sábado, 29 de setembro de 2007

Pequena história dos infames

Caros Amigos,

Infames percorrem todas as calçadas,
Remoendo urros,
Ruminando horrores,
Trabalhando o Mal.

Infames ocupam muitos dos Poderes,
Apregoando bênçãos,
Orando ao dinheiro,
Recebendo palmas, ganhando milhões.

Ímpios (ó, os ímpios, que palavra antiga - tão velha como os degenerados),
Sobem as escadas,
E sorrindo hasteiam todas as bandeiras,
Pendões da vitória indecorosa.

Infames falam bem todos os dias
E dizem o quanto são tão bons,
Depois se retiram ao silêncio escuro e visgo.

Depois cantam e cantam e cantam...

Emanoel Barreto

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Olá, Insanidade...

Caros Amigos,
O Estadão Online está informando o seguinte:
"LONDRES - O Chelsea pode contratar o atacante Ronaldinho Gaúcho por "apenas" 14 milhões de libras (cerca de R$ 55 milhões) no fim desta temporada, afirma nesta quinta-feira o jornal britânico The Sun. O brasileiro, que tem 27 anos, poderia se beneficiar do artigo 17 do regulamento da Fifa para abandonar o Barcelona. A norma diz que se um jogador de 28 anos tiver jogado por um clube durante cinco anos pode ser liberado se comprar o resto de seu contrato."

Vemos aí uma completa subversão de valores, quando um espetáculo de mídia, como o futebol se tornou, ascende ao pódio de empresa cujos produtos, ( os jogadores e os jogos), são comercializados a preços ciclópicos em sua área de mercado.

Quando o espetáculo atinge assim tais níveis de valores, configura-se o demonstrativo de uma sociedade global movida pela necessidade do prazer coletivo, urrante como numa arena romana.
Só que hoje não corre o sangue dos gladiadores, mas jorram rios de dinheiro para as mãos dos investidores nesse tipo de mercado.

Não critico em si o que o jogador vai ganhar. Temo porém as circunstâncias históricas, em que uma massa histérica se deixa de alguma forma conduzir por emoções empacotadas em um sofisticado esquema de comunicação, que hedoniza o futebol, mitifica seus praticantes e faz do seu público uma multidão alegre, que compensa as coisas ruins que essa vida nos dá, com um grito de gol.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Cipó de aroeira

Caros Amigos,
O JB publica matéria em que fala de determinação judicial para que militares envolvidos em captura e morte de guerrilheiros nos anos 1970 dêem conta de onde foram parar seus corpos. Os envolvidos estão dizendo que não vão colaborar e um deles até garante que, se for chamado a depor, responderá à bala.

Não tenho mais idade para acreditar em revoluções. Mas entendo que o Brasil precisa passar a limpo essa história e contar aonde foram parar jovens que amavam tanto a revolução, pensavam em Cuba e acreditavam que um dia a classe operária chegaria ao paraíso. Sua juventude e, até mesmo, sublime loucura, merecem essa reparação.

Lendo a matéria, lembrei-me de uma composição de Geraldo Vandré, "Aroeira".
Transcrevo abaixo. Sem comentários.

Vim de longe vou mais longe, quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar

Noite e dia vem de longe
Branco e preto a trabalhar e o dono senhor de tudo
Sentado mandando dar e a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar

Marinheiro, marinheiro quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro eu também sei governar
Madeira de dar em doido vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar

Emanoel Barreto