Os bandidos não são vândalos, são terroristas
Por Emanoel Barreto
Estranhei muito na propaganda do
governo estadual o uso da expressão “violência orquestrada” para definir a onda
de terrorismo que vem espalhando terror e angústia na população de Natal e
interior do estado. Claramente: não há violência orquestrada, mas terrorismo;
este é o termo exato, uma vez que trazer instabilidade, incerteza e desespero social é a
intenção dos bandidos.
Sei que é grande, visível e sincero
o esforço mobilizado pelas autoridades para enfrentar os terroristas, mas não é
com o uso de eufemismos que a periculosidade daqueles será amansada e minorados
os efeitos dos seus atos bárbaros. E sim, acredito que os interesses sociais
prevalecerão.
Quanto à realidade que vivemos, a
definição exata do terrorista enquanto tal urge como forma de dar credibilidade
ao discurso do governo do estado. A tal orquestração colocaria o celerado
na condição de vândalo, o desordeiro reles que por motivos quaisquer destrói patrimônio
público ou privado. Não é o que se dá.
Não tratamos com vândalos, ao
invés, enfrentamos tipos de alta periculosidade, convictos de que fazem parte
até mesmo de uma missão: a defesa dos interesses das irmandades
criminosas às quais sentem-se ligados por esse execrável sentido de honra imbricado às facções.
É como se seguissem algum tipo de
preceito assemelhado à omertà, o código de honra dos mafiosos do sul da Itália,
que é sustentado por um inabalável sentido de família e vínculos
inquebrantáveis de lealdade – a seus pares e ao crime, sua atividade finalística
e razão de existir. Em alguma medida as facções brasileiras têm esse
comportamento. O RN que o diga.
Prova de que não são vândalos: notícias dão conta de que membros de facção
atacaram e incendiaram duas casas em Igapó. Pessoas pobres foram arrancadas de
seus lares tarde da noite e em instantes suas moradias foram destruídas pelas
chamas ateadas pelos infernais criminosos. Informa-se que um comerciante, dono
de pequeno armazém, foi morto, o mesmo ocorrendo com um policial penal.
Não, não há qualquer sentido de
orquestra, o que por si só pressupõe, sorrisos, festividade, alegria; o que
ocorre é o massacre da paz social, a destruição do esforço de pessoas que lutaram
anos para comprar uma casinha ou abrir o próprio negócio.
Foi muito infeliz a escolha da expressão
violência orquestrada. Não se disfarça o que pode ser percebido, não se engana
o que está a olhos vistos. Linguagem evasiva, a escusa de uso do termo “terrorista”
não vai retirar da alma social o terror que ela já vive – as pessoas sabem
que estão sendo vítimas de atos de brutais – em suma, terror.
As pessoas sabem que não há violência
sob orquestração; já vivem o medo como prova contrária a isso. Há terror e
pronto. Mas já que estamos falando de orquestra sou levado a crer que os
músicos criminais tocam apenas um instrumento: tocam o terror em acorde perfeito
maior, para desespero e incredulidade de suas vítimas.
E para encerrar: como vivemos um pandemônio,
creio que na tal orquestra o pandemônio é o pandeiro do demônio.