terça-feira, 17 de abril de 2012

Prever para prevaricar

A cachaça, o termo cachaça passou a ser respeitado no mercado norte-americano, depois de muita luta, como designação de produto tipicamente brasileiro. Quer dizer, respeita-se um bem imaterial, seu preparo, a cultura, o debruçar espiritual do artífice sobre a sua obra, a arte enfim. Do mesmo modo que o francês defende seu champanha.
Guto Cassiano


Temos porém, além da cachaça, outro produto bem brasileiro, possivelmente jamais igualado por qualquer outro país: a corrupção. Chegamos, pelo menos quase, à perfeição: trata-se de elaborado processo. Que vai do planejamento, conhecimento jurídico-burocrático dos meandros e das leis a serem burladas e manipuladas a favor do corrupto e seus corrompidos, até a execução na certeza de, falhado o plano espetacular, nada acontecerá. A impunidade faz parte do processo. Não impede uma nova intentona, está no gen da cultura política - política aqui em sentido amplo, de pólis.

E ficam os partidos se acusando mutuamente, manchados e moralmente trôpegos, mas acusando-se sem parar, o que dá à vida pública da a sensação de que a finalidade da política, aqui política partidária, é unicamente troca de desaforos e blasfêmias contra o bem social.

Assim, urge que se tomem as providências para registrar a corrupção nacional, a fim de que lá fora não nos tentem tomar esse licor, patenteando-o. E o que é pior: que tenhamos de comprar no mercado internacional algum caderno de métodos e técnicas de corromper. Não tenho dúvida de que, ocorrendo isso, se formariam imediatamente grupos e lobbies. Todos cobrando seus vinte por cento de comissão, alegando que seria muito importante o país importar esse bem como commodity, sob o lema positivista: prever para prover. Ou melhor: prever para prevaricar.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Deu no Observatório da Imprensa e reproduzo

O jornalista que ajudou a contar a história do século 20

Por Cláudia Carvalho em 10/04/2012 na edição 689
Reproduzido do Público (Lisboa), 9/4/2012; intertítulos do OI

Com uma carreira de mais de 60 anos, Mike Wallace, que morreu no sábado (7/4) aos 93 anos, é lembrado não apenas pela sua carreira como pelo seu estilo jornalístico tão característico, apelidado pelo Los Angeles Times de “estilo pit bull”. À sua frente sentaram-se alguns dos principais presidentes e líderes mundiais, políticos, desportistas e artistas. As suas entrevistas traçaram parte da história do século 20.

Depois da notícia da morte de Wallace, que ainda hoje é conhecido como a cara do programa de informação 60 Minutes, criado em 1968, são muitos os jornalistas que têm expressado a sua admiração pelo norte-americano, que criou um estilo jornalístico próprio seguido por muitos profissionais no meio.

“Ele adorava ser o Mike Wallace. Adorava o facto de saber que quando aparecia para uma entrevista, as pessoas ficavam nervosas. Ele sabia, e sabia que toda a gente sabia, que ele ia conseguir a verdade. E isso era o que o motivava”, disse Jeff Fager, presidente da CBS News e produtor executivo do 60 Minutes, lembrando a postura destemida e dura do jornalista, que nunca se intimidou com os seus entrevistados.

Para Roger Ailes, presidente da Fox News, Mike Wallace foi único. “Eu não me lembro de ninguém me dizer que ele fez o óbvio, ou que estava a fazer algum tipo de jogo. Ele sempre tentou servir a audiência e isso foi o que o tornou formidável”, disse Ailes ao Huffington Post. “Wallace estará sempre no panteão dos melhores da televisão e do jornalismo.”

Estilo único
Ao longo da sua carreira, Mike Wallace trabalhou em mais de 800 investigações. Entrevistou todos os presidentes norte-americanos desde John F Kennedy, com excepção de George W Bush, assim como vários líderes mundiais, entre os quais o russo Vladimir Putin, o ayatola iraniano Khomeini, o líder chinês Deng Xiaoping e o palestiniano Yasser Arafat.

Teve ainda como entrevistados Malcom X, pouco antes de ter sido assassinado, e Martin Luther King, a quem chamava de “herói”. No mundo das artes também foram muitos os nomes entrevistados por si, desde Janis Joplin, Hugh Hefner e Tina Turner, passando por Salvador Dali e Barbra Streisand.

“Ele foi um jornalista intrépido que usou a televisão para fins poderosos. Todos os domingos à noite a América sintonizava-se para ver que questões ele colocaria e quem seria exposto na sua difícil missão da procura da verdade. A sua forma difícil de questionar inspirou gerações de jornalistas”, escreveu Ben Sherwood, presidente do ABC News.

Para Jeff Fager não existe ninguém com uma carreira como a de Mike Wallace. “Se não fosse ele e o seu estilo icónico, provavelmente não existiria o 60 Minutes. Simplesmente não tem existido outro jornalista televisivo com tanto talento como o dele. Com ele, quase que o assunto das histórias que cobria não interessava, as pessoas só queriam ouvir o que ele perguntaria a seguir”, escreveu em comunicado o presidente da CBS News, que entretanto já anunciou que no dia 15 vai para o ar uma emissão especial de homenagem ao jornalista.
O jornalista Morley Safer, colega e amigo de Mike Wallace, publicou também um vídeo de tributo, no qual em oito minutos relembra a carreira e algumas das entrevistas mais marcantes de Wallace.
***
Hoje tá muito hoje ou uma tenda em cada estrela

Ando sem tempo para escrever. Tenho esperado as chuvas que não chegam. Mas sempre tenho uma grande alegria quando meu neto me informa: "Vovô, hoje tá muito hoje."

http://es.dreamstime.com/
Sim, meu filho, graças a Deus hoje tá muito hoje e espero que permaneça assim por muito, muito tempo. É preciso que hoje continue muito hoje. Não sei bem porque, mas creio que é importante que hoje esteja muito hoje. 

Estarmos muito hoje talvez signifique que as chuvas nordestinas virão, mesmo que meio atrasadas, só para festejar o hoje muito hoje; estar muito hoje certamente quer dizer que todos os males, projetos e planos dos indignos e quejandos serão levados pela chuva às bocas de lobo do chão do tempo e lá se perderão para sempre; estar muito hoje certamente significa que o olhar faiscante de beleza do meu neto será para mim um luzeiro a dizer  que é preciso embarcar com ele em seus navios e em seus carros e partir para novas aventuras e dizer como o velho Antero: "A galope, a galope, ó fantasia! Plantemos uma tenda em cada estrela."