sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017



O horror que nos domina

A inexistência de uma política nacional de segurança pública permite situações absurdas como a que ocorre no Espírito Santo e ameaça contaminar as Polícias Militares do Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.
O problema, que pode tornar-se sistêmico, atingindo boa parte  do aparelho policial brasileiro, deveria estar preocupando o Planalto.
São, todavia tomadas atitudes pontuais e reativas: a polícia está amotinada e estimula a ação de bandidos?, mandemos as Forças Amadas e vamos levando.
Pior: mesmo com as Forças federais a situação continua em absoluto descontrole em Vitória e grande Vitória.
O Planalto, distante da realidade das ruas, continua às voltas com seus ministros suspeitos e Temer está  muito mais preocupado em atender aos apetites de seus aliados – podemos falar em aliados? – que enfrentar a calamidade da violência.
Enquanto isso, a sociedade está entregue a policiais insubordinados, que não abrem mão de seus salários, mesmo ao custo de vidas humanas. Chantagem, no mínimo, é o que se pode dizer.
Resultado parcial da arruaça dos PMs: informações indicavam que, por culpa policiais do Espírito Santo mais de cem pessoas já haviam morrido nas mãos dos criminosos.
É lamentável. É perigoso. É mortal. É temerário um presidente como Temer.
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Jogo pesado
O senado é composto por 81 senadores. Desses, 12 respondem a processos. E, desse total, dez integram a Comissão de Constituição e Justiça-CCJ, composta por 54 membros. Essa comissão irá sabatinar, em fins deste mês, o ex-ministro Alexandre de Moraes, que era integrante do PSDB e homem de confiança de Temer condição que foi essencial para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal. Dá para sentir o nível dos envolvidos na jogada.
Ameaça inaceitável
A Polícia Militar do RN também ameaça o governo do estado com sedição. Esquecem seus integrantes que seu comandante supremo é o governador Robinson Faria, que precisará ter autoridade e pulso para punir com rigor exemplar quem partir para atacar os interesses da sociedade. As reivindicações por salários e promoções são justas, mas aliança branca da polícia com criminosos é inaceitável.
Mais jogo pesado
Temer é citado na Lava Jato; se ele se afastar do cargo por qualquer motivo seu substituto, Rodrigo Maia, também é citado na mesma investigação. Para completar: o presidente do senado, que também está na linha sucessória, é igualmente embrulhado nas teias da lei. Oremos.
Salamaleque
Quando Lula foi impedido de assumir a Casa Civil do governo Dilma isso se deu de maneira fulminante. Agora o ministro Celso de Melo, do STF, pede explicações a Temer quanto à nomeação de Moreira Franco antes de decidir pela ilegalidade ou não de sua nomeação para a equipe ministerial. Não é suficiente a papelada do processo?




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A beleza que vem e que passa



A desgraça de Temer e o Brasil que ainda é belo

A valer a Lei de Murphy, aquela que diz “se algo pode dar errado vai dar errado”, creio que, sem dúvida, o dito pode muito bem ser aplicado ao governo Temer.
Paulo Whitaker/Reuters
Veja bem: o presidente é um pusilânime acorrentado e refém do PSDB, responde a processo que pode resultar na cassação de seu mandato, está cercado de políticos indiciados por crimes de corrupção e sua – será? – política econômica é um desastre.
Para completar, a queda de ministros é como um dominó previsível e desastroso.
Pode crer: vai dar errado. O governo, além do mais, está às voltas com a crescente insegurança, processo que se alastrou por todo o país.
As sedições de bandidos em presídios conflagrados, e agora o motim da polícia do Espírito Santo são o sinal, o índice, de que algo vai muito mal: e o governo, sucessivos governos, não lavaram a sério a questão da segurança.
A violência tem raízes profundas na injustiça social, nos privilégios, nos achaques aos dinheiros públicos. Dela nascem, ao longo do processo histórico, os bandidos de colarinho branco os brutos que assaltam a matam por um celular.
Tudo afinal estourou nas mãos frouxas de Michel Temer, que vive de um lado para o outro na tentativa de agradar a entourage que o cerca – no pior sentido que tenha a palavra cerco. Tapa um buraco, surge um abismo.
O país explodindo e ele tentando encontrar lugares aonde acomodar as calipígias de seus pegajosos aliados. O desespero é tamanho que se busca desesperadamente atochar no cargo de ministro a um político como Moreira Franco, na tentativa de dar-lhe foro privilegiado. Você já sabe: tudo indica que – Lei de Murphy –  mais uma vez vai dar errado.
Falta a esse governo seriedade e senso histórico. Falta um estadista em Brasília, falta honradez, dignidade, compromisso com a maioria.
Enquanto se busca tirar o que for possível dos trabalhadores, no momento em que se arrocha a legislação trabalhista e as teles podem ganhar de mão beijada bilhões do patrimônio público, a História vai se escrevendo a quente.
E o preço são as multidões de desvalidos que vão se transformar em bandidos e monstros, enquanto se garante o perfume da madame e a noitada do maridão deputado, senador ou manda-chuva de grade empresa.
A Polícia Militar desordeira do Espírito Santo dá a pista: o Estado não pode contar com efetiva certeza quando se trata do seu aparelho armado. E quanto até isso acontece significa que o crime triunfou. Desarticulando até mesmo quem o devia combater. E o crime veio de cima. Veio dos que continuam a apostar na Lei de Murphy, acreditando que um dia ela será desmentida.
Estão errados. Na situação brasileira Murphy será sempre implacável. Resta-nos, entretanto, uma esperança: como no poema feminino que caminha. Apesar de tudo, caminha. E tão cheia de graça.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Justiça fulmina jogada política



