sábado, 5 de junho de 2010

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Apocalypse now contra o Dia da Natureza
Emanoel Barreto

E lá se vão eles. Eles sempre vão.
Se são semi-loucos, se são depravados,
em vão implora que parem por fim.
P'ra que tudo cessem enquanto há tempo.

Mas seguem sinistros insana intenção. Competência
louca, tocada de gris. Com as cinzas se entendem - jamais querem menos.
Projetam os males, malificam o ar.
Intentos molestos conduzem seus feitos.

Seus feitos, inglórios, povoam desertos
onde havia, havia mesmo o quê?
Molestos, malvados, sicários do lucro,
terríveis, cruéis, dementes perfeitos.

De qualquer maneira há sempre esperança.
De que uma flor ainda vença o canhão.
Menos mal
Emanoel Barreto

As notícias, as coisas de jornal, dizem que o navio irlandês com ajuda humanitária foi interceptado pelas forças israelitas. Dessa vez tem tiros. Dessa vez sem mortos. Menos mal.

sexta-feira, 4 de junho de 2010




Uma imagem, sutil instante que contém estranha eternidade - Emanoel Barreto

Charge: New York Times
Na vida real, nenhuma bala deixa de matar
Emanoel Barreto

Diz a Folha: O navio irlandês Rachel Corrie prossegue com seu objetivo de tentar furar o bloqueio a Gaza para entregar ajuda humanitária aos palestinos, mas deve atingir a zona de proibição de navegação de 20 milhas (32 km) somente no sábado pela manhã, informou a ONG "Free Gaza" em comunicado. O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, já informou que o navio "não chegará" a atracar.

.......

O parágrafo de abertura da matéria, que em jornal chamamos de lead, há muito aportuguesado para lide, se apresenta tecnicamente como a redação conhecida como "lide de confronto". Expõe claramente posições de antítese. No caso, antecedidas pelo deslocamento do navio em direção a forças hostis. Ou seja: o lide passa ideia de tensão, suspense ante o presumível massacre que os fuzis israelenses farão aos ocupantes da embarcação, desarmados e indefesos.

Como num filme, as vítimas presuntivas se encaminham ao clímax da tragédia, mesmo sabendo do seu possível destino sob mãos agressoras. Martírio ante os olhos da humanidade perplexa. Ou não: seria possível, creio, a comandos treinados assumir o comando do navio sem disparos, apenas no corpo-a-corpo. Não desejo a primeira opção ou a segunda. Entendo que o socorro humanitário deveria passar sem maiores incômodos, mas, das duas situações, a segunda seria a menos ruim.

Mas, na verdade, o que quero dizer é o seguinte:  o confronto entre israelitas e palestinos se perde nas areias do tempo, para usar uma expressão já gasta. São ódios, digamos assim, essenciais. Integram já o coletivo pensante das duas partes, que somente se entendem dentro de um processo de mútua exclusão - melhor diria supressão, eliminação física daquele a quem elegeu historicamente como oponente.

São ódios tão intensos, tão insanos, que nublam qualquer tentativa de aproximação civilizada. A isso junta-se o fundamentalismo religioso. E quando religiões são determinantes para o comportamento dos povos, a insânia impera suas ordens, e as ações decorrentes de tais ordens.

O judeu se define acima de tudo por uma condição religiosa que cimenta um povo. O palestino segue o mesmo dito, uma vez que o islão comanda todos os seus atos. Sejam políticos ou privados, sexuais ou civis.
Trata-se de um confronto movido pela estupidez.

Todavia, na objetividade dos acontecimentos a que refiro, do ponto de vista do Homem, é insustentável a posição de Israel. O argumento de seus líderes para a ação que há poucos dias resultou em mortes é frágil, se não cínica. Hitlerianamente imoral. Armas pesadas contra alimentos e remédios.

Agora, o espetáculo midiático está focado na aproximação do navio à zona de exclusão. O que acontecerá? Mais mortes? Sangue? Como disse, é tal qual um filme. Só que se passa na chamada vida real. E, na vida real, nenhuma bala deixa de matar.

quinta-feira, 3 de junho de 2010


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O dossiê do PT, a revista Veja e a vida sexual da princesa Diana
Emanoel Barreto

Antonio Gramsci dizia que os jornais - e as revistas, claro - são a escola dos adultos. Lembrava também que, da mesma forma, cumprem papel de partidos políticos quando atuam de forma doutrinária. Ou seja: permanentemente são escola e partido, já que sua ação nesse sentido é contínua. Juntando tudo isso e mais a disposição de agregar público e firmar-se editorial e economicamente e chegamos ao que ele chamava de jornalismo integral.

