sábado, 21 de maio de 2011

Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces Faces

Bob Dylan
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://i1.r7.com/data/files
Irmã Dulce e o tumulto

--- Walter Medeiros* 
 
O noticiário tem falado sobre a beatificação da Irmã Dulce, neste domingo, 22 de maio de 2011, em Salvador/BA. São aguardadas setenta mil pessoas na cerimônia que mudará a condição daquela que levou a vida realizado um trabalho de valor inestimável em favor dos menos favorecidos. Sua biografia mostra que aquela freira começou ainda jovem a cuidar dos pobres e doentes. Seis décadas atrás ela improvisou uma enfermaria num galinheiro em terreno onde hoje há um hospital que atende gratuitamente 150 mil pessoas por mês e emprega muita gente que ela amparou. E na forma das leis canônicas, a ela é atribuído um milagre considerado comprovado. Irmã Dulce morreu em 1992, aos 78 anos. 
 
A imagem da nova beata, tão marcante – aparentemente frágil, mas ao mesmo tempo tão forte – faz recordar um episódio vivido nos anos oitenta, em Salvador, quando da realização do Congresso Nacional dos Jornalistas Profissionais. Naquela época eu era delegado do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte e Diretor da Federação Nacional dos Jornalistas. Havia uma disputa muito grande entre os jornalistas ligados aos partidos da esquerda e o Partido dos Trabalhadores – PT, ao mesmo tempo em que todos lutavam pelas liberdades democráticas, eleições livres, pelo fim do regime militar. 

Mas nas discussões, a coisa era bem acirrada. Haviam debates acalorados e qualificados entre companheiros da estirpe de Audálio Dantas, Rogério Medeiros, Armando Rollemberg e tantos outros, que muito fizeram nas históricas lutas da nossa categoria. Numa tarde do Congresso de Jornalistas, havia um impasse, um petista subiu à mesa e tomou o microfone para tentar forçar o rumo da assembléia. A platéia discordou do tumulto e partiu para uma imensa vaia: trezentos jornalistas vaiando a mesa no Centro de Convenções.

Estava agendada para aquela mesma hora uma visita de Irmã Dulce, que proferiria uma mensagem aos presentes. Ela chegou pontualmente e, desavisadamente, abriram a porta que dava acesso ao auditório e a introduziram ao recinto. Em  meio àquela ovação, lá seguia aquela freira pequena e magra, de vestes brancas, no rumo da mesa dos trabalhos, debaixo de vaia. 

Rapidamente a platéia percebeu, e numa cena impressionante a vaia foi revertida numa sucessão de aplausos jamais presenciada. O clima mudou completamente e ela fez sua rápida preleção.
Depois que ela saiu, não havia mais aquele ímpeto de desacato, de briga, de enfrentamento violento, pois houvera até alguém com um microfone na mão para passar em outro alguém. A assembléia retomou seu ritmo normal e os jornalistas brasileiros concluíram sua pauta de reivindicações e protestos por dias melhores para o povo brasileiro. Recordo bem aquele momento, em que qualquer um percebia que o destino de Irmã Dulce seria algo além daquele seu trabalho social, que por si só já era uma coisa tão inegavelmente divina.
*Jornalista
Lalo de Almeida/Folhapress
Vida de povo, vida de gado

Leio na Folha e logo abaixo comento: Em um abrigo de ônibus da avenida Padre Pereira de Andrade, em Alto de Pinheiros (zona oeste de SP), garranchos coloridos formam um painel de pichações. Na av. professor Fonseca Rodrigues, perto da praça Panamericana, o spray deixa um palavrão e a reivindicação: "Passe livre aos estudantes".
A situação de abandono e depredação dos cerca de 7.000 abrigos de ônibus com cobertura da capital foi constatada pela Folha em 20 pontos diferentes, nas zonas oeste, sul e central. 

O sentimento comum entre os usuários ouvidos é de resignação. "É comum tomar chuva debaixo do abrigo, mas a gente nem repara, porque já estamos acostumados", diz a doméstica Simone Molica, 42, que estava na avenida Jabaquara. 


"Onde há abrigos, estão mal conservados, falta limpeza, pintura e arrumar as coberturas, que muitas vezes estão quebradas", diz a professora Rosa Maia, 37, que esperava um ônibus na av. Brigadeiro Luís Antônio."Às vezes todas as telhas estão quebradas", diz o aposentado Eliakim Bezerra, 69, na rua Fagundes Filho, na Saúde (zona sul). O ponto ficou cerca de seis meses com o teto arrebentado e foi consertado há um mês. 

Em toda a cidade, há cerca de 19 mil pontos de ônibus --63% deles não têm cobertura. Apenas 4.000 possuem assentos, que são colocados preferencialmente perto de hospitais, escolas e asilos.
............. 
Elegia do povo só


Sina ou sorte perigosa, eis a visão do povo: 
largado à própria sorte, cabisbaixo e perdedor. 
Acostumado com o medo, se abriga sempre ao léu.
Depois, triste e decaído,
caminha ao seu próprio fim


Nos arrabaldes da vida, se perde onde puder.
Se puder, pede ajuda, que de ninguém não terá.
E tendo o que não é ter
Sabe que jamais terá o que o seria o tal ter. 


