sábado, 13 de agosto de 2011

Encontrei esta matéria no blog de Geneton Moraes Neto, jornalista. Segue sob aplausos.

PETE BEST, EX-BEATLE

JOHN, PAUL, GEORGE E......PETE! ( OU : A BALADA DO BEATLE QUE FICOU SOZINHO)
O ex-Beatle conta a história sincera do maior grupo de rock surgido até hoje! – Uma aventura com John Lennon na Alemanha: roubar a carteira de um fã endinheirado! – O trauma da saída dos Beatles – “Paul McCartney era mesquinho!” – As críticas a Ringo Starr – O que os Beatles esperavam no início da carreira – Quais eram os gurus do grupo – Os bastidores de dois anos de convivência diária com John, Paul McCartney e George Harrison - Os olhos cheios de lágrimas na hora de falar de Lennon.

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O trabalho de repórter deu, a este beatlemaníaco, a chance de passar uma manhã ouvindo as confidências do Beatle que perdeu o bonde : Pete Best, o baterista que, depois de dois anos tocando com o grupo, foi substituído por Ringo Starr. Já foi chamado de "o homem mais azarado do mundo". Deixou de ganhar rios de dinheiro. Enquanto os outros conquistavam fama planetária, Pete Best ligava o gás do banheiro para tentar o suicídio. Os meus arquivos implacáveis guardam a transcrição completa da entrevista ( eu teria uma nova chance de entrevistar Pete Best anos depois, em Liverpool, em plene Mathew Street, a rua onde existia o Cavern Club. Ao final desta segunda entrevista, Pete Best nos convidou - a mim e ao cinegrafista Paulo Pimentel - para beber uma cerveja num pub que fica em frente ao Cavern. Lá pelas tantas, confessou: assim que recebeu a notícia de que saíra dos Beatles, foi a este mesmíssimo pub para afogar as mágoas bebendo. Pensei: quem diria que um dia um ex-beatle estaria afogando suas mágoas, diante de um copo de cerveja, justamente comigo.....). A entrevista que se segue foi gravada em Londres.
Como diria a revista Veja, "eis o relato" deste repórter:
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Há quem diga? Não, nem pensar: não há quem diga que aquele hóspede que, agora, toma café com leite instalado solitariamente num imenso salão do andar térreo do Royal Horse Gardens Hotel, em Whitehall Court, Londres, tenha sido co-fundador e instrumentista do maior e melhor grupo de rock surgido até hoje no Planeta Terra. Sozinho, absorvido pela leitura de um jornal, ele nem nota o trânsito de executivos norte-americanos do outro lado do salão, em direção à entrada principal do hotel.
Não fosse pelo traje informal, bem que Pete Best (Madras, Índia, 24/11/1941) poderia ser confundido com um destes executivos por um transeunte desavisado. A confusão, a bem da verdade, não seria tão absurda: o ex-Beatle Pete Best passa os dias sentado atrás de um birô, no Old Swan Job Center, uma agência de empregos estatal de Liverpool, onde trabalha desde 1969.
O caminho entre o posto de baterista dos Beatles - ao lado de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison - e os afazeres de funcionário público não foi nada fácil. Deixou traumas profundos - incluída, aí, uma tentativa de suicidio. Ninguém é de ferro. Quem passaria sem marcas pela experiência de deixar de ser um Beatle do dia para a noite para se tornar um funcionário público?
A saída de Pete Best dos Beatles, depois de dois anos no grupo, é um ponto obs- curo na história dos 'quatro rapazes de Liverpool '. Ninguém sabe ao certo, até hoje, por que Pete Best foi trocado por Ringo Starr. Os jornais da época documentam que Pete Best era um ídolo entre os fãs dos Beatles. Quando a notícia de que ele tinha saldo do grupo começou a circular, os beatlemaníacos promoveram uma manifestação pública, com faixas e cartazes, para que ele fosse reintegrado ao grupo.
Tempos depois, John Lennon se penitenciou, numa entrevista, sobre a maneira como Pete Best foi afastado do grupo: nem ele nem Paul McCartney nem George Hamson se deram ao trabalho de comunicar a Best que, a partir dali, o posto de baterista ficaria com Ringo Starr. Quem deu a notícia foi o empresário dos Beatles, Brian Epstein. Pete Best foi para um pub, beber. Depois, seguiu para casa. Passou a noite chorando.
Mas ninguém é um ex-Beatle impunemente. Pete Best é citado com destaque na copiosa bibliografia sobre os Beatles publicada na Inglaterra. Quando viajou de Liverpool a Londres, para lançar um livro em que dá um depoimento pessoal sobre os primeiros anos dos Beatles, ganhou largos espaços no "The Times", foi convidado para aparecer na BBC em rede nacional e não é só: a CBS norte-americana entrou no páreo para disputar, na agenda de Best, um horário para uma entrevista. O mito dos Beatles subsiste bravamente ao tempo.
O ex-beatle vai começar a falar. Parece surpreso por ter sido procurado, pela primeira vez, por um repórter brasileiro. E entusiasmado: a entrevista termina se estendendo por toda a manhã, para desespero da assessora de imprensa que o acompanhava, preocupada com a falta de tempo para o cumprimento de outros compromissos.
Best faz confidências, descreve até episódios pouco recomendáveis que viveu com um velho companheiro de aventuras chamado John Winston Lennon. Quando termina a entrevista, Best sai do hotel e caminha, anônimo, pela Whitehall Court. Reclama do frio. "O último inverno foi terrível". Quer saber quem é quem na música brasileira. Brinca: "Lá deve ter estrelas de rock. Talvez não tão boas quanto as de Liverpool ... ".
Best nasceu na Índia por puro acaso. O pai, um ex-promotor de lutas de boxe em Liverpool, tinha sido enviado à India pelo governo inglês, durante a Segunda Guerra Mundial, para trabalhar como preparador físico do exército. Lá, casou com uma indiana que prestava serviços à Cruz Vermelha Internacional. Teve dois filhos com ela. Assim que a guerra acabou, voltou para Liverpool. Anos depois, na casa da família Best, a de número oito numa rua chamada Hayman's Green, começava a funcionar um clube de jovens batizado de 'Casbah' e freqüentado por dezenas de adolescentes deslumbrados com guitarras elétricas.
Pete Best e a mãe - que até hoje mora na casa - se encarregaram de organizar o clube. Entre os freqüentadores, três rapazes, chamados John Lennon, Paul McCartney e George Harrison.
A casa da família Best ia entrar para a história do rock. Pete também. O endereço faz parte do périplo cumprido até hoje por beatlemaníacos de todas as nacionalidades que visitam Liverpool à procura de estilhaços do sonho. Mas ali, no começo da década de sessenta, a aventura estava apenas começando.
Quem convidou você a entrar para os Beatles?
Pete Best: "Era agosto de 1960. Nesta época, tinha surgido o convite para a viagem dos Beatles à Alemanha, a primeira excursão do grupo a Hamburgo. Eles não tinham baterista. Paul McCartney sabia que eu tocava e me disse, ao telefone: "Pete, surgiu uma chance de ir para Hamburgo. Você gostaria de vir conosco? Precisamos de um baterista!". Eu disse: "Sim!". Paul me convidou para que eu fizesse uma apresentação para eles. Durou cerca de quinze minutos. Toquei seis músicas. Em vinte minutos, eu era um Beatle. Dois dias depois, nós todos estávamos em Hamburgo, no Indra Club".
Você já conhecia Paul McCartney antes do telefonema?
Pete Best: "Sim. Paul, John, George e Sutcliff - que morreu tragicamente - tinham formado os Quarrymen, um grupo que tocava num clube criado por minha mãe, chamado Casbah. Eu já os conhecia daí. E, já antes, eles tinham nos ajudado a decorar o clube. Dois anos antes de ser um Beatle, eu já os conhecia".
Quando foi convidado, qual foi a primeira reação: você pensou duas vezes ou aceitou logo?
Pete Best: "Era o caso de dizer sim de primeira. Meus pais estavam lá. Havia o convite para ir à Alemanha. Eles me disseram: "Então, ok! Se você quer, vá em frente!". Tudo foi rápido. Paul já tinha me dito: "Vamos à Alemanha! Antes, faça urna apresentação pra gente". Tudo foi resolvido assim, em questão de minutos".
Você esperava, naquele momento, que a música dos Beatles fosse significar algo de especial?
Pete Best: "Não sei o que esperávamos naquele tempo. Quanto mais ficávamos juntos, mais tínhamos um sentimento unânime: uma autoconfiança maior do que qualquer outra coisa. Nós iríamos chegar a algum ponto! Bem que poderia ser o primeiro lugar, pelo menos uma vez, nas paradas inglesas. Mas eu não achava que eles próprios, neste tempo, imaginassem que os Beatles pudessem se transformar em superstars - apesar de outras pessoas demonstrarem crença no grupo".
Que tipo de comentário John Lennon fazia sobre música, com você, neste período? Ele era bem informado?
Pete Best: "Todo o grupo tinha o que poderíamos chamar de habilidade musical. John estava interessado em nomes como Chuck Berry e Gene Vincent. Éramos bons guitarristas e bons vocalistas. Todo o grupo era. John - eu sentia, pelo meu gosto pessoal - era o líder do grupo".
Elvis Presley significava o quê, para você?
Pete Best: "Era o ídolo de cada rapaz na Inglaterra. Nós, os Beatles, gostávamos de Gene Vincent, Chuck Berry, Elvis Presley, Little Richard, Jerry Lee Lewis, todos. Nós estávamos construindo o nosso estilo tocando a música que eles faziam. Era o padrão americano - no qual nós nos baseávamos".
Os outros Beatles tiveram ciúme de você? Os jornais de Liverpool davam sempre um destaque especial a você e falavam do grande sucesso que Pete Best fazia com as fãs...
Pete Best: "Quando saí dos Beatles, chegavam para mim e diziam: "Você não notou, mas havia tantos fãs seguindo você que o ciúme já começava a aparecer!". Era o que me diziam".
Você, afinal, era tão popular assim em Liverpool?
Pete Best: "Era algo de que eu tinha consciência na época. Houve uma grande manifestação em frente ao Cavern Club, com cartazes como "Pete Forever!", "Ringo Never!" e coisas assim. E aí eu percebi que sim, eu estava me tornando popular".
Você chegou a ter problemas pessoais com os outros Beatles?
Pete Best: "Não. De maneira nenhuma! Não chegamos nunca a brigar. O que tínhamos eram as discussões normais entre músicos sobre as músicas que estávamos tocando. Não chegamos a ter brigas sérias. Neste tempo, nós estávamos ganhando força. Eu pensava: "Somos quatro rapazes. Somos os Beatles. Continuaremos a ser".
