sábado, 9 de janeiro de 2010


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Pequena história do ódio
Emanoel Barreto

Odiava tanto o outro que quando o outro morreu perdeu o amor de sua vida. Tentou então outro ódio encontar. Em vão. O ódio, ao contrário do amor, é insubstituível.


Li no Observatório da Imprensa. Repercuto. (EB)
O que podemos aprender com Boris?
Por Cleyton Carlos Torres em 5/1/2010

Na web 2.0, há o que chamamos de "excesso de informação" e "excesso de reinformação", em puro neologismo. O primeiro se refere à quantidade colossal de informações com as quais somos bombardeados a cada segundo. O segundo termo trata da repetição de notícias já conhecidas, já postadas ou comentadas. Neste caso, relatar novamente todo o caso Casoy seria "reinformação".


Afinal, o que podemos aprender com Boris Casoy? Há quem fale "merda" em público, como Lula fez e faz, e há quem fale "merda" nos bastidores, como é o caso do jornalista citado. A grande questão é: com a web 2.0, não há mais bastidores. Isso não significa uma aceitação livre, espontânea ou inconsciente de uma não privação. A falta de bastidores nesse contexto retrata toda sujeira que sempre ocorreu nos meios públicos e privados, principalmente no jornalismo, só que agora todas as pessoas podem ter acesso a esses pensamentos "íntimos".

De um jornalista consagrado, que acha que garis não possuem motivos para desejarem um feliz ano novo, até um político que esconde dinheiro público nas meias e nas cuecas, não há grandes diferenciações. Vivemos em um Estado de direito e cada pessoa faz o que bem entender, respondendo, depois, aos atos excessivos e contraditórios à lei.

Mas o entrave principal se relaciona à imagem pessoal. Políticos e partidos políticos são as instituições mais desacreditadas desse país. Falar mal de políticos é dever da imprensa, da população e de qualquer um que queira. Quando um jornalista da grande e tradicional imprensa comete deslizes que beiram o preconceito e a humilhação, algo muito sério está acontecendo.

Símbolo da imprensa tradicional


O que acontece, afinal, não é muito diferente do que sempre ocorreu nos "bastidores". O caso Casoy só demonstra que jornalistas também são preconceituosos, racistas, cometem deslizes e gafes. Jornalista também é humano e também erra, mas pedir desculpas somente aos garis e aos telespectadores da Band prova que Boris Casoy não tem a mínima noção da repercussão que seu preconceito social está tendo. Casoy vive na mídia tradicional, analógica e elitista. Em apenas dois dias desde que o vídeo caiu no YouTube, mais de 100 mil pessoas já o assistiram. As redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter estão sendo infestadas por usuários inconformados com os atos do jornalista que, por conseqüência, leva o nome da Bandeirantes. Porém, que atire a primeira pedra o internauta que nunca cometeu uma gafe dessas.

Entretanto, mais uma vez é provado que o buraco é mais embaixo. A mídia tradicional, a grande imprensa e grande parte dos jornalistas mais consagrados desse país não estão sabendo lidar com as novas ferramentas digitais. Tudo é filmado, fotografado ou gravado. Um mínimo deslize pode fazer com que imensas companhias estejam fadadas ao fracasso. O que dizer de um antigo jornalista da estrutura jurássica da mídia brasileira?

Mais do que um simples case de assessoria de imprensa por parte de Casoy ou da Band, o vídeo que gerou toda essa discussão demonstra que aqueles que possuem o papel de garimpar o dia-a-dia e apresentar aos consumidores uma informação apurada, bem editada e "limpa", não estão sabendo nem ao menos vasculhar o que dizem a respeito deles mesmos. Boris Casoy não deve ser lembrado como o jornalista do jargão "isso é uma vergonha", nem mesmo ser relacionado aos garis que humilhou. Boris Casoy deve ser o símbolo da imprensa tradicional que, caso não faça nada para mudar, será massacrada pela revolução digital.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


Imagem: http://niilismo.net/galeria/pictures/depois_da_meia-noite.jpg
Mistérios da meia-noite
Emanoel Barreto

O site Congresso em Foco informa que a oAB-Brasília tirou da net sua página, onde constavam informações relativas ao escândalo Arruda. Leia a matéria abaixo. (EB)

Sem menções a Arruda, OAB-DF tira site do ar
Mário Coelho

A seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) tirou na tarde desta sexta-feira (8) o site da instituição do ar. Ontem, parte das matérias que alimentavam a página da OAB-DF desapareceram do sistema, especialmente aquelas que tratavam do impeachment do governador do DF, José Roberto Arruda (sem partido).

