sábado, 7 de junho de 2014

A mentira na política



O jornalismo e a mentira

O repórter precisa aprender a conviver com a mentira, o gesto esquivo, a palavra encantadora mas de sentido vago ou vazio. É verdade que a declaração foi feita, mas pode ser mentira o que foi dito. 
(Caricatura de Tancredo Neves - fonte: www.felipex.com.br)

O repórter deve estar atento ao que pretende a fonte: toda declaração é intencional, toda informação busca ser validada. O perigo está na intenção e nos propósitos. É preciso saber pesar bem aquilo que se ouve. E, a partir disso, delinear o texto de maneira que o leitor perceba a intrusão da mentira, da manipulação, do falseio. Com tempo e talento você consegue insinuar ao leitor que aquilo que foi dito e está sendo publicado é uma farsa em processo, é um blefe, uma enganação. 

O uso de aspas e um título bem feito podem passar ao leitor que a fonte tergiversou a verdade, tentou esconder seus intentos, procurou fantasiar ou diluir aquilo que fez ou pretende. 

O caso clássico é o do político que diz “estar à disposição do partido” para ser candidato. Na verdade ele já trabalha para ser candidato e busca no jornalista não o relator veraz, mas o estafeta de fonte. Ouça essa declaração, mas busque nos bastidores, e aponte no texto, o que efetivamente está em andamento. 

Em minhas aulas relato costumeiramente um caso típico. Corria o ano de 1982 e Tancredo Neves era candidato ao governo de Minas. Eleito, ano seguinte iria tomar posse. Começaram as démarches para a composição do secretariado. Um deputado – cujo nome não me ocorre – tinha intenção de ser guindado à Secretaria de Agricultura.
Esperto, lançou aos jornais o que em jornalismo chamamos de balão de ensaio: a divulgação de informação cujo intento é testar até que ponto alguém, geralmente um político, tem chance de alcançar um determinado cargo. 

Mais claramente: com amigos nas redações mineiras, fez circular a informação de que seu nome estaria sendo cogitado para o cargo. A ideia era criar um fato consumado via pressão de imprensa. Ou seja: de tanto o nome ser veiculado, o governador não teria alternativa a não ser a nomeação. 

E assim prosseguiu até saturar o mundo político com sua iminente “convocação”. Então, sentindo-se forte o bastante para “questionar” Tancredo pediu uma audiência e foi ao encontro do governador. Lá chegando, disse:

– Governador, a imprensa tem informado com insistência minha convocação à sua equipe. As bases já me procuram. Querem saber se serei realmente secretário de Agricultura. Estou numa situação difícil. O senhor sabe como é a política: o suplente já pensa em assumir meu lugar na Assembleia Legislativa.  Não pleiteei o cargo, pois a minha modéstia o impede e, assim, gostaria de saber se o anúncio da imprensa tem algo de concreto. O que me diz, governador?

Tancredo, em sua fleuma, respondeu:
– Faça o seguinte: diga que foi convidado mas recusou o convite...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A terrível felicidade do povo brasileiro



Direitos do povo brasileiro
1 - Todo brasileiro tem o direito de morrer à porta de um hospital depois de lhe ser negado atendimento;
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/03/30
2 - Todo brasileiro tem o direito de ser assaltado, agredido e espancado a qualquer hora do dia ou da noite por bandidos e/ou pela polícia;
3 - Todo brasileiro tem o direito de ser enganado pelos seus governantes;
4 - Igualmente, está garantido ao povo o direito de gritar gooooooooooooooooooooooooooooooool! e beber uma dose de cachaça;
5 - Da mesma forma o bebedor, se for considerado arruaceiro, agressivo ou desordeiro por efeito de suas comemorações de gooooooooooooooooooooooooool!, às quais é incentivado pela legislação vigente, será capturado, jogado num camburão e surrado pela polícia.

6 - Como complemento ao prêmio passará pelo menos uma noite na cadeia;
7 - Todo brasileiro tem assegurada sua presença em ônibus e trens urbanos superlotados garantindo-se assim as condições humilhantes que lhe faculta a legislação em vigor;
9 - O brasileiro, além do mais, terá garantido o direito de assistir na TV à impunidade de corruptos;
10 - Se tornar-se corrupto o brasileiro terá imediatamente assegurada a condição de impunidade;

11 - Ficam também garantidos os direitos de respirar, suar e ficar cansado, bem como fechar os olhos quando for dormir;

12 - Todos os do povo terão garantidas as piores condições de vida em favelas, arruados e cortiços;

13 - Em continuação, todo brasileiro terá direito de sofrer em filas de postos de saúde e não receber qualquer atendimento;

14 - Esta legislação entrará em vigor imediatamente, revogando-se todas as disposições em contrário.