sábado, 14 de agosto de 2010

Como uma certa imprensa conta a nossa história




Dilma Vana Rousseff: deve ser considerada armada e perigosa
Emanoel Barreto

O excerto que publico logo após este parágrafo é de texto da mais nova edição da revista Época. Em reportagem de capa intitulada "O passado de Dilma"a revista, seguindo caminho já trilhado pela Veja e Folha de S. Paulo, busca construir a seguinte imagem: a candidata Dilma é uma criminosa, foi assaltante, andava armada. Mais claramente: utilizando-se do mais estúpido senso comum a revista busca estabelecer uma espécie de silogismo sonso: quem anda armado é criminoso; Dilma andava armada, logo Dilma é criminosa; logo não vote nela.

Leia o excerto: Em outubro de 1968, o Serviço Nacional de Informações (SNI) produziu um documento de 140 páginas sobre o estado da “guerra revolucionária no país”. Quatro anos após o golpe que instalou a ditadura militar no Brasil, grupos de esquerda promoviam ações armadas contra o regime. O relatório lista assaltos a bancos, atentados e mortes. Em Minas Gerais, o SNI se preocupava com um grupo dissidente da organização chamada Polop (Política Operária). O texto afirma que reuniões do grupo ocorriam em um apartamento na Rua João Pinheiro, 82, em Belo Horizonte, onde vivia Cláudio Galeno Linhares. Entre os militantes aparece Dilma Vana Rousseff Linhares, descrita como “esposa de Cláudio Galeno de Magalhães Linhares (‘Lobato’). É estudante da Faculdade de Ciências Econômicas e seus antecedentes estão sendo levantados”. Dilma e a máquina repressiva da ditadura começavam a se conhecer.
...

Aquele período da nossa história é contado de forma cambeta: usa-se de um reducionismo maniqueísta para sinalizar a ação dos grupos guerrilheiros como sendo o mal por oposição às forças da ordem, as forças do bem.

Não se fala que a ação de grupos de resistência surgiu em função mesmo de um estado de coisas opressivo; imposto por um golpe de estado perpetrado pelo estamento militar com aplauso das elites e voltado para manter, aí sim, a ordem que seus integrantes entendiam como normal e desejável: milhões de despossuídos no campo e nas cidades, concentração da riqueza, falta de perspectivas para as gerações jovens.

A participação da guerrilheira Dilma se deu nesse contexto, que serviu de pretexto para a criação de locais de tortura e mortes, ela própria barbaramente torturada. Um equívoco da minha geração foi o apelo à luta armada. Mas daí a classificar quem lutou politicamente como criminoso comum vai uma grande distância.

E quem usa de tal artifício, buscando nesse passado justificativa para desestabilizar a atual campanha, como se o país estivesse à beira de um abismo não tem, certamente, intenções democráticas. Quer no mínimo desviar o debate. Ou então... pede que haja um novo golpe.

O Pixador ataca outra vez

Dilma lidera na pesquisa Datafolha


 http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.ojornalweb.com/wp-iJixBA&esq=1&page=1&ndsp=15&ved=1t:429,r:9,s:00
A criatura ganhou vida
Emanoel Barreto


O Datafolha admite afinal o que outros institutos de pesquisa já vinham registrando: o crescimento, ou melhor, a liderança de Dilma Rousseff sobre Serra. Diz o jornal: A candidata do PT, Dilma Rousseff, aparece pela primeira vez na liderança isolada na pesquisa Datafolha para presidente da República. Dilma está com 41% das intenções de voto e abriu uma vantagem de oito pontos sobre seu principal adversário, José Serra (PSDB), que registrou 33% no levantamento.

...
 
A Folha admite que a petista está a três pontos para vencer a disputa em primeiro turno. No texto "A vez da criatura"  analisa a ascendência dilmista e afirma que agora a "criatura" começa a ter vida política própria, liberando-se do "criador" Lula.
 