Você culpa alguém por ter saído dos Beatles depois de dois anos tocando no grupo?
Pete Best: "Quando viam o que tinha acontecido,as pessoas me diziam: "O mais passível de culpa pode ser Paul McCartney". Não me interprete mal! (neste ponto, Pete Best assume um ar sério, faz questão de pronunciar cada palavra pausadamente). Não se pode virar para ele e dizer: "Foi ele!". Isto pode ser totalmente falso, porque, na verdade, eu não saberia dizer. Mas me diziam: "Paul é o que teria mais tendência de ficar
enciumado se alguém dentro do grupo se tornasse mais popular".
Você esperava o enorme sucesso dos Eeatles ou tudo foi uma surpresa para você, quando aconteceu?
Pete Best: "Eu imaginava que poderíamos estourar nas paradas inglesas. Era a maior façanha que poderíamos cometer, pelo que eu sentia. Mas atingir o primeiro lugar na Europa logo depois da minha saída, conquistar a América e o mundo com a Beatlemania, tudo me surpreendeu. Os Beatles tinham o talento e também a promoção da mídia por trás. Tudo estava a favor do grupo. Era, portanto, uma bola de neve. E a partir daí
criou-se a Beatlemania".
"Quando viam o que tinha acontecido, as pessoas me diziam:
"A culpa pode ser de Paul McCartney"
Depois de deixar os Beatles, você teve algum tipo de contato com John Lennon, Paul McCartney e George Harrison?
Pete Best: "O engraçado é que não. Uma vez, quando a BBC fez um filme no Cavern Club, logo depois de eu ter saído do grupo, encontrei com eles. Houve outras ocasiões, como no Majestic BalI Room. Eu já fazia parte de um grupo chamado All Stars. Era o segundo melhor grupo de Liverpool, depois dos Beatles. Nós nos apresentamos, todos, num só show de entrega de prêmios. Quando o All Stars estava saindo do palco, os Beatles estavam chegando. Nós nos cruzamos, a poucos centímetros. Não se trocou nenhuma palavra.
Desde o dia 15 de agosto de 1962, não tive contatos com John, Paul e George. Jamais recebi uma explicação satisfatória sobre o episódio da minha saída. Durante os dois anos como um dos Beatles, jamais ouvi de qualquer um deles qualquer restrição à minha atuação como músico. Aliás, bem na época da minha saída, logo antes, nós estávamos todos bebendo juntos e parecíamos os melhores amigos do mundo. Depois, ao ler o livro de Brian Epstein, o empresário que levou os Beatles para o sucesso, vi que ele escreveu o seguinte: eu era "bastante convencional para ser um Beatle e, embora bastante amigo de John, não o era de George e Paul"... Já outras pessoas estavam convencidas de que eu fui retirado do grupo porque me recusei a mudar o corte do meu cabelo...
Quando nos cruzamos, na saída do palco, o que houve foi um silêncio de pedra. Não os vi mais".
Você é parte da história dos Beatles. Quando o grupo se separou, que reação você teve?
Pete Best: "Isto me surpreendeu. Naquele estágio, com toda a organização montada, o grupo continuava indo em frente. A popularidade estava lá! Eles tinham deixado de fazer excursões, estavam só gravando discos. Mas é certo que terminariam voltando para a estrada. Com a Beatlemania e os fãs, eles poderiam ir adiante ainda".
Mas, quando ouviu a notícia de que os Beatles tinham se separado, o que foi exa- tamente que você sentiu? Você tinha passado por uma situação parecida...
Pete Best: "Fiquei sem entender. Tive uma surpresa. Por que eles tinham se separado? Tudo caminhava a favor dos Beatles. Eles ainda eram os Beatles, os fãs todos estavam em volta. Mas só depois é que entendi que havia problemas entre eles. As discussões que já existiam internamente eram suprimidas pela publicidade - que apresentava os Beatles como os quatro rapazes que circulavam pelo mundo..."
Que lembrança mais forte você guarda da longa convivência com John Lennon?
Pete Best: "As mais fortes são do tempo em que fazíamos farra juntos, principalmente quando estávamos na Alemanha, na primeira viagem que fizemos para lá. Nós tínhamos pouco dinheiro (ri). Numa noite, um marinheiro alemão foi ver uma apresentação nossa. Pagou uma rodada de cerveja para nós, os Beatles, como os alemães gostam de fazer. Nós vimos, então, o tamanho da carteira do tal marinheiro: era gorda e recheada. John pensou: "Vamos roubá-Ia!". Nós discutimos a idéia. Para mim e para John, parecia boa. Paul e George não pareciam tão convencidos, porque achavam perigoso. Eram quatro da manhã quando o marinheiro de carteira cheia resolveu ir embora. Nós quatro - eu, John, Paul e George - saímos no frio de novembro para segui-Io. Quando nos aproximamos de um estacionamento deserto, o local ideal para o "golpe", Paul e George resolveram ir embora. George dizia que estava cansado. Eu e John avançamos em cima do marinheiro - que não estava tão bêbado quanto esperávamos... Tanto é que ele reagiu imediatamente. John deu um soco no marinheiro - que ficou de joelhos. Eu tentei agarrar a carteira cheia de dinheiro. Mas o marinheiro, um homem de experiência, logo ficou de pé de novo. Deu um empurrão em Lennon - que foi parar longe. E meteu a mão por trás da calça. Nós vimos que ele ia apanhar um revólver. Nós ainda avançamos de novo sobre ele com as cabeças protegidas. Ele começou a disparar. Tudo que a gente queria naquele momento era ir embora dali correndo. Por sorte nossa, o revólver apenas expelia gás. Era um tipo de revólver que se usava em Hamburgo para defesa pessoal. Nunca esqueci esta história, porque é um bom exemplo de como éramos impossíveis e selvagens o bastante para fazer uma coisa desta. Há um Iado humorado nesta história. E também um lado amargo - que mostra o quanto desesperados nós éramos. Quando olho para trás, vejo: Lennon era o rapaz! Que loucura!.
Sempre houve dois lados de John Lennon. Um era o lado público, o John sarcástico, abusivo. Mas há um outro lado - que conheci bem quando convivemos. Era um lado mais amável. Nós nos sentávamos e discutíamos sobre namoradas e o que sentiríamos quando estivéssemos longe delas... um lado que não se nota tanto. Nós nos sentávamos num clube. Se tínhamos acabado um namoro, ficávamos diante de uma cerveja e começávamos a ter uma conversa sentimental. É algo que precisamos conhecer, para descobrir o outro lado de John".
Numa entrevista ao jornal "The Times", você disse que John Lennon era o Beatle de quem você mais gostava, quando estava no grupo. Por quê?
Pete Best: "Eu gostei de John já na primeira vez que me encontrei com ele, quando ele veio para o clube de minha mãe. Ele era o cômico do grupo, fazia qualquer coisa por uma boa gargalhada. Nós nos demos tão bem que, quando voltamos a Liverpool depois das apresentações em Hamburgo, ele ficou lá em casa. Nós pegávamos drinques e Coca-Cola no clube - que era bem embaixo da minha casa, em Liverpool. Nós nos sentávamos, ouvíamos as músicas juntos, saíamos para tomar alguma coisa. Era uma relação de camaradagem. É por esta razão que eu gostava mais de John".
Você era melhor músico que os outros, naquele tempo?
Pete Best: "Sim. Podiam dizer: eles não me quiseram mais porque eu não tocava tão bem bateria. Ora, ainda hoje, admito que eu era melhor do que Ringo Starr. O que acontece é que, quando ocorreu a minha saída, eu não tinha poder de interferência. Tudo foi preparado já antes de Ringo vir. Algumas semanas depois, cheguei a uma situação em que Brian chegou para mim e disse: "Você não é bom baterista para o grupo. Quero chamá-Io para ficar comigo. Você já não irá tocar com os Beatles, mas há um outro grupo em Liverpool chamado Mersey Beats" - que, na época, eram os Beatles mais novos. Brian me chamou para que eu me juntasse ao grupo para transformá-lo num segundo Beatles. Ora, pode-se dizer: eu não era bom suficientemente para tocar com os Beatles. Eles me tiraram. Mas, por outro lado, eu era bom suficientemente para que Brian me chamasse para tentar fazer de um outro grupo os novos Beatles...
Dizem também que foi George Martin, o produtor dos discos dos Beatles, que teria dito que eu não era bom o bastante. Eu falei com George Martin. Ele achou, na gravação de estúdio, que aquele som não estava no ponto para os Beatles, naquele tempo. Mas ele não quis dizer que eu deveria sair do grupo. O que acontece no estúdio de gravação não faz qualquer diferença com o que acontece no palco. O argumento não cola. Não há elementos que justifiquem".
“John Lennon pensou:
“Vamos roubá-Ia!”. Para mim e para ele, a idéia parecia boa”
Você tinha mais experiência que Ringo Starr?
Pete Best: “Eu não diria que era "maior experiência". Eu desenvolvi, na Alemanha, um estilo marcante. Quem ouvia dizia: "Bem, este é o som de Mersey Beats". Algo como Beatlemania. Quando voltamos a Liverpool, os bateristas começaram a copiar este estilo - ninguém tinha tocado antes. Os grupos de Liverpool estavam tentando copiar o som e o estilo dos Beatles. Ringo vinha tocando há mais tempo como baterista. Eu tinha menos tempo. Mas era o melhor”.
Você viveu e trabalhou com o grupo que mudou a cabeça de milhões de jovens em todo o mundo. Você não vê o fato de ter sido um BeatIe como um privilégio, apesar dos problemas?
Pete Best: “Ah, sim! O que aconteceu ninguém pode levar de minhas lembranças e de minha vida. Eu fui, por dois anos, um Beatle. É parte de minha herança, parte de minha história. É algo que posso olhar, sem me importar com o que aconteceu depois, principalmente o meu afastamento. Aqueles dois anos me trazem orgulho. Sou um privilegiado, por ser parte da lembrança e da história dos Beatles”.
A imagem pública de John Lennon era a de um rebelde, talvez o único entre os BeatIes. Pelo que você conhece, é verdade?
Pete Best: “John era, provavelmente, o mais rebelde, simplesmente porque não ligava para nada. Não queria nem saber. Fazia as coisas por divertimento, por raiva, porque estava bêbado (ri) ou porque era corajoso. Mas, provavelmente, por causa da ansiedade que adquiriu. A imagem pública, naquele tempo, tendia a fazer de John mais rebelde que o resto do grupo. Ele explodia e saía da linha de vez em quando, para se fixar como o mais rebelde. Mas se levarmos tudo em consideração, havia quatro rebeldes entre os BeatIes... As ansiedades e as inquietações do comportamento de John é que o
