sexta-feira, 14 de março de 2008

Mé dá um dinheiro aí!

Caros Amigos,
A secretária de Estado americana Condoleeza Rice, em sua passagem por Salvador, diz o Estadão Online, foi abordada por um menino que lhe pediu um real. Logo depois de passar pelo esquema de segurança, o menino fez o pedido, ele não entendeu o que a criança queria e esta, logo em seguida, foi afastada pelos agentes. Depois, ela foi homenageada pelo Olodum.

Só um comentário: até quando ficaremos dançando e rendendo graças aos senhores do mundo?; até quando as nossas crianças ficarão pedindo esmolas a essa gente?; até quando veremos como um favor e uma honra que condoleezas venham aqui, como quem faz um favor?
Emanoel Barreto
Foto: EFE

quinta-feira, 13 de março de 2008

Spitz: o governador que ficou em maus lençóis


Caros amigos,
Os jogos eróticos do agora ex-governador de Nova Iorque, Eliot Spitzer, continham, além do dado afrodisíaco-hedonístico, um molho que, literalmente, penetra bem fundo nos interesses da sociedade norte-americana: o dinheiro. Os agentes federais que acompanhavam os depósitos do governador a favor de firmas fantasmas que financiavam prostituição, certamente vigiavam mais o destino do money que os arroubos, os êxtases e enlevos do fauno governante em seus encontros com Ashley Alexandra, a moça da foto.
A questão moral, de estar um político de alto escalão envolvido com uma vendeuse d'amour, ficaria, certamente, em segundo plano. O culto ao dinheiro, lá, é tamanho, que nas notas de dólar está a sugestiva declaração "In God we trust". A questão era o descaminho de dinheiro, sem que o fisco tivesse sua quota. Ou seja: dinheiro girando, alguém lucrando, mas o Tesouro nada recebendo, em termos de tributo.
O dado moralidade, entretanto, tem peso específico para os americanos. E, quanto esse ingrediente insinuou-se entre os ternos e macios estofos do casal clandestino, vindo então o caso a público, fez-se soar a voz estardalhaça da tradição anglo-saxã, branca e protestante: vade retro infidelis pater. O resultado, todos já sabemos.
Enquanto isso, numa sociedade como a brasileira, mestiça, liberal, febrilmente brilhante de bacante alegria, o então presidente Itamar Franco compareceu a uma festa carnavalesca na companhia de uma mulher, uma modelo, que não portava, sob o vestido curto, uma delicada pecinha do vestuário íntimo feminino. Foram feitas e publicadas fotos. Houve comentários, chacotas. Mas... deu em nada. O fato não foi tratado como escândalo; muito mais como uma patuscada, um ato burlesco, do folclórico político mineiro.
Na verdade, o caso é mais uma visão da hipocrisia da sociedade americana. A leniência de costumes é prática antiga - aqui e lá -, e o maior ou menor repúdio a tais comportamentos depende da sociedade onde tais ocorrências se dão e venham a conhecimento público. Vejamos: se nada disso viesse a público, o governador ainda estaria em pleno mandato. Sua imagem de pater familias estaria intata. E a de homem público também.
Resumindo: o caso extra-conjugal em si, em nada compromete sua competência administrativa. Ele deveria ser socialmente julgado, sim, por enviar dinheiro a empresas fantasmas, que davam respaldo à rede de prostituição. A questão moral deveria ser resolvida entre ele e sua família. De qualquer maneira, Spitzer acabou em maus lençóis.
Emanoel Barreto
* Para não dizer que o Terra Brasilis não deu sua contribuição erótico-emprersarial ao caso, quem dirigia o negócio era a brasileiríssima Andréia Sachwartz. E jovem a moça, heim? Tem 33 anos. Quer dizer: tinha que ter samba no meio.
Foto: MySpace

quarta-feira, 12 de março de 2008

Epa! Upa! Eita!

Caros Amigos,
Aristóteles ensinava que "o homem é um animal político", ou seja: habitava a pólis, a cidade-estado grega e, imerso nessa realidade, suas atividades eram "políticas" na medida em que, como cidadão, ele participasse das decisões debatidas na ágora, a praça pública. Detalhe: cidadão era apenas o homem livre, senhor de terras e da casa, sobre as quais exercia sua autoridade. Mulheres, crianças ou jovens, e escravos, além de estrangeiros, claro, estavam fora desse conceito de cidadania.

Pois muito bem. Chegado aos tempos de hoje em dia, política é coisa bem diferente e, de alguma forma, todos sabemos o que ela seja. Não é o caso de, aqui, serem discutidos extensos rasgos teóricos, conceituais ou ideológicos. Só para não deixar a coisa em branco, podemos dizer que política é a luta pelo poder estatal e a busca, por um homem ou grupo de homens, de ali permanecer, exercendo o governo. Pronto.

Outro detalhe: o animal político, o bicho político, é esperto como ele só. De esperto, passa a ser experto. No contato com os jornalistas, com o tempo aprende a emitir comportamentos que terão valor de notícia e, assim, rapidamente, se mimetiza aos tipos noticiosos e enquadramentos que os jornalistas acionam para dar destaque a um fato.

