sábado, 7 de janeiro de 2012

Lembrança da Festa de Santos Reis
--- Walter Medeiros
 
Dia desses, comentando com uma amiga sobre um fato ocorrido nos anos setenta, quando ela emprestou sua casa no Alto do Juruá para estudantes da UFRN realizarem uma reunião política clandestina, ela ficou meio sem jeito, pois não fazia parte do grupo, já que era, então, formada, e voltou-se com uma resposta inesperada: “Walter, eu acho que você está ficando velho”. Interessante como é fascinante lembrar coisas que ocorreram em momentos nos quais quem não foi contemporâneo do contexto jamais saberá realmente a sua importância, por mais simples e aparentemente sem influência que tais coisas pareçam.

Quando falam em velhice, trago exemplos que me estimulam a tratar o tempo com mais tranqüilidade, pois ainda não tenho direito à vaga de idoso, embora tenha a certeza de que alguns cabelos brancos que já tenho seriam suficientes para ninguém questionar o uso de uma delas ou até a utilização de filas preferenciais em supermercados e outros lugares. Mas nem tenho idade nem minha consciência permitiria tal contravenção. Ao renovar a minha habilitação, ano passado, quiseram entregar-me uma ficha preferencial, mas expliquei que teria ainda de entrar na fila comum.

Os exemplos acima referidos são comparações que faço entre uma mulher de 35 anos que encontrei na Serra do Sobrado, em Mata Grande, Alagoas, município que me concedeu o honroso Título de Cidadão. Lugar distante, alto, de acesso íngreme, aquela lavradora é casada, tem filhos e se considera velha para aprender a ler. Mais recentemente, encontrei um rapaz de 40 anos, de Ceará-Mirim, que sonha em voltar para sua cidade para se estabelecer definitivamente, por se achar velho e sem muitas outras coisas prá fazer na vida.

A única razão nos seus argumentos poderia ser o fato de não ter mais nenhuma chance de se projetar como jogador de futebol.
Tem o terceiro exemplo, que é o grande estímulo: meu sogro, 95 anos, atravessou duas guerras mundiais, viu chegarem os primeiros automóveis no sertão, criou gado, plantou, dirigiu, viajou, dançou forró e tudo mais. Pois bem: ele tem como parâmetro Oscar Niemeyer e outros longevos, para afirmar sempre que quer viver pelo menos 120 anos. 

Na passagem de ano estava lá na Pedra do Rosário assistindo aos fogos da Ponte Newton Navarro, caminhando sem problemas e sem doença nenhuma. Festejava mais um belo momento do Ciclo Natalino.

Hoje, 6 de Janeiro, a grande festa é de Santos Reis. Aí tenho de relembrar, mesmo sem ser velho ou idoso, uma noite em que fui com uma amiga para aquela comemoração tão tradicional de Natal. Ainda tinha poucas barracas, a Missa e um Parque de Diversões. 

Depois de passearmos, comermos alguns salgados e doces, resolvemos andar na Roda Gigante. Lá de cima, ainda uma vista sem a cortina de edifícios, a ponte nova e nem mesmo a Zona Norte, pois havia apenas Redinha e Igapó eis que tomamos um susto com um movimento brusco. Faltou energia. Justo na hora em que estávamos no ponto mais alto. O apagão demorou muito. E não se dignaram e desembarcar quem estava na roda com tração manual. Foi triste. Mas transformou-se numa bela lembrança para mim e minha amiga.
*Jornalista

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Peter Paul & Mary - Blowin in the wind (Tonight In Person 1966)

Peter Paul and Mary, 500 Miles

Se é a mentira verdadeira ela sim é a verdade

Os mentirosos começaram a mentir enlouquecidamente. E diziam que se era verdade que era mentira verdade era que era verdade de mentira e que verdadeiramente todos mentiam e assim a verdadeira mentira deveria ser honrada, seguida e tornada lei e ordem. E assim foi dito e assim foi feito.
http://www.google.com.br/imgres?q=a+mentira&hl=pt-BR&safe=off&client

E nos mais respeitáveis plenários, câmara secretas de governos e justiça estabeleceu-se a mentira como valor máximo e base de todos os procedimentos. Multidões se reuniram e adoraram a mentira e a ela construíram ídolos que não eram falsos exatamente por serem falsos.

