sábado, 20 de maio de 2017



 Corrupto doa órgãos e consegue fugir da cadeia
Leia esta pequena fábula sobre a situação nacional

Político Corrupto havia sido preso. Após muitas falcatruas, descaminhos, tramas, tenebrosas transações, jogadas escusas e patranhas inomináveis foi flagrado e não houve como seus pares salvá-lo da cassação e da cela. Mas se esforçaram muito.
E então, como não havia mais jeito, e estando tudo consumado, os colegas deputados preferiram não mais se expor em ligações perigosas. Houve clima de alívio. Agora poderiam trabalhar nas sombras, a salvo da presença malquista do companheiro em desgraça.

Mas Político Corrupto não perdeu tempo. Após uns poucos meses reuniu a imprensa para anunciar: contrito, havia descoberto valores morais a que antes não atentara. Agora, garantiu, destinaria sua vida ao próximo.Caridade e humildade seriam seu lema.
E detalhou: quem precisasse de doação de órgãos ou mesmo partes do seu corpo, até mesmo pernas, braços etc..., poderia fazer contato que ele cederia de bom grado.

Acontece que um senhor idoso, homem honrado mas pobre e de saúde debilitada desde a juventude, estava precisando, e muito, de doações de órgãos. A cada dia seus médicos descobriam uma nova enfermidade que requeria transplante.

Político Corrupto sabia disso de antemão e era nele, naquele pobre sofredor, que focara seus projetos. Primeiro doou uma perna pedindo em retribuição que a perna doente lhe fosse implantada: queria martirizar-se, dizia, sentindo as dores e tudo de ruim que o outro havia sentido.
Era uma forma de purgar seus pecados morais e cívicos, garantia. Foi atendido e a perna do doente lhe foi implantada.

Depois, mandou a outra perna e recebeu nova perna doente. Mandou as mãos, os braços e o tronco. E assim sucessivamente: mandava uma parte do seu corpo e recebia do doente aquilo que fosse equivalente à doação.
Somente faltava a cabeça. Então os médicos descobriram: seu doente estava em vias de ter um derrame e Político Corrupto aceitou o sacrifício final: mandaria a própria cabeça para livrar a pobre criatura da moléstia.

Assim foi feito. Como você já deve percebido, Político Corrupto literalmente se transportou, conseguindo sair da cadeia.
E como todo o seu corpo fora doado não houvera fuga, mas um simples e honesto transplante e assim ele poderia iniciar vida nova, quer dizer, voltar à boa vida velha na política.

Foi o que fez. Políticos safados e empresários corruptores festejaram. Como era período eleitoral comprou todos os votos que pôde, elegeu-se com votação recorde e foi recebido com gritos e fanfarra. Quanto ao velhinho, acometido de Alzheimer acordou numa cela e até hoje não sabe como foi parar lá.

sexta-feira, 19 de maio de 2017



E Temer comete ato falho: “Sei o que fiz”


Em tom coloquial espúrio o chamado presidente Temer recebe um criminoso. Encontro secreto, cerimonial proscrito, o conciliábulo serviu para que o indivíduo, o milionário Joesley Batista relatasse ao inquilino do Planalto uma pegajosa lista de crimes como estivesse narrando atos épicos, memoráveis   feitos.

Caviloso, Temer ouve tudo, concordando e incentivando a continuidade das práticas criminosas. Houve ali, sob a proteção das paredes presidenciais, um encontro às esconsas, dois homens movendo-se entre as sombras do poder para, de alguma forma, conspirar. 

Buscavam manter em sigilo e êxito práticas criminosas que você já soube à exaustão pela TV. Delas não vou me ater aqui, pois até mesmo – e estranhamente – a Globo já divulgou bastante. 

Ao que parece os Marinho viram que Temer já cumpriu seu papel e querem livrar-se da presença que começa a empestear a sala. 

Voltando à conversa palaciana: o encontro não foi, como Temer está tentando fazer crer, uma conversa qualquer, nem as gravações foram clandestinas: o criminoso, em busca de escapar às penas da lei, cumpria o seboso papel de alcaguete e ajudava a enredar a si e a seus crimes aquele que o beneficiava pelo simples ato de com os crimes concordar. 

O inquilino de Brasília ouviu de tudo: pagamento de propinas, corrupção de juízes e procuradores, combinações espúrias, atos de perversão da coisa pública.

Nada fez a não ser anuir, abraçar-se a causa tão nefasta. Em suma, o inquilino cometeu ato criminoso que atende pela tipificação penal de prevaricação. 

A respeito diz o Código Penal, Artigo 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

 Ao deixar de praticar ato de ofício – comunicar às autoridades policiais o que lhe havia sido dito – Temer, que juridicamente é um funcionário público, inseriu-se na tipificação de prevaricador. 

A audição da conversa revela seu interesse em que tudo ficasse mantido sob o manto encardido do silêncio das sombras políticas. Ele e o criminoso estavam em abraço, conluio tático. 

Sua situação é insustentável. Sei que no Brasil tudo é possível e ele não caia. Mas suponho, desejo, espero, que haja alguma dignidade nos âmbitos decisórios e Temer seja cercado e posto para fora do cargo.

Afinal, em aparente ato falho ele disse ontem em seu patético discurso: “Sei o que fiz.”

quinta-feira, 18 de maio de 2017



A Temer não resta saída; a não ser sair

Ao dizer à nação que não deverá renunciar o chamado presidente Temer apenas protelou sua queda. 

O simples fato de dizer que não sairá nada significa ante uma próxima decisão político-judicial que venha atirá-lo janela afora.

O que se desmonta é um esquema, um sistema armado para pilhar o Estado, vale dizer os cidadãos. 

A base aliada, que na verdade é um ajuntamento de políticos ávidos, está se esvaziando, dissolvendo, acabando. Temer não tem como ficar no poder sem apoio. 

Ninguém preside nada se não tem a quem liderar, se lhe falta capital político, cimento essencial a qualquer governante. 

Será questão de tempo, pouco tempo. Parece que o pronunciamento rapidíssimo foi apenas um gesto para a história, uma tentativa patética de passar a imagem de mártir de última hora, trôpego equilibrista.
Mas a verdade é essa: a Temer não resta saída. A não ser sair.