quinta-feira, 17 de julho de 2008

Fugitivo da injustiça

Caras Amigas,
Caros Amigos,
Leiam este texto da Folha de S. Paulo:
"O ex-banqueiro Salvatore Cacciola afirmou nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, que nunca foi um foragido da Justiça. "A primeira coisa é que eu nunca fui um foragido. Fui para a Itália com passaporte carimbado", disse. O ex-dono do Banco Marka está foragido do Brasil há oito anos. Ele foi condenado à revelia no Brasil a 13 anos de prisão pela prática de vários crimes."
As declarações foram prestadas logo após o desembarque. Numa demonstração de que tem em si um misto de cinismo, tara social, depravação prazerosa e apetites financeiros viscosos, Cacciola zomba do povo brasileiro, zomba da nossa pobreza, escarnece dos dramas de milhões de pessoas que vivem na linha ou abaixo da linha de pobreza.
Ele contribuiu vigorosamente para a manutenção desse quadro. Com as manobras financeiras que perpetrou, amuletado pelo governo Fernando Henrique Cardoso, que lhe facilitou dólares que visavam impedir a quebra do banco Marka, de sua propriedade, Cacciola é mais um grande retalho a compor o mosaico da tragédia nacional: poucos com muitíssimo; muitíssimos sem nada - ou quase.
E o pior ainda está por vir. Temo que em breve esteja solto. E rico. Muito rico.
Sim, com relação ao título da coluna, é o seguinte: refiro-me ao povo brasileiro. Se Cacciola se diz um não-foragido da justiça, podemos afirmar, em linha inversa, que nosso povo é eternamente um fugitivo da injustiça. Mas, lamentavelmente, sempre na próxima esquina a injustiça está à sua espera. Eterno labirinto.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Macabros e perversos

Caras Amigas,
Caros Amigos,
O comportamento dos que se declaram líderes de algum povo ou facção política está manifestando sintomas insânia; isso sem levarmos em conta as manifestações de mesquinhez, estupidez, brutalidade. Vejam esse texto que transcrevo do Estadão Online:

JERUSALÉM - O grupo xiita Hezbollah entregou para a Cruz Vermelha Internacional dois caixões com os corpos dos soldados israelenses Ehud Goldwasser e Eldad Reguev, seqüestrados em 12 de julho de 2006. O episódio que deu início à guerra entre Israel e Líbano naquele ano.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha levou os caixões para Israel. Oficiais do Ministério da Defesa confirmaram que os corpos entregues pelo Hezbollah eram do militares israelenses. Os corpos dos soldados deverão ser ser trocados por cinco presos libaneses - entre eles Samir Kuntar, militante condenado à prisão perpétua por um duplo homicídio em 1979. Os prisioneiros já foram levados pela polícia israelense para a fronteira com o Líbano. Além deles, Israel deverá entregar também os corpos de 199 libaneses mortos durante a guerra.


--- É isso: chegamos ao ponto em que "negociações" e "manifestações de bom senso" estão sendo encaminhadas para a troca de... cadáveres. E cadáveres cuidadosamente guardados pelos beligerantes. Macabros mesmo. Excetuando-se o fato de que em si, do ponto de vista de familiares, sua afetividade e dor típicas da condição humana, seria aceitável esse tipo de atitude, esse acontecimento dá bem conta da insensatez louca e perversa da mentalidade bélica.

A guerra em si perde sua instância de conflito histórico, para se tornar a guerra pela guerra. Começou-se a lutar por algum motivo e depois de assimilada a guerra como jogo, esta passa a ser o motivo em si: querem se matar e pronto. A demonstração é a troca de corpos, como se fosse isso uma vitória de ambos os lados.

Há algo de loucura nisso tudo; seja na guerra, seja nessa macabra transação. Não há um passo firme em direção à paz. Mas, tão-somente, mais um episódio da trágica vivência humana. Um disparate, um acabrunhante sintoma de que a humanidade vai firme e forte no caminho de perder por completo a lucidez.

Emanoel Barreto

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O tempo, o tempo, o tempo...

Caras Amigas,
Caros Amios,
Transcrevo soneto de William Shakespeare. Belo.
Emanoel Barreto

Quando penso que tudo o quanto cresce
Só prende a perfeição por um momento,
Que neste palco é sombra o que aparece
Velado pelo olhar do firmamento;

Que os homens, como as plantas que germinam,
Do céu têm o que os freie e o que os ajude;
Crescem pujantes e, depois, declinam,
Lembrando apenas sua plenitude.

Então a idéia dessa instável sina
Mais rica ainda te faz ao meu olhar;
Vendo o tempo, em debate com a ruína,

Teu jovem dia em noite transmutar.
Por teu amor com o tempo, então, guerreio,
E o que ele toma, a ti eu presenteio