sábado, 17 de abril de 2021

 Os donos da chuva ácida

Por Emanoel Barreto

A evolução da pandemia se espalha como um manto de desolação sobre o país da mesma maneira como um dossel recobre um leito. Só que, no caso, trata-se do leito de morte dos muitos que tombaram sob o esmagamento da covid.

Ao que vi na imprensa o Brasil somente perde para a Índia em número de mortos diários. A cotidianidade do morticínio parece não haver sensibilizado certos setores da sociedade, especialmente os ligados à economia e ao protestantismo.

A eles somam-se os inconsequentes que promovem festas clandestinas, encontros grupais para conversar miolo de pote ou simplesmente marchar para academias – afinal é preciso viver o lema romano mens sana in corpore sano não é mesmo?

A marcha da insensatez começa a partir da chuva ácida que vem de Brasília e corre, caudalosa, a inundar corações e mentes de pessoas cuja ignorância e visão superficial, imediatista e rasa da realidade encontram na oração em público ou no comércio a qualquer risco solução da grave, terrível crise que vivemos.

Já somos proibidos de desembarcar em muitos países; chego a dizer que estamos deixando de ser um país para nos transformarmos numa doença. Somos, a bem dizer, um tipo de aterro sanitário social, cultural. Estamos nos tornando uma ameaça pública planetária.

A tudo isso junta-se a permanente ameaça à democracia, os destemperos da pessoa que tem o título de presidente da república e toda uma trupe de ajudantes, todos eles tomados pelo mesmo ânimo: promover o apoio aos propósitos de reeleição da citada pessoa e estabelecer um clima de dissenso e confusão social diária e intensa.

Sinto como se caminhássemos em meio a uma bruma, um fog de insegurança. Mas confiemos nos passos da História. A pandemia vai passar. E os donos da chuva ácida também.