sexta-feira, 10 de abril de 2009


O Cordeiro de Deus e os pecados do mundo
Emanoel Barreto

Cordeiro de Deus, tireis os pecados do mundo: fome, desemprego, exploração do trabalhador, sem-teto, sem-terra, sem-nada, guerras, corrupção, infância desamparada, meninos de rua, tráfico de drogas, tráfico de armas, lágrimas, tortura, medo e dor.

Cordeiro de Deus: que Vossos sofrimentos venham a tocar o coração do homem e que este aprenda a Vos amar.

Cordeiro de Deus: perdão, mas Estavas enganado: eles sabem o que fazem.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ficha de Dilma Rouseff nos porões da Oban (Operação Bandeirantes), desencadeada para prender "subversivos"

Os verdadeiros criminosos

Emanoel Barreto

Recente entrevista da Folha de S. Paulo com a ministra Dilma Rousseff buscou, em seu passado de guerrilheira, argumentos para apresentá-la jornalisticamente como "criminosa". Passados tantos anos, soa estranho, muito estranho. Não concordo com os métodos da guerrilha. A democracia deve ser conquistada em praça pública, na resistência tática e persistente frente a modelos autoritários, passo a passo.

Mas agora, quando seu nome desponta como provável candidata à presidência da República na eleição de 2010, reavivar tais lembranças é ato político que busca desmoralizar historicamente alguém que, de qualquer forma, agia pensando em ver no país uma outra realidade social, diversa da opressão econômico-militar vigente na ditadura de 64.

A Folha é adepta da candidatura do governador de São Paulo, José Serra. Assim, sob a empanada de estar praticando jornalismo, na verdade age como partido politico que visa atingir, e anular, a presença política de uma adversária.

Quem leu a entrevista percebe que ali não se passava um ato jornalístico de indagação esclarecedora. Perpetrava-se na verdade um interrogatório, cuja finalidade era, mediante proposição de perguntas capciosas, dela obter respostas que a incriminassem, como se fora criminosa comum, não militante política que praticava essa mesma política por meios de contencioso armado.

Por mais equivocados que fossem os métodos, é bastante suspeito que somente agora, às antevésperas de uma eleição, estes sejam relembrados. Detalhe: a entrevista não buscou resgatar as torturas e humilhações que ela sofreu. Voltou-se inteiramente para configurá-la como uma espécie de Joana d'Arc do mal, sectária e violenta.

Na contraface da moeda, entretanto, ela poderia relatar as brutalidades que sofreu como mulher e como ser humano. E aí, certamente, apareceriam os verdadeiros crimonsos.

terça-feira, 7 de abril de 2009


Nasceu Murilo, meu segundo Neto
Emanoel Barreto

Nasceu há pouco menos de uma hora* Murilo, meu segundo neto.
Que seja forte para viver o mundo que o nosso tempo nos legou.
Que seja belo para poder brilhar em meio à beleza imensa dos dias e das noites.

Que tenha coragem para desafiar as batalhas que vierem.
Que seja bom, para dar aos pais, Mirna e Edgar, a alegria terna que brota de todos os azuis.

Que seja travesso, peralta, corredor e inventivo, para brincar com Eduarda, a irmã que desenha estrelas todos os dias para esse avô.

E que nos dê a todos o seu olhar de inocência, e nos traga luz e paz.
Um grande abraço, meu pequeno menino. Vovô já o espera para grandes cavalgadas.
(Refiro às dez horas da noite do dia 7 de abril).

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Bicho
Deixo você com Manuel Bandeira. Um grito pasmo.
Emanoel Barreto


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.