sábado, 30 de agosto de 2008

A noite, a torre, o mar e o abismo

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Naquela paisagem morava uma estranha eternidade,
feita de momentos recurvos, instantes enovelados,
minutos que não se passavam.

Ali, naquela alma de mar, falésias de escuro
traziam perigos.
E o vento corria sem freio ao redor da torre.

Depois, a noite ficou pegajosa de frio
e invadiu de brumas as passadas
de quem se arriscasse a andar por lá.
Emanoel Barreto

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Tira a mão desse petróleo

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Vejam só como o capital internacional é bem intencionado e preocupado com o povo brasileiro. O texto é da Folha Online.

Realizar mudanças no marco regulatório do petróleo após as descobertas na camada pré-sal pode ser arriscado. A avaliação consta de reportagem da edição eletrônica da revista britânica "The Economist", publicada nesta quinta-feira.
A revista avalia também que uma nova estatal para cuidar das reservas descobertas pode se tornar "inchada" com indicados políticos, além de criar a tentação de rever os contratos já existentes no setor petrolífero no Brasil, o que seria "desastroso" para a Petrobras.

"Embora a Petrobras, que é sujeita às regras do mercado, seja relativamente enxuta, uma nova estatal pode rapidamente se tornar inchada com indicados políticos. Em segundo lugar, o governo pode se sentir tentado a revisar contratos existentes, o que seria ruim para a confiança e desastroso para a Petrobras e suas parceiras (a britânica BG Group tem uma participação de 25% no campo de tupi e a portuguesa Galp Energia, 10%)", diz a reportagem.
"Além disso, deixar de fora os acionistas estrangeiros da Petrobras pode assustar os investidores estrangeiros em geral", acrescenta o texto.

--- A ação do governo brasileiro, supostamente interessado em assegurar controle sobre material energético estratégico, faz com que grandes latifunduários da humanidade emitam sinais de "preocupação", como se estivessem mesmo querendo o melhor para a Petrobras, para o Brasil, para nós...

Trata-se de um discurso mistificador, típico dos que desejam apoderar-se das riquezas de um país que vem historicamente sendo explorado, com recursos dos mais diversos tipos sendo drenados para os países centrais.

O governo precisa assumir uma postura firme. As coisas de jornal falam que as reservas petrolíferas do pré-sal chegariam a 50 bilhões de barris, superando as reservas do Golfo do México. O Brasil, com a exploração dessas jazidas, seria o sexto do mundo no setor.

Já perdemos muito; não dá mais para continuar com a sangria.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Volta, Peri. E traz teu arco...

Caras Amigas,
Caros Amigos,

O Estadão Online publicou a seguinte notícia: "O ministro do STF Carlos Ayres Britto, relator da ação sobre a demarcação da Raposa Serra do Sol, defendeu o modelo de demarcação contínuo da terra indígena, do jeito que a reserva foi homologada pelo governo federal. A defesa contraria os arrozeiros de Roraima, que defendem a demarcação em "ilhas". "Modelo geográfico tem o sentido de continuidade", afirmou.

"Ainda na argumentação, Britto disse que o modelo contínuo possibilita que "se viabilize um poder administrativo de perfil coletivo e uma auto-suficiência econômica com idéia de abertura de horizontes, contra o modelo ilhas de identificação", que ele chama de "asfixia espacial" e "confinamento sem grades". São terras, segundo ele, que não são propriedade privada. "É bem público. É da União para servir aos índios".
--- As coisas de jornal tocam em um problema gravíssimo: os 500 anos de subjugação , que o Aurélio define como "submeter pela força das armas", "dominar moralmente". O genocídio dos indígenas pelos portugueses e depois pelos que viriam a sermos nós, os brasileiros, transforou as nações de indígenas em indi-gentes.

Trata-se de massacre de corpos e de culturas riquíssimas em sua essência antropológica e grandiosidade humana. Essa questão dos arrozeiros contra os índios é apenas mais um passo do nosso domínio, nossa hegemonia sobre etnias que, em seu confronto conosco, levaram nítida desvantagem, do ponto de vista bélico. Um arco, uma lança, jamais poderiam enfrentar os arcabuzes de Porgual, como não podem, com mais razão, enfrentar os rifles e outras armas dos bandos que servem aos arrozeiros.

O governo federal tem a obrigação, moral e jurídica, de repor de alguma forma aquilo que foi violado. Os índios e a natureza formam um todo. E isso tem que ser respeitado.
Emanoel Barreto

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sarney e o silêncio dos inocentes


Caras Amigas,
Caros Amigos,
A Folha de S. Paulo sabatinou o senador José Sarney. Quando indagado a respeito de revisão na lei que isenta torturadores de presos políticos durante o regime militar, disse: "Não tinha conhecimento nenhum [das torturas], pois estava no Maranhão, era governador do Maranhão [...]. O que posso dizer é que quando cheguei no Congresso é que formamos um grupo para lutar para que o processo se abrisse", contou o ex-presidente."

Mais adiante, afirmou: "Não há razão para que devemos renascer com o assunto. Evidente que isso não cura quem foi torturado. Mas o processo político da anistia fez parte da transição", disse Sarney, rechaçando a revisão da lei."

