quinta-feira, 17 de abril de 2008

A moral é mais embaixo

Caros amigos,
O deputado Djalma Marinho costumava dizer que um homem pode considerar-se amadurecido quando encara, com serenidade, os atos mais insanos da humanidade. Acho que ainda não estou amadurecido. Ainda fico perplexo com as humanas coisas. Lendo o restante do texto, vocês verão porque.

Djalma, para quem não lembra, era presidente da Câmara quando a ditadura quis cassar, em setembro de 1968, o deputado Márcio Moreira Alves, que houvera pronunciado um discurso considerado ofensivo pelas Forças Armadas e pelo presidente Costa e Silva.

Djalma era do partido do governo, a Arena, mas, insurgindo-se contra o ato de força que, caso fosse aceito, colocaria a Casa de cócoras, evocou Calderón de la Barca, quando disse: "Ao meu Rei tudo, menos a honra" - e não encaminhou a votação. O resto já se sabe, Congresso fechado, ditadura rugindo.

Entre o gesto de Djalma e a realidade de hoje, quanta diferença: o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, entorna sobre a sociedade um aumento da verba de gabinete. A verba de gabinete sofreu aumento de 18%: passou de R$ 50,815 mil para R$ 60 mil. Alegação do deputado: "É um ato de justiça." A "justiça", representará um aumento na folha de pagamento da Câmara em cerca de R$ 54 milhões.

Não, não é um ato de justiça. Os deputados já ganham muito e muito bem e disso não se envergonham; mas deveriam.

Ao tomar conhecimento do reajuste, passei a procurar na net outras informações a respeito da Câmara e o que acho? Uma informação, datada de 8 de novembro de 2007, relativa a uma exposição do fotógrafo Luiz Garrido. Uma das fotos mostrava o travesti Rogéria envergando apenas camisa e gravata.

A foto foi censurada e a exposição suspensa, a fim de não "ofender" a dignidade da Casa. Mas, não é ali, costumeiramente, onde, a porta fechadas, são feitos acertos e conchavos, entendimentos e esbulhos aos interesses da sociedade? Não é ali que corruptos dão vazão aos seus mais baixos instintos peculatários?

Entendo que a foto ainda hoje seria polêmica. Mas, não é nas casas políticas que se dá a convivência de contrários? A foto foi censurada, não pelo seu discurso erótico-satírico. Mas, foi impedida de ser mostrada, pois a vestimenta de Rogéria era uma alusão ao que se convencionou chamar de classe política. Era, literalmente, a encarnação da velha fábula "O rei está nu". Os deputados, de alguma maneira, se sentiriam ali representados. Sua nudez moral estava ali, naquela foto insolente e desabusada - como insolentes e desabusados são muitos dos atos dos parlamentares.

A Câmara, agora, fica outra vez como o rei da fábula, quando sai esse novo aumento aos deputados. E disso eles não têm vergonha. É porque, para eles, a moral fica mais embaixo.
Emanoel Barreto
PS: Estarei ausente de Natal até terça. Se der, atualizo o blog.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Respeito, beleza, amizade...


Caros Amigos,
Publico agora um poema de minha neta Eduarda, de oito anos. Avô tem dessas coisas: esses encantamentos, uma espécie de revivescência, uma volta, um reencontro com sua própria infância. São momentos de uma ingênua alegria, pingos de vida orvalhando instantes.
Emanoel Barreto

A importância do respeito

É preciso respeitar
Para cooperar.
Respeitar os velhinhos,
Até os bichinhos.

Sem respeito
A amizade não tem conceito.
A confiança é delicada,
Mas podemos perdê-la.

Com o respeito ganhamos amizade,
Que encontramos na sociedade.
Cuidado com a humanidade,
Pois é melhor contar a verdade.
Eduarda Barreto Manso

A casa da noite eterna

Caros Amigos,
Recebi, há uns dois, três dias, um e-mail lacônico, algo enigmático, assinado apenas por "Tereza". Ela fazia observações a uma matéria que publiquei em 2006, janeiro, dia 24. O título, "A casa da noite eterna". Então, rememorava um acontecimento que abalou Natal, quando um homem, José Vilarim Neto, por motivos até hoje nunca explicados, trucidou uma família e tentou, horas depois, matar a mãe, a alemã Ruth Looman e uma filha, ainda bem criança. Entre as vítimas, relatei haver uma empregadinha grávida, também morta por Vilarim.

Pois bem: Tereza fez as seguintes observações: Ruth não era alemã e a "empregadinha" - ela colocou a palavra entre aspas - não estava grávida e tinha 12 anos. À época, 1975, todos nós, da imprensa, fomos informados que Ruth era alemã e que a mocinha estava grávida. E assim foi publicado no Diário, Tribuna e A República, jornal que há muito deixou de circular.