E alinhava uma explicação rasa e preconceituosa, pelo menos com relação à maioria de Dilma no Nordeste: "A ex-ministra cresceu justamente nos segmentos nos quais a força do cabo eleitoral Lula é maior: entre os habitantes do Nordeste, menos escolarizados e com baixa renda".
 
Pronto. É isso. Os nordestinos somos ignorantes, estúpidos e sempre fazemos as piores escolhas, é óbvio.
 
Trata-se de um velho discurso das elites: quando alguém "do povo" manifesta preferência por candidato que não é do seu agrado logo se justifica: é ignorância, coitados, é ignorância. Se for nordestino então...
 
A candidatura Serra, salvo fato novo, começará  a naufragar efetivamente com o início dos discursos midiáticos do horário eleitoral. O grande problema do tucano é a falta de um sentido de causa ao seu pronunciamento. Não há como arregimentar assertivas que o elevem à condição de ator político salvacionista, o demiurgo, o condottiero.
 
Debalde serão os textos eleborado pelos marqueteiros: a criatura, como diz bem a Folha, ganhou vida...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Debate na Band tem grosseria e dissimulação
Emanoel Barreto

O debate promovido ontem pela Band com os candidatos a governador do Rio Grande do Norte revelou aspectos do quanto a luta política pode se desenvolver, e chega a isso, em níveis de grosseria e dissimulação.

A grosseria, rasteira, bastante rasteira, ficou por conta do candidato do PSOL, Sandro Pimentel, que de maneira agressiva referiu-se ao problema de saúde do governador Iberê Ferreira, clinicamente curado de um câncer.

Afirmou que o sistema de saúde está "em estado de putrefação" - forte mesmo, percebe? - para em seguida dizer que se o governador estivesse em tratamento em hospital público já teria morrido.

A questão, claro, poderia ter sido abordada, mas em outros termos. Caso tivesse adotado outro tipo de assertividade poderia ter atingido o governante enquanto governante, sem ofender a pessoa. Duvido que tenha ganho um só voto com tal comportamento.

A tentativa de utilizar uma situação pessoal como exemplo de falha de uma política pública resultou tão-somente numa ofensa que não foi retrucada pelo governador.

Quanto à dissimulação esta se deu com a senadora Rosalba Ciarlini, que não se disse aliada de Serra. Aproveitando o deslize, em suas considerações finais o governador Iberê agiu taticamente: aliado ao presidente Lula e à sua candidata Dilma, proclamou-se enquanto tal e aludiu indiretamente ao mutismo da Senadora em relação a esse assunto. 

Segundo Iberê, todos os candidatos deveriam ter assumido publicamente em quem votariam para presidente.

Ciarlini, por sua vez, encerrando sua participação reafirou seus propósitos de fazer um governo voltado para o social. Mas não assumiu que apoia Serra...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Leio na Folha Online a forma como a Rede Globo tratou o candidato do PSOL.(EB)

Crítica de Plínio de Arruda à TV Globo interrompe gravação para o 'Jornal Nacional'



FERNANDO GALLO
DE SÃO PAULO

Um protesto do candidato do PSOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio, fez com que a gravação de sua entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, fosse interrompida.


Em sua primeira resposta, a uma pergunta sobre o fato de o PSOL defender a suspensão do pagamento dos juros da divida e as ocupações de terra, Plínio disse que iria tratar do assunto, mas antes faria uma crítica ao tempo de três minutos que a Globo lhe ofereceu, contra os 12 minutos ofertados a Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB).
O candidato disse que "sempre viajou de classe econômica e nunca viu problema nisso", mas que achava ruim que a emissora "criasse uma classe executiva para os candidatos chapa branca".

Segundo o relato de uma pessoa que acompanhava a gravação, os profissionais da TV Globo interromperam a entrevista e propuseram a Plínio que ele gravasse novamente, desta vez sem a crítica, e em contrapartida o apresentador do "JN", William Bonner, diria que o candidato protestou contra o tempo oferecido a ele.


Após uma negociação, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) sugeriu a Plínio que ele gravasse uma crítica mais branda, o que foi feito.
A entrevista foi cronometrada e deve ir ao ar na íntegra.

