sábado, 9 de junho de 2012

O Nordeste como rodapé do Brasil

Tenho observado, aqui acolá, o desempenho da atriz Titina Medeiros naquela novela da Globo. Aquela, onde Titina faz papel de empregada doméstica e o personagem principal, uma cantora nordestina, é representada como uma tipa desbocada, grosseira e meio estúpida que faz sucesso com música idem. Creio que a atriz principal não seja nordestina e, dentro do padrão preconceituoso da Globo, fala com um sotaque de arrepiar, deixando implícito que quem fala daquele jeito o faz por ser representante de uma certa casta inferior; tanto que na fala trai sua origem, ou seja: vem do Nordeste, lá do rodapé da sociedade brasileira.
http://auroradecinema.wordpress.com/2012/05/19/descoberta-no-teatro-nordestina-titina-medeiros-da-show-em-cheias-de-charme/

Lamento que Titina, que é nordestina. também tenha aderido ao sotaque que a Globo estabeleceu como forma de representar o nosso povo. Titina sabe que nós não falamos como seu personagem se manifesta. Ela mesma não fala daquele jeito.

Temos, é certo, a ausência do chiado, que a Globo identifica com indicador de pessoas elevadas, finas, elegantes. Mas, daí àquela manifestação espalhafatosa há uma grande distância. 

Suponho que tenha sido a direção da novela quem a obrigou a tal e lamentável comportamento dramatúrgico. E até entendo que Titina tenha se curvado para não perder a chance. Mas que lamento, lamento.

E não me venham dizer que trata-se apenas de atitude caricatural para "dar mais força ao personagem". Não é. É parte de toda uma visão sudestina sobre o Nordeste; severinizado, amaldiçoado pela seca, habitado por seres rudes, grosseiros, grotescos até.

Somos, perante tal visão, um povo-bicho, um povo que vive à procura de uma cacimba, um pingo d'água, uma rama de mato para não morrer de fome. Se esquecem de que as consequências sociais da seca são fruto da incompetência histórica dos governos em lidar com tais problemas e por causa disso temos sim pobreza e miséria. Mas não por culpa essencial ao povo, mas pela culpa cristalizada naqueles que, nos altos postos, ganham muito para manter nosso povo não nordestino, que somos, mas nordestinizados, no sentido daqueles que nos veem com olhar de preconceito estúpido. E lamento, como lamento.
O mundo cabe numa foto. Magnífica obra de Cartier Bresson

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Elvis Presley & Martina McBride - Blue Christmas

A esquisita greve dos professores da UFRN

Recebi, como os demais professores do Departamento de Comunicação Social da UFRN, a seguinte mensagem da professora Josimey Costa:

Caros,
Ontem, na assembléia da ADURN para discussão das negociações sobre nosso plano de carreira como docentes, foi aprovada a realização de um plebiscito no dia 12 próximo para consultar toda a categoria se deseja uma greve para o dia 15/06. A assembléia se posicionou por uma maioria de cinco pessoas a favor da greve, após muito tumulto por parte de estudantes e alguns poucos professores radicais. 
Lamentei muito a pouca lucidez de quem agiu assim e a ausência de muitos colegas, que teriam se informado melhor sobre a situação atual. Mas sabendo que isso é natural no processo, decidi escrever aos colegas do DECOM para manifestar minha posição: apostar numa greve docente na UFRN neste momento, quando ainda estamos em negociação com o governo, é apostar no vazio. Estamos quase encerrando o semestre e a maioria viaja de férias. A greve não vai ter força política dessa forma. 
E vai emperrar uma negociação que está se mostrando favorável a nós! Prefiro apostar na consciência e na razão para alcançar resultados ainda possíveis. Votarei contra a greve neste momento por acreditar que não esgotamos todas as nossas possibilidades ainda.
Grata a quem me leu até aqui.
Cordialmente,
Josimey Costa
...........
Creio que Josimey tem razão. As negociações estão em andamento. Teria sido mais ajuizado esperar e cobrar do governo o cumprimento dos nossos direitos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Recebo e divulgo


Em audiência com o PROIFES, MEC anuncia a retomada do GT Carreira e se declara a favor do alinhamento das carreiras docentes com a de Ciência e Tecnologia 



O PROIFES foi recebido às 14h30 de hoje, 5 de junho de 2012, pelo Ministro Aloízio Mercadante e pelo Secretário da SESu, Amaro Lins. Pela Federação, fizeram-se presentes os professores Eduardo Rolim de Oliveira (Presidente), Fernando Amorim (Vice-Presidente) e Gil Vicente Figueiredo (Tesoureiro). A ANDES, por sua vez, foi recebida às 10h30. Ainda no período da manhã, também aproximadamente às 10h30, grupos de estudantes em greve que participavam de manifestação conjunta depredaram a entrada do prédio do MEC, quebrando os vidros do saguão de acesso, razão pela qual a entrada da delegação do PROIFES não pode se dar através da porta principal do edifício.