retrataram como o mais rebelde.
O que acontece é que, ainda no tempo da escola, ele era do tipo que, se quisesse fazer alguma coisa, fazia. Depois, se ele queria ofender a platéia, ofendia e não precisava ter alguma razão para agir assim. Se alguém - até um fã - mencionava alguma coisa, ele, literalmente, perdia a paciência. E explodia com o fã. Cinco minutos depois, esquecia tudo e estava rindo e brincando com o fã. O pobre fã devia estar pensando: "Meu Deus, o que foi que eu fiz para ele de repente explodir em cima de mim?". John mudava de temperamento todo o tempo".
Todo mundo conhece os Beatles como figuras públicas. Mas eu gostaria que você fizesse um retrato falado de cada um, a partir das experiências pessoais e de convivência íntima que você teve com o grupo. Primeiro, Paul McCartney.
Pete Best: "Paul, ali, era, provavelmente, o mais ligado em "relações públicas". Era o mediador, o que queria ser o centro das atenções. Fazia qualquer coisa - como dar declarações bobas e falar com fãs. Queria estar na linha. Comparado com o resto de nós... Nós, os outros, dizíamos: se os fãs vierem, a gente conversa. Se não, tudo bem. Mas Paul fazia tudo para tentar impressionar os fãs. Já neste tempo, acredite ou não, ele era extremamente mesquinho com o dinheiro. Era o único que pensava duas vezes antes de gastar dinheiro com alguma coisa. Mas você não pode dizer que ele era culpado só porque tomava cuidado com seus vinténs... Paul, na verdade, tentava impressionar as pessoas todo o tempo, se comparado com o resto de nós".
George Harrison...
Pete Best: "Ele vivia mergulhado na música, sempre preocupado em melhorar o estilo e procurar equipamentos melhores. E melhorou. Em dois anos, conseguiu uma guitarra que ninguém tinha em Liverpool. É uma pessoa assim. Era
verdadeiramente interessado em melhorar a música e o equipamento, mas não chegou a contribuir para o grupo naquele tempo. George simplesmente acompanhava os outros. Quando dizíamos "não vamos fazer assim, mas de outro jeito" ele aceitava ...
Ringo Starr...
Pete Best: "Eu conhecia Ringo anos antes de ele se tornar um Beatle. Eu o conheci quando eu era um Beatle. Eu prestei atenção em Ringo, simplesmente porque foi ele quem me substituiu. Nós saíamos juntos em Liverpool. Ele era um sujeito que se guardava para se mostrar no palco. Mas era meio deixado de lado. Ringo pensava um bocado sobre a maneira de tocar. Não era o melhor de Liverpool. Era apenas um dos rapazes ali...".
Ringo, na verdade, ficou sempre com a imagem de o menos brilhante entre os Beatles. Você diria que é verdade?
Pete Best: "Ringo, naquele tempo, era o que ficava lá atrás. Não podia compor músicas, não tinha estilo de cantar. Nós tínhamos Lennon e McCartney - que podiam compor as músicas. George Harrison também podia. Os três tinham coisas em comum, um completava o outro. Se os Beatles tivessem continuado, Ringo estaria com eles. Mas só quando a separação ocorreu ele entendeu de repente que deveria fazer alguma coisa diferente. Por esta razão, começou a fazer filmes e a produzir seus próprios discos. Viu que a onda dos Beatles tinha acabado. Era hora de viver dos próprios recursos. É um
homem rico. Você não pode tirar a riqueza de Ringo, mas, em matéria de talento e de negócios, estava um pouco atrás dos outros. Porque os outros comandavam o grupo. Ringo estava atrás".
Brian Epstein criou os Beatles? Os que dizem que ele criou o fenômeno estão errados? Você, como ex-Beatle da época de Brian Epstein, pode dizer que tipo de influência ele teve?
Pete Best: "Como empresário, ele tinha grandes planos. Começou aos poucos mudando a imagem dos Beatles. Fez o grupo vestir paletó e tudo o mais. Tentou um bom contrato numa boa gravadora inglesa. Depois, fomos rejeitados pela DECA e pela maioria das grandes companhias. De repente, surgiu o convite da EMI, a gravadora que, afinal, lançou as músicas dos Beatles. Ali, ele era interessado. Queria progredir financeira e
profissionalmente. Acreditou nos Beatles porque gostava da música que tocávamos e das pessoas. Não é só: acreditava na música.
Tanto quanto se sabe, nós éramos melhores que Elvis Presley. É o que de fato aconteceu: os Beatles terminaram iguais ou até maiores do que tudo que EIvis Presley jamais foi. Mas quem ouvia Brian dizer que os Beatles iam ser maiores que Presley dizia: "Vamos! Que história é essa?" (faz ar de desânimo, ao imitar um interlocutor imaginário). Nesta época, saí dos Beatles e passei a ter um ponto de vista exterior sobre o percurso dos Beatles.
Dizer que Brian Epstein não era tão bom em show business porque provavelmente fez os Beatles perderem milhões de pounds é difícil. Brian pode ter sido ingênuo. As outras pessoas puderam explorar os Beatles, propor negócios ruins. Você não sabe, porque não participa dessa organização. Mas, com todo o dinheiro que possa ter perdido, Brian fez de cada um multimilionário. Ninguém pode negar! Fez daqueles caras os Beatles! Criou a Beatlemania. Não importa como ele fez, se através de promoções, trapaças no show business ou contatos. O fato é que usou todos os recursos disponíveis naquele tempo. Deve ter um crédito por tudo. Pode-se dizer que, em matéria de show business, ele não foi tão bom. Mas conseguiu - de repente - se transformar de simples dono de uma loja de discos em responsável pelos Beatles. Comandou uma organização. Brian não criou só os Beatles. Criou o sucesso dos Beatles e de outros grupos. Alguma coisa havia ali. Era um bom empresário".
“John Lennon explodia e saía da linha de vez em quando,
para se fixar como rebelde"
George Martin, o produtor dos Beatles envolvido no episódio em que você deixou o grupo...
Pete Best: "Só o encontrei uma vez, quando fomos tocar no estúdio para ele. Quando o vi depois, já não estava com os Beatles. Suas técnicas de gravação captavam a música dos Beatles bastante bem. Se você ouvir as primeiras gravações, você dirá: "Eis uma gravação é inteiramente diferente de qualquer outra coisa!". Basta comparar com os outros. Era algo original. Se foi a sabedoria de George Martin ou o brilho dos Beatles, não sei. George Martin era talentoso. Não me interprete mal. Já antes, ele tinha gravado sucessos. Mas os Beatles não faziam o tipo de música que ele tinha gravado antes. E ele entendeu - de repente - que o tipo de música dos Beatles que ele gravou como produtor era só dos Beatles - ninguém mais. George Martin progrediu a partir daí. Enquanto os Beatles avançavam, ele progredia também, através de mudanças na música. E aí veio o psicodelismo, o Magical Mistery Tour e outras coisas. George Martin até pensou em se aposentar cedo, ir morar numa ilha e só gravar quando quisesse. É sinal de sucesso".
Stuart Sutcliff, morto aos vinte e um anos de um tumor no cérebro, depois de ter tocado nos Beatles, foi a primeira tragédia na vida do grupo. Que tipo de artista era ele?
Pete Best: "Tinha talento como artista. Como pessoa, era o que se poderia chamar de um sujeito legal. Baixinho. Tinha consciência de suas limitações. E mantinha uma relação de mútua estima com o grupo. Ele se preocupava com tudo quando os Beatles atuavam; envolvia- se totalmente. Stu se apaixonou à primeira vista por uma moça chamada Astrud. A decisão de deixar o grupo deve ter custado a ele noites e noites de sono. Ele gostava de ser parte dos Beatles. Mas sempre se dividiu entre ser um artista plástico e um músico. Logo antes de sair dos Beatles, entendeu que o verdadeiro talento que ele tinha era como artista plástico. Um incrível artista. Tudo que posso dizer é que foi uma grande tragédia".
Como é que você se sente, hoje, ajudando os desempregados de Liverpool numa agência de emprego?
Pete Best: "É um outro desafio. Não é fácil encontrar trabalho para os desempregados em Liverpool. A taxa de desemprego é alta. Meu trabalho é como qualquer outro: passa por sucessos e fracassos. Eu, felizmente, posso me colocar numa posição melhor do que a maioria das pessoas, porque estive no fundo do poço, tanto quanto alguém possa estar, envolvido numa depressão total (N: em 1965, em situação financeira difícil e deprimido pela frustração de ter perdido a chance de repartir o sucesso mundial dos Beatles, Pete Best veda todas as entradas de ar do banheiro da casa onde morava em Liverpool, abre o gás e deita-se no chão, à espera da morte. Um irmão sente o cheiro do gás do lado de fora, consegue entrar no banheiro e salvar a vida de Pete Best, a esta altura já
inconsciente. Ele guardou em segredo durante vinte anos a história da tentativa de suicídio).
Embora não diga aos desempregados que me procuram o que é que eu acho, eu sei o que eles sentem. Tenho simpatia por eles. Eu estive lá, afinal! Tento ajudar os outros tanto quanto posso. É o meu trabalho. Tenho prazer - e paciência - quando tento
ajudá-Ios".
Você vive satisfeito com este trabalho?
Pete Best: "Quando deixei o show business, mudei totalmente o meu estilo de vida. Vou ser honesto: agora, posso dormir bem. Eu estive no show business desde que deixei a escola. Naquele tempo, quando resolvi dar uma parada, eu já tinha minha mulher e uma criança para tomar conta. Depois de pensar um bocado, finalmente decidi que era tempo de me dedicar a elas - e não apenas a mim. O que houve, então, foi uma ruptura completa. Desde 1968, estou inteiramente afastado do show business. Fiz apenas uma ou outra aparição em shows de TV. Meu estilo de vida, como disse a você, mudou.
Passei a viver o que podemos chamar de uma vida normal: ir ao trabalho, voltar, sair para tomar uma cerveja, coisas assim. Mas, lá no fundo, ainda existe aquela sensação: "Meu Deus, se eu tivesse continuado como um Beatle!". Hoje, penso que não faz diferença. Quando chego em casa, encontro as contas a pagar que o correio deixou embaixo da porta. Vem alguém e me diz: "pague!". E vou vivendo, afinal, todas essas coisas normais que todos vivem. Trabalho duro. Tenho orgulho de tudo. Com a vida que levo, desenvolvi o meu estilo. Faço o que quero, quando quero. Não fico remoendo o passado. É bom".