Na foto do presidente Lula, temos um exemplo clássico, típico, infalível, de comportamento que chama a atenção dos repórteres. Ele sabia que, agindo do modo como agiu. Estava em Dianópolis, Goiás e falaria para cerca de quatro mil pessoas, durante cerimônia realizada num projeto de irrigação.

Então, eis que surge aquele obstáculo arquitetônico e ele, pá!, não perdeu a oportunidade: passou por baixo, numa posição inenerravelmente difícil, para chamar a atenção. Mas, isso não é uma culpa: é um hábito. Não é de hoje que os políticos põem criancinhas no colo, andam de braços dados com jogadores famosos ou vão até favelas "inspecionar" obras de urbanização.

Faz parte do espetáculo da política e do espetáculo do jornalismo. Trata-se, no final, de uma distorção: aquilo que deveria ser informação, pelo inusitado, pelo inesperado, tornou-se em técnica de marketing, que no final de contas o jornalismo absorva porque, ao fim e ao cabo, não deixa de ser notícia.
Emanoel Barreto
Foto: Ed Ferreira/AE

terça-feira, 11 de março de 2008

Arrivederci, Nápoles

Caros Amigos,
A imagem é de Nápoles, mas sem o lirismo, a dolce vita, o dolce far niente, a beleza romântica e o encanto que o mundo já conheceu, da linda - linda? -, cidade italiana. Nápoles, dominada pela Camorra, convive há anos com o lixo e transformou-se, literalmente, em uma área de lamentos. Não há mais bandolins ou romances. A sujeira amanheceu no meio da rua.

A Camorra controla os serviços de coleta e, em determinados pontos, enterrou lixo tóxico, vindo de outras partes do país, dizem as coisas de jornal. Há corrupção na polícia e, ao que parece, não surgiu ninguém com autoridade suficiente, ou coragem, para enfrentar a situação.

Assim é o nosso mundo: no Rio, o lixo é a violência, criteriosamente espalhada, meticulosamente apta a atingir qualquer um, em qualquer lugar; na Itália, Nápoles sumerge no lixo sólido e transforma seus habitantes em estranhos personagens desse Inferno de Dante pós-moderno.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 10 de março de 2008

Os Rubayat

Caros Amigos,
Hoje lembrei-me, não sei porquê, do grande poeta persa Omar Khayyam. Pesquisando na net, encontrei uma tradução do seu mágico e belo Rubayat. Compartilho com vocês alguns trechos, antecedidos por texto de Alfredo Braga, o tradutor:
"Omar Ibn Ibrahim El Khayyam nasceu em Nichapur, na Pérsia, em 1040 e morreu nessa mesma cidade em 1120. Khayyam significa, em persa, fabricante de tendas; ele adotou esse nome em memória do pai que era fabricante de tendas. Além de poeta, Omar Khayyam foi matemático e astrônomo. Dos seus livros de ciência chegaram até nós o Tratado de Algumas Dificuldades das Definições de Euclides e as Demonstrações dos problemas de Álgebra. Em 1074, diretor do Observatório de Merv, fez a reforma do calendário muçulmano. Rubaiyat é o plural da palavra persa rubai, e quer dizer quadras, quartetos. No rubai, o primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados, o terceiro é branco. Nesta “tradução”, não mantivemos a rima, nem a métrica “originais".

Os Rubayat
Nunca murmurei uma prece, nem escondi os meus pecados.
Ignoro se existe uma Justiça, ou Misericórdia;
mas não desespero: sou um homem sincero.

O que vale mais? Meditar numa taverna,
ou prosternado na mesquita implorar o Céu?

Não sei se temos um Senhor, nem que destino me reservou.
Olha com indulgência aqueles que se embriagam;os teus defeitos não são menores.

Se queres paz e serenidade,
lembra-te da dor de tantos outros, e te julgarás feliz.

Que o teu saber não humilhe o teu próximo.
Cuidado, não deixes que a ira te domine.

Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere;
não firas ninguém.

Busca a felicidade agora,
não sabes de amanhã.

Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
talvez amanhã a lua me procure em vão.

Não procures muitos amigos,
nem busques prolongar a simpatia que alguém te inspirou;

Antes de apertares a mão que te estendem,
considera se um dia ela não se erguerá contra ti.
Há muito tempo, esta ânfora foi um amante, como eu:sofria com a indiferença de uma mulher;
A asa curva no gargalo é o braço
que enlaçava os ombros lisos da bem amada.

Que pobre o coração que não sabe amar
e não conhece o delírio da paixão
Se não amas, que sol pode te aquecer,
ou que lua te consolar?

Hoje os meus anos reflorescem.
Quero o vinho que me dá calor.
Dizes que é amargo?
Vinho! Que seja amargo, como a vida.

É inútil a tua aflição; nada podes sobre o teu destino.
Se és prudente, toma o que tens à mão.
Amanhã... que sabes do amanhã?

Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.

Não vamos falar agora, dá-me vinho.
Nesta noite a tua boca
é a mais linda rosa, e me basta.

Dá-me vinho, e que
seja vermelho como os teus lábios;
o meu remorso será leve como os teus cabelos.
Um abraço,
Emanoel Barreto
PS: O nome do poeta, completo, seria o seguinte, de acordo com a Wikipédia: Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam