quarta-feira, 13 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Em matéria do Estadão registro de como a corrupção, esse sangue venoso do organismo público, é algo tão comum que já chega a ser normal na vida brasileira. Claro, haverá, já estão havendo, negativas e tudo ficará por isso mesmo. Abaixo:

Empresa afirma que Petrobrás sabia de acordo para fraudar licitação milionária

Direção da Seebla diz ter denunciado em maio, à estatal, irregularidades da empresa do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), a Manchester, que fraudou concorrência de R$ 300 milhões; oposição pede apuração do caso ao MP e ao TCU


Leandro Colon - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A direção da Seebla Engenharia afirmou neste domingo, 10, ao Estado que a Petrobrás sabe desde o dia 11 de maio do assédio da empresa Manchester Serviços Ltda. para fazer um acordo numa licitação de R$ 300 milhões na Bacia de Campos, região de exploração do pré-sal no Rio de Janeiro. A Manchester pertence ao senador Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Beto Barata/AE
Beto Barata/AE
O senador Eunício Oliveira (PMDB) durante sessão da CCJ do Senado


De acordo com a Seebla, o episódio foi relatado à ouvidoria da Petrobrás. O número de protocolo da denúncia, segundo a empresa, é 03.730. Além da denúncia oficial, a empresa também diz que relatou o episódio ao gerente executivo da Petrobrás, José Antonio Figueiredo.

Neste domingo, 10, o Estado revelou que a Manchester, com o intuito de fraudar a licitação, soube com antecedência da relação de concorrentes. O contrato de R$ 300 milhões deve substituir os serviços emergenciais que já renderam R$ 57 milhões sem licitação para a empresa do senador. De posse dos nomes dos concorrentes, a Manchester procurou empresas para fazer acordo e ganhar o contrato. Uma das visitadas pela direção da Manchester foi a própria Seebla, conforme mostram os registros do prédio dessa empresa em São Paulo.

Em resposta ao Estado na sexta-feira, a Petrobrás afirmou que "desconhece" qualquer conversa entre concorrentes antes da licitação. O diretor da ouvidoria da Seebla, Milton Rodrigues Júnior, disse ontem que relatou à Petrobrás "chantagem" e "ameaça de retaliação" pela Manchester antes da licitação, ocorrida no dia 31 de março. O relato ocorreu em 11 de maio, 12 dias depois de a comissão de licitação declarar a proposta da Manchester em primeiro lugar com um valor R$ 64 milhões a mais do que a oferta da Seebla.

Segundo Rodrigues, haverá uma reunião amanhã com a ouvidoria da estatal no Rio para que sejam fornecidos mais detalhes do episódio. No encontro, segundo ele, a Seebla deve informar que tipo de acerto foi oferecido pela empresa de Eunício Oliveira antes da concorrência. Uma proposta que, de acordo com a Seebla, envolveria repasse de porcentuais do contrato que a Manchester fecharia com a Petrobrás. Documentos neste sentido devem ser entregues à estatal.
O senador e a Petrobrás divulgaram notas negando irregularidades no processo.

domingo, 10 de julho de 2011

Jogando dinheiro fora
Emanoel Barreto

No post abaixo desta matéria publico texto meu e reportagem de Maiara Felipe, d'O Poti, a respeito do estado caótico do Walfredo Gurgel. O hospital não tem dinheiro para funcionar de forma decente. Enquanto isso, vejo na Tribuna do Norte texto de Ricardo Araújo a respeito do quanto já se desperdiçou com a Copa do Mundo. São duas formas de manifestação de como os governos tratam a coisa pública. Leia a matéria da Tribuna e depois, faça-me o favor, veja a matéria sobre o Walfredo Gurgel.

RN já gastou R$ 22 milhões só em consultorias e projetos

Ricardo Araújo - repórter

Os gastos com a Copa do Mundo 2014 no Brasil fluem como um rio que corre ao encontro do mar. Até a realização do mundial, serão gastos aproximadamente R$ 5,07 bilhões somente com a construção dos estádios/arenas multiuso. As  obras, porém, serão produtos finais de uma engenharia superdimensionada e, de acordo com especialistas, dispensáveis à maioria das cidades-sede. No Rio Grande do Norte, o dispêndio começou ainda em 2009 e já soma cerca de R$ 22,3 milhões três anos antes dos jogos. São consultorias, projetos executivos, publicidade.

DivulgaçãoO primeiro projeto do Arena das Dunas foi pago, mas dele, pouca coisa pôde ser aproveitadaO primeiro projeto do Arena das Dunas foi pago, mas dele, pouca coisa pôde ser aproveitada
Já as obras, se resumiram a derrubada de uma creche e ao cercamento do estádio Machadão e entorno. Somente o Governo do Estado, gastou cerca de R$ 13 milhões com a confecção de projetos básicos e maquetes virtuais em terceira dimensão que acabaram se tornando inúteis. Mesmo com o cancelamento dos contratos - orçados em R$ 27,47 milhões - com as empresas Populous Arquitetura Ltda e Stadia - Projetos, Engenharia e Consultoria Ltda, o Estado arcou com uma despesa de cerca de R$ 10 milhões. O custo foi confirmado pelo secretário extraordinário da Copa do Mundo 2014, Demétrio Torres.

