sábado, 9 de novembro de 2013

A astúcia do político corrupto

O  corrupto ficou livre e o doente ficou preso

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Político Corrupto havia sido preso. Após muitas falcatruas, descaminhos, tramas, tenebrosas transações não houvera mais como seus, digamos, pares, salvá-lo. E como os demais não queriam expor-se em ligações perigosas, meteram-no na cadeia. Alívio. Agora, poderiam trabalhar nas sombras, a salvo da presença malquista do companheiro em desgraça.

Mas, Político Corrupto não perdeu tempo. Após uns poucos meses reuniu a imprensa para anunciar: contrito, havia descoberto os valores morais a que antes não atentara e agora destinaria sua vida ao próximo. E detalhou: quem precisasse de doação de órgãos, ou mesmo partes do seu corpo, como pernas, braços, mãos, etc, poderia fazer contato, que ele os cederia de bom grado.

Acontece que um senhor idoso, homem honrado, mas de saúde debilitada desde a juventude, estava precisando, e muito, de doações. A cada dia seus médicos descobriam uma nova enfermidade que requeria transplante.

Político Corrupto sabia disso de antemão e era nele, naquele pobre sofredor, que focara seus projetos. Primeiro doou uma perna pedindo em retribuição que a perna doente lhe fosse implantada: queria martirizar-se, dizia, sentindo as dores e tudo de ruim que o outro havia sentido. Era uma forma de purgar seus pecados morais e cívicos. Foi atendido.

Depois, mandou a outra perna e recebeu nova perna doente. Mandou as mãos, os braços e o tronco. E assim sucessivamente. Somente faltava a cabeça. Então, os médicos descobriram que seu doente estava em vias de ter um derrame e Político Corrupto aceitou o sacrifício final: mandaria a própria cabeça para livrar a pobre criatura da moléstia.

Assim foi feito. Como você já deve percebido, Político Corrupto literalmente se transportou, conseguindo sair da cadeia. E como todo o seu corpo fora doado, não fora uma fuga e assim ele poderia iniciar vida nova, quer dizer, voltar à boa vida velha.

Foi o que fez. Como era período eleitoral comprou todos os votos que pôde, elegeu-se com votação recorde e foi recebido com gritos e fanfarra. Quanto ao velhinho doente, acordou numa cela e, depois, morreu.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cuidado, ha perigo na esquina



Uma estranha realidade
Ao sair ontem de minha tipografia, mais de dez da noite, não supunha o que me aconteceria. Foi assim: caminhando pela rua mal iluminada pelos lampiões de gás, percebi que era seguido por um orangotango de má catadura. Nos últimos tempos era sempre assim: animais de todos os tipos nos assediavam, pediam esmolas, praticavam pequenos furtos, assaltavam, invadiam casas.
 
http://natgeotv.com/pt/eu-predador/galerias/animais-perigosos
Então, olhado para trás, notei que ele se aproximava rapidamente. Temendo pelo pior entrei num bar onde havia unicamente seres humanos. O orangotango, sentindo que estava em desvantagem, recuou, meteu-se na escuridão e sumiu. Comentei com uns homens a respeito e todos confirmaram: também sentiam-se perseguidos por bichos, como onças e antas, todos agressivos.

Um deles, aparentando ser o mais esperto de todos, disse que a presença dos bichos era decorrência da destruição das florestas pelo homem. Assim, bestas as mais variadas tinham vindo para a cidade, estabelecendo-se nos arredores e formando grandes povoados. 

 Agora, organizados em bandos, atacavam a todos os homens.
Saí do bar depois de uns quinze minutos. O macaco não estava perto. Eu temia que ele tivesse se escondido nas cercanias, numa espécie de gesto tático ou seja: fingira ter fugido, mas havia voltado para me pegar em momento oportuno. Mas, não: tinha mesmo ido embora.

Saí a caminhar e esperava chegar em casa o mais rápido possível. Após meia hora cheguei à casa e tive terrível surpresa: minha casa havia sido tomada por grande número de macacos, papagaios, quatis e um tigre. Entrei na sala e ali estava, sentado no sofá, um grande hipopótamo. Era o chefe do bando.

Perguntei-lhe o queria e ele: “Queremos apenas a sua casa. Somos animais sem teto. E saia logo daqui, por favor.”

Respondi que não iria deixar meu lar nas mãos ou melhor nas patas de tão temíveis invasores. Ouvindo isso ele gritou uma ordem e fui dominado por um gorila, que atirou-me ao meio da rua. Tentei voltar, mas fui expulso novamente, agora com grande violência. 

Uma onça perseguiu-me e corri o mais rápido que podia, até chegar a um bairro distante, um arrabalde. Ali encontrei uma multidão de humanos, todos também despejados de suas casas. E mais: a cada momento outros e outros seres humanos chegavam ao bairro, todos também atirados de suas moradias.

Ficamos a noite inteira ao relento, pois as casas haviam sido destruídas pelos animais. Dia seguinte reunimo-nos e resolvemos atacar os bichos e recuperar nossas habitações. Marchamos todos unidos, mas fomos recebidos pela tropa de choque dos bichos e dissolvida nossa manifestação a golpes de cassetete. 

Recuamos para nosso bairro periférico e passamos a morar em choupanas. Desde então temos tramado planos para voltar às nossas casas. Mas, sempre que intentamos uma surtida, somos repelidos pela polícia dos bichos. Não sei mais o que fazer: temo que doravante e humanidade tenha que correr para as florestas e ali tentar sobreviver.

Mas logo alguém me advertiu: não há mais florestas. Nós acabamos com todas, lembra? Entendi então que estamos perdidos: não temos mais casas ou matas. Diante disso, uma certeza: para sobreviver precisamos aprender a galopar.