Um jornal como a Folha e uma revista como a Veja, por exemplo, seriam então autores de jornalismo integral conservador, no mínimo.

Vejamos, com trocadilho mesmo, o caso da Veja: sua equipe soube de rumores sobre eventuais dossiês que estariam por ser preparados por segmentos do PT contra Serra e alardeou essa situação presuntiva como coisa dada e feita - mesmo mantendo suas matérias no condicional, o que por si já demonstra a fragilidade argumentativa do texto.

Perceba como eu coloquei todo o terceiro parágrafo como se fora uma situação volátil, gasosa, uma espécie de universo evocativo, um mundo de probabilidades ao mesmo tempo feérico e imponderável, cuja divulgação, todavia, causa rumor social. Ou seja: programa-se uma situação jornalística, cria-se um poliedro de especulações e temos uma notícia.

Em suma, temos um factoide. Temos, por isso mesmo, um boato. Um e outro são apenas palavras para definir o mesmo objeto social. Boato, diz John B. Thompson, é notícia não confirmada. Vindo a confirmação, é notícia mesmo. Faço um acréscimo às palavras de Thompson: o boato, o factoide, têm algo de urdidura, distorção de fato primário ou até mesmo fabricação de falso fato primário.

Como toda notícia tem em si algo de sensacionalismo - se não fosse assim não seria notícia -, mesmo as mais sérias e tanto quanto possível objetivas, resulta que o boato/factoide, elevados à condição de notícia, têm sempre, e de forma prevalecente, esse dado de sordidez bem típico do sensacionalismo.

E onde encontramos o sensacionalismo? Este é encontrado em sua face de desnudamento, exposição de terceiro a situação vexatória, como alguém que é indevidamente flagrado em momento íntimo. Esse momento íntimo pode ser algo lícito e comum à nossa condição humana, como o caso da princesa Diana. Na companhia do seu amante, seguia em carro que foi perseguido por parapazzi até à morte dela.

Os fotógrafos queriam expor aos olhos da curiosidade pública, voraz por assuntos de denotação sexual, a intimidade da vida erótica daquela mulher, trazida à tona como aquela que deixara de ser a princesinha de contos de fada para viver sua condição de fêmea. E fêmea lasciva, diga-se.

Outro caso de intimidade é a intimidade viciosa, aquela que tem laivos de imoralidade. Pronto. Foi aí que a Veja, veja só, investiu todo o seu cacife: a partir de verbos no condicional montou toda a matéria dos dossiês do PT contra Serra, como que dizendo: "Olhe só como eles são crueis e malvados. Como eles são aéticos e imorais. Foram flagrados em pleno ato de planejamento de campanha difamatória."

Só que, em processo metalinguistico, a campanha difamatória estava mesmo nos atos frasais da revista, que louvou-se em em fatos facciosos, factícios e de ouvi dizer para montar, aí sim, campanha de difamação. Veja só... Veja só...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

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Louca coragem
Emanoel Barreto

Acerca-te de mim
Louca coragem.
E deixa que eu siga em selvagam cavalgada.

E então depois, quando chegar
Ao fim da raia escurecida,
Saberei que houve valor naquele galopar inecessário.
Hitler, o professor de Israel
Emanoel Barreto

Sim, sim, Israel aprendeu bem com as lições de Hitler. Matar, trucidar, oprimir, proscrever. Os judeus reeditam na vida, no instante corrente, o que a História já lhes havia ensinado. O que é a Faixa de Gaza, senão uma forma de campo de concentração, quem sabe de extermínio? Éisso e é também a faixa de gaze, com que são pensadas as dolorosas feridas do povo palestino.


A guerra em si, entre Israel e os palestinos, é algo absurdo. Nem mesmo as mais elaboradas palavras surrealistas ou brotadas de Jean Genet conseguiriam fazer sua paródia. Ódio. A rigor, insanos os dois lados. Mas um, Israel, chega à beira do genocídio. Ecos de Hitler, ecos do soturno professor.

segunda-feira, 31 de maio de 2010


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JORNAL INÚTIL - (\.0./)
Unindo o sutil ao fútil


  • A vantagem de ser um homem sem alma é que, quando morrer, não vai para o inferno.