Que sensação ficou até hoje do dia em que você recebeu a notícia de que já não era um Beatle? Deve ter sido um dia doloroso...
Pete Best: "Não chegou a ser exatamente, porque foi como se uma bomba caísse na minha cabeça, assim, de repente. Só no dia seguinte é que tudo começou a entrar na minha cabeça, quando entendi que tinha acabado. Já era. É aí que a dor começa. Não se tem como voltar. Aquele terminou se transformando no dia mais doloroso, no sentido de que mudou a minha vida. Tive outros tempos duros, desde então. Mas aquele foi o dia que mudou todo o curso de minha vida. Eu me lembro bem. Era agosto de mil novecentos e sessenta e dois".
"Eu estive no fundo do poço, tanto quanto é possível estar.
A depressão era total"

O "Times" recontou a história há pouco tempo. Você foi a um pub beber umas cervejas...
Pete Best: "Umas? Muitas! (ri). Eu tinha acabado de falar com Brian Epstein, às 10 e meia da manhã. Um amigo estava me esperando do lado de fora. Recebi a notícia de que tinha saído dos Beatles e fui para fora. Meu amigo notou que algo diferente tinha acontecido comigo. Perguntou: "o que foi que houve?". Eu disse: "Eu saí! Não sou mais um Beatle!". Ele respondeu: "Meu Deus! Não pode ser verdade! O que é que aconteceu?" Eu disse: "Tudo o que quero fazer é tomar uma cerveja, afundar a minha cabeça!".
Fomos para um pub. Derrubamos um bocado de cerveja. Chegou um momento em que eu disse: "Ok! Vamos para casa!". Quando fui para casa é que senti a pancada. E comecei a chorar. Chorei a noite inteira. É o tipo do choque de efeito
retardado. Bem aí é que entendi: tudo tinha acabado" .
Por que Brian Epstein foi quem deu a você a notícia, e não um dos outros Beatles?
Pete Best: "Não sei. Anos depois, John Lennon disse: "Se todos nós estivéssemos presentes - eu, Paul e George - para dizer a Pete, haveria uma briga!". Se ele estava se referindo a socos na cara ou qualquer coisa assim, não sei. John sentia que Brian era o empresário. Cabia a ele a responsabilidade de fazer as coisas. "Então, nós passamos para você. Faça o trabalho sujo, Brian!". É assim que parece".
Você viu o filme da BBC sobre a vida dos Beatles? Nesta passagem, Lennon diz a Brian Epstein que você não era tão profissional quanto Ringo Starr. Aconteceu assim?
Pete Best: "Talvez os autores dos scripts tenham entrevistado as pessoas e reconstituído assim o curso do diálogo. Se Ringo era mais profissional ou se eu não era tão profissional quanto Ringo... tudo é uma alusão ao fato de eu estar no show business e à nossa habilidade como bateristas. O que aconteceu - do ponto de vista do filme realizado pela BBC e exibido na televisão - é que John instigava as decisões do grupo. O que de fato aconteceu no diálogo entre ele e Brian é difícil dizer".

