quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Nem vida, ou gesto ou destino

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Tão iguais e cada um sozinho.
Multidão que nem direitos tem.
Para onde vão, não se sabe nem se conta.
O seu tempo é sempre o depois.

E depois que as portas não se abrem,
estão calados e não têm o que dizer.
Suas todas palavras se gastaram,
na garganta a voz se afundou.

E quem não tem palavra, nem gesto nem destino,
já não tem vida, que a vida é isso:
palavra, gesto e destino.
Emanoel Barreto

A vergonha que o fogo não ilumina

Caras Amigas,
Caros amigos,

A foto de Joana Lima, do Diário de Natal, mostra detalhe da manifestação de ontem, contra a corrupção na Câmara Municipal de Natal, envolvendo os vereadores Renato Dantas, Adão Eridan, Sargento Siqueira, Emilson Medeiros, Dickson Nasser, Geraldo Neto, Júlio Protásio, Edivan Martins, Salatiel de Sousa, Aluisio Machado, Adenúbio Melo, Aquino Neto e Carlos Santos. Ao que consta, receberam propina da imobiliária Abreu Imóveis para adequar o Plano Diretor de Natal aos interesses da empresa.

Grupos de manifestantes queimaram bonecos que representavam os envolvidos. O protesto chegou a parar o trânsito no Centro. Os jornais, os impressos, digo, cobriram o assunto. Mas, estranhamente, as TVs, não.

Tenho muito tempo de jornal para saber que não existem matérias privativas de impresso e matérias privativas de TV. Muito ao contrário, jornais e TV sempre intercambiaram as informações. Ou seja: material veiculado na TV é aproveitado pelo impresso e vice-versa.

Não é estranho que nenhuma TV tenha tido o cuidado de não cobrir o acontecimento? Incompetência ou coisa mesmo de diretores comprometidos com os vereadores? Ninguém tem vergonha? Ninguém tem ética? Onde está o jornalismo?
Amigas e Amigos: vocês sabem a resposta.
Emanoel Barreto

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Complicado, incoerente, ilógico



Caras Amigas,

Caros Amigos,


Domingo, a cidadania acorrerá às urnas para eleger seus representantes. Do ponto de vista gramatical uma assertiva irretorquível em termos de compreensibilidade; juridicamente, uma verdade. Mas, do ponto de vista social, vocês acreditam mesmo nessa afirmativa? Não será mais uma mentira, um equívoco, quem sabe a expressão de um projeto mal-intencionado?


Meu pessimismo à parte, na verdade uma provocação a que se pense sério a respeito, é preciso desconfiar do que os políticos dizem. A avalanche de promessas, "compromissos com o povo", soluções virtualmente para todos os problemas de Natal, vocês acreditam mesmo nisso?


Perceberam como, a cada dois anos, surgem e se renovam programas de governo municipal e estadual que vão nos tirar para sempre das trevas? E, por falar nisso, onde estão as luzes? Certamente os políticos não pagaram a conta e foi cortada.


Outra coisa, renovar quer dizer tornar novo aquilo que era velho: re-novar. Ou seja: renovar significa, nada mais nada menos, que manter o velho em seu lugar. Renovar não quer dizer nada. Melhor: quer dizer exatamente isso: nada.


A cultura política nacional recende a falcatruas, golpes, alianças espúrias, conluios, tramas, gente mancomunada para transformar a coisa pública em coisa privada. Será preciso um longo período histórico, um choque cultural profundo e estrutural, para que as coisas comecem a mudar.


Mas, enfim, vamos votar. Mesmo sabendo que, com o voto, voltam os mesmos a dizer: re-novar.

Emanoel Barreto

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Gatilho

Caras Amigas,
Caros Amigos,

A arma a alma desarma.

A arma ama a morte.
A arma parte a vida.
A bala, o grito, o fim.
Emanoel Barreto

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

E agora, deus mercado?

Caras Amigas,
Caros Amigos,

Venha a nós ó Príncipe Valente,
já que agora o dólar nos faltou.
E quando o deus mercado nos esquece,
valei-nos, ó figuras
saídas da imaginação.

E se o dinheiro é também criado,
é ilusão, é fruto, é criação;
é também farsa imaginada, sempre pronta
a fugir, desfalecer.

E da mesma forma que os heróis
dos quadrinhos sempre nos enganam,
o dinheiro é também astuto.

Só que, farsa, ele é real;
ilusório, pode ser tocado;
e, criação, ele se inverte - e, querendo, pode, até mesmo, matar, roubar, nos destruir.
Emanoel Barreto