A humanidade não está muito preocupada com a preservação do meio ambiente. Desde as grandes indústrias e seus magnatas internacionais, até aquela pessoa que passa e, do carro, atira uma garafa plástica vazia pela janela,uma espessa maioria dos humanos está contribuindo - e com grande eficácia - para a degradação dos ecossistemas.Já se fala que em mais 150 anos o processo mundial de desertificação estará bastante avançado. E 150 anos, do ponto de vista histórico, é muito pouco tempo. Além disso, o aumento da temperatura propiciará o degelo dos pólos e o aumento do nível dos oceanos, com conseqüências drásticas em todos os continentes. Afora a poluição do ar e dos cursos de água e tudo o que já citei aqui, convivemos com outra espécie de poluição: a poluição da mente das pessoas; de forma socialmente densa, criou-se uma convicção de que se deve explorar a natureza até o extremo, esquecendo-se todos de que também somos natureza.A urbanização não nos tirou a condição de seres naturais. Entretanto, em meio a esse caos, leio no Estadão: "Volks lança célula combustível", que permitirá o acionamento de uma tecnologia menos poluente para os automóveis. Isso traz algum alívio, até porque o petróleo é uma fonte de combustível não-renovável. E a informação indica que, lentamente, já se pensa na sua substituição. Diz a matéria:
"SÃO PAULO - A Volkswagen divulgou esta semana um novo tipo de célula a combustível que, em sua opinião, abrirá a porta para produção em série de veículos com essa tecnologia menos poluente. A célula a combustível é um sistema que torna possível que os próprios veículos produzam energia elétrica. Ela se baseia na combinação química de hidrogênio e oxigênio, elementos que se transformam em água e que, no momento da reação, liberam energia suficiente para mover um veículo. "Acrescenta o texto:"A escalada dos preços de combustíveis e a preocupação crescente pela preservação do meio ambiente moveram a indústria automobilística a buscar alternativas que assegurem a mobilidade no futuro.
A companhia francesa PSA Peugeot Citroën considera que este avanço tecnológico mudará a indústria automobilística e afirma que seus automóveis vão circular em 2010 com hidrogênio e lançar vapor d´água."São ainda tímidas as manifestações práticas com relação ao problema da poluição e de alternativas ao uso da gasolina. É que os grandes capitais não têm interesse em gastos imediatos quando podem manter em funcionamento um determinado tipo de situação perversa, desde que lhes seja favorável. Enquanto isso, a Terra, que como dizia Garagin "é azul e linda", vai ficando cinzenta, os homens mais embotados e o futuro mais incerto e escorregadio. Que pena.Emanoel Barreto
Vi, on line, no Estadão e JB fotos do presidente Lula em repouso familiar, numa praia. Os jornais exibiram as fotos como troféus; como se uma personalidade pública e midiática não tivesse direito à privacidade. É como se do homem público jamais se descolasse a identidade do político e do chefe de governo.A rigor, qual o interesse dos leitores em ver fotos do presidente, Dona Marísa Letícia e parentes em traje de banho, aproveitando o sol e as águas do Atlântico, como os outros mortais? Se fosse assim, deveriam também ser feitas fotos do casal em sua vida familiar, na intimidade do lar.Não gosto desse tipo de jornalismo, a não ser em caso particularíssimo, se e caso acontecimentos supervenientes interferissem diretamente junto ao presidente na hora em que estivesse na praia. Exemplo: se ele fosse vítima de algum atentado ou sofresse um acidente.Fica implícito que defendo a presença de repórteres e fotógrafos cobrindo o lazer presidencial para registrar qualquer eventualidade, recusando-me entretanto a publicar as fotos sem que nada de extraordinário houvesse para ser trazido a público. Entendo que jornal deve cobrir tudo, mas tudo o que for de interesse público, respeitando-se porém a privacidade e a intimidade quando sobre estas não incidam fatos de importância e de relevo. Jornalismo que se limita a mostrar as fotos de um presidente de república em atividade de lazer familiar, cai na ribanceira do voyeurismo e desrespeita até mesmo a representatividade da instituição jornalística.
A pátria das águas
As pequenas e audazes caravelas do Potengi repousam calmas em seu silêncio de água.
São animais de madeira, dóceis e treinados. Mas quando estão nevegando, mastigando instantes, percorrendo momentos, esfregam-se no corpo líquido da água-mulher e são desbravadores de prazer.
O Centro Náutico Potengi, onde a força do braço é motor de popa, é a pátria das águas, desses barcos e de seus marinheiros.
E são todos corsários da vida forte, amigos do sol e do suave ondular de águas que abraçam..............Favela do Maruim
Natal tem, nas Rocas, bem escondida, uma ferida, pequena chaga social, chamada favela do Maruim.