--- É estranho que um governador fosse tão desinformado a respeito de algo que todo o País sabia. Não seria o fato de morar no Maranhão - que, ao que consta fica no Brasil - que o impediria de tomar conhecimento do assunto. Até porque governos estaduais também contam com serviços de informação e, principalmente, Sarney fazia parte do grupo que estava no poder.

Sem dúvida, ele se recusa a ver abertos os porões da ditadura para evitar que o eco dos fantasmas dos mortos cheguem a clamar aos seus ouvidos.

O Brasil não pode ficar refém de um grande medo: o medo de que os militares fiquem insatisfeitos com investigações a respeito daquele período, como se fôssemos uma republiqueta que a qualquer momento pode ser presa, novamente, de uma ditadura.

A tortura a presos de consciência assume características extremamente dolorosas, porque aqueles que estão sob o peso da mão do Estado lutam por uma causa, se expõem, lutam pela superação de estágios históricos de atraso e exploração. De alguma forma, sofrem uma espécie de martírio. E isso não pode ficar impune.

É preciso ter coragem para abrir o cofre dos horrores. E o presidente Lula tem, perante a história, essa missão: o resgate da memória dos que foram agredidos e a punição dos criminosos que atacaram a Liberdade.

Emanoel Barreto

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Algo preocupante

Caras Amigas,

Caros Amigos,

A Folha traz a seguinte notícia: "Enganaram-se os que pensavam que o Supremo Tribunal Federal iria ter um negro submisso, subserviente", diz o ministro Joaquim Barbosa, ao comentar os desentendimentos com alguns de seus pares -como Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Eros Grau. Ele atribui os atritos à defesa que faz de "princípios caros à sociedade", como o combate à corrupção. Barbosa entrou em choque com ministros tidos como "liberais" em julgamentos da Operação Anaconda. Ficou conhecido popularmente como relator do inquérito do mensalão e recentemente discutiu com Eros Grau sobre a liberação de um preso da Operação Satiagraha.

--- A atitude do Ministro demonstra, é o que ele me fez supor, algo preocupante: existiria racismo no STF. Ao fazer a afirmativa, deixa claro que a elite jurídica togada precisaria passar por uma reforma em seus valores quanto à questão das etnias.

Uma sociedade que se quer civilizada e justa não pode admitir que em suas elites intelectuais se plante a erva daninha do racismo. E o Ministro, que tem-se notabilizado por suas atitudes críticas, pode se tornar um símbolo, um indício, do quanto este país ainda tem que evoluir.


A ser constatada a convicção que expressou, a coisa é muito grave. Data venia.


Emanoel Barreto

domingo, 24 de agosto de 2008

Ave Zeus, dai-me a vitória...

Caras Amigas,
Caros Amigos,
A disputa em um esporte, coletivo ou não, pode ter muitas leituras. A primeira, e exatamente a mais simplista, é aquela que encara o esporte pelo esporte e vem dos torcedores, dos jornalistas especializados nas diversas modalidades, das pessoas em geral. Um jogo é um jogo e pronto; uma maratona é somente isso: heróica e tensa, mas tão-somente um conjunto de jogos.

Todavia, num esporte, especialmente quando elevado à condição de representar grandes contingentes humanos, como torcidas de grandes clubes ou até mesmo países, assume conotações dramáticas monumentais e trazem em sua essência a grande tragédia humana.

Vejamos uma olimpíada. Quantas esperanças, anseios, desejos de auto-superação, vontades de nações em aparecer brilhando. Quantas compensações, íntimas ou nacionais, não estarão aí contidas.

É o atleta queniano superando a miséria de onde foi gerado, para se lançar ao mundo como o novo Fidípides, o herói das tropas da Alexandre. Ele correu 42 quilômetros e uns tantos metros, para comunicar aos compatriotas gregos a vitória sobre os persas na planície de Maratona, que hoje mais mais existe. Informou sobre o triunfo glorioso e depois morreu...

É a Seleção brasileira feminina de futebol chegando ao esforço último de todas as fibras vivas de suas atletas, para ser injustamente derrotada pelas americanas.

Especialmente nos esportes coletivos os jogos ganham uma dimensão simbólica de guerra. Usa-se da tática e da estratégia. Os corações dos atletas vibram num diapasão diferente: eles não lutam por um gol apenas, mas lhes está inculcado que lutam pela pátria; lutam pela glória, a passageira imortalidade de algumas manchetes.

O dado dramático do esporte, sua face tragédia sintetiza e encena a batalha humana no mundo da vida; a incerteza, o medo, o próximo passo, os desvãos e ravinas do existir nesse planeta. É o combate pela sobrevivência, a busca pela superação dos limites humanos, uma forma estética e enérgica de enfrentar obstáculos e desafios.

O esporte é tudo isso e é também política e ideologia. O Poder dele se utiliza para crescer e se tornar ainda mais poder. Geralmente, não há morte nesses combates cifrados e plenos da mais íntima perplexidade; mas o homem, pequenino e trêmulo, morre a cada momento de derrota. Logo ele, que antes dos jogos, orava em seu silêncio escuro: "Ave Zeus, dai-me a vitória..."
Emanoel Barreto