Além do questionamento sobre o pagamento da dívida e as ocupações de terra, o candidato socialista foi questionado sobre a defesa de um novo regime para o país. Plínio respondeu que, embora seja socialista, não pretende criar um caos no país.

Ele disse também que é frequentemente questionado sobre a suspensão do pagamento da dívida, mas que ninguém questiona o calote social na população mais pobre nas áreas de saúde e educação.


A entrevista foi gravada pela manhã no Rio de Janeiro e deve ir ao ar à noite.
A reportagem da Folha procurou a TV Globo para comentar o ocorrido, mas ainda não obteve resposta.

VANUSA ATACA NOVAMENTE - Legendado



O vídeo que o Youtube veicula sob o título "Vanusa ataca outra vez", se tem algo de comicidade, espalhafato, ridículo, revela-nos também algo que os humanos temos de pior: o escárnio de um ser humano exposto às suas próprias limitações, à sua decadência.

Uma das cantoras mais famosas, até mesmo belas de um período dos anos 1960, vê-se agora atirada ao mais profundo desamparo. E o que é pior: em público. Há algum tempo ela errou o Hino Nacional em cerimônia cívica. Quase foi apedrejada.

Não porque fosse vista como alguém que desrespeitou um símbolo pátrio, mas porque, confrontada com o seu passado, apresentou-se como alguém com problemas emocionais. Passou a ser vista como ridícula.

Bebedeira? Drogas? Para mim isso nunca ficou esclarecido. Mas, repetindo a dose, perdão pelo trocadilho, foi apanhada novamente errando a letra de uma canção. A humanidade não perdoa. E sabe muito bem apupar os seus velhos ídolos quando lhes surgem os pés de barro.
Esperando a morte em nome da "ética"

Walter Medeiros*
 waltermedeiros@supercabo.com.br

O Código de Ética Médica do Brasil entrou em vigor no dia 13 de abril deste
ano e ao completar quatro meses deve ser usado em julgamento da mais alta
importância para a medicina brasileira. Neste 13 de agosto deve sair uma
decisão sobre o processo ético profissional no qual o Dr. Luiz Moura, médico
de 85 anos, com 60 de exercício de um verdadeiro sacerdócio, é acusado de
divulgar a auto-hemoterapia.

Trata-se de um procedimento que tem mais de 150
anos de uso no mundo inteiro e do qual só se tem referências boas, mas que
depois da divulgação o CFM resolveu dizer, em parecer incompleto, que não
teria comprovação científica. A auto-hemoterapia eleva a imunidade da pessoa
em quatro vezes.


O referido Código de Ética diz, em suas justificativas, que foi editado
"considerando a busca de melhor relacionamento com o paciente e a garantia
de maior autonomia à sua vontade". Até hoje não se viu nenhuma pessoa fora
da categoria dos médicos que tenha sido ouvida para saber o que considera
melhor para a sua saúde, onde se inclui a liberdade de utilizar a
auto-hemoterapia.

Da mesma forma que parece inócuo o que reza, no Capítulo
I, o item VIII dos Princípios Fundamentais do código, segundo o qual "O
médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar
à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou
imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho".


Pode ser argumentado que o Item XXI do mesmo Capítulo está prevista uma
restrição, quando diz "XXI - No processo de tomada de decisões
profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões
legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que
adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas".

Está prevista, sim, mas o
seu teor só pode ter duas características distintas: ou é contraditório ou é
injusto. Contraditório, porque retira a liberdade que havia reconhecido ao
paciente anteriormente; injusto, se reconheceu a referida liberdade e neste
outro ponto a nega.


Quanto trata dos direitos dos médicos, o código garante "exercer a Medicina
sem ser discriminado por questões de (...) opinião política ou de qualquer
natureza" e "Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as
práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente".