Espremido entre o rio e a rua, o Maruim é o lixo discreto, é a dor calada do silêncio.
Na lama, caminham pés que nunca chegarão a parte alguma. Nesses pés caminham vidas que de há muito foram apagadas.
Estou lendo "A fabricação do presente", de Carlos Eduardo Franciscato. É um belo estudo a respeito da questão da atualidade no jornalismo: a temporalidade do presente, a efemeridade dos acontecimentos, como os jornais trabalham na busca pela informação daquilo que esteja em acontecimento temporalmente próximo.Isso me faz lembrar como tudo é rápido, fugaz e passageiro. Basta tomarmos um exemplo bem recente: a reeleição do presidente Lula. Houve todo aquele processo de luta, os debates, as acusações, o enfrentamento dos dois turnos. E, como num passe de mágica, Lula ganha mais um mandato. Passou. Rápido, não? Pois é: aquele presente... virou História. Vem agora a expectativa pela nomeação da equipe de governo; os jornais vão tentar antecipar a composição do ministério e, logo mais, daqui a quatro anos, tudo virou passado. Entre o então e o futuro, entre a incerteza e o abismo, entre a salvação e a derrocada o tempo não se mede em segundos, horas, dias ou anos. Entre um ponto e outro da existência o tempo se mede pelo relógio da espera, que se move com os ponteiros da paciência e da ansiedade. O presente é uma entidade impermanente. Somente percebemos isso quando paramos: na espera do atendimento do médico, na fila do elevador, naquele sinal vermelho que não fecha nunca, na terrível cadeira do dentista. Quando estamos em movimento, entretanto, temos a impressão de acompanhar o presente, segui-lo por todos os caminhos. Não percebemos o tempo passar.E afinal, quando olhamos aquele jornal amarelado, aquela revista envelhecida, as fotos dos galãs hoje velhotes, a visão das divas agora velhas, percebemos como tudo passou e bem depressa. As manchetes nem sempre se confirmaram e o tempo passou, silencioso e sério.Os jornais podem até fabricar o presente. O que não podem é garantir que, como lembrança, história ou marco de tragédia ou comemoração, o presente venha a ser algo que valeu a pena ser vivido com a alma lavada de ansiedade ou medo. Como os jornais, a vida também tem suas edições. Compete a cada um de nós saber compor sua manchete.
Reeleito o presidente Lula, saímos da fase dos sonhos gerenciados pelo marketing, para entrar no chão às vezes firme às vezes instável da realidade. O governante, para liderar, deve reunir virtudes que vão da serenidade frente ao momento da vitória à sabedoria para dosar sua convivência com os contrários, sem que destes se torne cúmplice ou submisso. O presidente Lula terá que administrar bem sua convivência com os contrários, seja aqueles que são adversários, mas que que o apoiarão a troco da divisão do bolo do Poder, seja daqueles que o acossarão como oposicionistas, ferrenhos e às claras. Será um governo politicamente difícil. Vejamos: os contrários que se aliarão a ele sob o soldo de participar do poder são como os mercenários, tropas cujo uso Maquiavel desaconselhava. São estas, por sua natureza, inconfiáveis: lutam por vantagens e debandam quando sentem-se em risco ou não recebem tudo o que pretendiam. São, como muito bem afirma a expressão, "soldados da fortuna". E podem muito bem bandear-se para o lado dos inimigos.Maquiavel atribuía à palavra fortuna o sentido de sorte, o imponderável, a álea histórica de cuja contextualização brotam as condições favoráveis ao príncipe, para que este chegue ou se mantenha no poder. E à palavra virtù, as qualidades do líder que tem a compreensão exata do momento que vive, e que de alguma maneira desencadeou, para assim tomar as medidas mais adequadas com o objetivo também de empoderar-se. Aparentemente Lula reuniu os dois requisitos. Tanto que se reelegeu. Agora virão os desafios: as esperanças do povo versus os apetites elitistas de quem quer manter privilégios históricos em detrimento de valores como saúde, educação, seguridade social, salários dignos, emprego, perspectiva de vida e a utopia que cada ser humano tem de ser feliz.Vejamos até que ponto o presidente Lula, com as alianças que fará, estará mais voltado para o social ou sintonizado mais finamente com os grandes interesses dos grupos de pressão. Lula pode até não ter lido Maquiavel, mas certamente fará um governo de sobrevivência, sua e de seu grupo, seguindo, mesmo intuitivamente, as regras fluidas da preamar política. E, se assim o fizer, não tenhamos dúvida de que os grandes vencedores serão os mercenários. E, deles, Maquiavel não gostava.