sábado, 8 de fevereiro de 2014

Coisas que o BBB não mostra



Cala a boca, seu otário: o BBB é ótimo
A entrevista abaixo, abordando opiniões a respeito do BBB, foi gravada dia 16 de março de 2013, segundo registro no Google. Fica bastante clara a intenção do repórter: obter declaratórios advindos do senso comum; elogiosos, claro, a respeito do programa. 

O profissional já é bastante conhecido do público; é uma espécie de garoto-propaganda do BBB e certamente está acostumado com testemunhais tipo besteirol, destacando as “qualidades” da produção da Globo. 


No vídeo que você verá, quando o entrevistado passou a desancar o programa o repórter perdeu o prumo e desfez-se a chanchada: começou a defrontar o entrevistado, a questioná-lo. Mais que isso, tornou-se hostil. Desesperou-se quando verificou que há pessoas cujos pontos de vista, mesmo apelando ao senso comum, repudiam o programa.

Recolhi o exemplo, mesmo sendo ao ano passado, pois trata-se, com certeza, de situação recorrente no âmbito da recolha de declaratórios a respeito do BBB.

Aqui temos o seguinte: uma câmera pegou toda a ação e o BBB  caiu na grande casa do mundo. Uma câmera flagrou a câmera do BBB e a farsa veio abaixo. 


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Grandes projetos para salvar o nosso povo

Vereador candidato a deputado estadual anuncia: Natal e todo o Estado serão transformados em gigantesco e formidável hospício

Fui procurado ontem em minha tipografia por um elegante corvo, hoje cumprindo mandato de vereador.

Como cavalheiro elegante, aquele nobre homem vestia-se a caráter: fraque pretíssimo impecável, cartola e monóculo. Procurou-me para anunciar sua candidatura a deputado estadual nas próximas eleições, garantindo que seu mandato muito enobrecerá a já muito nobre Câmara Municipal de Natal, este infeliz burgo. 
http://arquivosdoinsolito.blogspot.com.br/2009/05/inteligencia-de-corvos-intriga.html
 Segundo disse, sua proposta gira em torno de dois projetos essenciais: a transmigração da ambiência legislativa da Câmara Municipal e a transformação do Rio Grande do Norte em hospício, onde, por efeito de alucinação midiática, todos os moradores serão felizes e viverão em paz e conforto.

Pedi-lhe explicação a respeito de tão doutas intentonas e mo explicou, com graves ademanes jurídico-comunicacionais. ( Fiquei pasmo - como você, leitor deste pobre coranto, também  ficará.) Eis o que me disse:

           Transmigração da ambiência legislativa é a doutrina jurídica a ser implementada por ele antes de deixar a Câmara e tomar posse como deputado. Isso significa, explicou, que as leis que proporá terão âmbito ampliado para todo o Estado, deixando, portanto, de inscrever-se na jurisdição de Natal e disciplinarão, por conseguinte, a esfera estadual.
         Isto feito, proporá a Lei da Alucinação Midiática. Que será aprovada e com imediata transformação de todo o Estado no almejado hospício, considerando-se todos nós, seus habitantes, legalmente loucos.

Detalho: com a aplicação da doutrina da Transmigração da Ambiência Legislativa, e com sua vigência em todo o Estado, será determinada a criação do Hospício Único de Saúde. Com isso todo o Rio Grande do Norte será cercado por altíssima muralha a fim de que nenhum, ninguém ou alguém possa escapar.

Isto feito, a propaganda oficial do governo passará a ser a realidade oficial: aceita, proclamada e juridicamente imposta pela Lei da Alucinação Midiática.

Como todos serão legalmente loucos, a alucinação será a verdade instituída e a ela todos estarão adstritos sob as penas da lei, penas essas que são: 
1) Envio de todos os dissidentes a sala especial onde serão obrigados a assistir 24 horas por dia à propaganda oficial durante um ano;
 2) Os recalcitrantes serão lobotomizados;
 3) E se mesmo assim os lobotomizados insistirem em que a propaganda oficial não é a verdade serão levados à pena capital. Após a execução, serão mandados ao Haiti, onde competente junta de feiticeiros os transformará em zumbis.