Mas, meu olhar de repórter, ao ler aquele e-mail, logo percebeu que a referência à jovem assassinada, pelo fato mesmo de vir entre aspas, revelava algo como um sentimento de dor, de descontentamento, vindo uma pessoa que, de alguma forma, havia sido ofendida. Entendi tudo: o termo "empregadinha" soou-lhe, estou certo, como um depreciativo, uma adjetivação infeliz a uma pessoa simples. Uma menininha que, pela sua condição social, precisava trabalhar, prestando serviços domésticos.

Sou um jornalista acostumado às mais diversas coberturas, que já viveu as mais inusitadas situações. Procuro, sempre, usar as palavras certas, martelar no teclado como se fora um piano, onde, ao menor erro, à mais simples falha, perde-se toda a sinfonia. No caso, depois de já muito tempo, descubro que feri alguém. Toquei a nota errada no meu teclado. E feri a uma pessoa que se deu ao trabalho de palmilhar intensamente este jornal, descobrindo o que entendeu ser uma falha. E foi. Se ela sentiu-se ofendida, a composição não foi executada com perfeição.

Cara Tereza,
Agora, uma explicação: o uso do termo no diminutivo, teve exatamente o seguinte propósito: passar ao leitor a idéia de alguém muito jovem. Não foi um diminutivo que amesquinhasse sua condição de trabalhadora; mas uma palavra que, no contexto em que foi colocada, buscou dar uma idéia da juventude agredida, juventude que, circunstancialmente, era encontrada na pessoa de uma pequena prestadora de serviços do lar. Em nenhum momento, uma "empregadinha", alguém minúsculo, desimportante, dispensável, inferior.

Se você ler este texto, Tereza, gostaria que o recebesse como a expressão mais sincera de um repórter. Que já viu e ouviu, senão de tudo, mas muito do que o mundo, vasto mundo, tem a nos dar de pior e mais cruel. Até mesmo quando um repórter, na busca de fazer o certo, acaba ferindo alguém que, por motivos que desconheço, termina por sentir-se ofendida.
Um abraço,
Emanoel Barreto

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Os atos secretos de Marilyn Monroe

Caros Amigos,
O dia 5 de agosto de 1962 entrou para a memória do cinema como uma data trágica: era encontrada morta, nua, Marilyn Monroe. Até hoje, uma morte nunca esclarecida. Quem já leu algo a respeito sabe que ela tivera envolvimento simultâneo com os irmãos Kennedy, Robert e John, e isso teria levado a que setores da segurança americana, CIA e assemelhados, se apressassem em acabar com o affair. Era melhor evitar um escândalo, coisas assim...


Agora, uma revelação acerca da atriz traz sua imagem - literalmente -, de volta à cena do jornalismo. A Folha Online informa: "Para quem acha que os vídeos com cenas de sexo de famosos é algo típico da atualidade, um filme com imagens de Marilyn Monroe (1926-1962) em cenas quentes feito nos anos 50 comprova que esta cultura existe há tempos.
Vídeo de Marilyn Monroe, fazendo sexo oral foi vendido por R$ 2,6 milhões nos EUA
Segundo o jornal norte-americano "The New York Post", a cópia de um vídeo da célebre atriz loira fazendo sexo oral em um homem não-identificado foi vendido para um empresário nova-iorquino pela quantia de US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 2,6 milhões)."

Pergunta-se: qual, efetivamente, a importância desse filmete? O que tem isso de extraordinário? Se formos ver pelo ângulo do fato em si, nenhuma importância. Agora, olhando-o a partir de quem o praticou, o acontecimento ganha outros contornos: trata-se da exposição de uma figura mundialmente famosa, cuja vida foi marcada por escândalos e muito sex appeal.

Norma Jean Baker, seu nome de batismo, agregou à sua imagem todos os valores da mulher-objeto, os tiques e maneirismos das bombshells, os gestos construídos pelo star sistem hollywoodiano. Mas, vendo-se por um terceiro enquadramento, o que fica, o que fica mesmo, é a demonstração de como as pessoas de mídia passam, por isso mesmo, a compor no imaginário coletivo a posição que vou chamar de tipo marcante: aquele em que a passoa midiatizada passa a reunir em si todos os atributos dessa tipificação, sejam estes positivos ou negativos, ou até mesmos os dois.

Com isso, suas atitudes passam a ser alvo de uma curiosidade mórbida, obsessiva, especialmente quando o assunto em pauta são comportamentos de cunho sexual. A curiosidade do público, alimentada pela mídia, despertada por esta, incentivada pelo sistema de comunicação que trabalha em regime de tempo integral, resulta na manifestação degradante, em que massa e mídia são, em essência, uma equipe que age consorciada. Não há, no fim, diferenciação entre espetáculo e público; um e outro são partícipes do mesmo ato socialmente monumentalizado. O espetáculo está no, e é o público.

E os olhos desse grande todo querem ter um olhar penetrante. Querem os atos secretos, querem o que escondido; querem ser senhores de todos os silêncios.
Emanoel Barreto