A alegação oficial dada para o sumiço das matérias sobre Arruda foram "problemas técnicos". Na sexta-feira (8), quando o sumiço veio a público, o site foi tirado do ar. De acordo com a assessoria de imprensa da Ordem, o site deve voltar ao normal até a próxima segunda-feira (11). Por enquanto, só uma mensagem no endereço oficial: "Site fora do ar para reformulação. Agradecemos a compreensão. OAB/DF".

Segundo matéria publicada no jornal Correio Braziliense de hoje, o site também saiu do ar na quinta-feira (7), no início da tarde. Quando voltou, parte das notas na seção de notícias não estavam mais publicadas.

Eram as reportagens sobre a atuação da ex-presidente da entidade Estefânia Viveiros, em especial no período em que surgiram as denúncias envolvendo o governador Arruda após a Operação Caixa de Pandora. O escritório do atual presidente da instituição, Francisco Caputo, advoga para Arruda em uma série de ações na Justiça.


Estefânia foi a responsável, com apoio de boa parte dos conselheiros da OAB-DF, por apresentar o pedido de impeachment de Arruda e do seu vice, Paulo Octávio (DEM).

Segundo a assessoria da OAB-DF, o site saiu do ar quando a empresa contratada para atualiza-lo mudava uma série de informações no conteúdo. Como o trabalho depende dos técnicos, a OAB-DF não tem prazo para recolocar a página no ar, mas acredita que até segunda-feira isso deve acontecer. A assessoria ressalta que "não houve ordem de ninguém, nem do presidente, para tirar o site do ar".




Foto: http://www.doubledeckerbuses.org/pastyme/media/blogs/all/godiva.jpg
Uma godiva intensa
Emanoel Barreto

A tarde passeava parva num silêncio tardo.
E de repente então uma godiva intensa.
E do seu arfar sincero surgiu uma força.
Que fez de cada homem um centauro.
Imagem: http://ceticismo.files.wordpress.com/2009/03/morte1.jpg
Pensando em voz alta
Emanoel Barreto

Morro de medo de ter medo de morrer. Mas a morte, que não existe em si, mas em mim, não cessa de me morrer a cada instante. E então percebo que, na verdade, ter medo de ter medo de morrer é mesmo o medo de ter medo de viver essa morte que caminha todos os meus passos.
A vida continua, mesmo que a digam morta
Emanoel Barreto

Não, não, Elvis não morreu. Ele pode ser econtrado em alguma dimensão da poesia, esse território etéreo que nossa sensibilidade palmilha. Elvis não foi apenas um grande cantor. Foi muito mais que "Elvis, the pelvis". Não morreu porque foi uma circunstância e toda circunstância, quando exponencialmente grandiosa, muda destinos, influencia, pulsiona a história.

Não foi à toa que Ortega y Gasset disse: "Eu não sou eu. Eu sou eu e a minha circunstância." Elvis, assim com os Beatles, foram grandes circunstâncias. O Houaiss refere: "Circunstância:
condição de tempo, lugar ou modo que cerca ou acompanha um fato ou uma situação e que lhes é essencial à natureza."


Ele marcou um tempo - ainda marca o nosso; um lugar (o mundo) e um modo de ser de toda uma geração. E assim está vivo em meio a essa grande circunstância que é o poético.

Não foi por acaso que ele dizia em "Love me tender": "Never let me go."




Foto: http://sorisomail.com/img/seguranca-8044.jpg
Pensando em voz alta

Desconfio que não confio muito em quem desconfia dos outros e faz da desconfiança certeza de que os outros são incertos e não-sabidos e assim diz que deles se deve desconfiar porque, quem desconfia e faz da desconfiança acusação, acusa a si próprio de paranóico. (EB)
Imagem: http://www.topgyn.com.br/conso00/arquivos/loira_24_07_150x200.jpg
O que é um pleonasmo

O amigo Luiz Lopes, que navega no Twitter, me envia esta pequena pérola a respeito do pleonasmo.
Valeu, Luiz, um abraço.
Emanoel Barreto
.....................
Nos idos anos de 1910 Presidia o Brasil o Marechal Hermes da Fonseca. Segundo algumas versões, o Presidente não era muito inteligente, nem possuía uma bagagem cultural razoável.

Certa manhã Hermes amanheceu com os olhos remelados. Procurou o médico da Presidência da República que diagnosticou seu problema: conjuntivite. Na mesma oportunidade, o médico receitou-lhe o uso de óculo escuros durante todo o dia.
No final da tarde o Presidente foi participar de uma reunião com o Senador Pinheiro Machado do RS.

O Senador era líder do governo e pertencia ao Partido Republicano Conservador. Ao ver o Presidente de óculos escuros já quase à noite, o Senador indagou: Presidente o que é isso? De óculos escuros a esta hora? Hermes respondeu: É conjuntive nos olhos. Pinheiro imediatamente corrigiu: conjuntive nos olhos é pleonasmo!

Passado a reunião e já de volta para seus aposentos a esposa de Hérmes quis saber qual era o seu problema. Ele, de pronto, respondeu: Não sei mais. O médico disse que era conjuntive, mas Pinheiro falou que era pleonasmo.

Abraço,
Luiz Lopes
PS: Lopes lembrou-me que essa referência era feita pelo professor Américo de Oliveira Costa, jurista, professor e humanista, de quem fui aluno.
Imagem: http://www.nomeimproprio.com.br/wp-content/uploads/2009/04/verdade-mentira.jpg

Falando de verdade
Emanoel Barreto

Transcrevo texto de extrema lucidez, do jornalista Hélio Sachwartsman, da Folha. É sobre a Comissão da Verdade. Estranhei, num jornal como a Folha, a emissão de ideias tão claras, didáticas e lúcidas. Leia abaixo. (EB)

A verdade da comissão
Hélio Schwartsman

Criar uma comissão do governo (de qualquer governo) para apurar a verdade é meio caminho para o engodo. Ainda assim, considero oportuna e necessária a Comissão da Verdade proposta pela atual administração com o objetivo de passar a limpo os crimes cometidos por representantes do Estado durante a ditadura militar. Existem famílias que ainda não sabem o que ocorreu com seus parentes desaparecidos. De resto, a população como um todo não pode ser privada do que podemos chamar de direito à verdade histórica.

Se o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas não gostam, é um direito deles. Numa democracia, ninguém é obrigado a concordar com o chefe ou exercer cargo que não queira. Eles podem perfeitamente deixar seus postos e passar para a reserva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá dificuldades para achar substitutos. É até risível imaginar que exista hoje o perigo de quartelada ou golpe.

Pelo que pude acompanhar das discussões, o debate já surge marcado por um vício de origem, que é o de igualar as partes. Lamento decepcionar alguns, mas nem tudo é um Flá X Flu. Os que se insurgem contra a comissão falam em revanchismo e protestam contra uma suposta parcialidade, pois o comitê teria a incumbência de investigar só os crimes cometidos pelas forças de segurança, deixando de lado os delitos perpetrados pelos que participavam dos grupos de esquerda.

A queixa não procede. Já passei da idade de acreditar em maniqueísmos. Não me parece que a maior parte dos que combatiam em movimentos de resistência ao golpe militar o fizesse por amor à democracia. É público e notório que a meta de nove entre dez dos grupos clandestinos era instituir no Brasil alguma das versões daquilo que Marx chamou de ditadura do proletariado. Mas daí não decorre que estivéssemos em uma guerra civil na qual dois lados se enfrentavam em igualdade de condições e, mais importante, de obrigações jurídicas.

Embora combatentes de esquerda se acreditassem legitimados por uma "moral superior" até a matar para lograr seus objetivos, eles eram, sob o prisma da lei, criminosos comuns protegidos pelas garantias fundamentais declaradas nas Constituições de 1946 e, depois, de 1967, nenhuma das quais autoriza a tortura.

Os agentes da repressão, na qualidade de funcionários do poder público, tinham o dever legal de respeitar os direitos civis dos presos e assegurar-lhes a integridade física. O que se constatou, porém, é que houve uma verdadeira política de Estado, autorizada senão organizada pelos mais altos escalões da República, de violação desses direitos. Cabe ainda lembrar que as vítimas dos desmandos não se limitaram aos que pegaram armas para combater o governo, mas incluíram simples simpatizantes de partidos de esquerda e até familiares e amigos de guerrilheiros.

É justamente aí que reside a importância da Comissão da Verdade (ainda que tenhamos motivos de sobre para permanecer céticos em relação a seus êxitos). Enquanto as ações cometidas pelos grupos de esquerda são história antiga, no máximo do interesse de acadêmicos, há, nos desmandos cometidos por representantes do Estado, também um interesse institucional. O tal do "Direito à Memória e à Verdade" que consta do documento do governo e que tanto irritou os militares é uma forma de expiar as culpas oficiais e sensibilizar a população e a burocracia para que erros análogos não venham a ser cometidos no futuro.