Somente após tal tratamento terão autorização para voltar a Natal ou, resistindo ainda, encaminhados a Hollywood a fim de que trabalhem em filmes de terror tipo “B”, proibidos eternamente de regressar à nossa cidade, que será então a mais feliz das metrópoles no mais feliz dos Estados.

A transmigração da ambiência legislativa, garantiu-me o corvo, será a maior prestação de serviço que a Câmara Municipal de Natal prestará ao infeliz Estado do Rio Grande do Norte, dentre tudo o que já fez de bom e de justo.

Ao perceber que ele me parecia um homem completamente louco, o corvo anunciou que, para cumprir seus intentos, conta com o magnífico apoio de grupos de pressão, cuja presença financeira garantirá que venha a ser eleito.

Argumentando em favor de suas pretensões disse, teorizando: “A realidade é complexa. Nela coabitam a realidade mesma, aquela onde estamos inseridos, e a realidade virtual, aquela dos anúncios. E sendo esta parte daquela, é realidade em si, uma vez que a propaganda nada mais é do que a simbolização do real. Ou seja: é verdade que a propaganda existe e, existindo dentro do real, passará a ser o real validado - aquele  que deve imperar e orientar, viger e ser vivido.”

Quando argumentei que isso é loucura, rebateu: “Mas a loucura, a alucinação, será o real vivo. A alucinação que proponho será a realidade; realidade invertida, mas realidade vigente: portanto, a realidade melhor. E como quero o melhor para o povo de Natal e do Rio Grande do Norte, devemos escolher o melhor: a loucura será esse melhor. E como todos os loucos devem ser confinados a bem da ordem pública, o Estado será elevado à condição de hospício, já que os loucos não podem ser soltos sob risco de graves transgressões, não concorda?”

Dito isto, bateu asas e voou.

Tentei voltar a trabalhar, não consegui. Com muita dificuldade consegui compor este coranto. Por momentos temi pela minha sanidade mental. Teria eu visto mesmo um corvo em minha tipografia? Teria mesmo aquele elegante cavalheiro comparecido com tamanhas proposituras? 
Então, liguei a TV e vi um anúncio oficial, garantindo que tudo está bem e que nossa realidade é a melhor, no melhor dos mundos.

Não; concluí. Não estou louco: o plano do Corvo é que já está em ação. Há muito tempo.  Eu é que não havia percebido...





quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Mistérios para seus olhos

De como se criar um mundo novo e tornar magnífico um grão de areia

Sendo eu homem de poucas luzes, afeito a trabalhos básicos e elementais, sempre procurei aproximar-me de quem poderia ensinar algo a meu parco saber. Assim, no ano de 1201, trabalhando como lenhador nas brenhas mais profundas de floresta vasta, dali levando às aldeias meu pobre lavor que servia de aceso aos casebres por onde perambulava com meu cavalo carregado travei conhecimento com velho de muitas sabenças, tido como esquisito e morador de distâncias, garantidas em sua inacessibilidade pelos longes da citada floresta. Ensinou-me ele a escrever, a ler e a contar.


Em gratidão, passei a colaborar com seus inventos. Como o velho era homem arredio às gentes e não tendo outro a o servir, por uns tempos afastei-me do trabalho de lenhar a fim de ajudá-lo. Naquele tempo ele desenvolvia experiências com a arte vidreira, criando ciosamente ora vidro plano ora encurvado. 

O primeiro tipo de vidro era aplicado às janelas de sua grande e tosca moradia, deixando entrar a radiosa luz solar; o segundo tipo permitia-nos a sensação miraculosa de observar coisas distantes, tornando-as aparentemente perto. Destarte, podíamos observar o sol através de vidros curvos, pretíssimos, sem que isso nos cegasse os olhos. Ou a lua, vista com lentes transparentes, encontrando assim todos os mistérios daquele ser do cosmo. Olhávamos também grãos de areia que se nos apareciam tão grandes como se fossem outros mundos. 

Assim, com a visão de detalhes aumentada, cada grão, era isso o que se nos aparentava, tinha montanhas e vales inóspitos, planícies, cavernas e artimanhas geográficas como o existem na Terra. O velho então decidiu: iria criar uma maneira de tornar-se tão pequeno, tão formidavelmente minúsculo, que seria capaz de explorar um grão de areia a fim de saber se ali havia vida humana ou a isso parecida. Perguntei porque não tentávamos chegar à lua, empresa que a mim pareceu mais fácil, já que não seria necessário a inversão do nosso tamanho.