Você entendeu o que aconteceu depois com John Lennon?
Pete Best: "Guardo o dia em que John Lennon foi baleado como uma lembrança viva. Eu estava no primeiro andar da minha casa. Fazia a barba para ir trabalhar. Minha mulher, Cat, estava no térreo. Eram seis e meia da manhã. Ela me disse, lá de baixo: "Pete! John está morto!". Aquilo não me alterou, porque não imaginava jamais que fosse John Lennon. Pensei que era um dos amigos ou alguém do trabalho. Perguntei: "John quem?". E ela: "John! John! Com quem você tocava nos Beatles!". Eu disse: "Estão brincando no rádio! É algum jogo sujo, alguma brincadeira estúpida que estão fazendo. Isto acontece no rádio!". Ela: "Não! A cada dois minutos, há novas notícias! Venha logo ouvir! Os rádios só falam em John Lennon!" (nesta altura, os olhos de Pete Best estão marejados).
Corri para ouvir. Cada estação de rádio trazia flashs e flashs e repetia a notícia, sempre com maiores informações. De repente, entendi, naquela manhã de dezembro: não era alguma publicidade suja. Aquele cara tinha sido brutalmente atingido! Houve quem me dissesse, depois: "Que diferença faz para você? Só porque você estava com os Beatles há tanto tempo?". Mas aquilo me chocou, porque trouxe de volta todas as boas lembranças de tudo que vivi com John, o bom tempo que vivemos juntos. Para ser honesto, eu conheci John inteiramente, não só no tempo em que vivi com ele nos Beatles. Nós fomos íntimos por quatro ou cinco anos. Um bom tempo que vivemos reunidos. A morte de John me arrasou. Não havia necessidade de algo como aquilo. Não havia razão alguma. Ele tinha voltado para o show business. Talvez o lugar seja de John e não de Paul McCartney. E ele estava lá de novo".
Você imagina por que Mark Chapmann matou John Lennon?
Pete Best: "Era alguém que tinha uma obsessão, uma fixação na morte de Lennon. Bang! Não posso acrescentar nada. Razão? Não há. Lennon fazia suas próprias coisas: tinha deixado o show business, vivia uma vida reclusa em Nova lorque. Não afetava ninguém! O que ele estava tentando era viver com uma identidade própria. Depois de alguns anos de reclusão ele decide voltar e bang! (imita o estampido de um revólver). Lennon agora não está mais lá. É algo completamente estúpido".

