sábado, 14 de março de 2009

O homem que semeava escuridão
Emanoel Barreto

Um dia conheci um homem que plantava escuridão.
Por onde andava, tudo virava noite.
Mas não se dormia, porque ele havia semeado insônia.


Anos depois reencontrei o homem e gritei na treva densa: "Onde estás?"
Ele respondeu: "Não sei. Eu mesmo me perdi."

Depois, encontrei A Mulher que desenhava luas.
Ela deu-me um pequeno grão de luz e me tirou de lá.


terça-feira, 10 de março de 2009

O teu futuro espelha essa grandeza
Emanoel Barreto

Deu na Folha: O Senado pagou pelo menos R$ 6,2 milhões em horas extras para 3.883 funcionários em janeiro, mês em que a Casa estava em recesso e quando não houve sessões, reuniões e nenhuma atividade parlamentar.

Trata-se, como se vê, de uma farra, uma festança com o dinheiro público. Em outras palavras, corrupção, desvio do que seria a atividade congressual, que passa a ser provedora de fundos para um magote de funcionários que, no período em questão, não estavam "funcionando".

Isso me lembra uma seita medieval, cujos pressupostos diziam que o ser humano nasce com uma determinada quantidade de pecados; para perder essa carga a solução era muito simples: pecar, pecar bastante, até que o último, o mais mínimo, o mais minúsculo e maneiro pecadilho tivesse sido, digamos assim, retirado do da alma, do corpo espiritual. Aí sim, o pecador estaria enxuto de culpas e poderia dedicar-se a uma vida beatífica e pia. Faz sentido...

Acho que é isso o que se passa na vida pública desse país: os pecadores estão expurgando os pecados pelo ato mesmo de pecar. Então, sem críticas a eles: são todos pessoas bem intencionadas. No fundo, tudo gente que quer, pelo pecado, chegar à condição de santo e fazer tudo pelo bem estar do próximo. Só que, antes, querem bater a carteira do próximo. E a santidade, bom, a santidade fica para a próxima vez.

segunda-feira, 9 de março de 2009


Armagedon
Emanoel Barreto

Ele tornou-se mestre no xadrez do silêncio.
E aprendeu a descobrir entranhas.
Ela tornou-se sábia no olhar de nuvens.
E virou profetiza de nevoeiros e sombras.

E no tempo do mundo uma era fabulosa de gritos de terror
aclamou as mais terríveis máquinas da morte.
Depois, explosões e peste, tremores e fim.
Mas os dois seguiram longe.
O mundo ficara para depois.

domingo, 8 de março de 2009

A Mulher
Emanoel Barreto

A Mulher traz nas mãos a luz para após o entardecer.Ela preparou o pão, olha o horizonte e sabe que dali brotará tempestade. Tudo está vermelho, aceso de perigo. E o perigo virá.

Mas A Mulher anteviu tudo, sabe dos ventos de tempestade e deixa a nossa tenda pronta. E então, quando nascem os dramas do mundo, estamos sós e plenos. E a tenda flutua acima de aquilo tudo.

Pela manhã, A Mulher reluz com o sol e diz que, sim, ela é um raio de estrela. E acende nos meus olhos a doce imagem de navegar nossos sonhos.


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Walter Medeiros manda sua homenagem à mulher.

Uma homenagem a Lois
--- Walter Medeiros* - walterm.nat@terra.com.br


O Dia Internacional da Mulher – 8 de Março - tem sido uma data marcante, pelas manifestações, pela luta, pelas homenagens, pelas reflexões e pelo registro que é feito nos mais diversos meios, pelo mundo inteiro. Além da lembrança da origem da data – o massacre das operárias em 1857 – sempre são referidas mulheres de todos os lugares e todos os tempos que fizeram ou fazem da sua vida um exemplo a ser seguido por toda a humanidade.


Nesse 8 de Março de 2009 quero trazer para os leitores alguns dados da vida de uma mulher que teve um papel importante e de alcance inestimável, cuja atuação mudou o rumo de muitas vidas, contribuindo para a harmonia de milhões de lares. Uma mulher cujo trabalho resultou da experiência adquirida com o seu próprio sofrimento e que apesar de todos os problemas que enfrentou nunca desistiu e conseguiu implantar uma instituição que certamente vem mudando o mundo.


Ela teve origem numa família estruturada, equilibrada, onde tinha um irmão, foi educada com amor, recebeu lições de união, perdão, paz; a mãe, do lar, o pai médico ginecologista e cirurgião. Mas seu casamento foi algo de convivência difícil, ao que somaram-se três gravidezes tubárias, insanidades, discussões, intolerâncias, resultado do alcoolismo do seu marido, a quem chegou até a dizer, certa vez: “Você não tem sequer a decência de morrer...”. Foram 17 anos de convivência e sofrimentos para ambos, pois no seu alcoolismo seu marido era um doente e a doença causou a destruição das carreiras de ambos.


Depois de todas as Turbulências do Alcoolismo, nasceu a sublime e abençoada associação de Alcoólicos Anônimos, em 1935, pelas mãos de Bill W. e Robert (Bob) Schmidt, com a colaboração, apoio e compreensão daquela mulher. Refiro-me a Lois Wilson, nascida em 04 de março de 1891 e falecida em 06 de outubro de 1988, que fundou, em 1951, os Grupos Familiares Al-Anon, cujo objetivo é ajudar aos familiares de alcoólatras a compreender a doença alcoolismo e conviver com os problemas que a doença acarreta para as famílias dos alcoólatras.


Em recente evento destinado a profissionais, uma representante daquela irmandade explicou que Al-Anon surgiu da mesma ‘necessidade’ de Alcoólicos Anônimos - a necessidade de ‘dialogar’, de uma pessoa entender a outra, delas falarem a mesma linguagem, trocarem as experiências vividas com seus entes queridos doentes, que tanto lutavam para largar a bebida e não conseguiam. As esposas dos alcoólatras descobriram que o estado em que se encontravam era resultado do convívio sob o domínio do álcool, quando familiares e amigos dos alcoólatras se tornavam pessoas também doentes, de uma doença emocional.


A troca de experiências mostrou o caminho a seguir, e dali surgiu o lema da entidade: “Evite o primeiro atrito”. Segundo Al-Anon, ao evitar o primeiro atrito os familiares fazem com que muitos problemas sejam evitados também, pois sempre que existe um confronto com um alcoólatra - embriagado ou não - as conseqüências podem ser drásticas.


Lois é considerada uma heroína, pelo trabalho realizado com a sua amiga Anne, mulher do Dr. Bob. Elas continuam servindo de exemplo para mulheres de mais de 130 países onde funcionam grupos daquela irmandade. O Estado de Nova Iorque e mais de dez organizações dos Estados Unidos saúdam Lois como uma das Mulheres mais importantes do Século XX. Ela foi homenageada com o Prêmio Humanitário do Conselho Nacional sobre Alcoolismo dos Estados Unidos.


Com este pequeno relato espero que as mulheres e os homens do mundo inteiro mantenham viva a lembrança daquela valente mulher, que conseguiu empreender uma luta pacificadora, não contra a bebida alcoólica, mas a favor das famílias de pessoas que não podem beber controladamente, por serem portadores da doença alcoolismo.
*Jornalista – Natal/RN