sábado, 24 de novembro de 2007

A Rainha e as negrinhas

Caros Amigos,
Vejo na Folha On Line uma foto, com legenda que, a rigor, nada informa, da Rainha Elizabeth em visita a Uganda. A monarca é saudada por um grupo de menininhas, que têm às mãos bandeiras da Inglaterra e de Uganda. Há algo de sarcástico, de cínico e perverso no registro. Seguinte: a rainha de um país que explorou com vigor incomum o povo ugandense, é recebida em festa, como se estivesse fazendo uma deferência ao ali se apresentar, ou mesmo uma caridade - permitindo-se ser vista por aquelas negrinhas alvoroçadas.

E o pior é que a foto nos é imposta pela Agência Efe, que a produziu, e candidamente aceita pela Folha. Ou seja: pelo simples fato de que a foto foi enviada pela agência espanhola Efe, a Folha nos repassa a imposição desta, como a a visita da Rainha fosse para nós, no Brasil, algo de importante ou interessante.

Isso reforça a afirmativa de que notícia é o que os jornalistas querem que seja notícia. O exemplo é simples, para que compreendamos a questão: se um jornalista como poderes editoriais escolhe um assunto ou fragmento de assunto e resolve publicá-lo, mesmo que não tenha maior importância, será lido e tido como "notícia". O simples fato de estar publicado, por homologia forçada a temas realmente pertinentes, torna a a foto ou texto uma "informação".

A Folha On Line segue os padrões dos jornais americanos na internet, que apresentam essa sequência de fotos no alto, à esquerda da página. É o caso da foto da rainha Elizabeth que passa, como num cineminha, ao lado de outras platitudes informativas. Eventualmente, pode até haver algo importante, mas o texto-legenda mais aguça a curiosidade que informa a respeito do assunto.

Essa questão do jornalismo na internet, se não for levada muito a sério pelos jornalões impressos, pode ser muito mais causa de desinformação que de prestação de um serviço jornalístico relevante.
Emanoel Barreto

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O coletivo de cobra é cobrança

Caros Amigos,
Nas coisas de jornal, as velhas novidades de sempre: um senador e um agora ex-ministro envolvidos formalmente no escândalo do mensalão; a Selação cambaleando, o Governo obcecado freudianamente pela CPMF; os criminosos - abusados que só eles -, acuando os cidadãos com eficácia magistral. Ou seja: o velho mundo, no Brasil de sempre, reprisando seu estoque de acontecimentos, erros, mentiras, pecados e vícios.

Falando da CPMF: foi criada quando o ministro da Saúde era o cardiologista Adib Jatene; criada a pedido dele, com o propósito de ampliar a massa de recursos voltada para melhorar o desempenho do atendimento ao, digamos assim, povo brasileiro. E o que acontceu? Nada. Ou melhor: aconteceu o pior - os problemas se agravaram e o dinheiro, que seria para a Saúde, não se sabe bem aonde está sendo empregado.

A CPMF, na verdade, tornou-se um imposto de recolhimento diário, jorrando aos cofres do Governo e retirando a você, a todos nós, minuto a minuto, um ágil pagamento tributário, agindo simultaneamente em todas as contas, até mesmo aquela, do mais modesto correntista.

É uma cobrança perversa. Disso, não há dúvida. Ao que parece, ao que dizem as coisas de jornal, o Governo estaria temeroso quanto à manutenção do tributo, frente às manobras da oposição, que, diz, quer derrubar essa cobrança.

Falando em cobrança, certa vez um amigo, em tom de blague, disse-me que cobrança é um amontoado de cobras, um coletivo. Interessante obsrevação, não? Bem criativa... Agora, esperamos para ver o que acontecerá no serpentário do Congresso. Se a CPMF cair, aí sim, estaremos livres da cobrança...
Emanoel Barreto

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Silêncio... Estamos de volta

Caros Amigos,
Chegamos da viagem. A casa nos recebeu, quietinha, às duas da manhã. Foi com uma alegria calma que olhamos, eu e Minha Mulher, a sala, os livros, a decoração simples e amiga do nosso lar. Até o hamster, Topete, nos brindou com seus pequenos barulhos de boas-vindas. Estávamos cansados, mais que isso, exaustos, depois de horas e horas de vôo, deixando Minas Gerais como um retrato na parede das nossas recordações amáveis.