Ele preferiu não. Explicou que o que se poderia encontrar na lua também o seria no grão, sem a necessidade de voo tão arriscado a local tão distante. Como era aprendiz concordei com o mestre e nos atiramos a experimentos de beberagens e poções que, antes, ele ministrava a porcos, pássaros e outros seres viventes. Maravilhosamente, o velho começou a conseguir o encolhimento dos bichos até que um dia um enorme cavalo tornou-se tão pequeno que só o pudemos enxergar graças a vidro miraculosamente poderoso que amplificou a  visão do animal caminhando num grão de areia. 

O velho exultou: passou a aspergir suas poções sobre plantas, a largas porções de florestas, a lagos e a rios e todos se tornavam microcóspicos; e ele, em bandeja de vidro majestoso, os levava ao grão onde já estava o cavalo e ali criava um outro mundo, em tudo semelhante à Terra.

Afinal, um dia fomos examinar nossa criação e vimos que pululava de vida. O velho então disse que deveríamos nos separar, pois iria habitar aquele mundo antes grão seco e hoje planeta maravilhoso e pleno. Quis saber se o acompanharia à empreitada, mas recusei: "Não, mestre; não mereço tal honraria. Deixo-me ficar aqui no mundo grande, para ver o que acontece."

E assim foi: ele bebeu sua poção prodigiosa e pouco depois foi sumindo, sumindo, sumindo. Observei seu encolhimento em possante lupa, até que o vi, pequenino, caminhando em vale verdejante. Como já era versado na arte da vidraria, apressei-me a criar preciosa ampola de cristal de alta pureza, enchendo-a com o mais delicado ar da floresta para que ali flutuasse aquele novo mundo. 

Desde aquela data até hoje, quando tornei-me tipógrafo de ofício, guardo a ampola e, vez por outra, dou-me a olhar aquela minúscula perfeição e vejo que o velho está feliz. Ontem me disse que vai começar um grande ciclo de navegações, para conhecer o seu planeta...


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Tenho nojo da Copa

Brasil vai gastar uma nota preta com o regabofe da Fifa

Leio no Estadão que o Brasil vai gastar um bilhão e seiscentos mil reais só em segurança com a Copa. Quatro vezes mais que a África do Sul. Tanto lá quanto cá exigência da Fifa, que nos tornou seu protetorado.
 
http://www.google.com.br/imgres?imgurl

Em termos práticos o povo sul africano tirou de sua pobreza todo esse dinheiro para garantir que 250 mil policiais, 7 mil soldados e 20 mil homens de empresas privadas garantissem a segurança do evento. Medo de terroristas,  é óbvio.

Não há dúvida de que segurança é essencial. Do ponto de vista operacional seria um insensatez não mobilizar tal contingente. Mas, que tal se, em  vez da Copa houvesse no Brasil ações, políticas públicas sérias, voltadas para o social?

Não dá mais para nossa sociedade continuar aceitando coisas como a Copa e a Olimpíada, caríssimas, como se fossem, como se tivessem um mínimo de prioridade, decência histórica, urgência, carência social.

Às vezes nosso país me dá nojo. Tenho, tenho sim, nojo da Copa e de todos os políticos que colaboraram para sua idealização e realização. Tenho, da mesma forma, nojo da Olimpíada que vamos custear.

Lamento, especialmente, o fato de o nosso Rio Grande do Norte empenhar tanto dinheiro nessa farra. Lamento a falta de uma sociedade civil atenta, poderosa, representativa, e, por isso mesmo, apta a repudiar, ainda no nascedouro, a malsinada ideia de Lula: trazer ao país a Copa.

Os custos históricos dessa intentona são altíssimos. Toda a dinheirama seria melhor empregada em finalidades sociais. Com o patrocínio do torneio futebolístico áreas essenciais como segurança, saúde e educação, setor viário e aparelhamento das Forças Armadas perdem apoio e incentivo. É triste. É terrível. é podre. Será motivo para a perplexidade das gerações que hoje se formam.

É o motivo do meu nojo.