sexta-feira, 19 de julho de 2013

A guarda municipal e a epidemia da repressão



O Detefon da repressão

Ver na net as cenas de ontem, quando estudantes foram atacados pela guarda municipal com choques e sray de pimenta, deu-me a exata sensação de presenciar um ato de teatro do absurdo, ou seja: a violência partiu daqueles que deveriam impedir a violência. Mas, por efeito do espelho mágico da ideologia, os estudantes é que foram os “violentos” ao protestar na Câmara Municipal de Natal.

Mais que isso, a perversidade da situação se expressava da seguinte forma: como se fossem perigosos insetos os estudantes eram dedetizados com aquele cruel armamento. 

Na verdade quem precisava de Detefon eram os guardas; eram eles os insetos, eram eles os portadores, os vetores do vírus dessa, digamos, bio-violência, bio-brutalidade que tão bem sabem exercitar nos laboratórios da repressão que ataca os atos públicos. 

Rapazes foram atacados, moças foram agredidas; puxadas pelos cabelos, arrastadas. Muitos dos manifestantes levaram choques. 

Lamentável. 

Então, diante do que se viu, a constatação é de que a epidemia de violência contaminou o aparelho repressivo. A vacina contra essa epidemia é a palavra, o grito corajoso, firme, dos jovens. A serena firmeza de dizer não.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Corrupção como patrimônio imaterial





Prever para prevaricar

http://mspontocom.com.br
Cachaça: o termo cachaça passou a ser respeitado no mercado norte-americano depois de muita luta; como designação de produto tipicamente brasileiro. Quer dizer, respeita-se um bem imaterial, seu preparo, a cultura, o debruçar espiritual do artífice sobre a sua obra, a arte enfim. Do mesmo modo que o francês defende seu champanha.

 Temos porém, além da cachaça, outro produto bem brasileiro, possivelmente jamais igualado por qualquer outro país: temos a corrupção. Chegamos, pelo menos quase, à perfeição: trata-se de elaborado processo, sinuosas manipulações. 

Que vão do planejamento, conhecimento jurídico-burocrático dos meandros e das leis a serem burladas e manipuladas a favor do corrupto e seus corrompidos até a execução; na certeza de que, falhado o plano espetacular, nada acontecerá. A impunidade faz parte do processo. Não impede uma nova intentona, está nos genes da cultura política e empresarial brasileira.

E ficam os partidos se acusando mutuamente, manchados e moralmente trôpegos, mas acusando-se sem parar o que dá à vida pública da a sensação de que a finalidade da política, aqui política partidária, é unicamente a troca de desaforos e blasfêmias contra o bem social, processos e 
delações premiadas.

Assim, urge que se tomem as providências para registrar a corrupção nacional, a fim de que lá fora não nos tentem tomar esse licor, patenteando-o. E o que é pior: que tenhamos de comprar no mercado internacional algum caderno de métodos e técnicas de corromper. Não tenho dúvida de que, ocorrendo isso, se formariam imediatamente grupos e lobbies

Todos cobrando seus vinte por cento de comissão, alegando que seria muito importante o país importar esse bem como commodity, sob o lema positivista: prever para prover. Ou melhor: prever para prevaricar.
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ZOORÓSCOPO
Cavalo - Conhecidos pelo temperamento digamos, forte, para não estúpido, o cavaliano atrita-se facilmente. Mesmo que o parceiro
Guido Daniele
não o tenha provocado. Cavalo, no entanto, não deve casar com mulher nascida em Hiena. A mulher em Hiena não leva desaforo para casa e ainda sai rindo depois de dar o troco ao agressor. 


 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Minha entrevista com o santo do povo

E aí Frei Damião disse: "Quereis o comunismo?"
E o povo respondeu bem alto: "Quereis!"


https://www.google.com.br/search?q=frei+damião+biografia&client
Creio que foi no ano da graça de 1978 que  tive a oportunidade e fui pautado para entrevistar a venerável figura de Frei Damião, o santo do sertão, amado do povo, protegido de Deus e de Nossa Senhora. Vindo da distante cidade de Bozzano, Itália, para cuidar do rebanho de sertanejos, preservar a fé e encaminhar as almas todas para o Céu.

Fui à cidade de Ceará Mirim, pouco mais de 30 minutos de Natal, onde ele se encontrava. Encontrei-o na igreja matriz. Abençoado templo povoado por imagens de santos e de anjos, querubins e serafins. A pequena e cândida figura atendia em confissão a enorme fila de mulheres cobertas por véus e envoltas em doce auréola de rezadeiras, como só as existem no Nordeste. Mulheres suadas de fé.

E eu fiquei olhando para elas. Atentei para suas bocas que fervilhavam baixinho rezas velhas, mistérios sussurrados em uma língua estranha que jamais consegui apreender desde quando, ainda menino, olhava minhas tias fervorosas diante de uma vela e de uma imagem de Nossa Senhora. Deviam ser coisas muito altas, evoladas da inefável religião dos bons, áugúrios de uma vida melhor depois da morte, quem sabe o repouso calmo no regaço da Virgem.

Preste atenção na boca de uma velha rezadeira: é ali que mora a alma, tenho certeza. A minha mente de repórter, todavia, estava preocupada com algo mais urgente e menos devoto: o tempo. Eu tinha hora para voltar à Tribuna do Norte e fazer o meu texto.

Com alguma insistência junto a um auxiliar do beato consegui parar a confissão e ele me atendeu. Confesso, sem trocadilho algum, que nem mesmo sei o que perguntei. Mas, o que mais valia era relatar o encontro dulcíssimo do pastor com o seu rebanho, captar o ambiente angélico, a doçura do olhar do Frei, seus conselhos e penitências passadas àquelas pessoas sacras e pias.

Saí, confesso novamente, com a alma cheia de alguma candura - certamente meu coração de repórter feio e mau tocado pelos instantes miríficos. Assim, de volta à Redação, encontro com outra figura humana portentosa: Dorian Jorge Freire, diretor de Redação. Católico, minúsculo de tamanho mas enorme em sabedoria e humanismo.

Terminado o meu texto, Dorian, que também tinha grande espírito de humor, contou-me o seguinte: Certa vez, Barreto, Frei Damião estava com suas missões pelos sertões distantes. Fazia sua costumeira pregação contra o pecado, a devassidão e o adultério. Defendia o sacramento do matrimônio e dizia que, sem ser casado, o casal era "como o cachorro e a cachorra, o touro e a vaca." . Advertia também a todos contra o perigo do comunismo vermelho e ateu.

E dizia: "O comunismo é pecado grande, pecado mortal. O comunismo é a besta-fera que vem para desafiar o Evangelho. O comunismo é o perigo até mesmo para as mocinhas." O povo olhava e ouvia tudo, pasmo, temeroso, pronto para fugir, caso o comunismo chegasse a qualquer instante.

Parecia até que o comunismo estava por ali, pronto para desferir seu bote. Afinal, Frei Damião fez sua última invectica contra o comunismo periculoso e bradou ao povo sertanejo, como se fora um novo Conselheiro: "E então, quereis o comunismo?, e o contrito povo, procissão desvelada e crente, respondeu piedosamente, em coro monumental "Quereis!"