Por um lado, não proíbe o uso de práticas não reconhecidas cientificamente.
Por outro, sabemos que não existe nenhuma lei proibindo o uso da auto-hemoterapia.
Encontramos muitos outros pontos, mas existe um que mostra com todos os
elementos a gravidade do posicionamento dos órgãos fiscalizadores. No item
XXII dos Princípios Fundamentais, está escrito que "Nas situações clínicas
irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos
diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob
sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados". Na realidade atual,
nem mesmo nestes casos o CFM, a ANVISA e, portanto, o Ministério da Saúde,
admitem o uso da auto-hemoterapia, preferindo ver o doente morrer, a
deixá-lo tentar a cura ou sobrevida usando um meio que funciona há mais de
150 anos, que era permitido até 2007 - quando foi confusamente proibido - e
vem dando certo na clandestinidade. Ou seja, quando as práticas
cientificamente comprovadas não dão resultado, o único caminho, para aquelas
instituições, é o paciente esperar a morte chegar.


Mais informações sobre o assunto no site
http://www.rnsites.com.br/auto-hemoterapia.htm


*Jornalista e Bacharel em Direito







quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Por favor, desculpe, pode ser?

Com luvas de pelica, com licença, desculpe, por favor e muito obrigado. Assim transcorreu a entrevista do candidato José Serra no Jornal Nacional. Bonner e família trataram muito bem o aliado, bem diferente do combate oferecido a Dilma e Marina. Houve sim uma tentativa de dar à entrevista o tom de contraditório, mas podia-se perfeitamente perceber que ali não havia qualquer clima de tensão, tentativa de intimidação, questionamento direcionado à desconstrução da imagem pública do candidato.

Amanhã a vez de Plínio Sampaio, candidato do PSOL à presidência. Espere e verá como vai ser o tratamento.

Participei de importante reunião



Dois mamutes me falam de uma nova e terrível evolução
Emanoel Barreto

Comentei aqui há poucos dias que fui procurado por um macaco gorila e um papagaio, senhores de grande respeito e sábias ocorrências, que a mim vieram consultar a respeito do uso correto do papel crempom. Supunham que eu teria domínio e técnica de tal e tamanha ciência para, com isso, entender o sentido da vida.

Infelizmente, não pude atendê-los. Não sei o uso correto do papel crepom e, portanto, o sentido da vida. Ontem, voltaram à minha casa e convidaram-me a grave entrevista com outros senhores de alta ressonância, hospedados na casa da um honorável orangotango, embaixador de Bornéus.

Entramos em um coche e meia hora depois chegávamos à casa do senhor embaixador. Macaco de modos aristocráticos, o orangotango convidou-nos a uma vasta sala de reuniões, decorada ao estilo vitoriano.

Pediu licença após uma rápida conversa de apresentações, e saiu. Retornou cerca de um quarto de hora depois, acompanhado por dois respeitáveis mamutes. Como pessoas educadas, pediram desculpas pelo incômodo a mim, ao gorila e ao papagaio mas, explicaram, tinham negócios de estado urgentes a tratar conosco.

Argumentamos que não é do nosso alvitre nos imiscuirem negócios de potências estrangeiras, mas os mamutes disseram que seríamos os únicos a ter alguma possibilidade de ajudá-los.

Em suma: os mamutes eram sábios pesquisadores. Suas últimas descobertas indicam que a humanidade - da qual fazem parte, claro - está ingressando num novo período evolutivo e, pelo que já estudaram, trata-se de algo de resultados trevosos.

"Como assim?", quis saber o papagaio. Explicaram que suas pesquisas demonstram que todos nós estamos nos encaminhando para nos transformar em monstros. As previsões são catastróficas, lamentaram.

"Como assim?, repetiu o papagaio, ele próprio um senhor que desenvolve estudos na área evolucionista, o mesmo se dizendo do gorila. Daí o convite. Mas eu, que posso eu fazer, eu que sou apenas um jornalista?

Responderam: é preciso confirmar os perigos dessa evolução. Conferenciaram com o gorila e o papagaio e chegam à conclusão que o perigo existe. E eu? O que faço? 