Quando foi um dia um mentiroso cometeu a loucura de dizer uma verdade ao admitir em plenário que estava mentindo. Logo foi preso e levado ao patíbulo; e então ele gritou que seu julgamento fora falso por ter sido dirigido por leis falsificadas. 

E então as pessoas ficaram pasmas ao encontrar-se com a verdade de que estavam todos mentindo. Mas estavam tão acostumadas com a mentira que disseram que a verdade era uma impostura e não era verdade que era mentira mentir e sendo assim as leis falsificadas eram verdadeiras. E sendo verdadeiras, deviam condenar o homem que havia admitido mentir. E veio a carrasco e ele foi verdadeiramente morto. 

Mas ninguém acreditou em sua morte porque, diziam, se ele afirmava que as leis que o haviam condenado eram falsas, também falsa fora a sua morte. E assim tudo foi esquecido e a mentira pôde imperar sem ser crime nem nada. Porque, se a mentira não era nada, nada havia acontecido. 

Deu na Folha:

 Álbum dos Beatles é vinil mais vendido pelo terceiro ano
DE SÃO PAULO
O clássico "Abbey Road", dos Beatles, foi o vinil mais vendido nos Estados Unidos pelo terceiro ano consecutivo, informa a revista "Rolling Stone". 

Segundo informações oficiais, "Abbey Road" vendeu 41 mil cópias em 2011, mais do que as 35 mil vendidas em 2010. Em 2009, o total de cópias comercializadas foi de 34.800. 

Entre os dez vinis mais vendidos no ano nos EUA estão ainda "21", de Adele, "The King of Limbs", do Radiohead, e dois álbum diferentes da banda The Black Keys.

Reprodução
Capa do disco "Abbey Road", dos Beatles
Capa do disco "Abbey Road", dos Beatles; disco foi o mais vendido do ano no formato vinil

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Easy Rider Opening


http://www.google.com.br/search?q=globo+terrestre&hl=pt-
De como se criar um mundo novo e tornar magnífico um grão de areia

Sendo eu homem de poucas luzes, afeito a trabalhos básicos e elementais, sempre procurei aproximar-me de quem poderia ensinar algo a meu parco saber. Assim, no ano de 1201, trabalhando como lenhador nas brenhas mais profundas de floresta vasta, dali levando às aldeias meu pobre lavor que servia de aceso aos casebres por onde perambulava com meu cavalo carregado travei conhecimento com velho de muitas sabenças, tido como esquisito e morador de distâncias, garantidas em sua inacessibilidade pelos longes da citada floresta. Ensinou-me ele a escrever, a ler e a contar.


Em gratidão passei a colaborar com seus inventos. Como o velho era homem arredio às gentes, e não tendo outro a o servir, por uns tempos afastei-me do trabalho de lenhar a fim de ajudá-lo. Naquele então, ele desenvolvia experiências com a arte vidreira, criando ciosamente ora vidro plano ora encurvado. O primeiro tipo de vidro era aplicado às janelas de sua grande e tosca moradia, deixando entrar a radiosa luz solar; o segundo tipo permitia-nos a sensação miraculosa de observar coisas distantes, tornando-as aparentemente perto. Destarte, podíamos observar o sol através de vidros curvos, pretíssimos, sem que isso nos cegasse os olhos. Ou a lua, vista com lentes transparentes, encontrando assim todos os mistérios daquele ser do cosmo. Olhávamos também grãos de areia que se nos apareciam tão grandes como se fossem outros mundos. 

