sábado, 20 de junho de 2009



Mesmo que nada mude
Emanoel Barreto

Veja o que o Estadão publicou: O Congresso abriga mais um exemplo ilustrativo do uso de dinheiro público para bancar despesas privadas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O mordomo da casa de sua filha, Roseana Sarney, ex-senadora e atual governadora do Maranhão, é um servidor pago pelo Senado. Amaury de Jesus Machado, de 51 anos, conhecido como "Secreta", é funcionário efetivo da instituição. Ganha, com gratificações, em torno de R$ 12 mil. Deveria trabalhar no Congresso, mas de 2003 para cá dá expediente a sete quilômetros dali, na residência que Roseana mantém no Lago Sul de Brasília.
...........

A família Sarney é um dos exemplos mais claros, fortes e elucidativos do tipo de político que se abriga no público para satisfazer seus, digamos, instintos privados. Sinuoso, ardiloso, o soba da família vem há muitos anos nutrido - e bem nutrido - pelo dinheiro público.

As coisas de jornal da grande imprensa vêm desmontando ou pelo menos desmascarando as tramas e tramoias do Congresso, especialmente no Senado, onde se acolchoam, se espicham e se espojam espécimes os mais lamentáveis da vida pública nacional.

Agora, entra em cena o tal "Secreta", que ganha do povo para atender a seu patroado. Os jornais devem continuar a investigar e a publicar os atos do Senado. Têm a obrigação de prestar esse serviço ao público, para o bem social. Mesmo que nada mude, mesmo que tudo permaneça.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ei! Quer ser jornalista?
Emanoel Barreto

O Supremo Tribunal Federal determinou o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. A alegação formal foi a defesa da liberdade de expressão. Digo formal porque a verdade está oculta: trata-se unicamente de atender aos interesses dos donos de jornais, TVs e emissoras de rádio, que exigem ter um exército de reserva.

A decisão terá profundas repercussões. As empresas poderão instituir cursinhos rápidos e "formar" jornalistas que irão se guiar unicamente pelos seus ditames. Gente sem formação humanista, que o curso superior prepara. Gente sem qualificação teórica, gente que vai querer apenas estar empregada.

Como professor e como jornalista somente tenho a lamentar. Já vai longe o tempo em que o jornalista nascia na Redação. Tempo em que não havia os cursos superiores. Foi, na verdade, a vitória da mentalidade utilitarista e usufrutuária do trabalhador de jornal. Foi, na verdade, um golpe na representatividade de toda uma categoria.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Jornalismo e espetáculo
Emanoel Barreto

A Rede Record cumpre projeto de longo curso para se contrapor à Globo. A jornalista Mylena Ciribelli estreia programa esportivo em mais algumas semanas e Gugu Liberato também está nos planos da empresa do bispo Macedo. Além deles, a Record tentou atrair Faustão e Luciano Huck. Sim, sem esquecer Ana Paula Padrão, que logo logo estará por lá.

O que se percebe é uma bifurcação perigosa: por um lado, a busca de gente para apresentar progamas de baixíssima qualidade de conteúdo, salvo, se tanto, o apenas bem intencionado "Soletrando", imitação de coisa que já se faz nos Estados Unidos há décadas.

Por outro aspecto, jornalistas elevados à condição de estrelas, o que de plano retira a esse jornalismo dado essencial: seriedade. Jornalistas não deveriam funcionar como se fossem atores, mas cumprir com a responsabilidade de informar com precisão e credibilidade e opinar, se for o caso.

A informação ou opinião não ganham maior importância como decorrência do estrelismo, mas tendo como origem a importância do fato noticiado. A notoriedade de repórteres, isso é admissível, advém de sua exposição seja em rádio, jornal ou TV. É claro que torna-se impossível alguém não se tornar famoso. É decorrência lógica e clara. Mas, daí a um profissional assumir a condição que seria típica de atores, cantores ou outros profissionais do palco, há uma grande distância.

O jornalismo vira espetáculo e, como todo espetáculo, há algo de teatral. Isso não combina com boa informação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Não, não. A culpa não é dele...
Emanoel Barreto

As coisas de jornal do país inteiro constatam: temos um Senado secreto. Ou pelo menos um Senado com segredos. E todos voltados para a ocultação de atos indignos de uso da coisa pública em benefício privado: promoções indevidas, pagamento de horas extras não cumpridas, cargos criados para beneficiar nepotes, privilégios, bonanças imorais.

O presidente da Casa, José Sarney, ocupou a tribuna para defender-se e dizer que a culpa não é dele, é do Senado. Ou seja: a instituição é viciosa, perdulária. É fruto de nossa cultura política desmazelada e ávida pelos prazeres escuros do Poder.

Com isso admite que trata-se de situação posta de tal maneira que não há como ser reconvertida em plano melhor. Afirma-se como participante de instituição indecente, que exibe sua imoralidade como troféu apodrecido.

Tristes tempos. Triste povo. Oremos.



segunda-feira, 15 de junho de 2009

Na foto da AP, Mir lidera protesto
No país dos aiatolás
Emanoel Barreto

Supostas fraudes na eleição presidencial do Irã estão mobilizando França, Alemanha e Reino Unido, que cobram investigação a respeito da reeleição surpreendente de Mahmoud Ahmadinejad com a expressiva votação de 63% dos 25 milhões de votos aos candidatos. A comunidade internacional estranha, exatamente, o número, considerado expressivo demais, não retratando a realidade da campanha, que permitia suposição de vitória do seu principal adversário, Mir Hossein Mousavi

A reação internacional ocorre em boa hora. O Irã é uma teocracia republicana. Assim, os ditames religiosos imperam como leis gerais, para tratarmos a coisa de forma simplificada. Lá, o presidente não é o chefe supremo das forças armadas, como acontece no Ocidente. Isso é coisa que fica adstrita ao ailtolá Khamanei, sucessor do trevoso aiatolá Khomeini.

Além disso, o presidente eleito, para assumir, tem que passar pelo crivo do Conselho de Guardiães. Se não for aceito, ganha mas não leva. A eleição do reformista Mir Hossein Mousavi seria sem dúvida um avanço e poderia significar mudança no relacionamento do Irã, que está a exigir alterações para melhor no relacionamento dos antigos persas com a sociedade civil internacional.