sábado, 31 de dezembro de 2005

Os fogos estão nascendo...

Na nota abaixo desta, você lerá algumas curtas considerações sobres 2006.Nesta também. É o seguinte, de repente, quase seis da noite, minha Neta, Eduarda, ao ouvir o barulho de alguns fogos em Ponta Negra, ela pensou que já se comemorava o ano novo e gritou: "Olha vovô: os fogos estão nascendo! Vem ver! Vem ver! Os fogos estão nascendo!..."
Que bom, que bom que ainda haja a inocência infantil. Dá até para ficar feliz: os fogos estão nascendo... Os fogos estão nascendo...

Mais um reinício, início...

Apresse o passo, que o tempo vem aí. Apresse o passo que o tempo já chegou. Redijo a poucas horas antes de 2006 e me imagino como se estivesse redigindo um pergaminho feito da luz do computador. Essa é uma nota rápida, aprontada como num fechamento de jornal, para encher um espaço de última hora.
Portanto, apresse o passo. No repertório de acontecimentos que virão, nem é bom pensar... Tem gente pensando em matar, tem gente tramando atentados, tem gente roubando do povo, tem gente que..., tem gente. Portanto, esteja atento e forte. Sons loucos podem estar nesse momento sendo programados para transformar 2006 numa explosão.
Mas vamos confiar também que tem gente pensando em paz e bem.
Tem gente pensando em gente.
Então, a gente passe às gentes os gestos do ser melhor.
Feliz 2006.

Convivência com o Mal

Viva N.S. Jesus Cristo!Viva tudo quanto é bom!”
(Grito dos bacamarteiros de Pernambuco)

Com o tempo, com a experiência, aprendemos a conviver com o Mal. O Mal pode estar na droga, no crime, no carro em contramão, no medo de ter coragem. Mas o ruim, o pior mesmo, é quando o Mal está às suas costas, às ocultas, esperando para atacar - o ruim é quando o mal está no amigo, naquela pessoa que lhe está próxima, atenta e, aparentemente, tão sua.
A história a seguir é um bom exemplo disso.


Dulcídia era uma boa moça: trabalhadora, estudiosa, acreditava ter todo um futuro pela frente. Chegava a ser brilhante, em seus estudos sociológicos. Até que um dia conheceu André, um rapaz aparentemente bom, já formado em direito e, dizia, com um sólido e movimentado escritório de advocacia.

Conheceram-se num passeio de barco pelo litoral. E ele lhe disse, olhando a lua: “Essa é a mesma lua de Marco Antônio e Cleópatra. E hoje é nossa.” Ela encantou-se com as palavras, como encantou-se com muitas outras coisas que ele lhe disse, lhe fez e propôs. Dentre essas, casamento. Claro, Dulcídia aceitou.

Aceitou e passou a comprar o enxoval, investindo muito de suas economias. Somente estranhava quando André, às vezes, sumia, por prazos que chegavam até mesmo a uma semana. Mas ele logo lhe voltava, expondo motivo de viagem profissional, trabalho inadiável, convite irrecusável, enfim, dinheiro, dinheiro que ele dizia estar ganhando, já como forma de garantir a solidez econômica do casamento.

Passou-se o tempo. Faltavam seis meses para o casamento; faltavam cinco meses para o casamento; faltavam quatro; faltavam três; dois; um; quinze dias; uma semana e...a campainha tocou às quatro da tarde. A mãe de Dulcídia atendeu. Entrou uma moça na casa, sentou-se à sala de estar. Dulcídia foi chamada a falar com ela. A mãe anunciou uma visita, advertindo “mas eu nunca vi essa moça.” Dulcídia também não, foi o que percebeu, quando chegou à sala.
A jovem pediu desculpas e apresentou-se: era Mariângela e estava ali para pedir um favor a Dulcídia. Ela espantou-se, sequer imaginando o que seria o tal favor: “Posso falar?”, disse a moça. “Posso lhe pedir o favor?” - ela insistiu.“Sem dúvida”, disse Dulcídia, completando: “Mas vamos ver se eu posso atender...”