Outro ponto sobre o qual os opositores da comissão insistem é o da Lei de Anistia. Eles afirmam que a mera existência do comitê vai ferir essa legislação. Receio informar que o referido diploma, promulgado em 1979, sob o governo do general João Batista Figueiredo, já não tem muita importância. Originalmente, ele serviu para garantir que os exilados durante a ditadura pudessem retornar ao Brasil e reassumir suas funções. Numa segunda fase, com base em pareceres jurídicos de variadas origens, foi usado para evitar que agentes da repressão fossem processados. De toda maneira, a norma tornou-se uma peça de museu, pois ela extinguia a punibilidade de "crimes políticos ou conexo com estes" cometidos entre 1961 e 1979. Ora, mesmo que nenhuma anistia jamais tivesse sido aprovada nem estendida aos torturadores, os mais graves dos delitos em questão prescreveram em 1999.

Uma turma ligada aos direitos humanos sustenta que o crime de tortura é imprescritível, pois o Brasil é signatário de tratados internacionais que assim a qualificam. Eu até gostaria de abraçar essa interpretação, mas precisamos nos ater ao que diz o "livrinho" (Constituição). E a Carta elenca apenas duas categorias de delitos imprescritíveis: o racismo (art. 5º, XLII) e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (5º, XLIV). Já a tortura figura no inciso XLIII como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RHC 79.785) reafirma a lógica: a Carta prevalece sobre quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos humanos.

É melhor, portanto, que nossa valorosa soldadesca fique longe desse tipo de raciocínio jurídico. Uma interpretação mecânica dos dispositivos constitucionais nos daria argumentos não apenas para afirmar que a Lei de Anistia não vale para torturadores (não há direito adquirido contra norma constitucional, dirão sete de cada dez doutrinadores) como também para abrir um processo penal contra os participantes do golpe de 1964, este sim um delito insofismavelmente imprescritível nos termos do livrinho.

Brincadeiras à parte, não há nenhuma razão ponderável para que o Brasil, seguindo vários outros países que passaram por experiências similares, deixe de criar a sua Comissão da Verdade. O simples fato de a cúpula militar ficar irritada com esse gênero de iniciativa é a prova de que o processo é necessário para a consolidação da normalidade institucional.

Só há um campo onde não pode haver nenhuma espécie de prescrição e é o da História. Nenhum governo tem o direito de privar a sociedade de descobrir o que aconteceu consigo própria ao longo do tempo, por piores que tenham sido os crimes cometidos pelas instituições do Estado.

E, no que diz respeito à história, o governo Lula, apesar da louvável iniciativa da Comissão da Verdade, é devedor. A atual administração, no que imita a gestão do professor e intelectual Fernando Henrique Cardoso, deu ouvidos aos apelos do Itamaraty e dos militares e manteve a absurda figura do sigilo eterno de documentos oficiais, embora tenha tido diversas oportunidades para reparar seu erro. Na mais recente das reincidências, o governo enviou no ano passado ao Congresso o projeto da Lei do Acesso [a papéis do governo], no qual manteve esse verdadeira excrescência democrática, o equivalente gnoseológico de torturar a história.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2010


Pequena história de um navegador
Emanoel Barreto

Foi chegado o tempo e a vela estava panda.
A bujarrona inflou-se e a nau então partiu.
Foi em vão?
Não sei. Ainda navego.

O mar era convite; não se podia declinar.
E foi assim que a minha nau partiu.

Não sou do almirantado, nem gajeiro eu sou.
Apenas grumete
que do alto do velame vê adiante o mar chamando: vem.
E vou.
Imagem: http://boanoite.files.wordpress.com/2008/02/jornalismo.jpg
O dono da entrevista
No Observatório da Imprensa encontrei este artigo a respeito de direito autoral. O autor analisa com grande senso de escrutínio o contencioso onde se estabelece a difícil relação entrevistador/fonte. (EB)


Quem é o dono de uma entrevista?
Postado por Carlos Castilho em 4/1/2010 às 15:23:22

Em outubro do ano passado dei uma entrevista por email para um aluno de faculdade de jornalismo e, ao finalizar, perguntei se poderia reproduzir o texto aqui no Código. A resposta foi negativa, fiquei meio confuso mas só dois meses depois é que dei conta de todas as implicações da questão.

Agora em dezembro, o jornalista inglês Paul Bradshaw
reproduziu uma experiência pessoal quase idêntica e que tem a ver com uma nova situação criada pela internet na controvertida questão do direito de autoria. Trata-se de uma polêmica que ainda vai der muito pano para manga.

