sexta-feira, 17 de abril de 2009

Pensam que somos burros
Emanoel Barreto

Uma definição de notícia diz que notícia é tudo o que o jornalista queira que seja notícia. Ou seja: dotado do poder de publicar o que queira, basta selecionar um fato, um fato qualquer, mesmo o mais desimportante, que é possível elevá-lo a essa condição. A Folha on line terminou por confirmar isso: publicou essa foto, de ocorrência incidental, creio que no Afeganistão ou coisa que o valha, e mandou para a grande rede.

Não há dúvida de que, em sua essência, essa ou é uma confissão de total incompetência ou uma manifestação de idiotice. Outro aspecto, esse grave, que revela como as agências internacionais podem manipular o sentido do que seja notícia. A foto foi enviada por uma agência.

Do mesmo modo como essa briga de jumentos foi elevada à condição de notícia, e foi acriticamente aceita, é possível mandar informações deturpadas a respeito de determinado acontecimento importante, angulando-se a sua cobertura sob determinado enfoque. E o público, sem condições de avaliar o fato, saber de outras informações, termina por aceitá-lo como verdadeiro. Leia jornais, mas aprenda a ter comportamento que não seja ingênuo. Senão, vão pensar que o público é mesmo burro.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


Os perversos, sempre eles
Emanoel Barreto

A Folha informa: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que o cálculo do rendimento da poupança precisa e vai mudar, mas ponderou que o assunto será discutido "com carinho" para que os poupadores que têm seu dinheiro aplicado na modalidade não saiam prejudicados.
"Vou ter uma conversa com o ministro Guido [Mantega, da Fazenda] e vamos discutir sobre isso com carinho. Precisamos proteger os poupadores, mas não podemos permitir que pessoas que tenham muito dinheiro apliquem tudo na poupança", disse Lula durante solenidade de apresentação dos novos oficiais generais, em Brasília.
"A poupança é para salvaguardar os interesses da maioria da população que não tem muito dinheiro. Para que eles não tenham prejuízo, vamos fazer isso [mudança] com muito cuidado porque queremos preservar o que temos de mais sagrado, que são os poupadores", completou.

.... Em outras palavras, o pequeno poupador vai ser prejudicado - mais uma vez prejudicado - por causa da ganância, da fome financeira das elites. Uma iniciativa como a caderneta de poupança, única modalidade acessível ao investimento do trabalhador, uma forma de proteger seu limitado patrimônio financeiro, "precisa e deve", como disse Lula, ser modificada, exatamente em função dos que têm muito dinheiro.

Revela-se mais uma vez a cara perversa do capital, sua incompatibilidade com o social, seu desprezo pelo que seja humanidade. De sua ação ruinosa resultam malefícios os mais brutais, cujas repercussões mais sinistras se espalham a chegam aos arrabaldes mais distantes da pobreza, do desamparo, da solidão social que encobre a vida dos despossuídos.

É triste, mas é verdade: o pobre vai ficar mais pobre. E os ricos, não tenha dúvida, encontrarão mais formas de ficar mais ricos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

12.out.2007/Marlene Bergamo/Folha Imagem
Que político é esse?
Emanoel Barreto


A Folha registra: Adriane Galisteu disse que achou "o fim do mundo" saber que seu ex-namorado, o deputado Fábio Faria (PMN-RN), havia usado verba da Câmara dos Deputados para comprar passagens aéreas para ela, sua mãe e um amigo.
"Pago meus impostos, e muito caro, e agora vejo meu nome envolvido nisso!", disse Galisteu.

.... O episódio é bem uma demonstração da mentalidade e, especialmente, do tipo de gente que se elege. Sim, se elege. Não são eleitos, fazem-se eleger por força do poderio econômico, manipulando a pobreza e ignorância semeadas socialmente. Temos uma sociedade civil frágil, poucos grupos se mobilizam e o resultado é esse: estamos pagando passagens para Adriane Galisteu.

Sinceramente: você acha que esse deputado representa algum interesse social? Tem seriedade, disposição, conteúdo ético, noção pelo menos do que seja um cargo público como o que ocupa? Pobre Brasil, pobre Rio Grande do Norte. E olhe que ele é "Faria". Já pensou no que poderia aprontar se fosse Fábio Faz? Aí sim, faria e aconteceria mesmo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

24 horas
Emanoel Barreto

O agente Jack Bauer, da série 24 Horas, rides again. Na nova temporada enfrenta os costumeiros inimigos do mundo, vale dizer dos Estados Unidos. O conteúdo ético da série, as razões do agir do personagem, são profundamente questionáveis, mas numa coisa é perfeita: tecnicamente é irrepreensível. Sua atmosfera, o desenvolver da trama, os enquadramentos e movimentos de câmera não deixam o telespectador desviar a atenção da tela.

Vejo desde 2001, quando começou. Tudo é vertiginoso. Tudo sempre se passa em torno do Poder. Seja o poder do Estado americano ameaçado pelos terroristas, seja o poder de Bauer, sua violência e crueldade contra seus inimigos. De alguma forma percebe-se como age a máquina decisória suprema, suas claudicações, decisões imperativas e demonstrações de força, conchavos e conveniências políticas.

Acho que vale acompanhar. A Globo exibia a série. Agora, podemos vê-la na Fox.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Que se tornem todos santos
Emanoel Barreto

Deu no Estadão: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu nesta segunda-feira, 13, a ocorrência de disputas entre o Executivo, o Congresso e o Judiciário. Segundo Lula, essas divergências são normais, pois fazem parte do processo de consolidação da democracia do País. "Ninguém aqui é freira e nós não estamos em um convento", afirmou o presidente durante cerimônia de lançamento do 2º Pacto Republicano de Estado. "E não me consta na história que num convento também não tem briga", acrescentou, arrancando risadas da plateia.



.... Oremos: talvez fosse melhor que estivéssemos todos num convento, absortos na mais pia meditação e movidos por sacros sentimentos. Os políticos todos de batina, circunspectos, genuflexos, humildes. Deixando de pensar em tramoias, jogos de poder, acertos e empreiteiras.

Como seria bom: todos movidos pelos mais altos sentimentos cristãos, não fariam discursos vazios, escorregadios. Mas orariam pelo bem-comum e talvez até mesmo um deles fosse eleito Papa. Já pensou Sarney I? Ou Maluf I?

Senhor, abrandai o coração daqueles vendilhões do templo. E dai ao povo o que tem ficado com os césares da política. Oremos. Oremos muito.