sábado, 23 de agosto de 2014

A violência como ato político



OK, man,vamos matar!
"A guerra é a continuação da política por outros meios". Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz tinha toda razão quando fez a afirmativa em sua obra Vom Kriege (Da Guerra), publicada postumamente. As formas democráticas de negociação cedem espaço aos gestos, atos de brutalidade, manifestações da mais essencial e clara barbárie.

Tem sido assim desde os temos imemoriais, quando o homem, ainda em estado básico, resolvia as questões entre as hordas à base do porrete e da pedra, atitude que continuou ao longo do caldeamento das eras até chegarmos às civilizações clássicas e aos fatos que conosco mantêm proximidade histórica: Primeira e Segunda Guerras, Vietnã e Coreia, por exemplo; sem esquecer as revoluções e conflitos muito bem expressos na feroz situação do Oriente, onde as ideologias transformaram em feras humanas os israelenses, palestinos e, óbvio, os americanos, mestres de cerimônia da insanidade e do açoite.

As duas capas selecionadas para ilustrar este artigo dão bem ideia do que afirmo:  ao lado,fanáticos da causa palestina prestes e assassinar compatriotas acusados de traição em conluio com Israel, e (abaixo) o jornalista americano pouco antes de ser decapitado por alguém ideologicamente demencial ligado aos islamitas.

No primeiro caso o “justiçamento” de palestinos por seus iguais demonstra o grau de cegueira a que leva o fundamentalismo: a suposta causa e a violência como ação política sobrepõem-se a tudo; e o “inimigo”, qualquer que seja ele, é parte desse “tudo” eleito e delineado para ser isso mesmo: um algo, um tudo que a tudo assujeita e a todos obriga a segui-lo. 

Posta tal ideia em prática não há argumento, sensatez ou proposta que valha a pena ser considerada: a violência assume a primazia das ações, subsome o discurso político e passa a ser afinal a razão de ser de si mesma, torna-se ontológica, essencial em si, a si e para si. Pronto. Simples assim. Quem discordar morre. 

No segundo aspecto o assassinato do jornalista americano James Foley por um matador do Isis (Isis é a sigla em inglês de Estado Islâmico do Iraque e do Levante). É a resposta feroz e perversa à opressão institucional dos EUA sobre os povos mais fracos, resposta violenta que facções mais estúpidas do islamismo tomam emprestadas ao Corão e aplicam, moldam a seus interesses nascidos e deturpados a partir do chamado livro santo. 

Temos, no caso do jornalista, a convergência de ação e reação de forças obscurantistas opostas e que se enfrentam: de um lado o imperialismo das elites americanas; do outro a resposta do islamismo em forma bestial, cruenta, cruel, covarde. 

No meio, a figura do homem capturado e tornado figura icônica, representação essencial do Inimigo, o Grande Satã Americano a quem é preciso exorcizar pela morte. Da mesma forma os EUA capturam e levam a Guantánamo, em Cuba, seus inimigos para torturá-los fora do seu território. Muito conveniente. 

Israel industrializa ainda hoje o chamado holocausto, mas não se furta de matar homens, mulheres e crianças, indiscriminadamente, quando busca aqueles que lhes sejam militarmente hostis na Faixa de Gaza. Um crime justificando o outro, uma aberração clamando seu sucedâneo. E assim caminha a humanidade. O grande problema é aonde chegaremos com isso. Temo que não seja a bom lugar.