Tudo porque estão em jogo duas visões diferentes sobre um mesmo fato, ou situação. O entrevistado acha que é o dono de tudo porque afinal de conta as idéias, reflexões, experiências, percepções e opiniões são fruto de sua realidade pessoal. Já o jornalista está convencido de que a partir do momento em que ele colocou no papel ou transmitiu pela rádio e TV, ele passa a ser o proprietário dos direitos autorais do produto final, mesmo citando as fontes.

As duas partes esgrimem argumentos lógicos. O entrevistado por razões óbvias, já que ele só foi consultado porque acumulou um conhecimento fruto de seu trabalho pessoal. Se ele publicar tudo num livro, ele tem os direitos absolutos sobre a obra.

Já o repórter justifica sua negativa de reprodução alegando que ele o dono das perguntas, da idéia da entrevista e principalmente de sua edição, o que configuraria uma obra com características próprias e também pessoais.

Esta questão do direito de publicação pelo autor de entrevistas ou declarações dadas a terceiros está se tornando cada dia mais importante porque, além da autoria, também está em jogo o problema do contexto. O jornalista faz entrevistas que depois podem ser usadas em contextos informativos bem diferentes dos imaginados pelos entrevistados.

Assim, por exemplo, cresce a cada dia o número de órgãos governamentais que publicam em seus sites corporativos entrevistas e comunicados distribuídos à imprensa em geral. O caso do blog da Petrobras ainda está na memória de todos nós, em especial a reação dos grandes jornais brasileiros.

Grande parte da dimensão adquirida pela questão é uma conseqüência do desejo de ter o controle sobre conteúdos informativos, seja pelo entrevistado ou pelo entrevistador. Desejo este que pode ter motivações econômicas ou políticas.

No meu caso era o de disponibilizar para os leitores do Código uma reflexão que produzi para um estudante de jornalismo preparando o seu trabalho de conclusão de curso e que provavelmente seria lida apenas pela banca examinadora.

Enquanto a questão for vista pelo lado do controle e de seus interesses implícitos vai ser quase impossível chegar a um denominador comum. Há até a possibilidade de situações esdrúxulas como o repórter ter o direito sobre as perguntas e o entrevistado sobre as respostas. É algo kafkiano porque numa entrevista - seja ela escrita, em áudio ou em vídeo - é impossível separar as partes.

É por isto que cresce a cada dia a percepção de que, pelo menos no caso de uma entrevista, ninguém teria direito a nada. O entrevistado porque esta dando um esclarecimento ao público e não ao repórter. Este, por seu lado, assume na função jornalística, o papel de representante do leitor, ouvinte ou espectador.


Se tomarmos o público como referência, a polêmica deixa de existir porque tanto o entrevistado como o entrevistador estão prestando um serviço a terceiros. Mas como a maioria dos jornalistas assume que é dono daquilo que publica, as fontes de informação começam a reivindicar o mesmo direito na medida em que descobrem que também podem publicar o que querem na internet. Daí o impasse.




O presidente iraniano Mahmoud Ahmadnejad usa óculos 3-D em visita ao centro de controle espacial em Teerã. Irã, 04/02/2008. Foto: Fars News/Reuters

Muito doido, meu, muito doido...

Emanoel Barreto

A imagem, de alguma forma, demonstra o ridículo do Poder; traz à luz a face que é oculta pela face visível, que por sua vez que se torna risível. Em nome de Deus, de Alá ou de qualquer forma de manifestação de algum tipo de, com licença da palavra, potestade, um homem e seu grupo de homens impetra a sua verdade. E a loucura tem cara e lado. É realmente muito doido.

Foto: http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=20204364
Iberê e os grandes lutadores de judô. É mestre no ippon da política
Emanoel Barreto

A política, dentre muitas outras coisas, é também um jogo. Um jogo de habilidade e força. Um jogo feito de avanços e recuos, paradas táticas, silêncios, sussurros e, quando é preciso, gritos. Mas, em política, nem sempre se ganha no grito.

O vice-governador Iberê Ferreira é um desses políticos que não grita, prefere o jogo de habilidade e força. Força sem significar necessariamente forçar situações. Força no sentido de agir no momento preciso, quando, tendo vento a seu favor, o ator político expõe as suas cartas, o seu capital político. Xeque-mate.

Assim ele fez, quando dos inícios do processo de escolha do candidato da governadora Wilma de Faria. Vou contar uma história que, suponho, demonstra a habilidade do vice-governador.
Aconteceu o seguinte: certa vez, há meses, encontrei-me casualmente com Iberê, a quem conheço desde os tempos em que os bichos falavam - com licença de Paulo Henrique Amorim pelo uso do seu bordão - e, nesse rápido encontro falamos, claro, de política.