Enquanto nós vivíamos nossas férias, as coisas do mundo mantinham seu ritmo, rugindo dinheiro, destroçando vidas, corrompendo o o tempo e os costumes. Em Natal, na recém-inaugurada Ponte da Todos, um ser humano desesperado havia se atirado lá do alto, fugindo do mundo em direção à Morte.

Mas o importante é acreditar, confiar, desafiar o tumulto e as trevas, sabendo que mais um dia virá. E, com ele, mais um passo da Vida. Na nossa casa, estamos em paz.

Silêncio. O tapete amigo acolheu os nossos passos, fez deles um gesto de chegada e nos convidou a viver o grande momento de nós dois.
Emanoel Barreto

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Voltando das Gerais

Caros Amigos,
Volto das Gerais, trocando a serra pelo mar.
Aqui, no silêncio que se espalha
como um lençol de calma sobre o coração de Minas,
é tempo de chuva,
garoa e névoa
que envolve as montanhas,
manhã nascente,
dia por ser descoberto.

No litoral,
o vento balança a palha do coqueiro,
o mar se abre em vastidão.
Estou voltando para casa.

Na bagagem da lembrança,
uma saudade que se escondeu, sorrateira,
e dorme entre minhas preciosidades de afetos.

Um grande abraço.
Emanoel Barreto

domingo, 18 de novembro de 2007

De Minas Gerais, a festa

Caros Amigos,
Foi intensamente bela a festa de ontem, na Casa de Geraldo e Maria, em Major Ezequiel. Foi o I Encontro da Família Mistura Fina. Agora, já estamos esperando o próximo. Abaixo, um relato ainda com gosto de emoção. São uns versos que cometi, para comemorar a grande reunião.

De Minas Gerais, a festa

De Minas Gerais, a festa
Que aqui se realizou,
Teve canto, teve viola,
Teve gente que chorou.

De Minas Gerais, a festa
Que muita gente juntou,
Deu alegria à família,
Que toda se abraçou.

Teve várias gerações,
Reencontradas na soleira
Da casa grande enfeitada,
Aprontada pra cantar.

Quando a música começou,
Juntou novo, juntou velho
Puxando uma toada,
Que muita gente alegrou.

Depois serviu-se a comida,
Com capricho e saborosa,
Enquanto a viola solta,
Enchia a sala inteirinha,
Com alegria faceira,
De um cantar tão brilhoso
Que até parecia feira.

O sorriso se espalhou,
Foi muito abraço que veio
Muita gente não se via
Fazia anos inteiros.

A festa foi muito larga,
Como se um riachão
Tivesse ali passado
Trazendo n'água, emoção.

Nesses versos pé-quebrado,
Que poeta eu não sou,
Saúdo a todos mais velhos
Com respeito e devoção.

A Tia Nice e Tio Nilsinho,
Tia Rute e Tio Antônio,
Gostei muito de abraçar,
Pedindo a Deus nesse abraço
pra Ele me abençoar.

Mas houve lá uma hora
Que a saudade bateu
Como se fosse um passado
Que de repente nasceu.

A saudade anunciou
Com uma grande reverência
Tia Naná e Tio Luizinho,
Tia Nénén e Tio Lindinho.
Se lembrou de Dona Terezinha
E Seu Viçoso, ademais.

E disse a todos presentes
Que esses tempos passados
Devem ser rememorados,
Guardados com emoção.

Devem ficar num sacrário
que existe no coração.
São coisas tão importantes
De muita, tanta valia,
Que quando a viola canta
Até que dá agonia.

Aos moços também me falo,
Digo que gostei demais,
Quando tiver outra festa
Eu volto e então repito:
Cheguei, pois gostei demais.

Durante a festa inteira
Foi alegria e foi bão.
Se fosse lá no Nordeste,
Tinha fogueira e balão.

Agora então me despeço
E estendo a minha mão.
Família Mistura Fina
Pra sempre estará unida,
Puxando a viola solta
Pra comemorar a vida.

Emanoel Barreto