Chegou a reforma trabalhista.
A alegação para que aquela se aplique é que a Consolidação das Leis do
Trabalho-CLT é algo superado, atrasado, perdido no tempo; algo getulista e,
portanto, coisa social empoeirada, trambolho histórico a ser superado.
Nonada. Tudo isso é apenas ação
discursiva, ato da fala ideológica para esconder o verdadeiro propósito: o que
se quer é esmigalhar o trabalhador enquanto categoria, retirar suas conquistas
históricas e, em última instância, fazer parecer ao próprio trabalhador que
isso foi feito para o seu bem.
É típico da ideologia conjugar
como se fosse gesto bondoso, fato racional, urgente e necessário qualquer
transformação que prejudique aqueles que constroem a riqueza da nação.
A mesma coisa se dá com as
privatizações e assemelhados: o governo diz que a iniciativa privada fará o
trabalho melhor que ele, o próprio governo. Sendo assim, vamos entregar tudo
aos empresários, o que inclui o capital estrangeiro. Na sequência, tudo estará
perfeito.
A respeito tenho sugestões:
Primeira: por que o próprio governo não se privatiza? Sim. Se o governo
julga-se desnecessário venda-se ou alugue-se tal instituição a um grupo
empresarial poderoso; este passa as gerir a nação dentro de princípios
capitalísticos e em algumas décadas chegaremos em a alguma forma de Nirvana,
Paraíso, Éden ou, quem sabe, à Lagoa Azul.
De quebra nos livramos dos
políticos e seus cornacas. Já é um avanço, não é mesmo?
Pois bem, chega agora a minha
segunda sugestão: por que, para escapar da hipocrisia, não acabamos de vez com
todos os direitos trabalhistas e não se extinguem férias e décimo
terceiro?
Para coroar, acredito que haveria
um mínimo de decência no retirar-se a máscara e proclamar:
“Artigo único da nova legislação
trabalhista: fica extinto o salário. Em seu lugar serão dadas de pagamento a
cada trabalhador uma colher de pau e uma cumbuca de angu.”
Perfect!