Deram uma cama de gato em Moreira Franco
 

Foto: Sérgio Castro|Estadão
A notícia movimentou a tarde e diz o seguinte:
 “O juiz federal Eduardo Rocha Penteado, da 14ª Vara Federal do Distrito Federal, suspendeu nesta quarta-feira (8), em decisão liminar (provisória), a nomeação como ministro da Secretaria-Geral da Presidência de Moreira Franco, um dos principais aliados do presidente Michel Temer”, segundo informou o Universo Online-UOL.
O UOL detalha: “Na decisão, o juiz compara o caso de Moreira Franco, citado por delatores da Lava Jato, com o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a posse na Casa Civil barrada sob suspeita de tentar assumir o cargo para escapar da jurisdição do juiz federal Sergio Moro.”
E mais: "É dos autos que Wellington Moreira Franco foi mencionado, com conteúdo comprometedor, na delação da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato. É dos autos, também, que a sua nomeação como Ministro de Estado ocorreu apenas três dias após a homologação das delações, o que implicará na mudança de foro. Sendo assim, indícios análogos aos que justificaram o afastamento determinado no Mandado de Segurança nº 34.070/DF [que impediu a posse de Lula] se fazem presentes no caso concreto", afirma o juiz em sua decisão.”
Ao que parece o governo Temer tem a triste sina de ver, passo a passo, seus ministros serem expostos à opinião pública como reles criminosos, apesar do colarinho branco e, no caso de Moreira Franco, do fofinho apelido de Angorá, ganho do falecido governador Leonel Brizola.
A respeito, o Estadão, edição de 30 de abril de 2016, revela: “Quem lembra a história é Carlos Lupi, homem de confiança de Brizola durante 20 anos e sucessor do ex-governador na presidência nacional do PDT. Foi Brizola quem deu a Moreira, por causa da cabeleira grisalha precoce, o apelido de ‘gato angorá’. ‘Brizola dizia que a característica do gato angorá é passar de colo em colo. Valia no passado e vale agora. Moreira foi aliado do Fernando Henrique, do Lula, da Dilma, estará no governo Temer, se houver, e não duvido que esteja no governo seguinte’ critica Lupi.”
A atitude do juiz Eduardo Rocha é mais um trompaço na cambaleante equipe do Planalto e mais um elemento a desestabilizar o chamado presidente Temer.
Ao que parece, a situação do sistema hoje no poder é bastante complicada.
Veja só: além de ter como aliado o PSDB, que o está processando no Tribunal Superior Eleitoral -TSE – coisa bastante estranha, paradoxal – o governo lida com inflação renitente e um clima de insegurança pública que se generaliza.
Junte-se a isso o fato de que as 77 delações premiadas da Odebrecht deverão provocar um arraso em Brasília, chegando até mesmo à figura presidencial, e temos a fórmula exata para uma débâcle perfeita.
Os fatos se encaminham para uma cama de gato e, com certeza, o chamado presidente Temer treme ante o que está por vir.