 "Ao senhor caberá divulgar o seguinte", disseram: "Haverá um tempo em que os homens, então já monstros, criarão estranhas ideias de mundo e a todos considerarão como inimigos."

"Depois, os criadores dessa ideias monstruosas dirão que os inimigos é que as criaram, assim como bombas e outros artefatos de morte. Com isso terão direito de revidar. Preventivamente, é claro. E proclamarão terríveis doutrinas de dominação, justificando que há homens que nasceram para dominar e outros para ser dominados, devendo os servos servir eternamente."

Quanto a mim, disseram que devo, como jornalista, anunciar os tempos que virão, a fim de que tal intentona não se confirme, por reação da opinião pública. Pedi licença para pensar a respeito. Agora, já em casa, penso a respeito. Mas custa-me crer que isso venha a algum dia a acontecer. Espero, assim, uma nova visita dos meus amigos o gorila e o papagaio para lhes dizer que, sinceramente, não acredito que a humanidade chegue a patamar tão baixo...
Leio no JB online o magnífico Mauro Sntayana.

Réquiem para os “renascentistas”

Mauro Santayana

Recordemos a queda do muro de Berlim, o desmantelamento do sistema socialista, que pretendia ser o retorno ao liberalismo do século 19. Mais do que a globalização da economia, que continua, tivemos o tripúdio sobre os pobres. Houve quem anunciasse, com obscena soberba, que os incapazes deveriam tornar-se dóceis servos dos competentes. Era essa a lei da vida, a lei da natureza, a essência do sistema de liberdades cimentado pelo capitalismo sem limites.

Em nosso país, um intelectual, que se dizia de esquerda, assumiu a Presidência da República e, sob o efeito de relampejante conversão na maturidade, abraçou o novo e único fundamentalismo, como esplêndida e gloriosa era. “É um novo Renascimento”, proclamou, com a segurança e a autoridade dos profetas ungidos pela graça da Revelação.

Não tínhamos, país abaixo do Equador, povoado de mestiços, que inventar rodas e modas; bastava-nos seguir a corrente, integrarmo-nos na economia novamente liberal, depois do despertar do sonho do socialismo e do fim da “ociosidade” do povo, debitada ao Estado de Bem-Estar Social.


O capital financeiro assenhoreou-se do mundo. Ao aceno de nosso renascentista, ruíram as barreiras alfandegárias, revogaram-se os dispositivos constitucionais que protegiam o sistema financeiro nacional, entregaram-se bancos brasileiros a preços simbólicos a grandes consórcios financeiros internacionais (como foi o caso do Bamerindus, cedido ao HSBC), e o Estado recuou, no mundo inteiro, menos na velha China. Sobretudo nos países ao sul do Equador político, o Estado se viu acuado, envergonhado, enquanto as ONGs assumiam o seu papel. No Brasil, privatizaram-se a toque de caixa, para impedir a reação da cidadania, empresas estatais estratégicas, que geravam recursos e tecnologia de ponta.

Não foram necessárias duas décadas para descobrir que o neoliberalismo era um expediente dos donos do mundo, que, com métodos pavlovianos de gestão (em que se combinam o suborno e a repressão), criaram quadrilhas de executivos financeiros, que roubaram do Estado e de pequenos e médios investidores – sempre com a ajuda de arrogantes acadêmicos, entre eles alguns brasileiros. Os grandes executivos, de salários milionários, não passavam de audaciosos ladrões, que manipularam as finanças internacionais da mesma forma que os old boys de Chicago controlavam o mercado das bebidas, da droga, do lenocínio. Os new boys da Escola Neoliberal de Chicago, e de instituições semelhantes, que os mexicanos chamam los perfumados, se tornaram os executores dessa nova ordem, também contra seus próprios povos.