O povo é um bicho manso,
perdido num campo grande.
É gado que come a fome
E da fome enche a barriga.

Depois nem berrar não pode
Que disso desaprendeu.
E calado segue o passo
Até se tornar jamais.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

 A Adurn como sindicato

Recebi da Associação dos Docentes da UFRN-Adurn, texto que abaixo publico:

Por que o ADURN-Sindicato? Para que a entidade tenha identidade própria e seja, de fato e de direito, um Sindicato,com todas as suas prerrogativas organizacionais e jurídicas.

E o que há de novo no ADURN-Sindicato? Além de adequar a entidade às normas legais vigentes e ao espírito do Novo Movimento Docente, a categoria aprovou um Estatuto que privilegia a democracia direta, instituindo o plebiscito como forma de colocar o associado sempre em consonância com a discussão das grandes questões que envolvam a categoria docente.

Para consolidar o ADURN-Sindicato, 20% dos associados precisam participar da Assembléia no dia 2 de junho e convalidar o que já foi decidido e aprovado pela maioria da categoria em julho de 2010.

Consolidar o ADURN-Sindicato é olhar para o futuro. Para um Sindicato que terá LIBERDADE para decidir seus rumos, SOBERANIA para tratar de temas que tenham impacto direto na categoria e INDEPENDÊNCIA para contribuir para a construção da FEDERAÇÃO de professores das IFES.

Portanto, a Diretoria da ADURN CONVOCA a categoria, pedindo que os colegas façam um esforço para comparecer à Assembléia no dia 2 de junho, no auditório da Reitoria da UFRN.

Fortaleça sua entidade. Participe!
Por uma ADURN Livre e Soberana!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Depoimento da professora Amanda Gurgel

Deu no Observatório da Imprensa:

COMUNICAÇÃO INCOMUNICÁVEL
Quarto Poder pediu demissão
Por Alberto Dines em 17/5/2011
Até recentemente quem estava nas manchetes da mídia impressa era a própria mídia impressa: "O jornalismo no papel vai acabar", "Jornais estão condenados" etc., etc., são títulos fake, obviamente inventados por este observador para retratar o clima funesto e apocalíptico que envolvia e envolve tudo o que se relaciona com a mídia impressa.
Acontece que nos últimos tempos o noticiário vem se encaminhado na direção contrária: quem está visivelmente atrapalhada é a vasta galáxia cibernética. E, apesar disso, nem os veículos impressos nem os digitais conseguem recolher, compactar, contextualizar e dimensionar a sucessão de acidentes numa análise serena e ordenada.

Em pouco menos de um mês tivemos os buracos na "nuvem" da Amazon, a admissão do fracasso do jornal-tablete The Daily, depois o perturbador aviso da Sony de que as conexões do sistema Playstation foram manipuladas por hackers.

Agora são emitidas sérias advertências sobre a iminência de uma bolha causada pela irracionalidade da competição entre as empresas de TI. Campeia uma briga de foice entre os alucinados gigantes do setor. O mundo midiático jamais assistiu a um vale-tudo com estas proporções e intensidade.

Real e virtual
Entre as dramáticas revoluções ocorridas desde o fim do século 19 no campo da comunicação – pelo menos 10 – nenhuma foi tão drástica, surpreendente, trepidante e desnorteadora como a que estamos vivenciando, como agentes ou pacientes.
O grande problema é que este desvario está sendo informado de forma fragmentada, intermitente, insuficiente e disfarçada. A mídia digital não tem fôlego nem perspectiva para se autoanalisar enquanto a mídia tradicional encontra-se tão emasculada e autoaviltada que perdeu suas referências e a capacidade de enunciá-las.

"Paramos as máquinas, amanhã estaremos no twitter", proclama o "Cidadão Kane, Parte II". A mídia impressa assumiu-se como moribunda quando anunciou o seu funeral como se fosse façanha. E, enquanto não some definitivamente, saracoteia travestida de internet fingindo-se wired, plugada. O virtual impõe-se ao real, tudo é símile e simulação.