Como ele estava apressado, e eu também, perguntei de forma direta, para não perder a oportunidade: "E aí, é mesmo o candidato de Dona Wilma?". Ele sorriu, bateu no meu ombro e disse: "Barreto, vou fazer o seguinte: vou ter calma. Vou trabalhar sem estresse. Se der, deu. Se não der..."


Mantive a conversa em off. Não me senti autorizado a divulgá-la, mesmo ele nada tendo me pedido. Mas agora, quando já está confirmado como candidato, achei por bem falar a respeito. E me pergunto: o que levou-o à sagração? Dentre os muitos motivos ocultos pela pesada cortina dos atos políticos, creio que foi sua tranquila perseverança. Não negaceou, não ameaçou a governadora, não engendrou ações na guerrilha dos escaninhos.

Ao que penso, usou de habilidade e força. O mesmo esquema de luta que beneficia os grandes lutadores de judô, que usam o peso do adversário para enfim levá-lo ao baque. Sabe jogo, Iberê, sabe muito jogo. Ippon para ele.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Foto: http://giramundo.files.wordpress.com/2008/01/carregando-o-mundo-nas-costas.jpg
O mundo é uma tautologia. Ou será um pleonasmo?
Emanoel Barreto

Às vezes, ao redigir meus textos aqui, sinto-me tautológico. Tautologia, em uma definição simplista, é dizer sempre a mesma coisa com outras palavras. Ou seja: falo sempre das coisas terríveis do mundo, seus crimes, seus abomináveis senhores e as pessoas, o povo, como se diz, sofrendo as consequências.

Cada novo texto é na verdade um texto velho, reedição modificada do que dissera antes. Ou seja novamente: as tragédias do mundo, agora como pleonasmo de si mesmas. Outro ou seja: entrar para dentro, sair para fora, certo?, é um pleonasmo. Temos assim um mundo em constante e renitente repetição das desgraças históricas e existenciais do Homem na face da Terra.

Pensando bem, o mundo é algo sem solução. Sua tautologia e seu pleonasmo se repetem desde o panis et circensis dos césares até a sofisticação da propaganda, seja direta ou subliminar do tempos de hoje.

Assim, acabo aqui minha tautologia e meu pleonasmo. Mais tarde ou amanhã volto a reescrevê-los. Abraços.

PENSANDO EM VOZ ALTA

Às vezes penso que penso, mas nesse pensar penso que pensei demais, e assim penso que pensar é algo muito difícil e acho que não acho o caminho certo do pensamento que é coisa da mente e a mente, mente.



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O dom de iludir

Foto: divulgação Rede Globo

O dom de iludir
Emanoel Barreto
Os poderosos grupos de mídia de todo o mundo, utilizando-se dos valores advindos da mentalidade mediana do chamado homem comum, cujos valores são advindos do compartilhamento de uma certa cotidianidade, instituiram ações de massa que de alguma forma refletem, mesmo que de forma perversa, essa cotidianidade onde o social e o existencial se encontram entremesclados. 

A perversidade está na manipulação dos valores do senso comum em espetáculos como o BBB da Rede Globo, cuja hegemonia impõe ao social e aos concorrentes a realização dessas tragédias cifradas, que entorpecem corações e mentes. Os BBBs são como avatares do homem comum, que se projeta e se identifica, em catarse, nos personagens em que cada um dos participantes do programa se transforma. 

A realidade cifrada, na metáfora dessas ações de massa, gera conflitos que muito bem sugerem o dia-a-dia: disputas, convergência e divergência de interesses, ansiedade por mudar de vida, lágrimas e desolações, injustiças, pequenas tragédias ante a iminência de perda de realização de um sonho: "Oh, my God!" 

De alguma forma cada um de nós, em nossos próprios grupos e classes, é seu próprio heroi. Cada um, no seu íntimo, sabe dos embates e dramas que enfrenta para viver e sobreviver. Isso está magnificamente dito na letra de "Dom de iludir", de Caetano Veloso, quando diz: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." Ou seja: o ser humano, em processo de comunicação consigo mesmo, se descobre como sujeito e objeto de seus próprios desígnios, perplexidades, auto-perdão e auto-bem-querer. E para viver é preciso trabalhar. E para viver é preciso sofrer. 