Contra os ladrões de Wall Street, a nova legislação obtida por Obama (Dodd-Frank Act) prevê premiar os que denunciarem falcatruas no sistema financeiro, com uma porcentagem (de 10 a 30%) das penalidades financeiras que incidirem sobre os culpados. Um dos denunciantes do esquema Madoff recebeu 1 milhão de dólares de recompensa, antes mesmo da aprovação do novo dispositivo legal. O novo Renascimento não está sendo posto à prova somente no caso dos ladrões que, ao contrário dos que se arriscam a assaltar de fora para dentro, atuam de dentro dos próprios bancos. O sistema está em processo de erosão na fragilidade de seus grandes exércitos, diante da resistência dos povos. Não lhes tendo bastado a lição do Vietnã, há mais de 30 anos, os senhores da guerra mordem a poeira no Afeganistão, depois de mordê-la no Iraque. Mas sempre lhes restam as ogivas nucleares, contra o Irã – e outros alvos.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

E aí, Marina? Você presta pra ser presidente?



A entrevista com Marina Silva no Jornal Nacional manteve o tom, ou melhor, o mesmo torniquete aplicado a Dilma. Insinuação de despreparo administrativo e supostas incoerências da candidata quando estava no PT. Não houve, a rigor, entrevista mas uma tentativa de acuar Marina. Pelo jeito, como "Serra é experiente" amanhã teremos uma louvação, quando ele for chamado a ocupar uma cadeira ao lado de Bonner e Bernardes.

Revela-se um jornalismo panfletário, com o ventiloquismo das elites nas vozes de Bonner e Bernardes. A entrevista de confronto geralmente é o pior tipo de procedimento jornalístico, quando se tenta fazer com que o declarante derrape em seu próprio discurso. Nada a haver com o método socrático. Trata-se apenas de má intenção.

Confesse, candidata!



A entrevista de Dilma a Bonner e Fátima Bernardes foi uma demonstração de como não fazer jornalismo. Entrevistas são, em essência, um ato de relações humanas, com todas as limitações e imbroglios que lhes são inerentes. Assim, jornalistas são movidos por interesses - mais ou menos nobres, durante o ato de entrevistas.

Em função disso o que se viu ali, em vez de uma entrevista propositiva, questionadora de projetos políticos, foi uma tentativa de confronto; melhor, confronto mesmo. Com perguntas nascidas de pauta mal-intencionada, uma pauta política, visando obrigar a entrevistada a dizer o que os entrevistadores queriam que ela dissesse.

Ao interrogatório somente faltou assumirem-se, Bonner e sua mulher, como inquisidores e gritar: "Candidata!: confesse, candidata! confesse!"

Hoje teremos Marina, amanhã Serra. Acompanhemos. (EB)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Acautelai-vos dos machos selvagens, ó virgens de todo o mundo!

Maitê, a iemanjá de açude
Emanoel Barreto

A culunista Sonia Racy, do Estadão, publicou entrevista com a atriz Maitê Proença. No texto a moça e colocada um pouquinho abaixo de Deus, mas apenas um pouquinho - por uma questão de bom senso, claro.

Ela é, por exemplo, "direta, avessa a mentiras, às vezes dura demais, [...] tem uma inteligência singular aliada a uma maneira intensa de viver".

Ooooooooooooooooooo.... divina diva, musa de todos os fados, afrodite de todos os menstréis, encantadora náiade, dama do lago, sílfide mais meiga, venturosa e diáfana mulher.

Da entrevista uma pergunta se sobressaiu. Diz bem assim: "O feminismo já era ou a mulher ainda precisa lutar contra as discriminações da sociedade?"



Resposta intensa e vigorosa: "A mulher ainda é tratada como escrava na África, Ásia, países árabes, na maior parte do planeta. Só no ocidente houve progressos, muitos, mas ainda há discriminação. Quem sabe a própria venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma?"

Analisando a indagação, informo que ela é o que chamo em minhas aulas de técnica de entrevista de pergunta-raquete. Ou seja: o entrevistador estima ou até sabe previamente o que o entrevistado vai responder e faz a pergunta para que ele se esbalde. Levanta a bola para o outro rebater, percebe? Pergunta-raquete.