“É claro que pode”, continuou a outra, “você quer, por favor, deixar em paz meu noivo, André?” - Dulcídia quase cai fulminada. “Então...”, balbuciou, “ele é seu...”, tentou falar, mas a outra cortou: “É isso mesmo, ele somente usou você para me fazer ciúmes e assim reatar o noivado. Assim, é melhor parar e...”

Uma Dulcídia lívida e silenciosa caminhou até a porta e abriu-a, apontando a rua à visitante. A mulher retirou-se, olhos cravados no chão. É por isso que, hoje, Dulcídia, todo ano, às quatro da tarde do dia 30 de agosto, cumpre um estranho ritual: senta-se à sala, fala em silêncio, gesticula. Depois, ergue-se e vai até a porta, que abre em silêncio. Ela está mandando embora os demônios das lembranças, que todo ano voltam, para novamente ser expulsos. Depois, ela volta a seu quarto e fica esperando André

Jornalismo e corrupção

A cultura jornalística prefigurou ao longo do tempo situações, perfis e circunstâncias que se encaixam como fatos noticiáveis, ou seja, fatos que são passíveis de divulgação em decorrência de preencher aspectos como novidade, raridade, impacto que pode exercer sobre a opinião pública. Dentre tais acontecimentos destacam-se os atos de corrupção, que, comumente, envolvem elementos ligados ao governo ou instituições oficiais, muitas vezes em conluio com gente da iniciativa privada.
Corruptos e corruptores são como as duas faces de uma mesma moeda; um não existe sem o outro. Um aspecto de relevância na corrupção é o alto status profissional dos envolvidos. São pessoas que, por sua própria situação pessoal e profissional a princípio não precisariam buscar a locupletação através dos dinheiros públicos, o que aumenta a indignação da sociedade. Acrescenta-se a isso outro aspecto de relevo, a impunidade. Não são poucos os casos de CPIs que resultam em nada. Os relatórios finais ou são inconclusos ou apontam cinicamente para o inocentamento dos implicados.
Então, num país como o Brasil, onde a corrupção quase que faz parte da cultura política nacional, porque notícias sobre corrupção mantêm-se tanto tempo no noticiário, uma vez que a raridade é essencial a um acontecimento para que este vire notícia? Isso se dá em função de um dado bastante peculiar: as seguidas denúncias de corrupção evidenciam que esta chegou a uma situação endêmica e, portanto, insuportável. Ganha assim status noticiável em função de que, paralelamente a isso, toda uma população permanece ganhando salários miseráveis, há uma inominável burla às leis trabalhistas e exige-se do povo cada vez mais.
O jornalismo, desta forma, precisa e deve estar atento aos atos de corrupção. Todavia, há um problema a ser questionado, agora no âmbito dos jornais. Como os salários pagos à categoria são expressivamente baixos - estou usando essa expressão para não usar termos mais fortes - o jornalista vê-se jogado à necessidade de busca de um segundo emprego, para complementar a renda familiar. É aí que entra a matreirice de políticos e outros quejandos, quando assalaria um profissional, como forma e meio de, a partir daí, obter visibilidade positivada no jornal onde este atua.
Cria-se assim uma situação cínica: o jornalista passa a ser uma espécie de contrabandista de informações. Muitas vezes nem redige a matéria sobre seu "assessorado", mas pede a um colega que o faça. É como um desencargo de consciência vesgo, ou seja: "Eu não fiz a matéria, outro a fez. Assim, não feri a ética profissional." Os jornais conhecem essa prática e a admitem na internalidade das redações, conciliando interesses, ajeitando entendimentos, enfim garantindo também para si uma parte desse mercado, pois jornais são empresas e políticos, por sua vez, também podem ser grandes anunciantes, empresários, etc...,etc...etc...
Esta é uma situação crônica, mas que precisa ser revertida via melhoria de salários, ampliação do mercado de trabalho, surgimento de novas oportunidades. Senão, como frisei jornais são ampresas e políticos, por sua vez, podem ser grandes anunciantes, empresários, etc..., etc...etc...