Há dezenas de diferentes versões sobre a convivência de Pete Best com os Beatles. Qual será a versão definitiva?
Pete Best: "Ao longo dos anos, a história desta época não tem sido contada em detalhes. Não se cobriu esta parte dos episódios entre o grupo no início da carreira: as tragédias, as escapadas e até as brincadeiras e tudo o mais. O livro que escrevi com Patrick Doncaster, "Beatle! The Pete Best Story", dá a atmosfera em Liverpool na época. E mostra Como éramos, antes de formarmos os Beatles. O livro mostra os primeiros sucessos e o que aconteceu comigo. A maior parte do que conto é sobre o início dos Beatles. É o que interessa mais (N: O livro "Beatle! The Pete Best Story" foi publicado pela Plexus Publishing Limited)
Por que você não tenta uma carreira solo, ainda hoje?
Pete Best: "Porque eu ficaria um pouco assustado! Gosto do meu trabalho atual. Preciso levar em conta uma coisa: hoje, consegui "segurança". É um mundo engraçado. Por que é que eu tenho de encarar as coisas dessa maneira? É preciso ter sorte para que dê certo voltar ao show business depois de não fazer nada por vinte anos. Eu já considerei o que uma eventual volta poderia ser. Mas não sei. Eu passaria noites mal dormidas...".

Como um ex-Beatle, o que é que você diz da música pop de hoje? É melhor do que a dos anos sessenta?
Pete Best: "O engraçado é que, vinte e tantos anos depois, os grupos de Liverpool ainda se dão bem. "Frank Goes To Hollywood" faz grande sucesso nos Estados Unidos e chega aos primeiros lugares. Durante os anos, a preferência musical tende a mudar. Hoje, há de novo uma maior influência americana nas paradas, como já não acontecia há alguns anos.
Naquela época, era fácil os grupos ingleses irem para lá, mas era difícil os americanos chegarem à Inglaterra. Eu acompanho a cena pop. A competição, hoje, é maior, assim como a diversificação da música pop. Há bandas, sintetizadores, músicas folclóricas. A variedade é grande. Ainda assim, o panorama é bom".
Mas o tempo dos grandes nomes, como os Beatles e Elvis Presley, parece que acabou...
Pete Best: "Você pode dizer o contrário. Tenho 43 anos e minha herança e minha juventude vêm dos anos sessenta, não importa o que tenha acontecido nem que aquela já não seja a música que se tem hoje. Quando ouço alguma coisa dos anos cinqüenta ou sessenta, eu me acendo (dança com as mãos, animado). Há quem diga que nunca haverá outro Elvis Presley, outros Beatles. Antes, falavam assim de Frank Sinatra. Mas pode haver um outro grupo que, vindo de algum lugar, conquiste o mundo de repente. Se será com a intensidade dos Beatles, não sei. Mas você não pode escrever que ninguém chegará lá. Porque pode haver algo como os Beatles, deixando tudo para trás e
explodindo como mega-star".
Você ainda ouve as canções dos Beatles?
Pete Best: "A gente ouve no rádio, de qualquer maneira. Tenho, na minha coleção dos Beatles, quase tudo o que o grupo fez. Tenho, principalmente, os discos em que toco com eles, as gravações todas feitas em Hamburgo (ri) e tudo o mais. Tenho cinco ou seis discos, "Love Me Do", coisas assim, o tipo de música que me lembra o som que nós fazíamos juntos, nos Beatles, não o que eles fizeram quando evoluíram para o psicodelismo, as drogas, a influência dos gurus".
Você ouve as canções de Julian Lennon?
Pete Best: "Não ouvi o primeiro disco todo, mas faixas. Quando ouvi pela primeira vez, disse: parece com o que John fazia! Minha primeira reação foi esta. Julian se baseou no estilo do pai. O tom nasal e as coisas que ele faz quando fora do palco. Acredito em Julian. Você não pode dizer que ele apenas pegou carona no pai. Não é o caso de dizer: morreu John, chegou Julian! Entre uma coisa e outra, há um espaço de quatro anos. Mas Julian veio com um som que lembra John. Boa sorte para ele!".

Uma velha questão: Beatles ou Rolling Stones? Com quem você fica?
Pete Best: "Do meu ponto de vista, Beatles. Não estou dizendo simplesmente porque toquei com os Beatles. Mas o que ocorreu é que são dois grupos que surgiram simultaneamente, com dois estilos diferentes. Há os fanáticos pelos Beatles e os fanáticos pelos Rolling Stones. Ao longo de todos estes anos, os Rolling Stones vêm fazendo, ainda, excursões e shows ao vivo. O público ainda pode vê- los. Se os Beatles ainda estivessem juntos, poderiam estar fazendo todas essas coisas? Não sei. Gosto dos Rolling Stones, mas, entre os dois, eu escolheria os Beatles!".
O livro “Beatles-In Their Own Words” traz a seguinte declaração de Ringo: “Quando Pete Best ficava doente, eu assumia o posto”. É verdade?
Pete Best: "Fica até parecendo que eu era urna pessoa doente... Ringo, quando fala assim, provavelmente se baseia em dois ou três casos, no máximo. Urna vez foi numa apresentação no Cavern Club. A minha ausência não chegou a causar grandes inconvenientes para eles, porque havia outros bateristas. Outra, quando eu tinha negócios para resolver e não podia deixar de fazê-lo. Não pude tocar. Quem tocou foi Ringo, no meu lugar. E, finalmente, houve um dia em que eu estava lmpossibilitado de atuar, porque tinha pegado uma gripe forte. Não se pode dizer que eu vivia doente. Pelo contrário. Eu era saudável. É errado dizer coisas assim. Quando não pude tocar e fui substituído por ele não foi porque estivesse doente, mas porque tinha outros compromissos e ele, pelo contrário, estava disponível naquele dia".
Uma das histórias sobre John Lennon é que ele vivia à procura de uma mãe - e afinal encontrou uma na figura de Yoko Ono. Naquela época, em Liverpool, você notava esse lado da personalidade de Lennon?
Pete Best: "Nós tínhamos consciência. Mas John jamais falava sobre a mãe e a maneira trágica como ela foi morta, num acidente. Ele vivia com uma tia, chamada Mimi. Mas se dizia que a raiva, a amargura e a dor que ele suprimia e guardava dentro de si o levaram a fazer coisas loucas. John não falava sobre essas coisas, porque não queria. Guardava tudo consigo. A agressividade, a ansiedade e a dor teriam de ser externadas de alguma maneira. É esta a razão de alguns atos cometidos por John".
Yoko, pelo que você sabe, teve influência sobre a dissolução dos Beatles?
Pete Best: "John tendia a se apaixonar demais pelas mulheres. Yoko parecia significar estabilidade para ele. Era um outro mundo para John. Eles se trancaram e encontraram a felicidade. Qual terá sido a influência de Yoko para fazer John retornar? Quem sabe? Mas há ali, em Yoko, alguma coisa que John encontrou e o influenciou".
Como você se imagina quando tiver 64 anos?
Pete Best (rindo da referência à música "When I'm Sixty Four"): "Quando eu tiver sessenta e quatro anos? Terei algumas rugas a mais. Bem mais cabelos brancos. Só espero ser como sou hoje. E espero não mudar tão rapidamente. Aos sessenta e quatro anos, tentarei ser exatamente como sou, neste caminho...".