Para o chefe da Controladoria Geral da União - Regional Rio Grande do Norte, Moacir Rodrigues de Oliveira, a fraqueza dos projetos básicos contribuem para os sucessivos gastos com consultoria. "O que a gente percebe são fragilidades nos projetos básicos que não tem contemplado a obra como deveria", afirma. Além disso, segundo ele, a má  contratação dos planos gráficos e descritivos repercutem na convocação de empresas de consultoria e na renovação dos certames através de aditivos que infringem a Lei das Licitações ( nº 8.666/1993).

De mãos dadas ao Estado, pelo menos nos gastos para o mundial sem transparência, a Prefeitura de Natal já investiu R$ 9,3 milhões em ações voltadas para a Copa do Mundo em Natal. Os gastos incluem desde repasses à Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde) à contratação por R$ 942.030,00 de uma Organização  da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), De Peito Aberto - Incentivo ao Esporte. Há também, os projetos de mobilidade urbana com vistas ao mundial.

O Município contratou o consórcio paulista EBEI e MWH Brasil por R$ 7.276.034,54 para a confecção dos projetos executivos do plano de mobilidade urbana que ainda não saiu do papel quatro meses após a assinatura da ordem de serviço. Além disso, a entrega do projeto executivo à Caixa Econômica Federal, financiadora do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no qual a obra está inscrita, já foi postergada quatro vezes. De acordo com o secretário de Planejamento de Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura adjunto (Semopi), Walter Fernandes de Miranda Neto, as obras dos lote 1 iniciarão ainda este ano, provavelmente em setembro ou outubro.

Mesmo com todos os atrasos e com a monta envolvida na contratação de empresas de consultoria cujos trabalhos não são visíveis, pelo menos por enquanto, a população natalense aprova a realização da Copa do Mundo. Numa pesquisa encomendada à Certus - Pesquisa e Consultoria pela TRIBUNA DO NORTE, realizada entre os dias 2 e 3 deste mês, 68% dos entrevistados aprovam totalmente a vinda da Copa. Em detrimento de 16,8% que desaprovam integralmente os jogos na capital. Foram ouvidas 700 pessoas maiores de 16 anos em Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Parnamirim.
Na boca do lobo
Emanoel Barreto

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Leio estarrecido reportagem de Maiara Felipe n'O Poti sobre o Hospital Walfredo Gurgel. Segue abaixo transcrição parcial. Trata-se de jornalismo do bom, vivido, experienciado, repórter passando a vida por dentro. Confesso, dá medo. A quem estamos entregues? Encontro, à minha pergunta, duas respostas; primeira delas: pelo que li no texto, estamos entregues a médicos que fazem de tudo para atender, sob condições de adversidade que se aproximam do desespero, a gente que foi vítima de uma guerra. No caso, a guerra de um Estado omisso, regido por política de saúde irmã geminada do caos. Segunda resposta: estamos entregues ao deus-dará, ao improviso, à decisão do médico em salvar. Salvar dentro do possível, claro.

Mas, diante dessa situação temos o reverso da medalha: são os planos de saúde. Geridos por empresas que adentram o mercado cientes de que o Estado brasileiro falhou historicamente nessa missão. Mas falhou por falta de vontade política. Dinheiro há, tenho certeza; o que falta é transformar esse dinheiro em verbas, dar-lhe destinação social. Mas a prioridade não é o social. É o interesse político mais rodapé, pedestre e reles. Fazer de conta que se atende ao, vá lá, povo, e seguir adiante de qualquer jeito.

Mas, falava eu sobre os planos de saúde. Eles são, pelo menos se apresentam assim, como o contrário do caos. São o não-mundo, a não-realidade, o privilégio comprado a preço-ouro. Por que "não-mundo", "não-realidade"? Simples: o plano de saúde é uma espécie de seguro contra os maus serviços do Estado. Algo que você paga pedindo a Deus para não ter de usar. O plano dá a sensação de que estamos a salvo, estamos fora da realidade das pessoas comuns, aquelas sujeitas ao cutelo do atendimento improvisado e malfeito. Temos o privilégio de ser doentes especiais, com caminha boa e serviço confiável. Doentes que pagam para ter o insidioso direito de ficar doente do jeito certo. 

Todavia, a realidade é larga como um abismo e profunda como uma fossa oceânica. O Walfredo Gurgel, lembremos, é hospital de urgências. Quer dizer: votado ao atendimento de casos onde as pessoas são vítimas da brutalidade da vida. Mais claramente: qualquer um pode, em situação que tal, ser levado para lá. Um acidente de carro, um assalto, coisas assim, compreende? E aí, salve-se quem puder, pois não há plano de saúde que garanta a segurança de ninguém. Fico por aqui. Leia o texto de Maiara.
 