É disso que o BBB se aproveita: ao apresentar a um grupo selecionado a oportunidade de ganhar 1 milhão e 500 mil reais, dá a todos e a cada um a opordunidade de "subir na vida". E isso de maneira quase mágica, sem que para isso precise do exercício dessa ação social chamada trabalho, cujo exercício, para ter retribuição, exige tempo e vida. Muito tempo, muita vida...
Ocorre que, para tanto, os participantes se submetem a todo um processo de humilhação, como humilhante também é, para brutal maioria dos trabalhadores, humilhante ser trabalhador - imprensado em ônibus lotados, achincalhado por um sistema de saúde pública nefasto, atemorizado pela violência urbana e políticos corruptos também, eles autores de uma certa forma de violência. 

A análise de um programa como o BBB exigiria, para sua exaustão, um longo estudo, tal a simbologia que tem do mundo real. O mais lamentável é que, aos poucos, o programa ganha contornos de instituição, um evento aguardado, cuja sazonalidade chega a ser ansiada pelas pessoas. 

Afinal elas, inconscientemente, sentem-se ali presentificadas e percebem, de forma difusa e gasosa, que suas vidas estão sendo vividas e representadas - até mesmo em sentido teatral -, pelo grupo dos BBBs, que se sujeita ao açoite do programa para se tornar famoso por quinze minutos. A Globo tem, realmente, o dom de iludir. A eles e a todos nós.

PENSANDO EM VOZ ALTA
Acho que vou querer querer. Mas, quando quero, realizar não posso. Mesmo assim, não posso não poder achar que acho que não acho que o mundo seja de todo mal.

Tanscrevo abaixo artigo que analisa a figura de Boris Casoy a partir de sua preconceituosa declaração (de desrespeito) a respeito dos trabalhadores Garis. No texto alude-se a pretensa participação de Boris no sinistro CCC, o Comando de Caça aos Comunistas. (EB)

4 de Janeiro de 2010 - 11h38

Boris Casoy é “uma vergonha”
Por Altamiro Borges

Primeiro vídeo: ao encerrar o Jornal da Band da noite de 31 de dezembrode 2009, dois garis de São Paulo aparecem desejando feliz ano novo aopovo brasileiro. Na sequência, sem perceber o vazamento de áudio, o fascistóide Boris Casoy, âncora da TV Bandeirantes, faz um comentário asqueroso: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... do altode suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala dotrabalho”.
Segundo vídeo: na noite seguinte, o jornalista preconceituoso pede desculpas meio a contragosto: “Ontem, durante o programa, eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”.

Numa entrevista à Folha, porém, Boris Casoy mostra que não se arrependeu da frase e do seu pensamentoelitista, mas sim do vazamento. “Foi um erro. Vazou, era intervalo esupostamente os microfones estavam desligados”.
Do CCC à assessoria dos golpistas
Este fato lastimável, que lembra a antena parabólica do ex-ministro deFHC, Rubens Ricupero – outras centenas de comentários de colunistaselitistas da mídia hegemônica infelizmente nunca vieram ao ar –, revelacomo a imprensa brasileira “é uma vergonha”, para citar o bordão deBoris Casoy, com seu biquinho e seus cacoetes.

O episódio também serve para desmascarar de vez este repugnante apresentador, que gosta de posar de jornalista crítico e independente. A história de Boris Casoy é das mais sombrias. Ele sempre esteve vinculado a grupos de direita e manteve relações com políticos reacionários. Segundo artigo bombástico da revista Cruzeiro, em 1968, o então estudante do Mackenzie teria sido membro do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), o grupo fascista que promoveu inúmeros atos terroristas durante a ditadura militar.
Casoy nega a sua militância,mas vários historiadores e personagens do período confirmam a denúncia.
Âncora da oposição de direita
Ainda de 1968, o direitista foi nomeado secretário de imprensa de Herbert Levy, então secretário de Agricultura do governo biônico de Abreu Sodré – em plena ditadura.

Também foi assessor do ministro da Agricultura do general Garrastazu Médici na fase mais dura das torturas e mortes do regime militar. Em 1974, Casoy ingressou na Folha de S.Paulo e, numa ascensão meteórica, foi promovido a editor-chefe do jornal de Octávio Frias, outro partidário do setor “linha dura” dos generais golpistas.
Como âncora de televisão, a sua carreira teve início no SBT, em 1988. Na seqüência, Casoy foi apresentador do Jornal da Record durante oito anos, até ser demitido em dezembro de 2005. Ressentido, ele declarou à revista IstoÉ que “o governo pressionou a Record [para me demitir]... Foram várias pressões e a final foi do Zé Dirceu”.

Na prática, a emissora não teve como sustentar seu discurso raivoso, que transformou o telejornal em palanque da oposição de direita, bombardeando sem piedade o presidente Lula no chamado “escândalo do mensalão”.
Nos bastidores da TV Bandeirantes
Em 2008, Casoy foi contratado pela TV Bandeirantes e manteve suasposições direitistas. Ele é um inimigo declarado dos movimentosgrevistas e detesta o MST.

