segunda-feira, 16 de julho de 2018

Delator premiado: o bandido que sempre leva tudo 

Somos um país de festa política, onde mascarados ricos caminham pelos corredores secretos de Brasília, trocam favores de última hora na Justiça e esperam que, num passe de mágica, alguém, quem sabe um louco, talvez um sábio trapaceiro consiga desatar os nós entrelaçados da Lava Jato e trazer paz aos farsantes. É tudo o que eles desejam.

“Eles” são os delatores premiados. Tipos espertos, sabem do baralho.
Somos o país do carnaval e logo virá uma nova festa. Pouco a pouco e vida política vai voltar ao normal, ou seja: as manchetes anunciarão o começo da campanha eleitoral, a tal nova festa. 

E os delatores, que começam a ser esquecidos, ganharão o prêmio: seus trinta dinheiros são, por exemplo, recolher-se às suas mansões, pagar a perder de vista o que roubaram à nação e, enfim, ficar tranquilos e calmos; quem sabe aproveitando férias intermináveis.
Detalhe: nada garante que pagarão o que roubaram. 

Quanto estão fazendo suas denúncias os delatores são como aqueles tipos que participam do BBB: quando são expulsos do programa – leia-se das suas conjuras de roubo e tramoia – querem fama a todo custo, ou seja: querem ser ouvidos, contar o que viveram, debulhar as podruras dos que ficaram. 

Querem lavar as mãos, mesmo que o corpo continue atolado na lama.
E assim fazem os BBBs da Lava Jato: querem falar e são premiados com sentença benévola – a delação é premiada, lembra? 

E ganham nas manchetes a condição de aliados da honradez – é honradez de última hora, claro. É de última hora mas vale; pronto. No Brasil, você queria o quê?  

Quem sabe logo logo haverá os ex-deladores, o equivalente político dos ex-BBBs: poderão escrever livros, virar celebridades arrependidas; quem sabe, inspirar um filme com cenas picantes. 

A questão é que estamos numa quarta-feira da História e temos cinzas. Começo a temer que nem somos um país. De qualquer maneira lá vem o Brasil descendo a ladeira.