sábado, 14 de novembro de 2009

Foto: divulgação
É só um filme. Mas...
Emanoel Barreto

O blockbuster 2012 é isso mesmo: apenas um filme para se ver, quando não há nada de melhor. Mas, sob um aspecto, superficial admitamos, dá o que pensar. A louca aventura nossa à face do planeta, com nossos valores, ambições, ganâncias, etc..., etc...

O que se vê, nos espetaculares e bastante vívivos truques dos efeitos especiais demonstra à larga nossa fraqueza, fragilidade, mortalidade. É apelativo? É. É apenas o cinemão de Hollywood? Sim. Mas, apesar disso, se você se der ao trabalho de, à vista dos fenômenos terrificantes que remoem a Terra, perceber o quanto não valemos nada, ou o valemos muito pouco...

É isso. Só um comentário de quem nem é filósofo nem nada. Só um jornalista e um ser humano perplexo, ante um mundo social que construímos à custa da destruição do mundo onde vivemos. Bom domingo.


sexta-feira, 13 de novembro de 2009


Coisas
Emanoel Barreto

Há coisas que não se faz.
Há coisas que não se diz.

Há coisas de que não se fala.
Há coisas de que não se cala.

Há coisas que é preciso fazer antes que o tempo se acabe.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Foto: http://sol.sapo.pt/photos/crisruas/images/332027/425x425.aspx
Aziago
Emanoel Barreto

Um som cavo, regougo, rompeu um fim de tarde triste.
Um barco parou no mar em água funda e suas velas estavam mortas para o vento.

Um velho deitou de lado, dormiu e morreu.
Alguém calou ao ver o crime mais terrível.

E assim mais um dia se passou.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Foto: Lula Marques/Folha Imagem

A falsa rebeldia ou rebeldes sem causa

Emanoel Barreto

A Folha Online traz a foto acima, com o seguinte texto: "Alunos ficam pelados na sala da reitoria da Unb (Universidade de Brasília) em repudio ao ato contra Geyse Arruda na Uniban." Pergunto: o que tem a UnB com a questão da jovem que foi apupada pelos colegas, por vestir-se com vestido curto demais? Por que tentar politizar (existe uma política do corpo, lembra?) numa universidade o que aconteceu em outra, a Uniban?

A jovem foi agredida pelos colegas na Uniban. Errado. Muito errado. Erraram todos os que o fizram. Todavia, levando o caso para outra visão, distanciada e crítica, o que temos? Temos, objetivamente, uma moça que, manipulada pelos padrões da indústria da moda, que diz que a mulher para ser vista como bela deve mostrar-se semidesnuna, revela-se frívola e desconhecedora de que a mulher não precisa assumir-se como objeto sexual para se impor ou anunciar-se como bela.

E os rapazes e moças da UnB, por que não comparecem seminus no cotidiano de suas aulas? Se esse seria o normal de cada um, a convicção de cada um, esse comportamento idiossincrático deveria tornar-se corriqueiro. Ai, sim, seria o exercício de uma política do corpo consequente. Cada um vestindo-se, ou desvestindo-se a seu talante, e exigindo respeito a essa individualidade.

O que ocorreu em Brasília foi apenas uma manifestação tardia, um ersatz, um sucedâneo tolo dos já distantes protestos e happenings dos anos 1960. Naquela época existia todo um sentimento de contracultura, uma postura forte de ruptura com os padrões. Hoje, apenas tentativa pálida de protesto de um grupo de jovens que, certamente, preferiu um comportamento discrepante e fugaz, em vez de fazer seus deveres de casa.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Imagem: http://1.bp.blogspot.com/_lZz3fUzEBQs/Se0NDaZ4OVI/AAAAAAAAAFY/uRdmTRiFtT4/s400/Liberdade.jpg
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós
Emanoel Barreto

Um ambulante sentou-se à praça do mercado e ao lado colocou um saco aparentemente vazio. Para espanto dos que passavam, anunciava a altos brados que no saco havia mercadorias que todos desejariam comprar. Vendia de tudo, garantia, para uma vida mais feliz.

Aproximou-se uma mulher triste perguntou se vendia alegria. Claro, ele disse. E, metendo a mão no saco, tirou-a inteiramente vazia. A mulher contestou. Ali não havia nada. Mas ele garantiu: havia sim. Ela poderia tocar. A mulher estendeu a mão e tocou em algo macio, gostoso de pegar. Era a alegria. A alegria é invisível, sorriu o vendedor. Você só pode sentir. A mulher pegou a alegria e seus lábios se transformaram em sorriso.

Alguém pediu felicidade. Ele advertiu: felicidade é mais difícil. É mais cara. Quer assim mesmo? Queria, a pessoa queria. Pagou, recebeu a invisível mercadoria, mas não sentiu-se feliz. O senhor me enganou. Ele rebateu: não enganei. É que a felicidade precisa de complementos. Se quiser mesmo ser feliz, precisa também comprar ousadia, luta e ter já em si - e isso ele não podia vender - capacidade de saber usar a felicidade, mesmo que os outros sejam contra. A pessoa desistiu e continuou infeliz.

Em seguida veio um homem, que queria liberdade. Liberdade?, ele perguntou e em seguida disse: tenho de diversos tipos. De primeira, de segunda e de terceira. Como assim?, quis saber o homem. É o seguinte, disse o vendedor: liberdade de primeira exige que o comprador, para usá-la, tenha coragem. Sem coragem, ninguém é livre; liberdade de segunda é aquela que lhe dizem que é liberdade, ou seja: você é livre segundo o que já está determinado.

O homem entendia. E liberdade de terceira?, quis saber. Bom, essa, afirmou o vendedor, é a liberdade de quem não tem coragem porque nunca a descobriu; força, porque nunca se testou e passos, porque nunca caminhou. Qual vai querer?

E você, que me lê, qual vai querer?


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Foto: Pawel Kopczynski/Reuters

Menos, companheiro, menos...
Emanoel Barreto

A foto da Reuters registra o momento em que mulher deposita flores onde já foi o muro de Berlim, cuja queda é hoje comemorada como marco de "liberdade". Sem qualquer louvação ao tipo de socialismo praticado pelos alemães do leste, é preciso levar-se em consideração o que é "liberdade". Todos os sistemas do mundo se apresentam como regimes de liberdade.

Liberdade para quem? Para o geral, para o todo, ou para os que criam esse conceito? O totalitarismo no estilo soviético é algo deplorável, uma espécie de depravação civil. Mas, imaginar-se que, sob o capitalismo, que é também uma forma de totalitarismo, estamos em liberdade, é algo que a ideologia, como falseamento da realidade, trabalha e muito bem.

Foi bom cair o muro? Foi. Mas, entendo que não há liberdade onde persistem pobreza, discriminação, sofrimento e manipulação de seres humanos para o lucro de uns poucos. De qualquer maneira a democracia formal, em sua formalidade mesma , é algo que permite vislumbre da possibilidade de um passo adiante, para uma sociedade mais justa.

Mas, insisto: dizer que se comemora a "liberdade" é um pouco de exagero, no mínimo isso. Pode-se comemorar? Até creio que sim. Mas, menos, companheiro, menos...