Dando início à audiência com o MEC, o professor Eduardo Rolim entregou ao Ministro documento com as deliberações da reunião do Conselho Deliberativo de sua entidade, realizada no dia 3 de junho, que propôs indicativo de greve para o dia 15 de junho com a pauta do PROIFES, caso não sejam retomadas as negociações no GT Carreira, com aceitação pelo governo da equiparação salarial entre docentes e servidores da carreira de Ciência e Tecnologia. O Presidente explicou que foi indicada consulta plebiscitária prévia a ser feita no dia 12 de junho.

A representação do PROIFES apresentou também alguns dos demais pontos de pauta: a retirada da nova forma de cálculo da insalubridade e periculosidade da MP 568/2012; a progressão de D1 para D3 dos professores do EBTT portadores de títulos de mestrado ou doutorado, enquanto não for regulamentado o Art.120 da Lei 11.784/2009; e a continuidade, com qualidade, do processo de expansão de Universidades e Institutos Federais.

O Ministro Mercadante disse de entrada que estava indignado com a forma pela qual, já no dia 17 de maio, havia sido deflagrada a greve em curso, a seu ver de forma inteiramente precipitada. “Não é fato que o piso dos professores seja R$ 557,00. A verdade é inteiramente diferente. Há apenas cerca de 120 docentes que entram com salários de um pouco mais de R$ 1.600,00, e o piso dos docentes em DE é da ordem de R$ 2.800,00. Ademais, as negociações sobre carreira estavam em pleno curso e todas as entidades integrantes do GT Carreira haviam concordado em debater o assunto até o dia 31 de maio. Além disso, a carreira reestruturada será implantada apenas em 2013 e temos até agosto para definir os valores e impactos que serão enviados ao Congresso Nacional”, afirmou Mercadante. O Ministro disse ainda que não será a greve que irá mudar o andamento das negociações nem irá pautar o governo. “Consideramos que o debate sobre a reestruturação de carreira deve ser feito com tranquilidade e há tempo para que isso aconteça.”

A seguir, após analisar brevemente a pauta entregue pelo PROIFES, Mercadante disse que a suspensão do GT Carreira foi momentânea, para reavaliação do complexo quadro econômico que se desenha no mundo, e que é pano de fundo para a questão orçamentária que terá que ser equacionada pelo governo, envolvendo não apenas docentes como os demais funcionários públicos federais. Informou a esse respeito que o GT Carreira será retomado já na próxima semana, como solicita o PROIFES – possivelmente no dia 12 ou no dia 13.

No que diz respeito à equiparação o Ministro disse que o MEC está de pleno acordo com a tese do alinhamento entre as carreiras, conforme defendido pelo PROIFES e trabalhará nesse sentido junto ao Ministério do Planejamento. Mercadante, contudo, ponderou que acredita ser difícil que isso venha a ocorrer de uma vez só, no prazo de um ano e que, portanto, teremos que pensar num parcelamento, como ocorreu em 2008, 2009 e 2010. “Quero dizer a vocês que temos concordância com esses dois pontos da pauta do PROIFES – haverá a continuidade dos trabalhos do GT Carreira e defenderei o alinhamento entre as carreiras docentes e da Ciência e Tecnologia. Quanto à expansão da rede de Universidades e Institutos, com qualidade, essa é a política deste governo e dos dois anteriores. Nosso entendimento é favorável à progressão dos docentes do EBTT de D1 para D3, enquanto não for feita a regulamentação da matéria e, também nesse ponto, temos acordo com o PROIFES. Por último, concordo com a revisão da forma de cálculo da insalubridade e periculosidade, mas essa é uma posição que ainda depende de debate interno no governo e no Congresso Nacional”, finalizou Mercadante.

Os dirigentes do PROIFES disseram que irão informar a categoria sobre as posições do Ministro e que aguardam para breve o anúncio da nova data de reunião do GT.

domingo, 3 de junho de 2012

Deu na Tribuna do Norte:

Foto da guerra completa 40 anos e marca vida da vítima


Nenhuma guerra produziu tantas imagens e mexeu com os sentimentos e a opinião pública mundial quanto a Guerra do Vietnã (1959-1975). E nenhuma foto, entre os milhares de registros dos campos de batalha, ficou tão profundamente gravada na memória das gerações que vivenciaram o horror daquele conflito quanto a das crianças correndo por uma estrada, tentando escapar de um bombardeio. No centro da cena, uma menina magra, nua, desesperada, ferida.  Esta semana, aquela foto estará completando 40 anos.

