terça-feira, 6 de julho de 2021

Bolsonaro, a falência de um mistificador

Por Emanoel Barreto

O protagonismo de alguém que pretende o Poder ou busca naquele se manter precisa estar inserido numa atitude de performance que inclui atitudes de comportamento e atos de pronunciamento.

O comportamento é a ação do líder, olímpico e altaneiro, enquanto o pronunciamento é a enunciação daquilo que pensa, suas formulações racionais ou expressões da passionalidade grandiosa e contagiante; em outras palavras, a utopia que busca levar às multidões.

Bolsonaro, dotado de limitadíssimos dotes de discurso, funcionalmente incapacitado de formular concepções que não as do vulgo mais baixo e medíocre, tem recorrido ao comportamento escoiceante como substitutivo do discurso.

Exemplo: os passeios de motocicleta ou os atos antidemocráticos em Brasília quando liderava indivíduos de baixo perfil democrático  pedindo o retorno da ditadura.

Havia, claro, atos de fala cambaleantes, mas o que valia mesmo era o demonstrativo corporal do agrupamento da turba, buscando passar a ideia de unidade, pensamento único e obsessivo a ser respeitado, mais que isso, temido. O gesto ameaçador em lugar da fala.

Agora, quando seu desmascaramento caminha a passos largos parece que até as atitudes ameaçadoras estão suspensas. Pelo menos domingo passado não houve motociata.

As observações que faço não negam que a pessoa em tela não se pronuncie. Isso seria impensável e impossível a qualquer um que esteja inserido num processo de poder. O que vejo é um ser que tropeça em declarações ordinárias, rudes, chulas e com isso agrega em torno de si pessoas que o espelham e nele são espelhadas.

O processo histórico, no entanto, é implacável: esvaziam-se o discurso patético/ameaçador bem como os atos que substituem a fala, que deveria marcar a tipicidade da figura de liderança. A CPI da covid está esmigalhando a figura tosca que brada urros de agressão. E até uma ex-cunhada o denuncia como comandante do reparte do butim salarial em que está denunciado, o chamado escândalo da rachadinha.

Na verdade Bolsonaro está rachando, tem pés de barro e a partir de 2022 será banido para as páginas mais obscuras da História. Precisa ser lembrado como coisa ruim, mas deve ser relegado ao quarto de despejo das coisas ruins.

domingo, 4 de julho de 2021

 Superando a escuridão

Por Emanoel Barreto

Povos cuja estrutura socioeconômica é mantida e sustentada por um substrato histórico perverso, injusto e explorador tende inexoravelmente a repetir seu processo histórico de sofrimento das classes trabalhadoras, privilegiar fortunas, estimular políticos corruptos e aceitar regimes ditatoriais; e, terminado cada ciclo ditatorial, persiste a possibilidade de que tal situação ameace retornar uma vez, desde que mantidas as bases perversas que lhe dão sustentação. E aquelas sempre são mantidas.

O Brasil faz parte da lista, e hoje vivemos novamente momentos de incerteza política, agravada pela pandemia. A presença de Bolsonaro na cena política é a comprovação exata de que um povo, ou parcela deste, pode sim, em desespero, fazer a opção pelo pior, desde que acredite que esse pior seria uma espécie de taumaturgo a mostrar como se atravessa o Mar Vermelho.

Incapaz de compreender o significado do verbo governar, o citado indivíduo limita-se a criar situações de atrito a fim de manter-se no noticiário ou mais especialmente assegurar a integridade de seus laços com os segmentos que o elegeram.

O processo histórico, entretanto, segue seus passos, e em resposta à desordem implantada por Bolsonaro surgem a resistência e a busca de superação da crise.

As forças democráticas buscam alguma forma de união e mesmo elementos mais à direita se alinham com os interesses populares mais legítimos a fim de em 2022 não tenhamos a reeleição do desastre.

As desigualdades sociais, persistirão, todavia. E quem substituir Bolsonaro deverá dar início a um ciclo de reconstrução do estatuto do que seja governar, administrar, fixar prioridades históricas que visem banir injustiças e criar objetivos de longo prazo nos planos social, econômico, cultural, trabalhista e democrático.

Será preciso, acima de tudo, um decidido esforço civilizacional a fim de retirar o lixo e o entulho bolsonarista que hoje visam embotar corações e mentes.

Mesmo administrando o perigo de repetição do quadro citado no início deste artigo, pois a situação de injustiça não se altera por decreto, precisamos superar esta era de incertezas. É possível. Será realidade.