Indignação e nojo ou o pão que o diabo
amassou
Entre perplexo e indignado - indignado não, enojado -, leio
matéria na Tribuna do Norte onde se informa: “O Governo do Estado efetuou o
pagamento da primeira parcela de contraprestação pública pela construção e
administração do estádio Arena das Dunas à construtora OAS. Até dezembro de
2022, serão depositadas parcelas de R$ 10,2 milhões na conta da construtora. A
partir de 2023, o valor sofrerá redução e, ao final dos 17 anos de repasses
mensais, o Estado terá pago mais de R$ 1 bilhão à empreiteira.”
Mais adiante, começa a minha náusea:
“Apesar da Arena das Dunas ter sido inaugurada oficialmente no dia 19 de
janeiro, ter recebido alguns jogos e, na próxima sexta-feira, receber um evento
com shows artísticos, não houve qualquer repasse da administração do estádio
para o Governo do Estado referente à divisão de lucros prevista no contrato
assinado entre as partes.”
Completa o jornal: “O titular da secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à Copa do Mundo 2014 (Secopa), Demétrio Torres, informou que o repasse será realizado somente após uma auditoria nas contas da OAS, o que deve acontecer apenas no segundo semestre deste ano. ‘Vamos começar o processo licitatório para contratar uma empresa de auditores. Somente após a Copa, teremos detalhes’”, disse.”
Completa o jornal: “O titular da secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à Copa do Mundo 2014 (Secopa), Demétrio Torres, informou que o repasse será realizado somente após uma auditoria nas contas da OAS, o que deve acontecer apenas no segundo semestre deste ano. ‘Vamos começar o processo licitatório para contratar uma empresa de auditores. Somente após a Copa, teremos detalhes’”, disse.”
Qualquer débil mental percebe
que trata-se de um negócio arranjado somente para dar dinheiro à iniciativa
privada. O dinheiro público, que deveria ser usado em coisas sérias e urgentes,
além de desperdiçado num campo de futebol que o tempo vai demonstrar inútil
para uma cidade do porte de Natal, está, de forma cifrada, voltado unicamente para
fortalecer a construtora.
Ainda a respeito da empresa,
diz a TN: “O contrato de concessão é de 20 anos, mas os primeiros três anos –
quando o estádio estava sendo erguido – é o chamado “período de carência”
do contrato Governo/OAS. Para a obra, a construtora contraiu empréstimo de
R$ 300 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e desembolsou mais de R$ 100 milhões do próprio bolso.”
Ou seja: a
empresa investiu 100 milhões e tomou 300 milhões a um banco. Qual banco? Um
banco público. Mas, por que foi ao mercado de capitais mantido pelos bancos
privados? Fica a pergunta que não é meramente pergunta retórica.
E ficamos nós, norte-rio-grandenses,
pagando conta astronômica, hiperbólica, louca, cruel. Temos uma chamada classe
política que é mumificada, apegada, agarrada a práticas abomináveis, munida de
um discurso ralo e sórdido que a sociedade anestesiada consome e dá resposta em
forma de voto, coonestando toda a patranha histórica.
Enquanto isso durar vai durar o
Brasil dos muitos que trabalham muito para sustentar os poucos que bocejam a
lucram; os políticos entre eles. Pior: enquanto o Brasil for massa vai ser pão que
o diabo amassou.