Era 8 de junho de 1972, no Vietnã, e o fotógrafo Huynh Cong 'Nick' Ut viu algumas crianças correndo, tentando escapar de seguidas explosões na vila de Trang Bang, na província de Tay Ninh. Ele não pensou duas vezes antes de fotografar a cena

A garotinha de 9 anos, nua, gritando "muito quente, muito quente", enquanto tentava escapar das bombas, era Kim Phuc entre o irmão mais novo, Phan Thanh Phouc, que perdeu um olho, e dois primos, que aparecem de mãos dadas, Ho Van Bon e Ho Thi Ting.

A imagem tornou-se um dos símbolos da Guerra do Vietnã. Kim Phuc está com 49 anos e diz que a foto a perseguiu a vida inteira. "Eu realmente quis escapar daquela menina", diz Phan Thi Kim Phuc. "Eu queria escapar dessa imagem, mas parece que a foto não me deixou escapar", disse ela, que hoje comanda uma fundação para ajudar crianças vítimas da guerra. "Eu fui queimada e me tornei uma vítima da guerra, mas crescendo, tornei-me outro tipo de vítima", completa ela.

Ao relembrar o momento em que a foto foi tirada, ela diz ter ouvido fortes explosões e que o chão "tremeu". "Eu vou ficar feia, não serei mais normal. As pessoas vão me ver de um jeito diferente", ela diz ter pensado na hora, ao perceber que sua mão e braço esquerdos estavam queimados.

Em choque, ela correu atrás seu irmão mais velho e não se lembra de reparar nos jornalistas estrangeiros reunidos enquanto corria na direção deles, gritando. Depois disso, ela perdeu a consciência.
DivulgaçãoFoto do grupo de criança tentando escapar de um bombardeio de uma aldeia vietnamita, em 1972, foi uma das imagens mais chocantes do conflito nosudoeste asiático. 
 
Foto do grupo de criança tentando escapar de um bombardeio de uma aldeia vietnamita, em 1972, foi uma das imagens mais chocantes do conflito no sudoeste asiático
 

 
"Eu chorei quando a vi correndo", diz Ut, que cobria a guerra pela Associated Press. "Se eu não a ajudasse e alguma coisa acontecesse que a levasse a morte, acho que eu me mataria depois", comenta o fotógrafo, que nunca mais deixou de falar com Phuc. Ele a deixou em um pequeno hospital e fez os médicos garantirem que tomariam conta da garota.

A foto foi publicada e, alguns dias depois, outro jornalista, Christopher Wain, um correspondente britânico que tinha dado água de seu cantil a Phuc, descobriu que ela tinha sobrevivido. A garota tinha sido transferida para uma unidade americana em Barsky, única instalação em Saigon equipada para lidar com ferimentos graves.

"Eu não tinha ideia do que tinha acontecido comigo", diz Phuc. "Acordei no hospital com muita dor e com enfermeiras ao meu redor. Acordei com um medo terrível". "Toda manhã, às 8 horas, as enfermeiras me colocavam em uma banheira com água quente para cortar toda a minha pele morta. Eu só chorava e quando eu não aguentava mais, desmaiava", relembra ela que hoje vive com o filho e o marido, Bui Huy Toan, no Canadá.

Depois de vários enxertos de pele e cirurgias, Phuc foi finalmente autorizada a deixar o hospital, 13 meses após o bombardeio. Ela tinha visto foto de Ut, que até então tinha ganhado o Prêmio Pulitzer, mas ainda não sabia do alcance e poder da imagem.

"Fico muito feliz em saber que ajudei Kim", disse Ut, que ainda é fotógrafo da Associated Press. "Eu a chamo de minha filha", brinca. "A maioria das pessoas conhece minha foto, mas sabe pouco sobre minha história", diz Phuc. "Fico agradecida por poder aceitar essa foto como um presente. Com ela, eu posso usá-la para a paz."

(Com Associated Press)

O que foi

A Guerra do Vietnã foi um conflito armado ocorrido no Sudeste Asiático entre 1959 e 30 de abril de 1975. A guerra colocou em confronto, de um lado, a República do Vietnã (Vietnã do Sul) e os Estados Unidos, com participação efetiva, porém secundária, da Coreia do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia; e, de outro, a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte) e a Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL). A China, a Coreia do Norte e, principalmente, a União Soviética prestaram apoio logístico ao Vietnã do Norte, mas não se envolveram efetivamente no conflito.

Em 1965, os Estados Unidos enviaram tropas para sustentar o governo do Vietnã do Sul, que se mostrava incapaz de debelar o movimento insurgente de nacionalistas e comunistas, que se haviam juntado na Frente Nacional para a Libertação do Vietname (FNL). Entretanto, apesar de seu imenso poder militar e econômico, os norte-americanos falharam em seus objetivos, sendo obrigados a se retirar do país em 1973 e dois anos depois o Vietnã foi reunificado sob governo socialista, tornando-se oficialmente, em 1976, a República Socialista do Vietnã.