Você não pensa, afinal, em sair de Liverpool?
Pete Best: “A maior parte da minha vida eu passei em Liverpool. Meus melhores amigos estão em Liverpool agora. Minha vida, minha casa. Para ser honesto, não se criou nunca uma situação em que eu pudesse dizer: "Ok, deixe-me sair de Liverpool e ir para um outro lugar...". Se tivesse acontecido, não sei se teria me mudado, se teria ficado ou o que poderia ser. É algo que eu teria de decidir pessoalmente, se tivesse acontecido".
Que tipo de informação você tem sobre o Brasil?
Pete Best: "A única informação que tenho sobre a música brasileira é a que ouço no rádio e vejo na TV. São cenas de festivais em que aparecem, também, tangos e rumbas. Há um grupo - parece que do Brasil - formado por rapazes que, quando completam 16 ou 17 anos, são substituídos..."
O grupo não é do Brasil. É da Costa Rica. São os "Menudos" ...
Pete Best: "Perdoe-me. A música brasileira produz ritmos fortes, Nós conhecíamos, antes da Beatlemania. Há uma grande influência da América Latina. Os ritmos que estão por cima hoje se originam daí. Músicas que só agora aparecem sofreram influência destes ritmos - e os autores capitalizaram a influência. Gosto da música latino-americana e brasileira. Gostaria de ouvi-Ia".
Você esperou vinte e dois anos, até resolver dar um depoimento pessoal, em forma de livro e entrevistas como esta, sobre o início dos Beatles. Por que tanto tempo?
Pete Best: "Quando eu estava no show business, depois de ter saído dos Beatles, todo mundo pedia que eu escrevesse um livro. Eu dizia que não. Ainda não era tempo. Não queria ser visto como se quisesse me aproveitar da onda dos Beatles. Eu tinha meu orgulho, afinal. Então, me diziam: "Ok, mas ganhe dinheiro com essa coisa toda!", Eu insistia que não. Era preciso esperar. O momento certo de dizer tudo chegaria. O que aconteceu é que, durante todos estes anos, ao ler os livros e biografias escritas sobre os Beatles, notei que aquele período específico da nossa vida, logo antes de os Beatles se tornarem superstars, não foi coberto suficientemente com todos os detalhes reais.
Então, decidi: é hora de contar. Se não, jamais a história seria contada tal como ocorreu".

Há versões erradas sobre o início dos Beatles, em Liverpool?
Pete Best: "Há. As versões que existem dão um par de informações sobre o que aconteceu. "Foram para a Alemanha, voltaram e - de repente - se tornaram mega-stars. A Beatlemania surgiu assim!" - é o que escrevem. Não foi assim que aconteceu. É esta a razão por que decidi escrever um livro e falar agora. Só assim as pessoas teriam informação sobre as tragédias, as paixões, as brincadeiras e o tipo de vida que levávamos.
Fui, por dois anos, um Beatle. E o que digo: o que aconteceu ninguém pode levar de minhas lembranças.
Tenho minha casa em West Derby, Liverpool, não longe de onde minha mãe mora e da sede do já extinto Casbah Club. Por anos e anos, minhas duas filhas - Beba e Bonita -, hoje adolescentes, ficaram sem saber que eu tinha sido um Beatle. Isto não significaria nada para elas, de qualquer maneira. Somente depois, na escola, quando todos os colegas começaram a perguntar se era verdade que o pai das duas se chamava Pete Best, o ex-Beatle, é que eu contei tudo a elas.
Todas as lembranças dos bons e maus momentos são parte da minha vida. Vão ser sempre. Admiradores dos Beatles e membros de fãs-clubes espalhados por todas as partes do mundo, mas particularmente da América do Norte e do Japão, ainda hoje chegam a Liverpool e vão até Hayman's Green ver o que era o Casbah Club.
Disse em meu livro : de vez em quando, vou até lá e deixo as lembranças tomarem conta de mim. Parece que o tempo volta atrás. Ouço os sons e as risadas dos velhos tempos. Parece que vejo de novo o rosto dos músicos. Sozinho no Casbah, toco na bateria do meu irmão mais novo, Roag. Fecho os olhos para sentir toda a atmosfera de antes. Quando estou ali, no meu posto de baterista, no Casbah hoje deserto, a música e as lembranças se perdem numa nuvem. Para dizer a verdade, não seria difícil remodelar o Casbah e restaurar a antiga glória. Mas jamais tudo seria como antes".
(Entrevista gravada em Londres, 08/03/1985)
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Posted by geneton at junho 23, 2007 08:06 PM aplausos.
O tempo de Aluízio Alves
--- Walter Medeiros* –  
Walter Medeiros
A exatidão do tempo que corre por nossa vida ou a exatidão da nossa vida pelo tempo, que é eterno, maior e fugaz, permite a cada humano apenas o seu pequeno quinhão. Embora os registros, as tecnologias e tantos outros recursos nos proporcionem conhecimento até da antiguidade, da pré-história, bem como também até mesmo imaginar, com proximidade, o futuro. 

Essas divagações e reflexões vêm para mostrar que, apesar de cabelos brancos pela cabeça, vivi - mas não tinha ainda como participar tanto - o tempo de Aluízio Alves no Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Quando ele saiu do governo eu tinha 12 anos; o que não seria problema para ele, que com essa idade já estava nos salões da política.

Havia, no entanto, um envolvimento forte, que tornou aquele tempo marcante para mim. Meu avô, Francisco Bezerra, minha avó, Constância Constantina e minha tia Mariêta Freitas, eram da Cruzada da Esperança. Na sala de trabalho do meu avô tinha o retrato de Aluízio Alves, colocado desde a campanha de 60. Nos rádios ouvia-se o Falando Francamente todos os dias, naquela voz forte e convincente de Erivan França. Foi quanto meu irmão, Wellington Medeiros passou a trabalhar na Rádio Cabugi, então na Praça Pedro II. E o tempo passou, até assistirmos o radicalismo nas vozes de Magnus Kelly, Carvalho Neto e Eugênio Netto. 

Guardava desse tempo o disco em 78 rotações - “Aluízio Alves/Veio do sertão lá do Cabugi...”, que minha tia pediu para preservar e depois de muito tempo e reflexão considerei mais apropriado doar ao Memorial Aluízio Alves. Não consegui guardar, no entanto, aquela bolsa verde com a mão de Aluízio, na qual guardava e conduzia meu material escolar para estudar no Grupo Escolar Áurea Barros, em Tirol (1963). Nem aquelas caixas de leite da Aliança para o Progresso, que consumíamos, gostávamos e findavam servindo para brincar pelas caçadas da rua Alberto Maranhão. Muito menos aquele sabre com o qual um soldado me conteve na manhã de 1º de abril de 1964, mandando de volta para casa o menino que apenas queria comprar pão na Padaria São Paulo.
Dali em diante tivemos campanhas políticas limitadas em sua participação. Depois da década de 60 Aluízio Alves, Agnelo Alves, Garibaldi Alves, Erivan França e outros  estavam proibidos de falar em manifestações populares, cassados pelo AI-5 (Ato Institucional nº 5). O regime autoritário cortou o grito do povo, que nas ruas dizia, e eu ouvia: “Queremos Aluízio em 70”. Neste momento em que se homenageia Aluízio na sua data de nascimento, deixo aqui estas lembranças daquele tempo cujo curso foi mudado pela força. A presença de Aluízio Alves em momentos posteriores é outra história, que o tempo também guardou.
*Jornalista

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A pilantragem como norma

A notícia que abaixo transcrevo, a respeito da captura de figurões do governo Dilma pela Polícia Federal, faz consolidar-se em mim a convicção de que somos o país da ladroagem. A ladroagem tornou-se como que instituição nacional. A presidente, na sequência de denúncias de corrupção que a imprensa estampa quase cotidianamente, ao que parece, está cercada não por assessores, mas por uma quadrilha, um bando de mal-intencionados cuja única finalidade no Poder é açambarcar e locupletar-se, sabendo que no final todos ficarão impunes. É triste, mas a constatação é uma só: essas pessoas são oriundas da sociedade brasileira; não vieram de Marte ou de algum planeta lingínquo, de outro sistema solar. Vieram da nossa cotidianidade, do caldo de cultura que engrossamos ao longo da história, e ao que parece, salvo mudanças profundas, não mudará tão cedo. Segue o texto com a notícia da Folha.

