sábado, 16 de junho de 2007

Bendito, louvado seja

Os jornais estão dizendo que amanhã os senadores deverão votar pelo arquivamento do pedido de investigação a respeito das tenebrosas transações do presidente da Casa, Renan Calheiros.

Os aliados do governo e a oposição, ora tremelicante,deverão entender como plenamente aceitável as ações do senador, agora alvo de denúncias de negociações com empresas de fachada, de onde teria saído o dinheiro para manter sua amante e uma filha.

Isso, fora a acusação anterior de que a dama seria manteúda com dinheiro vindo de um lobista.

Assim, só resta dizer: Renan é um bom companheiro/ Renan é um com companheiro/ Ninguém pode negar/ Ninguém pode negar...

Ou, quem sabe, cantar aquele hino antigo, que as velhas ainda hoje entoam em igrejinhas do interior, quando se aproxima a Hora do Angelus: "Bendito, louvado seja."

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Renan e os cornacas

Diz velho adágio que "a culpa condena". Certas coisas por si se mostram e, mostrando-se, são compreendidas como são. É o caso, bastante típico, do senador Renan Calheiros - cujas ligações perigosas com uma construtora, que lhe pagava as contas junto a uma sua amante-, o encaminham até mesmo à possibilidade de perda de mandato.

Em desespero, o político pediu a seus, digamos, iguais, que adiassem para a próxima terça-feira a votação do parecer a respeito de seu decoro (decoro?) parlamentar. O relator da Comissão de Ética, o prezado amigo Epitácio Cafeteira, já disse que não viu nada de mais no comportamento de Renan. Tanto, que pediria o arquivamento do processo hoje mesmo.

Como os mares estavam em procela, Renan e todos os seus cornacas recuaram. A pressão dos oposicionistas valeu e agora o relatório será votado mesmo, dizem os jornais, terça-feira.

Em rápidas entrevistas à imprensa, acuado, Renan cobrou ética aos jornalistas. Não vou comentar.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Um homem de bem

Recebi e transcrevo o e-mail que segue. Enquanto digito esta breve introdução, penso na solidão e na grandeza do brasileiro que vive, com coragem e firmeza, o drama heróico de ser um homem de bem.

Um juiz feito de ferro

O Juiz Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão,sob a vigilância de sete agentes federais fortemente armados...

Oliveira é juiz federal em Ponta Porã, cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado,está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário,sob forte escolta.

Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. "A única diferença é que tenho a chave da minha prisão." Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar US$300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu a vara de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas.

Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no país. Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares ,3 mansões - uma, em Ponta Porã, avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. >> >> Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte.

Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$100 mil." No dia 26 de junho, o jornal paraguaio La Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. "Estou valorizado", brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado.

Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa. "No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a PF ." É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal.

O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã ,teve de continuar em Campo Grande. O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. >> >> Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta."Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada ."

Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta. "Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade." Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir. >> >> Hora extra. Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso.

Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu "bunker", auxiliado por funcionários que trabalha até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o mega traficante >> Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas,dois terrenos e todo o gado.

Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos Leon e Laércio Araújo de Oliveira, condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 >> mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas. O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa deR$ 82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.

Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz,inclusive o "rei da soja"no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento,braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. "As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados."

O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha "dever de ofício" enfrentar o narcotráfico. "Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança."

terça-feira, 12 de junho de 2007

Renan perdeu o decoro? Que nada, Renan é um bom companheiro

Um por todos, todos por um!
O brado dos Três Mosqueteiros, que eram quatro - e defendiam a lei e a ordem - está funcionando para defender e blindar um político alvo de grandes suspeitas, o presidente do senado, Renan Calheiros, suspeito de ter despesas pagas por um lobista. Despesas com uma mulher, teúda e manteúda por Renan - com o dinheiro dos outros, dizem os jornais.

O que se percebe é uma espécie de ação entre amigos. Não querem ver o colega, egresso dos tempos de Collor, flagrado, após deflagrado um processo sério de investigação parlamentar.

Não querem é um processo sério de investigação parlamentar. É o velho hábito dos políticos brasileiros: unir-se em defesa não da instituição senado, mas em favor de uma corporação, um sistema fechado e disposto e se defnder, a fim de perpetuar-se no poder, seja qual for o preço.

E, de preço, esse povo entende bem. Nada vai acontecer, o povo esquece com facilidade. E mais, logo,logo, vem o Pan. E aí, vão todos vibrar com os atletas brasileiros, já pensou?, ganhando medalhas de ouro. É luxo só.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Querem impedir a PF de trabalhar bem: que coisa feia...

O ministro Tarso Genro, da Justiça, está desengavetando um projeto que restringe a ação da Polícia Federal no uso de grampos, em investigações.

Sob a alegativa de que é preciso parcimônia, serenidade e seriedade na escuta das conversas telefônicas de bandidos de colarinho branco, o ministro quer que, antes de chegar a um juiz e ser liberada (ou não), a autorização para o grampo deve passar, necessariamente, pelo crivo do Ministério Público, opinando sobre a matéria.

O objetivo seria impedir abusos ou distorções, quando se trata de investigações sobre meliantes ricos. É claro. Afinal, se eu sou rico, estou nas colunas sociais, incensado por esses jornalistas de festim, que celebram a boa vida e a futilidade de socialites e figurões, não posso, de uma hora para outra, ser exposto ao achincalhe de ser metido em um camburão por um carrancudo agente da PF que me pegou falando ou fazendo negócios feios. Assim, nada mais justo que restringir a ação da polícia.

Na verdade, estamos vivendo o seguinte: a Polícia Federal nunca atuou tanto e tão bem, com ampla repercussão de mídia, até mesmo desmascarando autoridades do seu próprio sistema hierárquico.

Seria o caso, sim, de dar-se mais e mais apoio aos agentes, para que continuem a agir, com precisão e efetividade. Num país onde a corrupção é endêmica, onde temos sempre um jeitinho para resolver até questão de fila em banco, uma instituição que leva a sério o seu trabalho precisa ser respeitada. O problema é que estão pegando até mesmo o irmão do presidente e um seu compadre.

Nada mostra que o presidente tenha algo a ver com as irregularidades. Mas, por precaução... é melhor reduzir o empenho dos agentes... É triste, mas é verdade: a mentira, com isso, pode se safar, de quem a persegue, para prender quem a pratica.

domingo, 10 de junho de 2007

Como nos interrogatórios...

Hoje não é o Dia da Poesia. Mas resolvi escrever sobre o assunto. Dia da Poesia não quer dizer que é o dia do verso, aquele conjunto de palavras que, ao fim da leitura de uma quadra, por exemplo, resulta numa rima.

Não, poesia é muito mais. Poesia é sentimento, é interioridade vivida internamente e exposta pela palavra. É panorama humano íntimo que deságua no gesto escrito, o poema.

Creio que seja até mesmo mais que isso: poesia é ato de viver, poesia é ato de coragem. Coragem de ser dissidente, coragem de se expor ante aqueles que pensam que tudo sabem, que tudo podem e por isso tudo pedem.

Poesia é atitude voltada para a reflexão. Portanto, está parada dentro de você, muito embora seja, dentro dela mesma, um redemoinho.

Poesia é feita a passos de ferro.
Poesia é caminho que não vai a lugar algum,
uma vez que o poeta
busca sempre a incerteza jamais o porto.
Sem o porto, ele parte;
em parte fica;
em partes se desfaz;
em partes se constrói;
em parte vira luz.
Depois, tudo escurece.
Só isso.
E, como nos interrogatórios,
nada mais digo,
nem nada mais me seja perguntado.