O comportamento da atriz, típico de alguém que quer se promover - deu certo, porque está tendo repercussão - me intima a dizer que com um declaratório desse tipo ela não é uma náide, mas uma iemanjá de açude.
Drops da sabatina da Fiern

Central do Cidadão - O ex-prefeito Carlos Eduardo Alves salientou que, em sua passagem como secretário de estado, criou a Central do Cidadão, referência em seu tipo de prestação de serviço público.

Emoção - A senadora Rosalba Ciarlini apesar de não ser uma grande oradora conseguiu, logo de início, dar à sua participação um forte toque de emoção. Instruída ou não pelos seus marqueteiros falou como se estivesse dando um testemunhal e conseguiu tensionar o auditório frente à sua breve narrativa de vida pública. 

Já perdeu - Em seguida, lamentou que o estado encontre-se em má situação na educação, segundo entende, ocupando o penúltimo lugar e ganhando apenas do Piauí, afirmou. Disse que o RN já perdeu grandes oportunidades de crescimento e prometeu uma administração pujante.

O troco - Como falou por último, o governador Iberê Ferreira teve oportunidade de rebater: com palavras tranquilas disse que não devemos nos voltar para apontar o que se teria perdido, mas atentar ao que se pode fazer.

Petróleo - Como exemplo, citou a refinaria Clara Camarão, em Guamaré, que deve funcionar até o próximo ano.

Palavras - Carlos Eduardo fez um pronunciamento lido. Com isso perdeu eloquência discursiva, já que um pronunciamento público tem algo de dramaticidade e, como sabemos, o corpo também fala.

Mais palavras - Ciarlini falou de improviso. Aliou ao comportamento frasal atitudes gestuais. Com isso, ganhou força dramática.

Mais mais palavras - Iberê foi o único que se utilizou de recurso multimídia: enquanto falava, as realizações do governo eram apresentadas no telão. Como Rosalba, conseguiu tensionar o auditório, tornando seu discurso mais coloquial.

Desobediência - As regras da sabatina somente permitiam câmeras de jornalistas. Câmeras de produtoras das campanhas estavam proibidas. Todavia, pelo menos duas câmeras fixas em tripés estiveram o tempo todo gravando tudo. Não me pareceram câmeras de TVs. Parece que, aí, alguém foi desobediente.

Jornalistas - A Fiern montou um centro de imprensa onde os jornalistas podiam instalar seus computadores. Um telão transmitia tudo aos colegas que preferiram ficar na sala de imprensa. Um bufê garantia a recarga das baterias humanas.

Dramático - Ciarlini manteve o tom dramático do pronunciamento. Atenção: não estou insinuando que a palavra "dramático" seja indício de má-fé. Uso o termo no sentido de eloquencia, quando o ator público se utiliza de empatia para comunicar as suas intenções.

Mãos limpas - Ao final de sua fala, com a voz embargada, Ciarlini disse que, da mesma forma como afirmara a seus filhos que como prefeita de Mossoró cumpriria com sua missão política corretamente, agora quer dizer a seus cinco netos: "Vovó assumiu o governo e sai de mãos limpas."

Nem um segundo? - Iberê foi o único a usar inegralmente seu tempo de meia hora para exposição. Entretanto, como não deu para narrar o que está em andamento e tratar do futuro perguntou ao mediador: "Ainda tenho tempo?". Como a resposta foi negativa, insistiu em tom de blague: "Nem um segundo?", tirando do auditório uma reação coletiva - uma grande gargalhada em uníssono.

Posso? - Carlos Eduardo, ao terminar seu pronunciamento, como sobraram dez minutos, perguntou se poderia passar a palavra ao auditório para questionamentos diretos. Não podia. Só a perguntas previamente elaboradas pelas assessorias da Fiern e Fecomercio. Objetivas e claras, diga-se.

Trim-trim - Carlos Eduardo foi obrigado e pedir silêncio a um sujeito que insistia em manter demorada conversa ao celular. O tipo, apesar disso, quase não parava. Não foi o único: muitos não deixaram os celulares em modo vibracall ou silencioso e mantinham também suas conversinhas.