O Rio Grande do Norte está representado no magote por 
Frederico Silva da Costa, número 2 do Turismo, apadrinhado pelo deputado Henrique Eduardo Alves, segundo a Folha. Triste sina, triste sina a do Rio Grande sem Sorte. Mas, o que fazer? Pelo menos é uma celebridade do mundo dos escândalos. 

PF prende número dois do Turismo acusado de fraude

Operação para desmontar suposto esquema de desvio termina com 35 presos

Foram apreendidosR$ 610 mil na sede da ONG, em SP; advogado de ex-assessor de Marta Suplicy nega acusação

DE BRASÍLIA

A Polícia Federal prendeu 35 pessoas, entre elas integrantes da cúpula do Ministério do Turismo, sob acusação de envolvimento em fraudes num convênio entre a pasta e uma ONG, que tem sede em São Paulo.
A Justiça Federal determinou ações de busca e apreensão e prisões em Brasília (17 presos), São Paulo (11) e Amapá (7).

De acordo com a PF, foram desviados cerca de R$ 3 milhões repassados ao Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável) para capacitação de pessoas para atividades turísticas no Amapá.
Entre os presos está o secretário-executivo do ministério, Frederico Silva da Costa, número 2 do Turismo, que está na pasta desde 2003.
Em 2011, quando Pedro Novais (PMDB-MA) foi nomeado ministro, Frederico foi alçado ao cargo de secretário-executivo, apadrinhado pelo líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN).

Outro preso é Mário Moysés, secretário-executivo na gestão anterior e que também presidiu a Embratur. Ele nega as acusações (leia texto nesta página).
Moysés chegou à pasta na gestão da hoje senadora Marta Suplicy (PT-SP) em 2007, de quem foi assessor na Prefeitura de São Paulo.
Ele atuou em campanhas eleitorais da petista, tendo sido um dos assessores de imprensa de Marta em 2008. Entre 2000 e 2004, Moysés trabalhou na Folha em um cargo administrativo.

Outro preso é Colbert Martins, ex-deputado federal pelo PMDB da Bahia, que ocupou a Secretaria de Desenvolvimento do ministério.
O diretor-executivo da PF, delegado Paulo de Tarso Teixeira, afirmou que as provas contra eles são "robustas".
A Folha apurou que investigados tentaram impedir os trabalhos da PF, o que fundamentou os pedidos de prisão.

Segundo a investigação, foram detectados o direcionamento das contratações a empresas e pagamentos por serviços não executados.
Na casa do dirigente do Ibrasi Luiz Gustavo Machado, em SP, onde funciona a ONG, foram apreendidos R$ 610 mil, segundo a PF.
Ainda de acordo com a PF, a ONG usava empresas fictícias ou do grupo para desviar os recursos.

A investigação começou em abril após apuração do Tribunal de Contas da União.
O convênio foi realizado com recursos destinados à ONG pela deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), por meio de emenda parlamentar.
(FILIPE COUTINHO, MATHEUS LEITÃO e DIMMI AMORA)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dinheiro nosso na mão do milionário
Vejo nas coisas de jornal da Folha que está em andamento mais uma intentona: a campanha eleitoral paga com o dinheiro do povo. Acrescendo-se a isso o fato de que empresas poderiam continuar doando dinheiro a candidatos que representarão seus interesses nas Câmaras Municipais, Assembleias Leglslativas, Câmara dos Deputados e Senado. Ou seja: a ideia é fornir por inteiro a carteira dos políticos, abrindo-se as torneiras até o ponto de sufocação - se é que político pode ser sufocado com dinheiro. 

A proposta, ao que suponho, é institucionalizar a roubalheira, garantindo dinheiro à tripa forra a esses profissionais das leis e da governança. Enquanto isso, falta verba para saúde, educação, cultura, esporte, estradas e segurança. Aqui no Rio Grande do Norte não houve dinheiro para atender às reivindicações dos professores, que foram humilhados e esmagados pela governadora Rosalba. Mas haverá dinheiro para pagar campanha de milionário rumo a mais um mandato.Triste, não?

GOVERNOS DE LULA
Vejo também na Folha que Lula encomendou a Fernando Morais livro a respeito de seu período de governo. Diz o jornal: "O biógrafo de Olga Benário, Assis Chateaubriand e Paulo Coelho agora vai assinar a história oficial do governo Lula (2003-2010).Autor de best-sellers premiados, Fernando Morais foi convidado pelo ex-presidente para organizar um livro sobre seus dois mandatos.Ele diz que o modelo da narrativa ainda não foi definido, mas deixa claro que a obra reproduzirá sua simpatia pelo protagonista."
A obra, ao visto, será na verdade uma ação de merchandising político. É história viva e ainda não é tempo de ser vista - ou revista - no calor de seus próprios acontecimentos. Lula é ainda personagem palpitante, está vivo e tem expectativa histórica de voltar ao Poder. Assim, livro a respeito de seus governos, com enquadramento a favor ou contra, perde-se no vazio da louvação histriônica ou oposicionista enlouquecido. Falta distanciamento histórico, análise sensata, madura e serena que só as léguas do tempo podem permitir. A obra pode resultar em coisa pífia e lamentável.

BOA NOTÍCIA PARA OS CRIMINOSOS
O governo do Estado paga fortunas em comerciais na TV para anunciar que nosso falido RN está em vias de entrar no Paraíso. Mas, entre a realidade midiática e a realidade mesmo, a vida em si, há enorme diferença. Nessa realidade real temos o seguinte: falta dinheiro, por exemplo, para pagamento à polícia militar a fim de que faça rondas e blitzen. Não há verba para o pagamento de diárias. A isso os bandidos brindam e elogiam o desempenho negativo do governo estadual.

A MARCA DA BRUTALIDADE
Leio estarrecido no Diário de Natal: 
"O caso de Maria de Lourdes Araújo completou a maioridade prevista na Constituição. Há 18 anos ela espera por uma cirurgia que vai corrigir seu problema de flebite - nome dado às acentuadas varizes que tem nas pernas - no Hospital Universitário Onofre Lopes. Exercendo sua condição de cidadã, Denise Araújo Correia, 28 anos, filha de Maria de Lourdes, escreveu uma carta para o Diário de Natal relatando o sofrimento da mãe de 59 anos, que passou por várias tromboses, internações, e vai recorrer à Justiça para poder ter seu direito à saúde garantido após quase duas décadas de espera. O caso de Lourdes é um no universo da enorme fila do hospital, que segundo informações não oficiais, chega a mil pacientes. A diretoria do Onofre diz que existe espera desde 2001, mas não confirma quantas pessoas aguardam pelo procedimento cirúrgico."

---- Enquanto isso, sobra dinheiro, sai até pelo ladrão, para esbanjar com a Copa do Mundo, com festejos e outras quinquilharias administrativas que tando encantam os governantes. A realidade desses a quem se chama de povo é aterradora. O povo vive mal e com certeza tem medo até do dia seguinte.