sexta-feira, 8 de março de 2013

Uma aventura em África: a mulher e seu elefante

Já disse neste coranto que tenho um avião, um biplano da Primeira Guerra Mundial. Preciosa máquina, ágil como uma garça em voo, tornou-se um grande parceiro que comigo compartilha momentos, horas, vida. Como Natal é o ponto mais próximo da África, e como tenho longeva admiração por aquele continente, costumo atirar-me até lá, em voos que a licença poética me permite dizer que  duram meia hora, meia hora de alegria sobre mar reluzente.
http://www.google.com.br/search?q=mulher%20africana&oe=utf-8&rls=org.mozilla


Então, na travessia, vejo transatlânticos pesados, lerdos como arcas, passando ao lado de embarcações pequenas e corajosas. Observo grandes sombras afundadas se deslocando em meio a mar mítico e assombroso em sua plentude de água. Imagino que sejam grandes monstros, os monstros que habitavam os mares tenebrosos, tão temidos pelos antigos navegantes.


Chegando à África passo a costear o continente. Grande, largo, misterioso, habitado por fauna primeva e basal, paraíso bruto, aquele mundo sempre me atraiu. Voando baixo, costeio suas bordas. Ali estão pessoas, pescadores chegando da luta, e, lá adiante, depois de muito voar, chego a praias desérticas, ausentes da presença humana, mas habitadas vez por outra por animais que estranhamente ali se chegam.


Elefantes e leões, por mais paradoxal que possa parecer, caminham aquelas paragens vazias de homens. Devo dizer que, de tanto viajar à África, de viajar a África, desenvolvi notável perícia em aterrissar em terreno tão difícil e hostil. Jamais enterrei as rodas na areia. Se isso acontecesse haveria desastre brutal e, em caso de fugir ao ataque de feras, jamais o conseguiria.


Ontem, quando por lá estive, parei numa praia bela, bela de uma beleza grande, agressiva e árida, intensa e desafiadora. Estava eu na companhia abençoada de um maço de cigarros e de uma garrafa de bourbon, aquela sagrada bebida do Kantucky. Amparado do sol por um coqueiro de somba bondosa e balouçante, fiquei a admirar a paisagem em que estava imerso.


De repente, saindo das verdejantes brenhas, sai um elefante. Imponente ser vivo, grandioso e forte. Presas do mais puro marfim. A segui-lo, minutos após, uma núbia. Mulher de grande porte, seios opulentos, ancas suntuosas, coxas de Salomé, vértice fêmeo delicioso. Caminhou atrás do portentoso animal e gritou-lhe algo, uma ordem, coisa assim. Tão logo ouviu o grito primal o bicho ergueu-se nas patas traseiras e barriu poderosamente. Escultura imensa recortada contra o céu.


Devo dizer que jamais vi cena igual: dois seres básicos, plenos de beleza bárbara e grandiosa, convivendo momento indescritível. Acho que até o sol parou para homenagear. Em seguida, num salto ágil e preciso, ela agarrou-se à orelha esquerda do animal e postou-se escanchada naquela besta formidável. 

Depois gritou nova ordem. O elefante apressou o passo, virou-se e entrou na floresta novamente. Corri para o meu avião, liguei o motor e sobrevoei aquela cena. Ela viu o avião que subia, fez um gesto ao elefante e ambos desapareceram para sempre da minha vista, encobertos pelas ramagens altas da floresta densa.

quarta-feira, 6 de março de 2013



UNIMED – Luxo e falta de médicos
--- Walter Medeiros – waltermedeiros@supercabo.com.br
 
A UNIMED – Cooperativa de Trabalho dos Médicos vem há alguns anos repetindo práticas perigosas para quem pretende manter-se e realizar o seu objetivo mais importante, que seria prestar serviços de saúde. Ao invés de investir e desenvolver esforços para atender as necessidades dos clientes, investe na aparência, criando diuturnas e seguidas situações de conflito e crise com pessoas que precisam do atendimento. Ao invés de facilitar a vida de quem paga caro pelo plano de saúde, opta por sempre dificultar esse atendimento, irritando muita gente.

Os clientes sabem que quando precisam fazer certos exames, procedimentos ou cirurgias são obrigados a se deslocar até uma unidade da cooperativa localizada à rua Joaquim Manoel ou na Apodi, dependendo do assunto. Sabem que lá chegando encontrarão prédios caracterizados, climatizados, com estacionamento pago (nem isso oferecem), portas automáticas, móveis modernos, monitores de última geração, controle automático de fichas. Encontrarão também muitas pessoas vestindo trajes elegantes, a maioria expondo beleza natural e maquiagens.  

Tudo isso, no entanto, de nada serve quando o usuário chega para marcar o que poderia ser marcado no consultório, sem essa relação de desconfiança que poderia ser resolvida por outro estilo de auditoria que não aquela que leva toda clientela a se humilhar aos pés do médico auditor. Além da humilhação, em meio a tanta beleza existe uma grande desorganização, que faz com que sócios de atendimento preferencial sejam atendidos depois, em vista de falta de controle e gerência. Além do que, se o sistema de informática falha, a pessoa morre à míngua, pois os funcionários não utilizam o método manual para atender essas emergências, inclusive nas faltas de energia. Aí está outra aberração: falta de energia suspende atendimento, ao invés de manterem o serviço através de no-break ou geradores.

Parece muito, mas tem coisas mais graves: as remunerações dos médicos credenciados e cooperados, que é irrisória e está afastando muitos profissionais dos quadros da UNIMED, em todas as especialidades. Aí sobra para os clientes, que pagam o plano de saúde e em muitos momentos têm de pagar consultas e procedimentos particulares aos médicos de confiança, que a cooperativa mantinha como cooperados mas tiveram de deixar o vínculo, recusando-se a trabalhar por remuneração aviltante. 

Basta permanecer minutos num desses pontos ou outros prédios suntuosos da UNIMED, para tomar conhecimento da vasta lista de médicos bons que deixaram os quadros da cooperativa. Consequentemente, essa situação do plano de saúde no qual as pessoas confiaram - muitas delas desde a sua fundação – levam os cidadãos a se sacrificarem financeiramente, se quiserem continuar sendo atendidas pelos médicos de sua confiança.

Esta abordagem faço na qualidade de cliente Unimed desde data próxima à sua fundação – com um pequeno hiato involuntário de alguns dias de Agmed. Já cheguei a escrever cartas para a direção que resultaram em melhorias no atendimento e nos tratamentos do seu hospital. Torço sinceramente para que a cooperativa encontre um rumo menos preocupante que este, onde o sinal vermelho para a sua saúde como plano é a debandada de muitos bons médicos. A UNIMED jamais deveria considerar normal essa situação. Mas trata como se nada de importante estivesse acontecendo.