O tempo - Quando refiro ao tempo usado pelos candidatos quero dizer que em temporalidade linear somente Iberê não parou de falar. Os outros dois também cumpriram com seus tempos de forma complementar: para esclarecer detalhes do que pretendem fazer caso eleitos.

 Mais sabatina - Ao longo da campanha bem que Fiern, Tribuna e Fecomercio poderiam repetir a dose.

Sabastina X debate - Pareceu-me que o formato sabatina é melhor que o formato debate. Só que para as TVs o debate é melhor: tem circo.

Amigos - Reencontrei velhos amigos: Carlos Peixoto, diretor de redação da Tribuna e Luís Antônio Felipe, colunista de economia. Também por lá meu ex-aluno Dinarte Assunção, da novíssima geração de repórteres. Um diabrete. Bem informado e sério. O garoto promete.

E caiu neve em Natal...

Sensibilidade e criatividade: na foto do jornalista João Maria Bezerra, Natal sob chuva, como se estivesse nevando. (17h30 de 9 de agosto).
Candidatos ao governo sabatinados no auditório da Fiern
Emanoel Barreto

Em conjunto com a Tribuna do Norte a Fiern e a Fecomercio realizaram hoje sabatina com o governador Iberê Ferreira, senadora Rosalba Ciarlini e ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, candidatos ao governo do estado.

O Auditório Albano Franco, na Fiern, recebeu empresários e jornalistas. Bem organizado, o evento diferiu dos debates a que estamos acostumados. Cumprindo ordem de sorteio cada candidato apresentou, na ausência dos dois outros, suas propostas de governo, respondendo a perguntas eleboradas pela Fiern e Fecomercio.

Com isso, a participação de cada um ficou restrita ao plano racional, evitando-se o clima emotivo que sempre impregna os debates. O público aplaudiu os três após cada sabatina, não se percebendo qualquer presença de claque.

Carlos Eduardo foi o primeiro a falar e a responder os questionamentos. Falou de sua passagem na vida pública e enfatizou suas prioridades. A seguir veio a senadora Rosalba, seguida pelo governador Iberê, mantendo o mesmo tom do primeiro sabatinado: infraestrutra, saúde, educação e segurança.

Foi uma importane manifestação de sociedade civil. Só não entendi a necessidade de importação do mediador, uma vez que a Fiern e a Fecomercio têm em seus quadros jornalistas qualificados para cumprir a missão.

domingo, 8 de agosto de 2010

Com doença não se brinca

Na foto de Ed Ferreira, do Estadão, o ministro, de camisa listrada relaxa no barzinho
Será que um cristão não tem o direito de beber em paz?
Emanoel Barreto

Leio no Estadão: BRASÍLIA - O ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que está de licença por recomendação médica, alegando que tem um "problema crônico na coluna" e, por isso, enfrenta dificuldade para despachar e estar presente aos julgamentos no plenário do STF, não tem problemas para marcar presença em festas de amigos ou se encontrar com eles em um conhecido restaurante-bar de Brasília.


Na tarde de sábado (ontem), a reportagem do Estado encontrou o ministro e uns amigos no bar do Mercado Municipal, um point da Asa Sul. Na noite de sexta-feira, ele esteve numa festa de aniversário, no Lago Sul, na presença de advogados e magistrados que vivem em Brasília.

Joaquim Barbosa está em licença médica desde 26 abril. Se cumprir todos os dias da mais nova licença, ele vai ficar 127 dias fora do STF, só neste ano. Em 2007, ele esteve dois dias de licença. Em 2008, ficou outros 66 dias licenciado. Ano passado pegou mais um mês de licença. Advogados e colegas de tribunal reclamam que os processos estão parados no gabinete do ministro.
...
É perfeitamente comprensível a atitude do ministro. Pela foto vê-se claramente que é com grande e ingente esforço que está assentado à mesa onde, certamente, dá continuidade ao seu sofrido tratamento. Coluna é fogo, sabia?




FOTO OFICIAL

Sua excelência, a excelente pessoa, o presidente Ahmadinejad, saúda a todos com sua nova foto oficial