sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 Não está certo obrigar o Brasil a dar errado

 Por Emanoel Barreto

Eu não sei se o Brasil pode dar certo, mas sei que não é certo obrigar o Brasil a dar errado. 

 A tragédia nacional que se alonga numa história cheia de tropelias lamentáveis não me traz à memória nenhum grande feito, salvo, é claro, termos ganho Copas do Mundo. Esse o nosso grande feito: chutar bolas, fazer gols. 

 Sim, ia esquecendo: Marta Rocha quase foi Miss Universo em 1954. Mas perdeu o título por ter duas polegadas a mais nos quadris. Chato, né? 

 Nosso libertador era português e o fez por conveniência; e olhe que tempos depois pagamos a Portugal dois milhões de libras esterlinas a título de indenização. Rabo entre as pernas.

Claro, tivemos Getúlio, que também foi ditador e afinal suicidou-se. Perdeu, povão. No tempo histórico amontoamos tudo de ruim o que pudemos acumular – incertezas, golpes de Estado, inflação descontrolada, crescimento do banditismo e outras coisas terríveis como homens lamentáveis e líderes sob suspeita; Bolsonaro é exemplo perfeito – e com ele continuando no Poder sabemos bem aonde vamos chegar. 

O momento que vivemos, enlouquecido em seu espalhafato de fanáticos ululantes, ensandecidos e brutais lembra-me que estamos como que sentados sobre trilhos à espera da locomotiva colossal, o ápice da tragédia.

O ovo da serpente foi plantado lá atrás e dele nasceu Bolsonaro presidente e o bolsonarismo. 

 Lewmbre-se: se ele for reeleito o cerco se apertará de tal forma que a realidade perversa ora vigente vai ser mantida, se intensificar e reafirmar que é preciso o Brasil nunca dar certo para que todos os erros permaneçam, punindo com pena aterradora quem ousar dizer:  “Eu não sei se o Brasil pode dar certo, mas sei que não está certo obrigar o Brasil a dar errado.”

 

 

 

 

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

 Bolsonarismo como doutrina de ódio

Por Emanoel Barreto

 

O que se convencionou chamar de bolsonarismo como fenômeno político apresenta em suas vertentes mais obtusas um comportamento agressivo, pautado num raciocínio tosco, binário, com tendência a atos de violência, podendo chegar ao homicídio, como já ocorreu.

O bolsonarista típico não apresenta argumentos a favor do seu ídolo, antes parte para a agressão verbal a qualquer pessoa que dele seja divergente e vê em Lula não um adversário, mas um inimigo. Sua compreensão é de que não há uma campanha política, mas uma briga.

É preciso entender que o comportamento violento de certos grupos radicalizados é resultado de convicções que apontam o outro como um alguém a ser se necessário até mesmo eliminado. Para tanto, a justificativa é que o outro é um obstáculo, um oponente, não alguém que discorda civilizadamente da opção do bolsonarista.

Os procedimentos violentos, ao se repetir, tornam-se como que uma liga, um traço de união na alcateia, uma atitude a ser copiada, quase que uma marca comportamental, um padrão de qualidade estúpido a ser conferido à brutalidade. A atitude de manada instrui o indivíduo, que naturaliza tais atitudes e passa, se entender necessário, a agir segundo o que viu no seu aliado.

É como se a linguagem da violência fosse um discurso, cujo enunciado é “não há adversários, existem inimigos” – e inimigos devem ser eliminados, até mesmo no sentido mais extremo do que seja eliminação quando se consubstancia a morte do adversário político. É a isso que estou chamando de bolsonarismo como doutrina de ódio.

Os atos de fala são substituídos por gestos de barbaridade e se perpetram via socos e pontapés, quando não com tiros e morte, como já ocorreu. Já li no noticiário que pessoas estão com medo de ir votar ante a possibilidade de serem vítimas de agressões; seja de forma direta, seja como vítimas que lamentavelmente passavam no local onde se dava a agressão e foram atingidas como efeito colateral.

Bolsonaro já está dizendo que se o TSE agir como lisura ele vencerá no primeiro turno. Mesmo uma análise de discurso superficial já perceberá que ele está insuflando a massa para que saia às ruas quando, presumivelmente, mantidas as atuais tendências das pesquisas, ele estará amargando a derrota no primeiro turno.

A doutrina do ódio existe em ato, mas em sua forma larvar se manifesta em pronunciamentos como o anteriormente mencionado e funciona como motor potente para dar estímulo a que seus seguidores mais radicais estejam unidos e saiam às ruas prontos para refrega e reação.