Assim, com a visão de detalhes aumentada, cada grão, era isso o que se nos aparentava, tinha montanhas e vales inóspitos, planícies, cavernas e artimanhas geográficas como o existem na Terra. O velho então decidiu: iria criar uma maneira de tornar-se tão pequeno, tão formidavelmente minúsculo, que seria capaz de explorar um grão de areia a fim de saber se ali havia vida humana ou a isso parecida. Perguntei porque não tentávamos chegar à lua, empresa que a mim pareceu mais fácil, já que não seria necessário a inversão do nosso tamanho.

Ele preferiu não. Explicou que o que se poderia encontrar na lua também o seria no grão, sem a necessidade de voo tão arriscado a local tão distante. Como era aprendiz, concordei com o mestre e nos atiramos a experimentos de beberagens e poções que, antes, ele ministrava a porcos, pássaros e outros seres viventes. Maravilhosamente, o velho começou a conseguir o encolhimento dos bichos até que um dia um enorme cavalo tornou-se tão pequeno que só o pudemos enxergar graças a vidro miraculosamente poderoso que amplificou a  visão do animal caminhando num grão de areia. 

O velho exultou: passou a aspergir suas poções sobre plantas, a largas porções de florestas, a lagos e a rios e todos se tornavam microcóspicos; e ele, em bandeja de vidro majestoso, os levava ao grão onde já estava o cavalo e ali criava um outro mundo, em tudo semelhante à Terra.

Afinal, um dia fomos examinar nossa criação e vimos que pululava de vida. O velho então disse que deveríamos nos separar, pois iria habitar aquele mundo antes grão seco e hoje planeta maravilhoso e pleno. Quis saber se o acompanharia à empreitada, mas recusei: "Não, mestre; não mereço tal honraria. Deixo-me ficar aqui no mundo grande, para ver o que acontece."

E assim foi: ele bebeu sua poção prodigiosa e pouco depois foi sumindo, sumindo, sumindo. Observei seu encolhimento em possante lupa, até que o vi, pequenino, caminhando em vale verdejante. Como já era versado na arte da vidraria, apressei-me a criar preciosa ampola de cristal de alta pureza, enchendo-a com o mais delicado ar da floresta para que ali flutuasse aquele novo mundo. 

Desde aquela data até hoje, quando tornei-me tipógrafo de ofício, guardo a ampola e, vez por outra, dou-me a olhar aquela minúscula perfeição e vejo que o velho está feliz. Ontem me disse que vai começar um grande ciclo de navegações, para conhecer o seu planeta...


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O país das estatísticas 

Os indicativos de que o Brasil é a sexta economia do mundo certamente não convenceram aqueles que vivem em favelas. A respeito o IBGE registra: mais de 11 milhões de brasileiros vivem em tais condições. Desta forma, há algo errado, algo perversamente certo ou as duas coisas ao mesmo tempo. 
 
Creio que temos as duas coisas ao mesmo tempo: o país evoluindo economicamente em benefício de uma minoria e uma lamentável divisão do bolo. E isso, a realidade das favelas, o lado perverso, não inclui os que não têm plano de saúde, os que têm escola deficiente, os que vivem de subemprego, os desempregados, os que vivem com aposentadoria que beira a afronta, os famintos...

Todos esses integram a parte perversa, aquela que não está nos padrões de sexta economia do mundo, acima do Reino Unido, veja só. Toda essa parte vive no Brasil atrasado, o Brasil que vê a locomotiva da história passar e sequer tem tempo de lamentar, pois precisa pegar o ônibus lotado para chegar ao trabalho e não perder o emprego de salário-mínimo. 

Há uma larga distância entre o mundo das estatísticas que alegram os governantes deste país e o Brasil real, o Brasil favelado, amedrontado pelos traficantes, espezinhado, perdido nas filas, implorando um atendimento médico. Há uma brutal diferença entre o país da propaganda governamental e o Brasil vivido e respirado, o país do faz de conta que tá tudo bem para o bem de todos e felicidade geral da nação. Oremos.