"Não é justo alguém ter o direito de ter uma empresa de aviação e outro não ter o direito de comer um pão." /////// JAMAIS IDE A UM LUGAR GRANDE DEMAIS. A UM LUGAR AONDE NÃO TENHAIS CORAGEM DA IMENSIDÃO - EMANOEL BARRETO - NATAL/RN
sábado, 21 de outubro de 2006
O que dizia Cora Coralina
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Eu sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste o pão de tua casa.
E um dia bem distante a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu
seio tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça. Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,do gado e da tulha.
Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos.
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
Entre o estúdio e a realidade da presidência da República
Alckmin, no SBT, desvestiu a armadura de candidato combativo e adotou uma postura mais compatível com sua imagem histórica. Com isso, passou a idéia de que aquele comportamento agressivo na TV Band fora apenas o cumprimento de um papel que lhe fossa passado pelo seu marketing. Ninguém muda de personalidade. E isso até mesmo o senso comum sabe.
A farmácia magistral de Alckmin falhou ao tentar impor ao candidato uma figura que não se adéqua à sua essência enquanto pessoa. Lula, que esteve sempre mais próximo do seu perfil histórico - com seu discurso de que trabalha sempre pelos pobres - apelou para a ironia, para olhar de forma olímpica e do alto para o adversário que aparenta despencar, segundo o que os jornais dizem com a publicação das pesquisas de intenção de votos.
Mas, ninguém se engane: ambos estão apenas interpretando papéis. Da cenografia dos debates ao gabinete presidencial a distância é grande. As vivências dos candidatos em estúdio são bem diversas daquilo que é vivido por um presidente da República.
quarta-feira, 18 de outubro de 2006
Perdidos no espaço, ou a demência transformada em lei
"WASHINGTON - O presidente dos EUA, George W. Bush, assinou uma ordem que reivindica a seu país o direito de negar a adversários acesso ao uso do espaço fora da Terra para finalidades "hostis aos interesses dos Estados Unidos". Bush também afirma que os EUA vão se opor a tratados internacionais que limitem o uso ou acesso dos americanos ao espaço.
"Consistente com essa política, os EUA irão: preservar seus direitos, capacidades e liberdade de ação no espaço; dissuadir ou impedir outros de interferir com esses direitos ou de desenvolver a capacidade de fazê-lo; fazer o que for necessário para proteger suas capacidades espaciais; responder a interferência; e negar, se necessário, a adversários o uso de capacidades espaciais hostis aos interesses nacionais americanos".
Os donos do mundo
A arrogância americana parece não ter limite. A atitude de Bush, reveladora de que tipo de mentalidade literalmente preside o imaginário do povo americano - a principal nação do mundo, a América para os americanos, todos os demais povos são um perigo, todos os demais povos devem ser subservientes aos interesses dos Estados Unidos - demonstra a que ponto chegam a arrogância e o imperialismo nascido naquelas terras.
A primeira figura que me chega, para comparar com Bush, é a de Hitler e seus propósitos de superioridade do povo alemão. Deu no que deu. A determinação posta em vigor por Washington faz-me lembrar a idéia do "espaço vital" hitlerista.
Só que agora, em sua nova formulação, o esoaço vital surge nas feições daqueles tiranos de histórias em quadrinhos e seus sonhos assombrosos de dominação do mundo.
A mais forte metáfora para tanto, quem nos deu foi Chaplin, com o seu "O Grande Ditador". Na cena mais vigorosa do filme, o ditador, brincando com um globo terrestre esvoaçante, traz às suas mãos sinistras a materialização do pesadelo que pensava impor ao mundo. De repente, o globo de plástico se fura e murcha. E ele perde seu doentio e falso domínio sobre a Terra.
À época, Chaplin criticava Hitler e lamentava,temia pelo destino da humanidade. Bush também quer brincar com a Terra. Concorre com loucos como os fundamentalistas islâmicos,o governo da Coréia do Norte, e o governo de Israel.
O ser humano prossegue em sua maravilhosa e terrificante aventura no mundo. Esperemos que algum dia todos possam parar e imaginar, como Lennon, um mundo de paz e cantar: "Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único."
Se isso não acontecer, estaremos, como naquele velho seriado de TV dos anos 1960, perdidos no espaço.
segunda-feira, 16 de outubro de 2006
O marketing político como farmácia magistral
Os farmacêuticos manipulavam as fórmulas miraculosas, que em seu esoterismo químico, no ambiente segredual e oculto do austero laboratório, eram como poções que logo depois deveriam ser unicamente sorvidas, ritualmente utilizadas, vindo afinal a cura, a libertação do sofrimento, do medo, da dor.
Não cabia ao paciente saber o mistério, a aura que cercava o pequeno frasco que continha literalmente o seu regresso à saúde. Não havia bula. A fé guiava todo o pvocesso.