Não esconde sua visão elitista contra as políticas sociais do governo Lula e alinha-se sempre com as posiçõesimperialistas dos EUA nas questões da política externa. O vazamento do vídeo em que ofende os garis confirma seu arraigado preconceito contra os trabalhadores e tumultuou os bastidores da TV Bandeirantes. Entidades sindicais e populares já analisam a possibilidade de ingressar com representação junto à Procuradoria Geral da República.


Como ironiza Beto Almeida, presidente da TV Cidade Livre de Brasília,seria saudável o “Boris prestar serviços comunitários por um tempo,varrendo ruas, para ter a oportunidade de fazer algo de útil aos seus semelhantes”. Também é possível acionar o Ministério Público Federal,que tem a função de defender os direitos constitucionais do cidadãojunto “aos concessionários e permissionários de serviço público” – como é o caso das TVs.

Na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro,Walter Ceneviva, Antonio Teles e Frederico Nogueira, entre outros dirigentes da Rede Bandeirantes, participaram de forma democrática dos debates. Bem diferente da postura autoritária das emissoras afiliadas àAssociação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert),teleguiadas pela Rede Globo.

Apesar das divergências, essa participação foi saudada pelos outros setores sociais presentes ao evento. Um dos pontos polêmicos foi sobre a chamada “liberdade de expressão”. A pergunta que fica é se a deprimente declaração de Boris Casoy faz parte deste “direito absoluto”, quase divino. (Universidade Estadual Paulista - UNESP/BauruFaculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - FAAC)
Pensando em voz baixa
Sobre o dinheiro nas mãos do Governo:
Que não seja imoral, posto que é público. Mas se for imoral, o que é comum, que seja finito e pouco dure.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Foto: http://imagensdivertidas.blogs.sapo.pt/17016.html
Pensando em voz baixa
Emanoel Barreto

Acredito que não creio ser impossível não acreditar que, com luta, poderemos acreditar num mundo melhor. Desconfio que é preciso confiar, mas não entendo o entendimento de uns poucos deva mandar no mundo. E reafirmo o lema deste blog: "Não é justo alguém ter direito a ter uma empresa de aviação e outro não ter direito a comer um pão."

domingo, 3 de janeiro de 2010

Você sabia que existe o Instituto Henfil?
Emanoel Barreto

Descobri que existe uma entidade chamada Instituto Henfil, cuja finalidade é preservar a memória de um dos maiores cartunistas do Brasil. A imagem é de um cartaz quando do lançamento da instituição. Mas no site nada encontrei de novidade a respeito do jornalista. O endereço é http://zinebrasil.wordpress.com/2009/02/19/instituto-henfil/

Na sequência, vejamos se alguém posta alguma coisa. Já coloquei nos meus favoritos.
Foto: http://www.revistadinamica.com/colunista/images/96ca7ed3770c672d370557d15c5cc47e.jpg
Sem assunto? Reclame do calor
Emanoel Barreto

O último post deste Coisas de Jornal foi dia 31 de dezembro. Uma coisa e outra e parei de publicar. Ainda estou estudando o ano novo e ele a mim. Não nos conhecemos, ainda não sei o perfil do ano, se tem manhas, artimanhas, rabos-de-arraia e golpes baixos. Ou, se por outro lado, teria facetas agradáveis, gestos de amabilidade, coisas boas a ofertar.

Mas, na verdade, não. Pensando bem, não. Não o quê?, você pode perguntar. Explico: o ano é novo mas o tempo e velho. É ano novo porque dissemos que é novo. Pronto. Sei mesmo que teremos de tudo. Angra e sua tragédia são a prova do que digo. Virão outras? Temo que sim. Coisas boas? Também.

O que escrevo são divagações nesta manhã de domingo meio chuvoso. Claro que você já percebeu. Escrevo porque meu contrato de leitura com você me obriga. Ou seja: você acessou este Coisas de Jornal esperando um texto inédito, já cansado de ter vindo aqui e nada encontrado, ao contrário de outros dias, quando sempre publico alguma coisa.

Bom, cumpri minha parte no contrato. Convenhamos: foi um texto chato, não? Mas, de qualquer maneira, você não ficou sem ter o que ler. Desculpe, mas jornalismo é isso: em branco, não sai. Enfim, tivemos essa conversa vazia. Do mesmo jeito daquela que você tem com qualquer um quando, sem assunto, reclama do calor...