Um túnel para a China, tiros de canhão e o lindo futuro que
nos aguarda
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Hoje amanheci em 1932 e tenho a
estranha sensação de que há algo errado: meu terrível vizinho, que tem o
estranho hábito de ter tanques de guerra em seu jardim, amanheceu tocando clarim
e “convocando todos os patriotas à guerra.”
Ouvi tiros ele informou-me que está atacando o Palácio Presidencial, pois é ali que “encontra-se o mal para a nação.”
Ouvi tiros ele informou-me que está atacando o Palácio Presidencial, pois é ali que “encontra-se o mal para a nação.”
Estranhei, porque nosso
presidente é um velhinho de 95 anos que costumeiramente vem à minha oficina
tipográfica para pedir conselhos a respeito de como seria possível estabelecer
um pacto com a China mediante um túnel que nos levaria diretamente à Cidade
Proibida.
Informo sempre ao nosso Presidente
que sou apenas um tipógrafo que aprendeu esta arte diretamente de Gutenberg. Sendo
assim nada posso oferecer a respeito de pactos internacionais; especialmente esse,
que nos levará diretamente à China. Mas ele insiste em construir o túnel e
sugeri que fosse imediatamente ao Arquiteto Chefe, senhor de sabenças e versado
em tais assuntos.
Mas agora o Presidente
encontra-se sob fogo de canhão e preciso saber se está bem. Chego ao Palácio
Presidencial e, par gáudio meu, tudo está como devia: o Palácio não foi
atingido pelos obuses e o Presidente dedica-se a instrutiva conversa com suas
plantas carnívoras, a quem sempre recorre quando deve tomar decisões
importantes, após, claro, ouvir-me.
Pergunto a ele se teme ser
deposto e explico que meu temível vizinho o está atacando a fogo pesado. Ele
contesta. E vejo que tem razão, até mesmo pelo fato de que eu mesmo já havia visto
que o Palácio está inteiro. Corro então ao meu vizinho e digo-lhe que suas tentativas
são inúteis: os canhões estão aprumados para alvo bem distinto e distante do
Palácio Presidencial.
Ele admite o erro e diz que,
diante disso, o inimigo agora outro. Imediatamente virou os canhões para a
minha casa e garante que, sem dúvida, conseguirá obter uma grande vitória.
Como sei que estou diante de um
louco corro e fujo. Nesse momento acabam a munição dos canhões. O vizinho corre
a me abraçar e pede que eu o leve ao Palácio Presidencial. Assim o faço e ele propõe
ao Presidente: “Presidente, precisamos, com urgência, construir um túnel que
nos leve diretamente à Cidade Proibida.”
O Presidente aceita
imediatamente, feliciíssimo, e agora estou munido, veja bem, munido de um picareta, a cavar um
enorme buraco. Estou suado e cansado. E, acima de tudo, decepcionado com o
presidente: esperava que ele me nomeasse Mestre Geral das Construções Inúteis e
agora eis-me aqui, suando e exuauto.
Em silêncio rumino um plano: dizem que
haverá um ano de 2013, quando todos os problemas do mundo estarão resolvidos e
o belíssimo túnel agora em construção nos ligará às coisas mais belas da China.
Fugi do meu lamentável trabalho,
entrei numa máquina do tempo e logo contarei a vocês como será o magnífico ano
de 2013.
Abraços,
Emanoel Barreto