rigor não é mercado, pois mercado pressupõe competição entre marcas e produtos. O lide seria a exposição da faceta perversa desse processo comunicacional que em si, mercadologicamente, é um sistema de arquitetura fechada: as pessoas "precisam render" aos donos do iPod. Foram "feitas para isso": para gastar e dar lucro - e ninguém percebe nem se insurge ante essa atitude inumana, que é ao mesmo tempo tão humana.

Para encerrar: você acha que alguém, alguém que seja um leitor, um leitor na expressão da palavra, alguém que goste de livro, que veja no livro um ser vivo, um amigo, um parceiro, alguém refinado e de mente inquieta vai perder tempo "lendo" um livro nessa traquitana? Creia em Deus, amigo; creia em Deus...