  • Fez um curso de zumbi por correspondência porque era pobre. Matou de susto um magnata e ficou rico. Depois, pós-graduação com o próprio Drácula na Transilvânia. Afinal se elegeu senador e tornou-se um monstro completo.


  • É bobo e se engana quem pensa que engana quem se faz de bobo.


  • O vinho brigou com o leite. Disse o leite: "Eu sou nutritivo." Rebateu o vinho: "Grande coisa: minha mãe é uma uva. A sua é uma vaca."


  • Na Roma antiga eles já sabiam que o mundo seria dominado pelos computadores. Tanto que diziam, já naquele tempo: "Deleta Cartago. Deleta Cartago."


  • Até que ele não era tão ruim assim: distribuía generosamente sua crueldade.


  • Se quando jovem você era incendiário e hoje se tornou um cara chato e rabugento, olhe para trás e respeite as suas cinzas.


  • A morte é um acontecimento privado. O doente não precisa ser assistido.


  • Quando Adão saiu do Paraíso um magote de desocupados caçoou do rapaz, dizendo assim: "Ave, Adão. Ave, Adão..."


  • De tanto acreditar, a fé ficou cega e hoje fica amolando quem diz que não acredita em Deus.


  • Uma vez um cardeal aproximou-se de um grande líder comunista e perguntou: "Aqui pra nós: Marx existe?"


  • Em terra de cego quem tem olho vê as cegas trocando de roupa.


  • Apressado come cru. Mas come primeiro o seu sushi.


  • Quem corre alcança. Quem anda nem precisa entrar na corrida.


  • Se você é jovem e faz algo errado na rua; se um estranho lhe dá um conselho para se regenerar e o chama de "meu filho", não tem outra: está querendo que você morra para ele ter parte na herança.


  • Se o cavalo é dado não lhe olhe os dentes. É claro: dado não tem dente.






domingo, 30 de maio de 2010

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JORNAL INÚTIL 
Não buscamos o tempo perdido. Fazemos você perder seu tempo

  • Ao levantar escove os dentes. Mas não use ácido muriático. Dizem que faz mal.

  • Após o banho enxugue-se. Mas prefira toalhas em vez de folhas de urtiga. Eva fez isso e se deu mal depois de lavar a boca vermelha de maçã.

  • Ao atravessar a rua olhe para os três lados. De cima pode cair um piano.

  • Máximo cuidado ao votar - votar é muito perigoso. Pensando bem, o melhor seria não votar. Você evita efeitos colaterais.

  • Não ajude os inimigos. Eles podem se acostumar, passam a ser seus amigos, e logo logo vão querer viver às suas custas - o que é bem pior, convenhamos, que a velha e boa inimizade.

  • Desconfie se alguém diz não ter segundas intenções. Ele pode ter terceiras.

  • Se é mentira que é mentira pode também não ser verdade.

  • Lampião era corajoso porque nunca foi ao dentista, dizem.

  •  O sujo fala do mal lavado porque é vendedor de sabonete.

  • Disse o corrupto à CPI: "Lavo minhas mãos do sangue de todos os justos."

  • Alta indagação: "Diz-me com quem falas e te direi se és mudo."

  • No dentista todos ficamos boquiabertos.

  • Hoje tem Igreja que não serve a Deus, mas ao Cão de cada dia.

  • Na Argentina quando alguém queria falar mal de Perón logo outro dizia: "Evita."

  • Se você é desonesto pague o que deve e sua vida perdará qualquer sentido. Está cientificamente comprovado.

  • Estava louco para se internar num asilo. Foi, internou-se, tomou Lexotan e a brincadeira ficou sem graça.

 Alta filosofia

Acredito que não creio que possa não acreditar que não seja possível não ajudar alguém que precise e, ainda assim, não me sentir culpado por não ter sido alguém que não se comoveu com outro alguém que não tinha o que eu tinha, porque ele não tinha o que eu tinha porque eu, para ficar rico, tinha que ter o que ele não tinha e eu tinha feito todos os esforços para tirar tudo de quem pouco tinha , porque, para eu ter muito eu nada tinha que fazer, a não ser tomar tudo  que ele tinha.