Walfredo Gurgel: por dentro do caos
O Poti/Diário de Natal acompanhou o sofrimento de funcionários e pacientes em um plantão de 12 horas no maior pronto-socorro do RN

A ineficiência do sistema de saúde pública do Rio Grande do Norte é responsável, direta ou indiretamente, por danos irreversíveis e até pela morte de muitos potiguares, mês a mês, ano após ano, em situações cotidianas que lembram as vividas em um estado de guerra. Pode se dizer responsável diretamente quando a referência é, por exemplo, a de um dos idosos que está entre as 22 pessoas que aguardam nos corredores do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, no Hospital Walfredo Gurgel, por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Indiretamente, quando se observa as condições de trabalho dos profissionais do hospital que fazem um esforço sobre-humano para preservar a vida daqueles pacientes, abarcando para si graves consequências físicas e psicológicas em função disso.


A superlotação gera a já tradicional e dramática cena de filas de pacientes no corredor do hospital Foto:Maiara Felipe/DN/D.A Press
Mesmo sem material, sem leitos, sem condições adequadas de atender o cidadão, no "coração de mãe" do Walfredo Gurgel sempre cabe mais um. Cabe o doente do interior do estado, encaminhado pelos hospitais regionais sem condições de atender os casos de maior complexidade. Cabe o rico e o pobre que venha a sofrer qualquer tipo de acidente. E, apesar da generosidade de sempre acolher mais um "filho", é visível que esse "coração" sofreu um infarto e precisa urgentemente que o poder público tome uma providência para salvá-lo, interrompendo o ciclo de mortes. Mensalmente o Governo do Estado aplica no hospital R$ 10 milhões, que não estão sendo suficientes para receber dignamente toda demanda.

A equipe de O Poti/Diário de Natal passou 12 horas - período que normalmente dura o plantão dos médicos e enfermeiros - dentro do único hospital de urgência traumatológica do estado. No dia 2 de julho, por volta das 7h30, entramos no Centro Cirúrgico, primeiro setor a ser visitado. Na ocasião, o Centro de Recuperação Operatório (CRO) estava lotado. Os pacientes eram levados para o corredor após os procedimentos cirúrgicos. O Centro tem nove leitos, mas o número de pessoas lá dentro passava de 20, sem contar os que ficavam do lado de fora. "Os casos mais críticos ficam lá dentro", explicou o médico. Das seis salas destinadas às cirurgias, duas estão paradas. Uma com o foco do iluminador quebrado e outra interditada por falta de gás no respirador.

Mas, apesar dos problemas, o trabalho não para. Um dos primeiros procedimentos acompanhados pela reportagem na manhã de sábado, foi o de Marcos*, 10 anos, morador do município de Macau. Ele caiu e fraturou o punho e os médicos decidiram fazer uma redução de fratura no seu braço. O procedimento durou cerca de 20 minutos e ocupou uma das salas do Centro Cirúrgico que funcionam atualmente. "O médico de Macau disse que lá não fazia e mandou a gente vir para o Walfredo", justificou a mãe de Marcos sobre o motivo de se deslocar cerca de R$ 180 quilômetros para solucionar uma pequena fratura.

Enquanto Marcos era operado, Juvenal Bispo da Silva, 69 anos, que também caiu em casa, aguardava dentro do consultório do ortopedista, em cima de uma mesa, por uma maca. "Ele veio transportado dentro deum carro de forma inadequada. A suspeita é que ele tenha fraturado o fêmur, mas estamos aguardando desocupar uma maca para ele poder fazer o raio-x", esclareceu o médico de plantão. Segundo relatos da família, o atendimento inadequado começou já em casa. A esposa disse que a ambulância do Samu não considerou o caso de Juvenal urgente e, por isso, ele veio de Ceará Mirim até o Walfredo em um carro fretado e foi conduzido ao consultório em cima de uma tala de madeira, que serve apenas para imobilizar o paciente.

O idoso ficou em cima da mesa onde o médico atendia outros pacientes por 2 horas, tempo depois do qual conseguiu uma maca, fez o raio-x e se internou no corredor, onde fica situada a urgência dos casos de clínica médica e tem mais 54 pessoas. Por trás da parede onde Juvenal ganhou seu "leito", funciona a sala de observação da urgência em clínica médica. O local deixou de ser uma sala de acolhimento de pacientes há muitos anos para se transformar no espaço considerado "privilegiado" na estrutura do hospital, onde ficam pessoas que aguardam por um leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Lá, estão respiradores, que amenizam a angústia de quem necessita da UTI, como Geraldo de Holanda, 75 anos, há 12 dias aguardando uma vaga na sala de reanimação. É que no Walfredo, diante da exorbitante quantidade de pacientes que chegam todos os dias, a sala de reanimação é o primeiro passo antes de conseguir uma UTI. "Ele está cansando, tanto é que quando chegou aqui já foram logo entubando. A médica disse que ele deveria ficar na reanimação, já que não tem vaga na UTI, mas a reanimação também está cheia", disse a acompanhante de Geraldo, que, além da idade avançada, é dependente de hemodiálise duas vezes por semana.

*Os nomes não são verdadeiros para presevar os personagens.