Processo irrefreável O espetáculo chamado progresso tem os comunicadores como protagonistas, mas não consegue se comunicar. Estamos vivendo uma hora estelar com a cabeça enfiada na areia e o bumbum apontado para a Via Láctea. Simplesmente porque os papeis estão trocados e truncados – vendedores de maquinetas imaginam-se filósofos e filósofos estão mesmerizados: preferem investir nas bolsas em vez de tomar a sua dose diária de cicuta.
É evidente que o processo digital não será revertido, nem freado. É evidente também que esta alucinação generalizada só interessa aqueles que cansaram de ser Quarto Poder.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Transcrito do Forum Nacional dos Professores de Jornalismo
O fim da educação
Nelson Pretto
De Salvador (BA)

A vida de pesquisador nas universidades está ficando cada dia mais estranha. Quando comecei minha vida acadêmica no Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia, recebi logo na chegada um lugarzinho, uma sala com ar condicionado, escrivaninha, cadeira, máquina de datilografar, um telefone - que na verdade não funcionava lá muito bem! -, papel e caneta. Os livros, estavam na biblioteca ou os comprávamos, porque também não se publicava tanto quanto hoje. Dividia a sala com mais um colega e, dessa forma, fazia minhas pesquisas sobre o ensino de ciências e dava aulas na graduação. Depois, passei a integrar o corpo docente da pós-graduação em Educação e, também por lá, sem nenhum luxo e bem menos infra, tinha as condições mínimas para pesquisar sobre a qualidade dos livros didáticos, campo inicial de pesquisa na minha vida universitária.
O tempo foi passando e a universidade foi se especializando no seu novo jeito de ser. Foi crescendo e ganhando força a pós-graduação, apareceram os grupos de pesquisas que passaram a ser cadastrados no CNPq, surgiu o Currículo Lattes - o Orkut da academia -, a CAPES intensificou a avaliação da pós-graduação e... a guerra começou. Com as demandas para a pesquisa cada dia sendo maiores e o com os recursos minguando (o Brasil investe em C&T apenas 1,2% do PIB enquanto os Estados Unidos, por exemplo, investem 2,7%), a avaliação da produtividade - palavrinha estranha no campo da pesquisa científica, não?! - ganha corpo, no Brasil e no mundo. "Publicar ou perecer" virou o mantra de todo professor-pesquisador. Mais do que isso, nas universidades não temos mais aquelas condições básicas dadas pela própria instituição já que, de um lado, ela foi perdendo cada vez mais seu orçamento de custeio e, de outro, as demandas aumentaram muito uma vez que, mesmo na área das Humanas, necessitamos de muito mais tecnologia. Por conta disso, temos que, literalmente, "correr atrás" de recursos através dos chamados editais. Assim, cada grupo de pesquisa vive em função de sua capacidade de captação de recursos - quem diria que estaríamos falando assim, não é?! - e transformaram-se em verdadeiros setores administrativos nas universidades. Demandam secretários, contadores (esses, seguramente, os mais importantes!), administradores, bibliotecários, constituindo-se em um verdadeiro aparato burocrático para dar conta das cobranças formais de cada um destes editais e de suas famigeradas prestações de contas.
Pois quando pensamos que já estávamos no limite, e os colegas Waldemar Sguissardi e João dos Reis da Silva Jr com o seu "O trabalho intensificado nas Federais" mostraram bem o fundo do poço, sabemos através do colega Manoel Barral-Neto no seu blog "Sciencia totum circumit orbem" que pesquisadores chineses estão recebendo um "estímulo" equivalente a 50 mil reais para publicar suas pesquisas nas revistas de "alto impacto" científico, a exemplo da Science. Nos comentários que se seguiram ao texto, tomamos conhecimento com a postagem de Renato J. Ribeiro que a Universidade Estadual Paulista (UNESP) está dando um prêmio de cerca de 15 mil reais para quem publicar na Science ou Nature, duas revistas de alto "fator de impacto".
Também de São Paulo outra noticia veio à tona recentemente: o resultado da última avaliação realizada pelo Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) apontou que os estudantes não se deram muito bem na avaliação de 2010. É com base no rendimento dos alunos que os professores da rede estadual paulista recebem uma gratificação - um bônus - no seu salário, num esquema denominado "pagamento por performace", implantando no Estado supostamente para "estimular" a melhoria da educação paulista. O que se viu com os últimos resultados é que essa estratégia não funcionou.
E não funcionou porque esse não pode ser o foco da avaliação da educação. A educação, em todos os níveis, precisa ser fortalecida, mas não como o espaço da competição e sim como um espaço de formação de valores, da colaboração e da ética. Em qualquer dos seus níveis, a educação precisa ser compreendida como um direito de todo o cidadão e que não pode ser trocada por uns trocados.
Lembro Milton Santos: "essa ideia de que a universidade é uma instituição como qualquer outra, o que inclui até mesmo a sua associação com o mercado, dificulta muito esse exercício de pensar". De fato, com um dinheirinho extra por cada publicação, com um novo edital disponível para o próximo projeto, com a avaliação da CAPES na pós-graduação batendo às portas, deixando todos de cabelo em pé, e com a lógica do "publicar ou perecer", parece que estamos chegando perto do fim da universidade enquanto espaço do pensar e do criar conceitos. Viramos, pura e simplesmente, o espaço da reprodução do instituído.
E isso é, no mínimo, lamentável. Na verdade, é o próprio fim da educação.


Nelson Pretto é professor e já foi diretor (2000-2004 e 2004-2008) da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Membro titular do Conselho de Cultura do Estado da Bahia. Físico, mestre em Educação e Doutor em Comunicação.