Se formos traçar um paralelo entre as farmácias magistrais e o marketing político, encontraremos alguma proximidade. Para o político, o marqueteiro e sua equipe de redadores, diretores de arte, pessoal de estúdio de TV (esse muito especialmente) e de internet, formam como que uma farmácia magistral de campanha.
É dessa farmácia de formulação de símbolos que, espera o político, deverá sair a fórmula mágica, o filtro salvador de sua imagem, a pavimentação de sua campanha rumo à vitória.
É dessa farmácia de efeitos midiáticos que brotará para o público a visão de que o candidato é puro e reto em suas intenções, ítegro em seus princípios e apto ao exercício do cargo pelo qual luta.
E o adversário, esse ser perigoso e terrível, deve, isso sim, ser temido pelo povo como se fora o mal a ser previamente afastado do corpo social pela vacina do marketing. Para tanto, basta votar naquele que é digno e justo e o povo será feliz. Simples assim.
As farmácias magistrais da política estão, neste exato momento, trabalhando com vigor e decisão para seduzir o povo a escolher entre Lula e Alckmin. Temos, na verdade, dois homens, com todos os defeitos e virtudes comuns a toda a humanidade.
Sei que a visão do parágrafo acima é simplista em sua formulação. Na verdade, tenho consciência de que pratico um reducionismo. Mas esse raciocínio tem um sentido. Explico: ambos estão manipulando suas fórmulas simbólicas para se apresentar não como homens,mas como líderes, seres olímpicos, isentos de erros e dúvidas,e de que em seus governos tudo será modificado. Estão sendo elevados da condição de homens ao estatuto de demiúrgos. E isso não é verdade. Estão ambos blefando, para dizer o mínimo.
Eleito, um ou outro não poderá fazer tudo o que prometeu: seja em função das limitações que terão necessariamente a que se curvar, como alianças para dar governabilidade ao País, seja em função de fatores estruturais.
É preciso entender que o próximo governo terá grandes desafios na área social, na segurança, na seguridade social, no relacionamento internacional, na defesa do ecossistema, no enfrentamento ao capital, especialmente o capital financeiro. A lista seria casuística e quase interminável, tantos os desafios.
Acreditar radicalmente que um ou outro será o salvador, o portador da formulação magistral, ou é radicalismo cego ou ingenuidade de quem bebeu sem pensar a formúla da farmácia do marketing da sedução.
Creio que a ponderção seria o melhor caminho para uma decisão de voto. Tenho a suposição de que Lula, como já afirmei em artigos anteriores, seria aquele que, apesar de tudo o que temos visto em matéria de corrupção em seu partido, seria o nome a ser escolhido. Remeto-me ao seu passado para manter minha nesga de confiança.
As farmácias magistrais já se perdem no tempo. E os líderes, como em todas as épocas históricas do que chamamos de civilização, foram sempre homens, apenas isso, homens. E nenhum deles logrou levar adiante, mesmo os mais sinceros, as realizações inteiras de seus melhores e mais bem intencionados propósitos .
E ao povo, no fim, sobram apenas o panis et circencis; afora o repertório de dor e dúvidas que sempre habitaram a vida do povo, de todos os povos, em todos os tempos.
Uma coisa é fim de carreira, outra é dacadência vestida de vaidade
Hoje, o que se tem é um grupo de mercenários midiatizados, vendidos a peso de ouro a multinacionais do esporte: os clubes europeus e as empresas que produzem material esportivo.
Mas, na verdade o que quero dizer tem a ver com Romário, o chamado Baixinho, que tantas alegrias deu à torcida do Flamengo. Romário bem que tentou, mas jamais chegou a ser um pelé. Agora, quando descobre que desce a rampa da vida, rampa que levará a todos nós a um ocaso, busca desesperadamente chegar aos mil gols, a marca final da glamorosa carreira de Pelé.
Pelo que li, parece que vai ser contratado por um timeco não sei bem de onde, aqui no Brasil, e agora foi chamado a disputar na Austrália um final de campeonato. Na notícia está dito que ele promete "muitos gols".
Vou agora para uma questão mais a aberta: a questão de sabermos quando devemos parar. O ser humano precisa compreender que as coisas são impermanentes. O tempo passa e, com ele, o homem. Se você descobre que algo plajenado tornou-se impossível de ser atingido, deve descobrir outras motivações e, literalmente, sair de campo, coisa que o craque parece não haver compreendido.
É uma pena. Melhor seria haver pendurado as chuteiras quando as glórias ainda o cercavam, do que atirar-se a um jogo em que, mesmo vindo a completar os mil gols, já não mais terá o sabor juvenil da vitória final alcançada em pleno vigor.